Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 3
O Garoto do leito Sete


Notas iniciais do capítulo

Olá! ( ´ ▽ ` )ノ
Este capítulo sucede alguns acontecimentos logo após o assassinato de Jade. Agora que Elsie e Armin descobriram suas verdadeiras identidades, o que farão?
Novas amizades são traçadas, e as antigas retornam. Presente e passado se fundem.
Boa leitura! (ノ´∀`)



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Saímos da estufa, apressadamente. Mesmo com a discussão no telhado, mais cedo ou mais tarde, alguém chegaria.

Adentramos o corredor principal:

— Então... Você também é um killer? - perguntou Armin com o olhar melancólico.

— Sim. – respondi-o com a mesma intensidade.

— Isso faz de nós... Inimigos?

Eu poderia ter conhecido ele há pouco tempo, mas depois do que fizemos em conjunto, não pretendia tê-lo como um rival.

— Claro que não. – respondi com um sorriso. – Minha intenção aqui não é ganhar o prêmio.

Armin aparentava estar perplexo:

— Como assim? Está aqui pelo mesmo motivo que Jade? Pelo prazer de matar?

— É claro que não. – suspirei. – Estou aqui para acertar algumas contas. Neste colégio, há alguém que procuro.

— E... Quem seria?

— Eu não sei exatamente, as únicas coisas que eu sei é que ele é um aluno daqui e que, muito provavelmente, é um killer.

Sim, era verdade. O real motivo para vir à S.A. era encontrar o criminoso que tirou a vida de tia Agatha, há cinco anos. No dia de sua morte, assim que cheguei em casa, presenciado a atormentadora cena do crime, recolhi uma espécie de crachá. Nele, não havia fotos nem nomes, apenas um logotipo do colégio. A partir do ocorrido, estive determinada a ingressar em S.A.

— Elsie. – Armin colocou suas mãos em meus ombros e curvou-se um pouco. Suas pupilas pareciam dilatar-se. – Vamos nos aliar.

—O-o que?! –forcei um sorriso com uma das pálpebras trêmulas. Minhas bochechas queimavam um pouco.

— É isso mesmo! É a lógica dos jogos. Veja: Você me ajuda com os outros killers e eu te ajudo a achar o criminoso, daí nós vingamos dele e...

— Você me elimina. – completei, criando uma aura funesta.

— O que? – franziu as sobrancelhas. – Não, por que eu faria isso? Acho que eu seria um traidor?

— Garoto. – interrompi-o. - Para ganhar esse desafio você deve ser o único a restar entre os killers, esqueceu? – soltou suas mãos de meus ombros, parecendo desanimar-se. – Mas, não há problema, meu único objeto é vingar minha tia. Se isso acontecer, já está de bom tamanho. - sorri melancolicamente.

— Vamos deixar para cuidar do futuro depois, certo? – depois de alguns segundos em silêncio, sorriu e estendeu a mão. – Então, você aceita ser minha aliada?

Seria bobagem de Armin tentar me apunhalar depois, já que agora, eu sabia sobre sua verdadeira identidade. Aceitei sem pensar muito, embora naquele momento, eu estivesse sendo um pouco hipócrita quanto minhas ideias iniciais sobre “não confiar em ninguém”.

— Está bem. – cumprimentei sua mão com um sorriso de aceitação.

Antes do toque de recolher da noite, recuperamos seu videogame.

Armin contou que já desconfiava sobre Jade ser um killer, e por isso, queria evitar que eu me relacionasse com ele. Também explicou que o fato de ter captado o veneno de Strychnos tão rapidamente foi por causa de alguns “ajustes” que fizera em seu keypass. Ele é um gênio quando se trata de computação. Mas só em computação mesmo.

E sobre a briga no telhado? Foi realmente uma grande discussão entre um dos alunos e o representante do colégio, entretanto, disseram que aquilo era natural entre os dois. O inspetor Jack teve de enviá-los a sala de detenção. Não sei como diabos, mas não notou a ausência de Armin. Ou notou.

No dia seguinte, tocou o sinal das matérias extracurriculares. Os garotos treinavam basquete no ginásio, enquanto as garotas tinham aula de tintura no segundo andar.

Os cavaletes eram distribuídos ao redor da sala. A professora sentava-se no centro enquanto batia palmas levemente para que a escutássemos:

— Atenção garotas! Prestem atenção, por favor. – seu tom de voz era leve e gentil. – Todas podem formar trios ou duplas para esta atividade. A intenção é fazer com que vocês discutam suas ideias entre si e estabeleçam uma relação melhor. Elsie, pode me chamar de Jane. – sorriu alegre.

Ela parecia uma pessoa que anda sempre de bom humor. Admiro gente assim.

— Ei, guria. –uma garota trigueira parecia referir-se a mim. Sua voz era grave e lânguida, mesmo assim, esboçava um simpático sorriso em sua face.

— Eu? - apontei o dedo indicador para meu próprio rosto.

