Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 12
Dar ao gatilho


Notas iniciais do capítulo

De tanto falar da Tia Chino quanto a demora dos episódios, talvez eu esteja ficando igual. (;--;) Como dito anteriormente, ando um pouco atarefada com teatro, redações, provas, apresentações - Tá muito louco.
Bem... Eu costumo dividir esta Fanfic em "arcos". Num momento estávamos no arco que visava "Kim, Melody, Elsie". Ele começou desde a morte de Violette e, para grande felicidade, termina neste capítulo!
Chega dessa mesmice, porque até eu estava cansada.
Agora, a continuação desde o suicídio da "noviça" na frente de Elsie. Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508366/chapter/12

Depois do surto, sem intuitos traçados, saquei a arma machada de sangue. Cambaleei com o corpo ainda trêmulo até onde as outras duas ainda disputavam. Nunca havia tocado numa pistola, e agora, posso dizer que elas são mais pesadas do que aparentam. O gatilho também não é tão simples.

Andava sem rumo e sem ânimo. A visão de minutos atrás proporcionou-me um grande impacto, fazendo-me repensar as ideias. Deveria ou não continuar com aquele jogo doentio? Eu só concordei em participar pois seria a única forma de ingressar ao colégio. Eu imaginava que encontraria o sujeito quem tanto abomino. Mas... Será que este meu objetivo é compensável?

“Me chamo Jade, prazer.[...] Vamos, diga quais são suas ambições aqui. [...] Fazer coisas pelos outros é inútil! No final, eles sempre vão se esquecer de você!”

Não quero mais ser enganada.

“Acreditar em Armin foi simplório da sua parte. Você será utilizada como um brinquedo, e logo será descartada. Afinal, ele não é muito diferente da maioria de nós.”

Não! Ele não pode ser cruel como todos! Seus objetos podem nada ter haver com o grande prêmio. Armin, com certeza, passa o mesmo que eu. Deve me entender!

Manquejando e desnorteada, sorri por um momento. Meus sentidos tornaram-se pouco vívidos. Tudo enegreceu.

(...)

Esfreguei os olhos com o dorso da mão. Assim, uma visão não muito nítida, mas perceptível, formou-se: ao julgar pela iluminação do teto, era uma suíte do colégio. Após sentir as costas nuas sobre uma fronha de textura grosseira, notei que aquele não era meu dormitório; meus lençóis eram macios e lisos, diferentes daquele. O ambiente, ou melhor; aquela cama, possuía um cheiro indescritível, inefável. Mas com isso, quero dizer, um perfume incrivelmente maravilhoso, que eu nunca sentira antes. Nem doce, nem madeireiro.

De repente, enquanto observava o teto, seu par de olhos anilados amostrou-se acima de meu rosto:

— Você acordou, Elsie!

No susto, soltei um grito agudo. E, ao tentar levantar-me, nossas testas chocaram-se uma contra a outra. Armin caiu para fora da cama.

— Mas que droga! - contorcia-se no chão, pressionando a mão sobre a batida.

Chegou até a me lembrar da primeira vez que nos vimos na sala de detenção. Eu adoraria rir para desforrá-lo, entretanto, ao notar a forma que eu me encontrava, saquei o primeiro lençol que vi pela frente para encobrir-me: na parte de cima, restavam-me apenas um velho porta-seios com estampa de coelhos.

— “Mas que droga” digo eu! - bradei. - Que lugar é este e onde está minha blusa, seu tarado?!

— C-calma! Eu posso explicar! - arrastou-se para trás pelo chão. - Aqui é meu quarto. E foi Kentin quem fez isso!

— Kentin?! - exclamei com indignação.

— Isso! Quer dizer... Ele precisava, de alguma forma, colocar as gazes nos seus machucados.

— Machucados? - perguntei, arqueando uma sobrancelha. Estiquei o pescoço para melhor vizualizar minhas costas, lá encontrava-se um belo arranhão.

Encontrei minha blusa dobrada sobre a cama, e logo saquei-a para vestí-la.

