Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 30
Convergência


Notas iniciais do capítulo

Socorro, isso que estou ouvindo é um "ACABEI!"? Tava com tanta saudade de postar que chega a ser prazeroso ver as letras no espaçamento do Nyah. (」゜ロ゜)」

Recapitulando o último capítulo: A morte de Amber e o descontrole de Nathaniel. Além de pequenas pistas sobre Lysandre e seu objetivo.
Agora, uma mudança drástica de ponto de vista, desviando um pouco do assunto principal do arco...



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[Burniel]

Não recordo com exatidão sobre quando ou como fui lançado àquele caos. Talvez, quaisquer memórias contidas antes de ser isolado foram apagadas.

Aquela época em si não é algo que gosto de recordar. Uma quebra de rotina intensa - tão de repente me encontrava junto a crianças que nunca tivera contato, sobrevivendo à custa de criminosos que apenas não nos deixavam falecer desnutridos, para futuramente nos usarem da forma que lhes cabia à mente. E, tão de repente, ao questionar se a vida valia a pena, um par de olhos verdes, semelhantes a duas jades intensas, transformou-se na única fonte de esperança daquele lugar...

***

Com o corredor principal livre de alunos, abri a porta de ferro do armário escolar, retirando pelo menos duas pastilhas de comprimidos. Guardei-as no bolso do suéter.

Nathaniel e o senhor Jack não ficariam nem um pouco contentes em ver. Mas fazer o quê? O tratamento psicológico que o inspetor disponibilizou-me não serve de muita ajuda. Psicólogos são perda de tempo.

Ao apanhar os medicamentos, um pequeno pedaço de papel veio junto. Ele ergueu-se no ar, passando sobre meus olhos; planou, e rapidamente aterrissou.

Saquei o misterioso bilhete, desdobrando logo em seguida:

“Encontre-me hoje na Sala 78, horário de almoço.”

Seria um tipo de brincadeira? Talvez alguns dos membros da antiga trupe de Castiel querendo pregar-me uma peça após meu “súbito desaparecimento” do grupo.

Atentei a qualquer detalhe que pudesse trazer alguma informação sobre o emissor do bilhete. Mas, sem pistas.

***

Fechei a porta sob minhas costas, admirando o minúsculo cômodo que era a Sala 78, utilizada somente para aulas de reforço.

Nenhum sinal do remetente, nem de uma alma sequer.

Fitei uma janela aberta; uma bela janela de vidro, que projetava um clarão sobre as vazias carteiras de madeira. Meu corpo caminhou até ela, como se implorasse inconscientemente para tomar um pouco daquele brilho aquecedor. Cerrando os olhos, pude sentir uma leve brisa.

Nostálgico.


“O cheiro da liberdade! Está sentindo?!“


A memória fora interrompida com o som do mecanismo da maçaneta.

Volvi para trás, na direção da porta, arregalando os olhos com exagero, e estremecendo em choque ao fitar a saudosa figura posta à minha frente.

— Mas que cara é essa? – sorriu ele, fechando a porta sob si, parando a alguns poucos metros de distância. - Não vá me dizer que não está reconhecendo seu “irmãozinho”?

O frescor tornou-se num vento carregado, que elevou as persianas beges e remexeu os cabelos ondulados e médios do rapaz. Sofri uma crise de pânico interno, e repensei se a pessoa quem via não era fruto do efeito colateral dos medicamentos consecutivos num curto período de tempo.

— Jade? – balbuciei num engasgo. - Como?!

À minha frente estava ele, aquele quem aguardei por tantos e tantos anos, aquele a quem jamais esperava encontrar vivo.

Assustado, porém em estupenda felicidade, vi-me capaz de correr aos seus braços e sufocá-lo não só num aperto como também em milhares de perguntas. Contudo, lembranças de momentos dos quais não me alegra relembrar vieram-me à mente, mostrando-me o quão indigno era.

— M-mas disseram-me que estava morto… - murmurei em confusão.

— Ingênuo, Burniel... - sorriu remexendo levemente a cabeça. – Você sabe que ambos, eu e você, não somos tão fáceis de se quebrar.

Aqueles mesmos olhos verdes, agora carregados de exaustão e melancolia, ainda possuíam um brilho antigo - o que me fizera compreender que aquilo de fato não era uma miragem.

— Então, – abaixei o rosto. – se estava vivo e sabia onde me encontrar, por que escondeu-se durante todo esse tempo? Você… - os dentes rangiram entre si. - você faz alguma ideia do quanto desprezo a mim mesmo por tê-lo deixado?!

Ergui o rosto, cravando minha imagem no reflexo de suas íris claras. Sentimentos depositados por cinco anos transbordaram em forma de lágrimas e palavras turbulentas:

— Mal consigo imaginar o quanto sofreu sozinho na mão daqueles covardes, e pensei até que tivesse sido morto naquela hora! Também... quando soube sobre o fim que deu aos órfãos, pensei no quanto o desamparei. E eu faria qualquer coisa para amenizar todo o sofrimento que te causei!

Ao espremer os olhos por uma fração de segundos, pude sentir as pontas frias de seus dedos sobre meu rosto, o que fizera-me esbugalhar as feições em espanto. Ele ergueu minha face diante a sua - ultrapassara minha altura -, abrindo um longo sorriso, fitando-me com seus olhos oblíquos:

— Você não mudou nada, querido irmão.

