Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 22
Investigação na Véspera


Notas iniciais do capítulo

Yoo! Feliz 2015, cambada!

Início do capítulo narrado pela Elsie.
E como foi o Natal/véspera de vocês?
Nathaniel teve um bem.. estranho, eu diria...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508366/chapter/22

O Natal, geralmente, é época que mais nos importamos em cumprir tradições. Uma árvore decorada no canto da sala, o peru assado, a família agrupada - todos estes elementos são os que tornam esta data a mais esperada do ano.

Ao decorrer de minha infância, tia Agatha era minha única companhia na ceia. Embora a carne sempre tostada, sua “lenha de natal” era maravilhosa. Transportávamos a mesa de alumínio para a sacada e comíamos ali mesmo, contemplando o panorama alvo e os fogos de artifício.

***

Os alunos demonstravam-se descontentes com o sumiço repentino das mensagens. Shermansky reportou que tudo não passava de um erro já concertado, e voltamos às rotinas medíocres do colégio.

Mas logo veio a véspera.

Toda a extensão da escola estava carregada de luzinhas e adornos divinos, além de um imenso pinheiro artificial no pátio. Estávamos tensos devido o resultado dos exames finais.

O keypass apitou.

— Pelo amor de Deus, diga que eu passei. - espremi os olhos enquanto pressionava o dedo no utensílio tecnológico.

Recuperação de notas em química e artes. Que vexame, queria tanto passar o Natal com senhora Murple.

— Não é tão ruim, Elsie. - incentivou Kentin. - Pelo menos você não é o Armin.

— Quem fica de recuperação em Educação Física?! - reclamava o moreno, em tom de derrota.

— Alguém que só quer mexer no videogame ou se esconder do vestiário. - argumentou o outro.

O trio seguiu para os arredores externos do colégio. Casacos, luvas e cachecóis, utensílios que não podiam ser deixados de lado devido o ar demasiado frio.

— Hoje é véspera... - Armin murmurou, fitando o topo da longa árvore sintética; uma estrela prateada. - Mal posso acreditar no quão rápido esse ano passou.

— Vão realizar a reconciliação de Natal? - perguntou Kentin.

— Talvez. - suspirei. - E vocês?

Ambos remexeram a cabeça como se em dúvida.

Os rapazes seguiram seus respectivos rumos pelos corredores do colégio. Fiz o mesmo.

***

Cerca de algumas horas atrás, no início do dia, Nathaniel desejara-me boas festas.

Com suas notas impecáveis, comemoraria em sua casa, portanto, pediu-me com muita preocupação:

— Elsie, sei que não tenho direito para isso, e você provavelmente odeia Burniel. Mas, por favor, tome conta dele em minha ausência. Lembre-se de que ele se arrepende pelo o que fez, e... ao menos tente perdoá-lo. Burniel é uma boa pessoa.

— E por que ele não veio se desculpar durante esses dias? - cruzei os braços. - Mas que desgraça, não parou pra pensar que ele pode estar te enganando também?!

— Confie em mim. Ele passou por instabilidades durante esses dias, e eu não gostaria de deixá-lo sozinho. Por favor...

Embora Armin e Kentin tivessem realizado uma tentativa de salvamento, ambos foram pegos pelos capangas de Castiel. Nathaniel quem realmente limpou a farra, e se não fosse por ele - e o inspetor Jack - nada me teria restado.

Suspirei profundamente:

— Okay.

***

Dormitório 13; Após distanciar-me dos garotos, aquele era meu destino.

Bati duas vezes na porta, Burniel atendeu. Fitei-o de baixo para cima, estava carregado de olheiras e vestes amarrotadas.

— Feliz véspera de Natal! - forcei um sorriso.

Desta vez ele quem me analisou:

— O que veio fazer aqui?

— Sabe como é... Nathaniel não confiaria em deixá-lo só.

— Ele... se preocupa comigo? - murmurou com a cabeça baixa. - E você quem veio cuidar de mim no lugar dele? – sorriu erguendo o rosto.

