Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 20
Cúmplices amantes


Notas iniciais do capítulo

Me desculpe o atraso como sempre. Essa semana tá uma loucura.
Mas... Hoje tem dois capítulos! ლ (╹ ◡ ╹ ლ)
Boa treta! ♥ ~~



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Tillie pôs as mãos sobre a tábua, como se para empurrá-la com violência.

Mas é claro, como não pensei nisso? Para entender tão bem sobre um keypass a ponto de implantar um hacker, só alguém que utilize-o por anos, horas por dia. Um professor.

Num gesto rápido, lancei a tesoura sobre o abdômen de Tillie, penetrando sua carne feito argila. A professora deixou sua inexpressividade transformar-se num terrível semblante de dor:

— M-maldita...!

Tillie cambaleou para trás e caiu contra a parede doutro lado, gotas de seu sangue salpicaram pelo carpete bege. Aproximei-me de seu corpo que contorcia-se de agonia e agachei-me diate sua face:

— Sei que você não é a única hacker e já sabia que viria, mas, não imaginava que agiria tão cedo. - ela arfava afligida. - Vocês não chegaram a enviar a mensagem... Acho que tive sorte de estar precavida.

Naquele momento da noite todos estavam em suas suítes, - ou quase todos - e como nossos quartos previnem ruídos exteriores, qualquer confusão seria evitada.

— Agora me diga: quem está te ajudando? É o maldito do Burniel?!

Mesmo com dificuldade, ela desdobrou um pequeno sorriso. Desviei o olhar:

— O-o que há de tão engraçado? - perguntei com irritação.

Antes que pudesse visualizar o motivo do riso, dois antebraços sufocaram meu pescoço, e arrastaram-me para trás.

— Me solta! - exclamei. Aquele toque fazia-me recordar das agressões, resultando numa tremulação de agonia.

— Pegue a tesoura, Tillie! - ordenou a voz por trás de minha cabeça.

Aquela voz era... Jane?

Tillie retirou o metal dentre o abdômen, levantou apoiando-se pela parede e fitou-me com o olhar transbordando de ódio. Quando estava prestes a cravar sua vingança, um vulto lançou-se contra seu corpo e ambos cairam sobre o assoalho numa confusão de golpes.

— A-Armin! - exclamei tentando livrar-me de Jane, que compressava minha garganta.

— Você não deveria ter feito isso à Tillie, sua pirralhinha de merda. - disse aos meus ouvidos com um sorriso macabro. Eu não deveria me surpreender de que, no fundo, ela sempre fora assim.

Na pouca luminosidade do corredor ouviu-se o som de passos rápidos, abafados pelo longo carpete. Kentin chegou punhando a boca de Jane, esta ficou tonta e livrou-me de seus braços; caindo logo em seguida. Ele segurou uma de minhas mãos com firmeza e puxou-me para longe.

A cena distanciou-se, os brados de Armin tornaram-se longínquos. Voltei-me para frente contemplando a cabeleira castanha e, logo em seguida, alternando o olhar para nosso par de membros unidos.

— Vai ficar tudo bem com ele? - perguntei afligida.

— Num momento temos de nos preocupar sobre aonde nos esconderemos. - sua resposta deixou-me inquieta, e, se não estivesse ainda fraca, retornaria para auxiliar Armin. - Ele se sairá bem, acredite.

Pensei sobre sua afirmação, mas não pude desapegar dos pensamentos pessimistas.

(...)

A dupla de professoras se apossou da passarela que ligava ao terreno principal do colégio, ou seja, estávamos limitados ao prédio feminino.

— O jeito é pular alguma janela. - sugeriu Kentin enquanto corríamos.

— Ficou louco?!

— Você prefere perder uma perna ou a vida?

— Ficaríamos tetraplégicos, não só sem uma perna!

— Então o que você sugere?

Pensei por um momento, ainda com o ritmo acelerado dos pés. Decidi tomar a frente de Kentin, guiando-o:

— Vem por aqui!

 

[Armin]

No decorrer do combate corporal, já de pé, Tillie apunhalou superficialmente meu braço direito, e arrastou a tesoura para baixo, provocando um corte deplorável. Esgueirei-me para trás, com uma de minhas mãos comprimindo o sangue que vazava, parando há alguns centímetros de distância da professora e encando-a enquando tentava sufocar um gemido de dor.

Ela estava inexpressiva como sempre, porém, mais amedrontadora do que nunca. Um coágulo manchava sua camiseta na região do abdômen - a área acertada por Elsie. Mirei-a com os olhos arregalados de cima a baixo. Impossível que estivesse ainda de pé, sendo que eu, mal suportava o rompimento no braço.

Tillie impulsionou-se até mim segurando a tesoura, e com sorte, pude bloqueá-la. Apanhei um de seus pulsos e torci-o para baixo; a professora largou à lâmina e soltou um grito.

Ela enfureceu-se e empurrou-me para o solo junto consigo; voltamos ao estágio inicial. Com o braço danificado, não conseguia impedir seus golpes sucessivos em meu rosto.

— Vamos, Armin, lute! Olhe para mim! - sorria.

Continuei a observá-la sem conseguir mover um músculo sequer. Seu olhar não era sensato, como se um demônio tivesse apossado-se sobre seu corpo. Ela ria com a respiração ofegante:

— Lute, Armin! Seu colega e sua namoradinha vão acabar do mesmo jeito que você, que vergonha!

