Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 16
Dormitório 13


Notas iniciais do capítulo

Olá! ∩( ・ω・)∩
No capítulo anterior, houve um pequeno "PDV" de Nathaniel. Descobrimos que no colégio há uma espécie de "grupo secreto", onde o ditador seria Castiel. A primeira aparição de um novo personagem; uma espécie de "capanga" que tentaria atrair Elsie e "vingar-se" por Castiel. O "ruivo" parece um tanto confiante quanto à lealdade do novo integrante. Será que ele está certo?
No final do capítulo ficam bem esclarecidos (eu espero) os objetivos de Nathaniel.
Boa leitura! ★(‘∀’●)



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[Elsie]

Professor Faraize estava a explicar sua matéria, e como sempre, aluno algum se dava ao trabalho de ouvi-lo. Não querendo passar-me por moralista, aliás, eu era um destes estudantes desatentos. Pobre coitado; mas não tenho culpa se sua didática era tediosa e tradicional.

Desde sempre, pouco interessei-me por desenhar. Mas, ultimamente, habituei a criar rabiscos nas últimas folhas do caderno. E naquele momento, estava fazendo isto. Eram formatos aleatórios, criados sem perspectiva. Traçava o que me cabia à mente, sem ao menos prestar atenção no que realizava. Faraize fitou-me de longe com certa censura, e foi quando, disfarçadamente, pus uma folha de exercícios acima do desenho.

Alguém bateu na porta, suspirei com alívio.

— Pode entrar. - disse o professor.

A tábua moveu-se para frente, rangindo pelo atrito com o solo. Adentrou um rapaz de porte médio, cabelo louro escuro de corte pouco fora do usual.

— Bom dia, professor. - disse ele em tom cordial.

— E... Quem seria você? - questionou, ajeitando os óculos com o index.

— Burniel Tissou. - uma das pontas de seus lábios ergueu-se de leve.

Houve um pequeno rebuliço de murmúrios, principalmente por parte das garotas, que não poupavam elogios - um cupido muito arteiro estava agindo. Os garotos seguravam o riso; talvez devido a voz calma, talvez por causa de seu nome peculiar.

— A direção não me contou sobre sua vinda, senhor Tissou. Por favor, arranje um lugar para se sentar.

Posso até dizer que, exteriormente, ele não era de se jogar fora. No entanto, aquele sorriso inocente carregava algo ambíguo, deixando-me um tanto quanto perturbada. Chegou até a lembrar-me de minha primeira impressão com Jade. Armin e Kentin também não pareciam confortáveis com a presença inusitada do novato.

(...)

Trancafiada em minha suíte escura, iniciei uma revisão de matérias cujo apresentava certa dificuldade, aproveitando o fato de que o dia andava calmo. Canetas, livros, atlas e folhas rabiscadas - tudo esparzido pelo assoalho. Mas, já havia um bom tempo que parara de estudar, dando interesse ao “amuleto” de tia Agatha e àquela foto peculiar.

— Quem será este garoto? - comento, deitada inquietamente sobre o chão. - Eu queria tanto poder perguntá-la.

Olho mais uma vez as facetas de ambos e o recado escarlate: “Por todo nosso tempo juntos.”. Resmungo ao pensar que nunca saberia sobre suas relações. Mas, afinal, por que estava tão aflita por isso? Talvez, eu pressentisse que aquele rapaz poderia levar-me à alguma verdade.

Assustei-me ao ouvir um miado vindo da janela. Quando levantei o rosto, pude encontrar um pequeno gato negro sobre o umbral. Havia um tempo que não me deparava com tal forma de vida, portanto, não pude conter um ataque:

— Oh meu deus, mas que fofura! Venha aqui! - corri até a ventana.

Quando aproximei-me desta, uma sombra vinda do lado externo apareceu no mesmo instante. Ficamos frontalmente paralelos, como a imagem de um espelho.