— S-sim. - meu olhar, instantaneamente, desviou de sua visão.

— Bem... então se importaria de me acompanhar no Shopping local? Preciso comprar um presente para o Mimi, meu bichano. A diretora já me concebeu a permissão para a saída. Acho que... Seria uma boa forma de recomeçarmos. - riu simpaticamente, cerrando seus olhos.

— Certo... - respondi, um sorriso acanhado.

[Kentin]

Caminhava impacientemente de um lado para o outro pela suíte, as mãos sob as costas.

— Cara, relaxa. - dizia Armin, manipulando habilmente os botões de seu videogame.

— Impossível.

18:00H; faltava apenas cinco horas para o Natal - cinco horas para encontrar um presente descente para Elsie. Infelizmente, não possuía ideia alguma do que comprar-lhe, e Armin, com certeza, não seria um bom conselheiro.

— Você iria comigo comprar um presente? - questionei à queima-roupa.

— Eu não gosto de ir ao Shopping, principalmente nesta época que tudo está cheio...

— Por favor! Você sabe que eu detesto ir sozinho a estes lugares!

Após implorar, Armin expirou fundo, inflando todo seu ego, e aceitou.

[Nathaniel]

Retornar para casa é algo fantástico para a maioria dos alunos, não posso afirmar o mesmo. Natais costumam ser uma porcaria para mim: Comemos, abrimos nossas prendas, e dormimos.

Meus pais cultivam uma relação um tanto asquerosa com seus irmãos; a ceia, ao invés de unir a família, torna-se um falatório incessante onde todos exibem suas conquistas e poderio.

Pelo menos neste ano, meus parentes comemorariam numa casa de praia. E frisando livrar-me da falsa empatia de todos, preferi ficar em casa sozinho, afinal, já tenho idade o suficiente para tal. E também, há muito que eu não guardava tempo para organizar minhas ideias.

Esparramado pelo sofá, erguia sobre meus olhos “A Aventura do Pudim de Natal”, um dos exemplares de Agatha Christie. A comida italiana já fria, posta sobre a mesa de centro e a luz do televisor refletindo sobre as íris atentas. Sem Amber e pais chiando, sem papeladas... Talvez, fosse o melhor natal da minha vida.

“Mal vejo a hora de morar sozinho.” - pensei entre as letras impressas do livro.

De repente, meu celular remexeu-se por cima da mesinha. Estiquei o braço para apanhá-lo:

— Alô?

Eu recebi novas informações.

— Jack, é você? - perguntei enquanto levantava do assento.

Sinceramente, aquele cara não tinha tempo para descansar nem no Natal?

Venha até o ponto de encontro. Não me sinto confortável conversando por essas porcarias de tecnologia.

— Está bem, está bem… Que horas? - fitei o painel de vidro da sala, o céu já arroxeava.

Agora.

***

O “ponto de encontro” era o Shopping da cidade. Um lugar bem movimentado, onde ninguém presta atenção em ninguém - principalmente na véspera, onde muitos estão tensos para encontrarem seus presentes de última hora.

— Fizeram um apanhado de prováveis suspeitos. - iniciou Jack, utilizando um traje ridículo de papai Noel. - Me parece que seu amiguinho Klippel não era tão inocente quanto parecia.

— Jade? Mas, quais os requisitos para aparecer nessa lista? - questionei.

— Antecedentes criminais e problemas psiquiátricos.

— Isso me deixa... realmente surpreso, e... perturbado. - balancei a cabeça. - Mas, de toda forma, ele já está morto. Acho que não temos mais com o que nos preocupar.

— Não, não está morto.

— O que? - torci as sobrancelhas.

— Faz quatro dias que um paciente foi liberado no hospital público da cidade vizinha. Seu nome era Jade Klippel, ele estava acompanhado de Peggy Tetzner.

— V-você acha que foi ela quem impediu de levarem o corpo de Jade?