— Sim, sim. Chegue mais. – fez um gesto para que eu me aproximasse. –Sente aqui com a gente.

Exceto Peggy, eu ainda não havia conversado com nenhuma garota até o momento. Sentei-me ao seu lado, ainda pouco retraída.

— "Elsie" seu nome, não? Exótico. –sorria. – Pode me chamar de Kim. Esta é a Violette. – indicou com o polegar a garota sentada em seu outro lado, esta já utilizava os materiais de pintura na tela.

— Prazer. – sorriu a outra, de modo reservado.

Ainda estava um pouco sem jeito para socializar. A aula seguiu desta forma por um bom tempo.

— Elsie, o que você está pintando? - perguntou Kim.

— A-ah... – virei o cavalete em sua direção para que pudesse visualizar meu “trabalho”. – É arte abstrata. – cocei atrás da orelha.

— Puxa, ficou ótimo! E você, Violette?

Mudou a posição de seu quadro para nós. Era incrível! Violette conseguiu retratar um vaso de flores como um de verdade. Eu e Kim ficamos de boca entreaberta.

—E o seu, Kim? –perguntei inclinando-me para seu cavalete, este, ainda estava em branco. Preferi não questionar.

Repentinamente, um grito agudo soou pela sala. Todas se viraram para ver quem era a desastrada.

— Droga! Minha blusa!- era uma garota loura. Tinta vermelha caíra sobre toda sua veste.

— Amber, como fez isso?! – questionou surpresa, a professora.

— Alguém vai ter que voltar ao primário. – brincou Kim com um sorriso provocativo. Todas tentavam disfarçar o riso.

A loura estufou as bochechas e franziu as sobrancelhas. Seu rosto tornou-se avermelhado, tomado pela irritação.

— Li, Charlotte, venham comigo! –ordenou a algumas garotas e saiu da sala, batendo os pés com força.

Professora Jane fitou Kim com um olhar de censura e pôs-se a correr atrás de Amber e suas amigas:

— Ei, voltem aqui garotas!

A loura não parecia do tipo de pessoa que se pudesse ser amiga. Demonstrava-se mimada, arrogante.

Antes do término da aula, ouvi outras estudantes murmurando entre si:

— Melody, você soube sobre o ocorrido no clube de jardinagem? –perguntou uma ruiva retocando sua moldura. – O que aconteceu na verdade?

Meu coração enregelou. A outra garota respondeu:

— Estava uma bagunça. Quebraram um dos painéis de vidro e alguns instrumentos. – seu tom de voz reduziu mais, tornando-se fúnebre. – ...Jade estava morto.

Abri os olhos com espanto. Não era confortável saber que quem fizera o tal crime cruel era, na verdade, eu mesma.

— M-morto? –murmurou a ruiva com sobressalto. –Como?

A tal Melody fez um sinal de silêncio com o dedo indicador enquanto revirava os olhos pela sala, à procura de alguém que tivesse escutado a conversa.

Uma pergunta veio em mente: Como Armin se sentia por causar a morte de alguém? Ele não parecia ser insano como Jade, mas sim, uma pessoa “comum”.

Outras questões me incomodavam: Qual era o crime que Armin cometera para ser selecionado pelo colégio? Aliás, todos os escolhidos, assim como eu, tiveram o reconhecimento por atos passados.

E afinal, qual era o objetivo de Armim para com o prêmio?

Depois de pensar tanto, a aula de tintura chegou ao fim. Despedi-me de Kim e Violette, e segui uma direção diferente. Ambas pareciam ser grandes amigas.

Decidi ir ao telhado para repensar algumas ideias. Chegando, encontrei o garoto das calças militares apoiado ao parapeito. Talvez tenha percebido minha presença. Ele suspirou e, sem virar-se para trás, disse:

—“Elsie”, parece nome de menino.

Esta pequena e irritante frase ecoou por um bom tempo. A voz fina de um garoto afirmava isso, e eu lembrava perfeitamente. Quem disse isso ou quando disse, eu já não sabia mais.

— Você é filha da Agatha, certo?- perguntou ainda observando a vista lá embaixo.

Quando nasci, meus pais ainda eram jovens de mais; ingênuos. Ambos fugiram juntos, deixando minha guarda à tia Agatha, irmã de minha mãe.

— Hm... Uma filha de criação, pode-se dizer. – sorri. – E você é...?

O rapaz voltou-se em minha direção.

Agora eu me lembrava. Era ele quem dizia aquela irritante frase. Há muito tempo atrás.

— Então... Você se lembra? – sorriu.

“O garoto do leito sete”.— completei surpresa, num murmuro.

Tia Agatha era voluntária desde que nasci, então, sempre visitávamos hospitais de internação. Eu era conhecida como “Heroína da felicidade”, um apelido bobo, mas que eu gostava. Vestia-me com uma capa e uma máscara feita de um tecido carmesim. Sempre ajudando tia Agatha com alguns pacientes. Era uma época boa, encerrando-se apenas após sua morte, há cinco anos.