— Será que pode se virar? - censurei-o.

— A-ah... Claro! - esbracejou rapidamente e virou-se de costas.

Que atmosfera mais desconfortável!

— Sabe... - continuou Armin, de costas. - Kentin quase me metralhou quando soube que você tinha ido atrás de Kim sozinha. Quando chegamos lá, te vimos desmaiada e daí... Bem, isso não importa. Eu só queria me des...

— Kim? - interrompi-o. - O que aconteceu com ela?! - perguntei eufórica, levando-me da cama.

— Espera! - voltou-se para mim. - Eu e Kentin não a vimos no esconderijo; nem ela, nem Melody. Não há porque ir atrás dela novamente. - levantou-se e sentou sobre a borda do colchão.

Sem esperanças ou expectativas, meu corpo caiu devolta à cama.

— Aliás, você sabe que lugar estranho é aquele? - questionou referindo-se ao local de combate. - Parecia uma espécie de gerador de energia.

— Não faço a mínima ideia... - respondi, pensativa sobre o que teria acontecido com Kim.

Armin parecia falar sobre algumas coisas aleatórias; mesmo fixada ao seu olhar, minha mente desatentou-se às suas palavras. Eu perguntava a mim mesma em como, mesmo depois de eliminar alguém, ele conseguia ainda ter um diálogo habitual, e ao mesmo tempo, sorrir de forma tão cativante. Por quais motivos eles aceitaria à proposta de Shermansky? Quanta frieza aqueles olhos cor de céu escondiam?

— Ei, Elsie... - estalava os dedos em frente minha visão. - Está me ouvindo?

Permaneci intacta por uma fração de segundos, logo voltei a mexer os olhos.

— Ah, esquece... - ele suspirou retirando-se de costas para mim. - Você deve estar muito cansada. Não sei o que aconteceu com você lá embaixo, mas julgando seu comportamento, parece que não foi coisa boa. Podemos conversar sobre isso mais tarde, se quiser...

— Espera. - segurei a ponta de sua blusa. - Armin... - iniciei, pensando mais uma vez no que iria dizer. - Por quê?...

Virou o rosto em minha direção, talvez um pouco receoso com o que viria a seguir.

— Por que está aqui?... Quais são os seus objetivos?

Armin produziu um breve riso abafado. Mesmo demorando um pouco, respondeu com um sorriso oblíquo:

— Acho que posso te explicar um pouco, daqui alguns dias.

— C-como? - assustei-me com seu comentário.

— O dia de visita aos pais. Que tal?

Um desfecho imprevisível. Nunca imaginaria que ele cederia tão fácil. Bem, o que restava era remexer a cabeça num sinal positivo, aguardar pelo grande dia e se segurar para não roer os nervos das unhas com tamanha ansiedade.

Antes de retirar-me da suíte, finalizei com dezenas de agradecimentos e pedi para que repassasse este recado ao Kentin.

(...)

Quando o relógio digital marcava 23:55H, eu estava devolta a meu dormitório. Deitada sobre a cama, aguardava com ânsia aos resultados do Relatório Diário. O que teria ocasionado o repentino desaparecimento de Kim e Melody?

“Kim... O que aconteceu com o corpo da Violette?

Alguns ajudantes da diretora vieram carregá-lo.”

“E se algum destes ‘ajudantes’ tivessem pego os cadáveres?... De qualquer forma, teria de ter mais uma pessoa na confusão para que pudesse eliminar ambas.” - pensei, logo em seguida dando três socos de leve na madeira da cama para afastar o carma. - “Não posso imaginar que algo de ruim tenha acontecido à Kim. Isso é inaceitável!”

Assim que os algarismos do relógio converteram-se para quatro dígitos zero, gelei ao repensar possibilidades.

Não houve nenhum sinal do alarme.

Passaram-se dois minutos, cinco, e até meia-hora... Mas, nenhum sinal.

Talvez o que acontecera entre as estudantes não era de conhecimento da direção. Ou quem sabe, não podia ser divulgado. Não sei. Contudo, tenho o desconfortável sentimento de que algo a mais ocorreu.