Assustamos-nos e gritamos em conjunto. Estabanada, caí para trás e bati as costas no chão. O desconhecido foi para frente, consequentemente caindo debruçado contra o piso do quarto, seus pés ficaram suspensos à janela. O gato ronronou e lambeu a pata.

Saquei uma tesoura para papel que estava caída junto aos outros materiais, apontei-a na face do sujeito. Este estremeceu e afastou-se bruscamente ao notar o objeto pontiagudo a centímetros de seus olhos:

— Ei!

— Quem é...?!

Parei por um instante, aparentando mais calma:

— O novato?

— Burniel Tissou. Prazer. - sorriu tremulamente enquanto estendia o braço. - E-e você seria...?

— Elsie Cotton.

Percebendo que ele parecia mais inofensivo que uma mosca, abaixei a tesoura. Mas também não confiei em apertar sua mão.

— O que está fazendo aqui? Quer que eu chame um inspetor para que te dê um castigo por estar a esse horário no prédio feminino no quarto de uma garota que apenas queria sentar-se e estudar um pouco mas que foi surpreendida por um novato com terceiras intenções? - inspirei fundo. Ufa.

— Espera aí! - levantou-se enquanto apalpava suas calças. Suspirou. - Olha, desculpe a invasão, não tinha intenção de te assustar. Eu... Só queria resgatar meu bichano que estava na janela. - apanhou o felino em seu colo e passou a acariciá-lo.

— Sabia que é extremamente proibido a presença de animais no colégio?

— Não haverá problema se ninguém saber, não é? - sorriu dando uma piscadela. Desviei o olhar.

— Como subiu aqui? Este é o segundo andar do prédio.

— Quando já se está acostumado a subir grades, tudo fica mais prático. - ele foi até janela, sentou-se sobre a ombreira e colocou um dos pés para fora. - Até outro dia, garota Cotton!

Inesperadamente, jogou-se pela escotilha.

— Meu Deus!

Corri até ela, mas Tissou não se encontrava mais lá embaixo. As cortinas foram levemente erguidas por uma brisa fresca.

[Nathaniel]

Dormitório 13. Pertencente a mim e, anteriormente, ao meu falecido colega de quarto, Jade Klippel.

Um rapaz aparentemente calmo e bondoso. Conversamos poucas vezes, pois, devido nossos cargos como representantes, não tínhamos tempo para fixarmos-nos em nossa suíte. Nunca nos desentendemos. Um de nossos pequenos diálogos foi sobre economia.

Embora muitos tenham em mente que Klippel transferiu-se para outra cidade, conheço parcialmente à realidade. Jade fora morto. Por quem ou por quê? Isso só Deus sabe..

Pode parecer loucura, mas ele é só mais uma das vítimas de um estranho fenômeno que está a ocorrer neste colégio; onde há presas e predadores. Melody, por exemplo, encaixava-se entre estes últimos.

Diante pesquisas e fontes confiáveis, soube que este mesmo evento já houve anos atrás - o que deixa claro que ou a direção está tentando mandar tudo para debaixo do tapete, ou, de alguma forma, ela está diretamente envolvida nisso. 

“Você é extremamente apto. Mas para trabalhar com isso, deverá eliminar qualquer valor que tenha aprendido e saber lidar com suas emoções. Além do que, o pagamento será um tanto quanto generoso...”

Após ingressar ao colégio, meu objeto era apenas tornar-me representante, ser reconhecido por meus pais e vivenciar uma vida de estudos, que futuramente seria recompensada por doces frutos. Contudo, minha aptidão para o “novo cargo” fez-me repensar meus antigos objetivos e anulá-los. Meus atuais propósitos incluem a missão concebida: Hei de descobrir sobre os assassínios e punir envolvidos.

Talvez, a posição como presidente do Grêmio tenha me favorecido em termos de investigação - há muitos gabinetes que apenas representantes têm acesso com seu keypass.