Em um dos hospitais locais conheci Kentin, o garoto do leito sete. Conhecido por seus distúrbios pulmonares e falta do auxílio familiar. Eu e tia Agatha adorávamos visitá-lo. Por um determinado período nós paramos de frequentar o tal estabelecimento. Depois de uns meses fomos levar algumas flores à Kentin, porém, ele já havia recebido alta do hospital. Perdemos o contato. Pouco tempo posteriormente, tia Agatha foi assassinada.

— Meu deus Kentin! Como você cresceu! - disse surpresa.

— É sério? Bem, já faz cinco anos, não é? - soltou um riso descontraído com uma pontada de sarcasmo.

Ficamos um bom tempo conversando sobre o que fizemos durante esses anos e relembrando acontecimentos passados. Preferi não comentar sobre a morte de tia Agatha, parecia desnecessário.

Já estava anoitecendo, Kentin fora para o dormitório masculino enquanto eu retornei ao corredor principal. Iria à cantina, apanhar o prato de janta do dia.

Chegando ao pátio, logo escutei Armin, vindo de longe:

— Elsie! Espera!

Chegou ao meu lado ofegante, apoiando as mãos nos joelhos.

— Então... Você já conhecia Kentin, certo? - levantou-se alongando as costas.

— S-sim.

— Ótimo, então chegou a hora de te falar o que está acontecendo.

Algumas ideias pouco prováveis, mas possíveis, passaram pela mente.

—Se acalme, Kentin não é um killer.

Suspirei num alívio:

— Então o que queria dizer sobre ele?

— Ele está do nosso lado.

— Ué. Mas como?

— Deixe-me explicar: Somos amigos há alguns anos. Kentin não é um killer, mas ele sabe que eu sou. Eu e ele temos a mesma meta, então Kentin me ajuda com o que pode. Contei a ele sobre você e seus objetivos de vingar sua tia. Ele concordou com nossa aliança, agora, só falta você.

— Espera, espera. – balancei a cabeça negativamente, a afirmação de Armin era complexa demais para mim. – Está dizendo que contou à Kentin sobre a morte de minha tia?

— Sim.

— Ah meu deus. – coloquei a palma da mão sobre o rosto. – Antes de aceitar essa sua ideia, me diga: Tem mais alguém nessa “aliança” que eu NÃO saiba?

— Não, nós três somos os únicos. E... Como ele me disse ontem, vocês dois já se conheciam, isso torna melhor a confiança entre nós. – sorriu contente. – Então você aceita?

De fato, Kentin era um grande companheiro de infância, não tinha do que desconfiar.

— Mas, não seria arriscado o bastante envolvê-lo num conflito que não é dele?

— Não se preocupe. Ele mesmo que se prontificou para isso.

— Certo...

— Então está certo! - dizia com empolgação. – Se precisar de alguma coisa, eu e Kentin somos da suíte setenta e três, segundo andar. Fique atenta hoje à noite, a diretora vai fazer o relatório de mortes.

Já era meia-noite. Não aguentava mais esperar por aquele maldito relatório. Meus olhos se fechavam aos poucos, as pálpebras uniam-se. De repente, o keypass alarmou. A diretora apareceu na tela como sempre.

— Desculpem a demora, trago o relatório de mortes a vocês.

— Mas já? – questionou uma voz robótica.

— Sim, foi mais rápido do que pensei. – respondeu contente.

Aparecera uma ficha de Jade no monitor, com foto, algumas características pessoais, horário e local da morte. Descendo a rolagem, estava exposta uma imagem de seu estado final. A área do tórax ensanguentado. Para encerrar, havia um símbolo com a letra “K” indicando que ele era um killer.

— Jade chegou a utilizar um Cartão de Homicídio, e fora morto por duas pessoas, ambos killers. Um resultado inesperado! - observou a diretora.

— Espera. – outro membro pronunciou-se. – Se foram dois assassinos, estão formando duplas?

Eu e Armin tínhamos sido descobertos. Seríamos desclassificados?

— Foi isso o que quis dizer. – respondeu Shermansky.

— E não é contra as regras?

— Não há nenhum regulamento falando sobre. E, além disso... – abriu um sorriso. - ... Seria algo interessante.

Depois de alguns segundos em silêncio, voltou a falar:

— Naturalmente, apenas em seus keypass estará disponível o ícone de relatório diário. Tenham uma boa noite!

Acenou com um sorriso. A tela desligou-se.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer muito, pelos comentários e favoritos. Fiquei muito feliz! (≧▽≦)
Algumas partes desse capítulo sobre "o garoto do leito sete", acabei me inspirando em uma garota que conheci com cinco anos, quando fiquei internada. Infelizmente, nem do rosto dela eu me lembro mais. (;3;)
Podem deixar suas opiniões e sugestões nos comentários, fico agradecida. (^∇^) Bye!