[Melody - Flashback]

Depois de exaustos minutos de combate corporal, Kim caiu à minha frente respirando com dificuldade. Mesmo assim, não retirava o sorriso debochado do rosto:

— Você nunca desiste, não é?

— Por que eu desistiria? Estou fazendo tudo isso por ele. Diferente de você, levo minhas ambições a sério.

Seu sorriso desfez-se, formando um semblante amargo:

— Este seu amor doentio dá vontade de vomitar.

Permaneci intacta e calada. Kim continuou:

— Tão cega que mal percebe. Você realmente acredita no que Shermansky diz? Sobre o tal “grande prêmio”?

— O que quer dizer com isso? - franzi as sobrancelhas.

— Está na cara que isso é apenas uma “isca” para aceitarmos participar. É claro que a velhota tem algum objetivo insano em mente. - sua voz era firme, seus lábios moviam-se habilmente. - Você é ingênua. Se acha superior só por conseguir estragar a vida de qualquer um e não sentir remorso.

Continuei a encará-la.

— Neste momento, não me importo mais se vou sobreviver ou não, sei que pagará cada sofrimento que caus...

Já exausta de ouvir suas tolices, apressei-me em nocauteá-la com um pontapé do rosto. Espontaneamente, a trigueira caiu de bruços.

Agora sim. Agora Kim encontrava-se em condições satisfatórias. Sem meus apetrechos ou instrumentos de corte, com os olhos, contornei o local à procura de algo útil. De um pouco longe, fitei um cano de alumínio caído pelo chão. Caminhei até ele e saquei-o. Retornando ao corpo, disse:

— Idiota. Tenha mais cuidado com o que diz. Eu deveria te socar com isto até que virasse um pedaço de carne.

Embora a esmorecida não respondesse ou escutasse, era empolgante narrar o seu suposto fim. Apertei o alumínio com ambas as mãos e ergui-o até a cabeça. Essa seria minha segunda vítima desde que iniciei o jogo. Estava me saindo tão bem. Nathaniel ficaria admiradíssimo com tamanho comprometimento de minha parte para com meu objetivo.

Contemplei por uma última vez o rosto da desfalecida. Todavia, antes que pudesse aniquilar sua inútil existência, um ruído absurdamente intenso e abafado ecoou cada canto do compartimento.

Após alguns segundos, senti uma tremenda queimação nas costas. Levo uma das mãos trêmulas até o latejamento, onde toco em uma estranha textura. Sangue. Largo o alumínio brutalmente, gerando o som agudo do metal.

Às minhas costas, passos longínquos se aproximam.

— Não se preocupe, não é um ponto vital. - ouço uma voz familiar.

Viro de súbito. Um susto ao descobrir quem era o atirador.

— Você não sabe o quanto me decepcionei com você. - disse ele.

Sem entender o porquê, crispei as sobrancelhas:

— Do que está falando? P-por que logo você teve de fazer isso?! Eu... Eu... Isso não pode estar acontecendo! - bradei levando minhas mãos aos ouvidos. -

Meus olhos arregalaram-se, tão abertos como se fossem saltar sobre minhas córneas. Um sorriso extenso brotou em meus lábios:

— Eu fiz tudo por você! Será que não entendeu?!

— Não, Melody. - interrompeu-me. - Não me use como uma justificativa para tudo o que fez. Não faça isso, por favor. - divergiu o rosto, evitando fitar-me. Em seu repousado braço direito, o revólver fumegava.

A ferida começara a latejar, por sorte, os analgésicos fariam sua devida serventia.

— Então é assim?! - meus olhos marejaram e minha testa crispou, mesmo assim, meu sorriso exagerado continuava a formigar no rosto. - Em todos estes anos, meu único pilar foi você! Tudo o que eu fiz foi por você. Eu só gostaria de te impressionar pelo menos uma vez! Mas… Se você acha que me tornei descartável, vá em frente e atira! - as salgadas lágrimas cortavam meu rosto.