Certa noite, meses atrás, quando fui checar se as salas foram trancafiadas, notei que a porta da estufa de jardinagem encontrava-se inteiramente aberta, e um banho de luz era projetado para o lado exterior. Resmunguei alguma coisa e caminhei para fechá-la. Interiormente, havia alguns materiais de jardinagem espalhados pelo chão de terra, agachei-me para recolhê-los. No final da trilha, derramei tudo o que carregava após ficar cara a cara com o defunto de meu colega de quarto, Jade. Pressionei as mãos sobre a boca, o odor de sangue penetrou às narinas, gerando a ânsia. Clamei meu “superior” para que ordenasse o que deveria ser feito. “Curioso..”, foi seu primeiro comentário ao fiscalizar Klippel de cima.

Deduzimos parte dos acontecimentos. A arma era um ancinho, fora lançada contra seu ombro. Caída ao lado de sua mão esquerda, estava sua tesoura jardineira, com uma pequena mancha de sangue. Talvez tentara defender-se do criminoso.

Antes de retirarmos o desfalecido e levá-lo à Central para uma autópsia mais detalhada, ouvimos passos pesados aproximando-se. E, para não sermos vistos, tivemos de nos infiltrar num minúsculo armazém de sementes. O corpanzil do superior tomava grande parte do recipiente, portanto, tive de comprimir-me sobre a parede. Escutamos o ruído de um saco de batatas sendo arrastado pelo chão, como se armazenasse algo pesado - talvez o corpo de Klippel. Subitamente, houve uma pausa, e uma voz feminina introduziu-se à cena. “Esperem!”, exclamou ela.

Infelizmente, não pude reconhecer àquela sonoridade, mas ela parecia implorar para que deixassem o defunto sobre sua custódia. Havíamos perdido uma valiosa fonte de informações. Droga!

Bem, acho que agora devo conceber ao menos quinze minutos de descanso à minha mente. Aindo dedico parte do tempo para revisar. Não é porque estou trabalhando numa inquirição que devo parar de estudar. Caso contrário, meus pais notariam que há algo de errado comigo - ou não.

Gozado, falar sobre “inquirição” massageia um pouco meu ego. Faz-me sentir como um Hercule Poirot, ou uma espécie de Sherlock Holmes. Embora eu saiba que não é tão simples assim...

(...)

Abro os olhos vagarosamente. Não recordo do meu sonho ou por quanto tempo adormeci - talvez um pouco mais que o programado. E... sinto que fui despertado por uma estranha presença. Perturbador.

Ao fitar o outro lado do quarto, onde encontra-se a antiga cama de Jade, tremi num calafrio. Meus batimentos excederam o limite, indo às alturas:

— QUE MERDA...?!

— Olá! - acenou sorridente. Qual era o nome do maldito...? Ah! Burniel. Burniel Tissou, que nome mais...

Encontrava-se esparramado pela cama, apoiando a lateral do rosto sobre o busto da mão:

— Desculpe o susto. Sou seu novo colega de quarto. Qual é seu nome?

Fantástico! Não bastasse o susto!

— Espere. Já sei! - continuou. - Você é o novo integrante do grupo de Castiel, não é?

— Não há necessidade de me lembrar que sou “parceiro” daquele arrogante. - resmunguei.

Pelo amor de Deus, substituíram Jade por isso?

(...)

Crepúsculo. Ao retirar-me da sala do Grêmio segurando uma pilha de documentos, deparei-me com Burniel, no corredor, conversando com uma dupla de garotas. Ele acenou de longe e correu até mim. Ambas acompanhantes voltaram-se com um ar de desprezo, talvez, irritadas com a interrupção.

— Passe alguns papéis para cá. - sorriu oferecendo auxílio.

Criei uma expressão amarga e virei-me de costas para o garoto, pondo-me a caminhar pelo corredor. Com o ato, tinha a expectativa de que deixasse-me em paz.

— Ei. - seguia-me. Que grande porcaria. - Por que não deixa eu te ajudar?

— Não preciso da sua ajuda. - grunhi.

— Por favor. - insistiu.

— Não.

— Por favor.

— Não.

Burniel inspirou fundo e liberou o ar repetindo a expressão de pedido, diversas vezes. Bradei:

— Você tem seis anos ou o quê?! Pronto! Tome isso aqui! - entreguei-lhe parte dos documentos.