Lágrimas ainda brotavam sobre minha linha d’água; nossos olhos mantinham um único laço, como se ambos se atraíssem.

— Se aquele dia não tivesse existido eu nunca teria sentido o que é conquistar algo por conta própria. - continuou. - De toda forma, agora não há mais motivos para preocupações. Estou aqui com você, Burniel.

Um raio de adrenalina se entrelaçou sobre cada tecido em meu sangue, freneticamente. Aah.. era como esmigalhar parte daquela angústia em mil pedaços.

— E para esclarecer sua dúvida - deslizou seus dedos para fora, encaixando os braços rente ao corpo. - saiba que o fato de tê-lo convocado somente agora, tem haver com meu suposto paradeiro.

Ele suspirou, como que para iniciar uma longa explicação:

— Estudei aqui durante um período sendo o líder de um dos clubes, como já deve saber, mas agora, não passo de alguém somente em busca de justiça.

— “Justiça”...?

Jade assentiu:

— Meses atrás, fui vítima de um atentado dentro deste colégio, por pouco fatal. Calculei que era loucura retornar de cara limpa, para ser novamente encurralado. Logo, forjei uma transferência e passei a espreitar a vida dos criminosos. E vendo que você tem grande afinidade com estes marginais, achei que já estivesse mais que na hora de dar as caras.

Tentei me recordar de cada pessoa que troquei olhares e conversas naquele colégio; pensando até, na grande possibilidade de ser Castiel e sua trupe.

— Armin e Elsie. – disse ele, com uma espontaneidade tão fria, que fez meu peito estremecer. - Estes dois indivíduos na qual você partilha tanto foram os responsáveis por me afastarem do colégio. Um casal de criminosos, de fato.

Um clarão de imagens e cenas preencheu minha mente. Quando adentrei pela primeira vez na sala de aula, encontrando Elsie numa das carteiras mais afastadas; quando me amaldiçoei por ter concordado com Castiel para “arrastá-la aos confins” em prol de meu benefício próprio. E enfim, todas as vezes que suas palavras de conforto, rigorosamente convincentes, me abraçaram.

— Isso é loucura! - ralhei. - Por que tentariam te assassinar?!

— O histórico psicológico de ambos não é estável. Suas outras vítimas, no entanto, diferentemente de mim, não tiveram tanta sorte, perdendo a chance de poderem levar estes psicopatas à justiça! - realçou o tom de voz nesta última parte, como num discurso.

Remexi a cabeça, talvez numa tentativa de alinhar os pensamentos.

— O fato é - continuou, retornando a exibir sua nuance suave e melancólica. – que não pretendia me expor tão cedo a você. Mas vendo o contato que possuía com a dupla, achei que já estivesse mais que na hora de nos reencontrarmos.

Já tão dificultoso fora encaixar nas roldanas da mente que Jade se encontrava morto, logo o mesmo aparece vivo, contradizendo todas minhas crenças de até então.

Abri um sorriso frustrado, encarando pensativamente o assoalho.

— Posso imaginar o quão confuso está. - suspirou ele. - Mas para o bem de todos, ao menos ouça minha proposta inicial...

Jade iniciou.

Palavras não mais mantinham um significado fixo diante a desordem em minha mente. Se pessoas como Elsie ou Nathaniel, que mostravam-se de tal maneira acolhedora e sincera foram capazes de mentir, até que ponto tudo era verdade?

— Espero sua resposta até amanhã, neste mesmo local. - concluiu Jade, após encerrar sua pequena proposta.

E sorrira tristemente:

— Afinal… Você não irá me abandonar desta vez, não é?








[Peggy]

— Trago-te boas novas, tia Sherman. – sorri, adentrando seu gabinete de súbito.

— Diga... – respondeu a diretora sobre sua cadeira de escritório, alisando os pelos do pequeno Totó em seu colo.

Lancei-me no sofá de visitas:

— Parece que Jade conseguiu convencer Burniel para buscar mais informações sobre a garota Cotton, sobrinha de Agatha.

A diretora não demonstrou muitas alterações em sua nuance:

— Este Jade... – acariciava as orelhas de seu mascote. – Controle seu pequeno cachorrinho, Peggy. Se não se portar como um digno líder, perderá seu controle sobre ele.

— Está dizendo que Jade não é confiável? - fiz um bico com o beiço inferior, encarando-a com desprezo.

— Estou dizendo que ele não é a pessoa mais estável do mundo. Como futura herdeira da família e desta escola, você deve seguir as regras impostas por mim. E sua única missão num momento é...

“Despertar o sangue Cotton, emaranhando os fios de sua mente.” – suspirei sem paciência para o sermão.

— Portanto… - sorriu, direcionando-se para frente e apunhalando-me com os olhos sob o vidro dos óculos. - se seu cãozinho estúpido tentar prosseguir com essa ridícula vingança e acabar causando danos graves à Elsie, não hesitarei em puni-los severamente...








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Notas finais do capítulo

Créditos da fotinha do Burniel (http://fanfiction.com.br/u/328101/). E agradecendo essa guria por ter me ajudado com o capítulo. ♥


Até a próxima!