— Você sempre me impressionou, será que nunca reparou? Quando sua mãe faleceu, quando contou-me sobre os abusos de seu padrasto. Mesmo com todas as dificuldades, você sempre se empenhou tão bem quanto qualquer um. Mas, o que está dizendo agora, é apenas uma desculpa para tentar enganar a si mesma.

Não suportei ouvir aquilo. Era como se tudo o que fiz até o momento não passasem de atos em vão. De fato, o mundo nunca foi ou será justo.

Outra voz foi introduzida à cena, grave e repleta de superioridade:

— Não terminou seu trabalho ainda? - suspirou mantendo seu rosto por trás de uma penumbra. - Encontrei o cadáver desta garota aqui, vamos levá-la para a Central. - com “cadáver” referiu-se à noviça, pendurada sobre seu ombro. O corpo desta estava completamente ensaguentado, mas, não é como se isso já não fosse esperado. - A mulata parece bem ferida também. 

— Sei disso. - o louro inclinou levemente o rosto.

Que diabos estava acontecendo? Talvez fossem uma dupla de killers. Mas não faria sentido.

Ambos queriam levar os corpos até um local denominado... “Central”, onde seria?

— Melody. - continuou o atirador. - Eu sempre soube que foi você quem liquidou seu padrasto, mas acho que aquilo era, de certa forma, justificável. - parou por um momento. - Bem, antes, será que se importaria responder uma pergunta minha?

O louro ditava àquelas palavras com excessiva frieza e descontentamento, contudo, parecia incerto sobre o que realizaria - nunca imaginaria tal expressão em seu semblante. Era uma visão bem distinta de quando conversamos pela primeira vez.

— Diga. - respondi.

— Há mais pessoas por trás disso?

Sua questão fora o necessário para concluir que de nada ele sabia. Dedurar aos killers e fazer com que todos fossem punidos? Pouco me importava. Entretanto, decidi responder somente ao essencial:

— Sim.

— Ótimo. - proseguiu o indivíduo que carregava a noviça em seu ombro. - Podemos acabar com isso, não é Nathaniel?

Agora o louro exibia uma feição um tanto horrorizada, talvez, desacreditado da suposta conclusão. Ele franziu os lábios. Expirou pesadamente e trêmulo.

Se meus princípios ainda fossem os mesmos, eu desviaria de qualquer bala e correria para liquidá-lo. Mas, agora, nada mais importa. Aceitar é o mais favorável a ser feito.

Em tempo algum imaginei-me em tal situação: A pistola apontada para minha face. Seus olhos cor de mel fitaram-me por alguns segundos, úmidos e inseguros. Depois, desviaram-se acanhados. E, finalmente, suas doces e afáveis mãos pressionaram o gatilho. Depois do estouro da bala, sinto uma queimação percorrendo o peito.

O que eu mais desejo é acordar e descobrir que tudo não passou de um sonho; que toda minha vida nunca fora nada mais que um terrível pesadelo. Quero minha inocência retornada, meus sonhos dóceis.

Desestimulada a viver, não faço esforço para conter as pálpebras que se fecham. Mas, pelo menos por um segundo, por um pequeno vão ainda entreaberto, vejo que o louro corre para segurar meu corpo frio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Escrever esse capítulo foi um pouco bizarro.
Foi difícil chegar na minha mãe e perguntar: "Mãe, como é levar um tiro?". FDUFGSFHÇ ._. Se algum leitor já passou por essa experiência traumática, por favor, conte-me. ♥ Além do que, fica estranho você escrever um personagem que está morrendo.
Queria saber se vocês fazem alguma ideia de quem seja este "ajudante" de Nathaniel e se imaginam o dever deles. Não tenham pudor em comentar, adoro teorias. (・∀・)
Enfim, me desculpem por qualquer coisa e me avisem caso haja qualquer erro - porque como já disse, eu sou uma pessoa esquecida pra carai.
Kissus. ヽ( `0´)ノ