Não confio nesse sujeito. Ele não aparenta ser como os outros integrantes da pequena gangue de Castiel. Certamente, distorce às cenas de tal forma que ele pareça o “subordinado ignorante”, quando, na verdade, é ele quem utiliza-se do ruivo para receber informações. Talvez tenhamos algo em comum.

Depois de entregar os papéis aos locais corretos, Burniel finalmente foi-se. Continuei no gabinete do Grêmio.

O toque de recolher já havia tocado, mas se eu continuasse naquela sala não seria punido. Era só justificar com “Ainda tenho alguns documentos”, ou coisa do gênero.

Não que fosse verdade. Representantes não exercem grande influência sobre o colégio, como muitos pensam. Utilizava essa desculpa para apossar-me do computador da sala; uma daquelas máquinas brancas e enormes, muito comuns em 2001, nada sofisticado.

Estamos naquela época do ano que, à noite, tudo torna-se abafado. Deixei o vidro da janela pouco erguido, liguei o ventilador, dobrei a manga da camisa até o cotovelo. Tenho a impressão de que a sala do Grêmio foi a única que nunca passou por reforma desde que fora construída. Essa é a justificativa de que por que uma escola tão tecnológica ainda conservava sucatas como o computador branco.

— Hora de começar. - entrelacei os dedos da mão e alonguei os braços.

Ao contrário do usual a se pensar, não utilizo o computador como forma de espiar a vida alheia. Bem, pelo menos não com o propósito que muitos imaginam. A internet é uma excelente maneira de obter informações pessoais, e é isso que a torna útil na hora de investigar. Cada dia recolho notícias de um estudante determinado. O aluno de hoje:

Armin Moreau.

Dezessete anos. 1,76m. 71kg. Sangue O+. Origem: Arnaud e Vitória Moreau, ambos falecidos. Alexy Moreau, seu irmão. Embora tenha uma visível paixão por jogos, nunca tornou-se vidrado a ponto de torná-los mais importante que sua família e amigos, utilizando-o apenas como um passatempo.

Estas anotações básicas me gastaram cerca de duas horas. Estava acabado.

“Alexy Moreau”, lembro dele. Aliás, impossível não recordar. Sempre trajado de suas vestimentas chamativas e o cabelo anil. Raro era vê-lo entristecido, ou sem a companhia de seu irmão. O que terá acontecido com ele? Fiquei pensativo.

A última vez que o vi, ele estava caminhando com rapidez pelo corredor principal. Segurava uma bolsa e... parecia chorar. Depois daquilo, nunca mais o vi.

Agora recordo de um dia anterior.. Alexy estava se apresentando de frente para todo o colégio, quando, subitamente, Armin foi à encontro de um garoto da platéia, a quem agrediu aparentemente sem motivos. Soube que os ferimentos do rapaz não foram leves, e que ele teve de ser internado. Transferiu-se dias depois, e então, todos esqueceram essa história.

Sei que, às vezes, perdemos a cabeça. Deixamos nossos instintos nos guiarem e fazemos besteiras. Mas, quando lembro da expressão do gêmeo, chego a sentir até certo calafrio.

Algo me diz que terei de dar mais importância a Armin nesta investigação.


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Notas finais do capítulo

(●__●) Perguntinhas para os leitores:
1) Quem vocês acham que seja esse tal "superior" de Nathaniel?
2) Imaginam quem seja esta garota que "implorou" para ter Jade sobre sua custódia? Têm em mente algum objetivo doentio?
Talvez esse "arco" seja um pouco enjoativo pelo fato que terão muitos "pontos de vista" de personagens não tão importantes na história em geral, mas lembrando que estes ajudarão a guiar Elsie. (」゚ペ)」
Eu tava ansiosa pra postar esse capítulo, então espero que tenham gostado.
Não fiquem bravos com o fato de não terem "tretas" num momento. Um novo antagonista está chegando... ❤