Senti uma sensação estranha, uma que já não sentia há muito tempo.

Ela ergueu a mão fechada para o alto, provavelmente, unindo todas suas forças restantes:

— Mande lembranças para meu querido aluno Alexy! Isso é, se vocês forem para o mesmo lugar!

Espremi os olhos.

Notando que nada ocorreu, desafroxei-os novamente. Seu punho trêmulo estava há pelo menos um palmo de minha visão, e minha mão, ganchada firmemente ao seu pulso. Com esforço, empurrei-a de cima de mim.

Estava prestes a levantar-me para correr, mas ela rapidamente agarrou-me pelo colarino e ergueu meu corpo há alguns milímetros do chão. Arrastou-me violentamente para trás, na direção da passarela de vidro. Tentei friccionar os sapatos no carpete, mas meu braço latejava incessantemente, e aquilo me exaustava.

Tillie enraizou seus dedos dentre minha madeixas e apertou-as; cerrei os olhos com força. Tendo meu crânio sob seu controle, ejetou-o contra um painél de vidro. E continuou fazendo isso, até que sangue brotasse em minha testa e escorresse pelo nariz.

À beira da desistência, tive aquela sensação estranha novamente, todavia, com muito mais intensidade.

Relembrei de meu irmão em sua maca, aparelhado e indefeso. Eu precisava, não importava como, retornar para ele o mais cedo possível. Precisava desculpar-me.

Sentindo lágrimas salgadas adentrando à beirada de meu pequeno sorriso, gerei forças suficientes para apanhar seu outro pulso e torcê-lo. Ela soltou um grito de dor ainda maior. Tornando-me livre, abaixei-me a sua frente e cotovelei seu estômago.

Tillie caiu na plataforma de vidro, agora com dificuldades para respirar.

Agarrei-a pelo blazer carvão, fazendo esforços com o membro direito e pontapeei o centro de seu estômago. Tillie bateu com as costas na parede de vidro e deslizou devolta ao chão. Levantei uma das pernas e dei-lhe um chute na lateral rosto. Ao ouvir a trincada do vidro, motivei-me a continuar com a sequência de pontapés, cada vez mais empolgado.

Finalmente, a vidraça foi esmagada. Tillie, já inconsciente, não pôde segurar o peso do próprio corpo. E foi arremessada lá do alto, estatelando-se no gramado, partindo a cabeça.

Encarei a enorme mancha de sangue formada, que mais parecia tinta vermelha lançada sobre uma tela verde.

Tentei retornar ao corredor dos quartos, debruçado contra a parede de vidro, arfando e manquejando. Logo minha visão desvanesceu, e eu pude sentir o impacto entre a ponta do maxilar e o tapete pinicante.

(...)

Abri aos olhos novamente. A claridade provinda de uma ventana ardia o interior dos olhos - era uma visão bem diferente da última que vi, cujo o panorama era escuro e frio.

Aquilo não foi um sonho; meu braço estava contornado por gesso branco, e eu me encontrava na enfermaria do colégio.

Fui recebido por Elsie e Kentin. Aparentemente ambos estavam sem quaisquer ferimentos; tirando alguns hematomas da garota, obtidos outrora. Trouxeram-me o café da tarde e relataram os últimos acontecimentos, na qual ouvi muito atento, enquanto lambuzava às torradas com queijo.

— Nós estávamos fugindo de Jane. - iniciou Kentin. - E enquanto descíamos às escadas para o ofurô, ouvimos um estouro no lado de fora do colégio... Por uma escotilha vimos o corpo de Tillie, e logo em seguida, Jane saiu com pressa por um atalho que levava para o gramado. 

— Ela passou a chorar descontrolada. - continuou Elsie. - Pegou um dos cacos de vidro dali mesmo e lascou no pulso. - suspirou em lástima. - Eu... me sinto culpada por ter visto Jane daquela forma. Embora eu saiba que ela nunca foi inocente.

— Não tem porque se sentir mal, foi legítima auto-defesa. - Kentin afagou seu ombro, enquanto sorria. Elsie retribuiu com o mesmo ato, porém menos intenso.

[Elsie]

Quando o Relatório Diário deu a ambas como falecidas, senti o mesmo com a morte de Jade.

E por um momento, pude recordar-me com perfeição sobre algumas palavras ditas por Melody.

“Sabe de uma coisa? Uma garota como você não deveria estar entre nós. Está na cara que não tem a mínima noção da nossa perspectiva sobre o mundo(...) Entenda: seu lugar não é aqui. Se por algum "milagre" você chegar ao final, não será mais a mesma pessoa.“

Apertei o pingente de tia Agatha sobre minha mão.

Eu sabia que minha tia não estaria nem um pouco contente com o rumo que tomei. Mas... eu estava fazendo tudo por ela! Além do que, cheguei ao trágico ponto onde não há mais volta. A desistência provavelmente me levaria à morte.

Dormi pouco perturbada. Não somente pelas professoras, mas porque sentia, que em algum lugar, alguém obstinava por minha tragédia e rancor.


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Notas finais do capítulo

"ALGUÉM obstinava por minha tragédia e rancor." ADIVINHA QUEM É?? DÃ DÃ DÃ..