— Com certeza. Faz duas semanas que Peggy retirou uma licença médica para se afastar do colégio, ela retornará daqui alguns dias.

— Deveremos interrogá-la?

— Se ela está envolvida com um suspeito, ela se torna suspeita também. Mas irei sozinho desta vez, como um estudante, é melhor que não se exponha tanto.

— O que faremos em relação ao Jade? E quando vamos investigar mais a fundo essa familiaridade entre ele e Burniel?

— Eu duvido que ele retorne para o colégio, caberá a outra dupla descobrir sua localização. Calma, calma, tudo há seu tempo...

Ficamos um pouco pensativos. Uma criança, caminhando de braços com sua mãe, apontou para o “Noel Jack” com entusiasmo. O inspetor ergueu o sino dourado em sua mão, tilintando para alegrar o pequeno. Um ato estranho vindo de Jack, mas que me arrancou um pequeno sorriso.

***

Após receber as informações, o inspetor seguiu para seu serviço remunerado extra, enquanto conduzi-me para algumas lojas do shopping, aproveitando o fato de ter criado arrojo suficiente para vestir o agasalho e sair de casa. Não havia muito dinheiro no bolso, mas o bastante para comprar o que queria.

Saí contente de uma loja com a sacola de papel em mãos. Uma camiseta branca, semelhante a que Burniel manchou após a hemorragia. Será que ele e Elsie estavam bem?

— Deixa disso! - ouvi uma voz familiar dentre os pedestres.

Demorou pouco para que, cerca de alguns metros de distância, eu pudesse encontrar Kentin puxando Armin fronte um comércio de jogos para console.

— Pera, olha aquele cartaz! Vai lançar um novo The Legend of Zelda! - exclamava o outro, sendo retirado da loja por seu colega.

— Que merda, vamos!

Armin fora levado por Kentin para longe, ainda fazendo protesto para ser solto, parecia um pirralho escandaloso que pede por doce. O gêmeo encontrava-se em minha ficha pessoal de supostos envolvidos, e julgando minha falta de afazeres e oportunidade perfeita, preferi segui-los, oculto entre outros indivíduos.

Ambos passavam por butiques, fitando os mostruários de vidro temperado e rindo sozinhos com bobagens que deixavam escapar entre si. Pensei que talvez fosse perda de tempo seguir aquela dupla desajeitada, mas logo adentraram uma relojoaria, e achei que poderia, finalmente, arrancar uma informação útil.

Não era uma tarefa difícil saber o que falavam, mesmo de longe. Afinal, eram os clientes mais escandalosos.

— Olha, Kentin. - disse apontando para uma das peças. – Compra esse!

— Por que você só se atrai pelo que custa a minha e sua alma juntas?

— Que exagero, é só parcelar.

Vocês são gêmeos mesmo, não é? - pude notar certa melancolia em sua nuance.

Partiram para outro comércio sem levar nada.

— O que diabos estou fazendo aqui? - suspirei ao notar que agora encontrava-me numa repartição de roupas femininas, arqueado sob um cabide de suéteres.

Do outro lado, Armin contemplava seu reflexo no espelho, utilizando uma blusa de Star Treck da coleção para garotas.

— Põe isso de volta, idiota. - resmungou Kentin, procurando algo que lhe agradasse entre os cabides.

Perguntei-me algumas vezes sobre o que aqueles patetas pretendiam fazer com trajes femininos. Por pouco não ri alto, revelando minha identidade.

Após alguns minutos, desistiram de levar qualquer coisa. Saíram murmurando e rindo.

Respirei longamente e esgueirei a visão para o lado, levando um susto com uma atendente que olhava fixamente para mim, enquanto franzia sua testa em ar de dúvida. Claro, não é muito comum ver um rapaz apoiando-se num cabide da sessão feminina como quem quer esconder-se de algo. Eu estava absorvendo aquela aura retardada, era possível.

Perdi-os de vista. Quando finalmente os encontrei, estavam assentados sobre um banco da praça de alimentação, servindo-se de uma bebida quente e com algumas sacolas ao lado. Sentei próximo, cerca de poucos metros de suas costas, apurando a audição para ouvir um diálogo que, curiosamente, se passava em tom baixo.

— Por que vocês não acabam logo com essa história? - questionou Kentin.

— Não se lembra? Eu estou fazendo isso por ele.

— Mas… E se Elsie não puder “se desclassificar” no final? Nós não sabemos o que acontece com quem foi desqualificado. E se ela for morta?

Que papo esquisito. Então, Elsie também estava inclusa...?

— Digo, - prosseguiu. – A velha não seria burra o suficiente para deixar que uma testemunha vagasse por aí.

Elsie... Era uma testemunha? De quê? 

"Eu estou fazendo isso por ele."

Isso, certamente, me lembrava…

 

Em todos estes anos, meu único pilar foi você! Tudo o que eu fiz foi por você. Eu só gostaria de te impressionar pelo menos uma vez! Mas… Se você acha que me tornei descartável, vá em frente!

 

Melody... Eu me arrependo.

“Foco, foco...”, pensei, remexendo a cabeça para ajeitar o raciocínio.

Perdi parte do diálogo entre os garotos, mas captei um fragmento interessantíssimo:

— Sei... – Armin instintivamente desviava o olhar. – É inegável pensar que ela se culpa pelo Jade. 

— Mas e você? Você a entende, não? 

Estava prestes a ouvir uma resposta que talvez pudesse auxiliar muito no caso - uma das peças daquele imenso quebra-cabeça. Quando, subitamente, algo grande lançou-se contra minhas costas. Caímos em conjunto no chão, destruindo meu disfarce.

— NATHANIEL! – exclamou Burniel, sufocando meu pescoço com seu abraço afobado e meloso. – Eu não acredito que você está aqui!

Todos na praça de alimentação voltaram-se para nós, rindo baixo ou murmurando. A dupla de alunos parecia assustada ao notar minha presença.

— N-não faça isso de novo! – ralhei, embora, no fundo, apreciasse sua consideração fraternal.

De longe, a voz de Elsie:

— Burniel, meu Deus! – correu segurando a alça de sua bolsa de ombro, parando exausta à nossa frente. – Eu não posso desviar minha atenção por um segundo que...!

Ela estava preparando para ditar seu conjunto de censuras merecidas, quando também reparou minha figura:

— V-você por aqui!

— Fico feliz que tenha aceitado minha proposta. – sorri enquanto erguia-me novamente, com o auxílio de Burniel.

Armin e Kentin também se aproximaram. Cumprimentaram-me com certo constrangimento e entregaram à Elsie uma sacola de presente, cuja rapariga abriu sorridente. Observei àquela troca de abraços e presentes.

Estava ao lado dos sujeitos, mas, por algum motivo estranho, sentia-me distante daquele trio.

Aqueles sorrisos, pareciam desesperados, sofridos e intocáveis. Havia uma essência fúnebre os rondeando. Eu nunca tinha os visto dessa forma. Talvez porque antes, nunca realmente parei para notá-los.

Sim, aquilo era o “olfato de cão”, na qual Jack sempre me contou. A moldura que os investigadores ganham com o tempo, capazes de nos fazer observar o mundo de outra perspectiva, e enxergar mais do que simples figuras tridimensionais.

Certamente, aquele trio nunca me pareceu tão enigmático.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado a você que leu até aqui! ♥
Tentei abordar mais o lado do Nath nesse capítulo, nem acredito que terminei.
E, gente, que episódio foi aquele?! Eu surtei com aquela imagem do Nathaniel.
Essa cena dos ataques do Armin com LOZ são totalmente inspiradas em mim, a reação do Kentin seria exatamente a do meu bofe. hue
Podem deixar suas opiniões nos comentários! Feliz 2015, e até mais!
Kissus!