Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 11
Déjà vu


Notas iniciais do capítulo

Olá! Acabaram minhas provas por um momento. ヽ(‘ ∇‘ )ノ
Gente, como assim "capítulo 10"?! Sabe, fico tão feliz com isso. Eu gostaria de agradecer cada um de vocês, comentários e acompanhamentos; são todos um grande incentivo. ♥
Fiquem aqui com o encontro de Elsie com Kim e Melody, e um breve POV bônus no final. Boa leitura! ʘ‿ʘ



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508366/chapter/11

Há pelo menos dez minutos que acordei assustada. Tive um pesadelo. Daqueles que temos quando criança. Que te fazem chorar, tremer ou ficar angustiado.

Chega até me lembrar de uma vez quando pequena que, ao ter um destes sonhos distorcidos, corri para a cama de tia Agatha. Esta me acudiu, dizendo com um sorriso afável: “Choramos porque pensamos que o pesadelo foi ou será real. Mas não fique assim, estes tipos de sonhos são apenas projeções falsas dos nossos terrores.”

Naquele momento, naquelas circunstâncias, a frase era adequada, mas isso foi há anos. A situação de agora é diferente. Mesmo podendo confiar em alguns, - se é que posso - estou cercada de máscaras. Ando um pouco perturbada. Principalmente após imaginar o sofrimento causado à suposta família de Jade. Acho que estou me igualando ao assassino de tia Agatha.

Esse meu estado emocional só piorou após o pesadelo. Nele, a imagem era vista em preto e branco. Um sujeito cobria o rosto com uma touca assaltante cinza, e, sentado em cima de um corpo, esfaqueia-o sem misericórdia. Levo um susto ao notar que o corpo mutilado é Kim. As vísceras caem ao redor de seu cadáver, o sangue está salpicado em seu abdômen e espirra na touca do esfaqueador a cada fincada. Eu tentava implorar desesperadamente para que ele cessasse. Todavia, a voz não saía. Depois de segundos agonizantes da mesma cena, a ação encerrou. O assassino levantou-se, e, lentamente, retirou a máscara cinza. Era Jade.

Fitou-me e forçou um sorriso, como uma criança travessa que, acidentalmente, acaba de quebrar uma cerâmica da mãe.

Após acordar e notar que Kim não se encontrava em sua cama, disparei pelos corredores, procurando-a pelo colégio. Não havia para quem perguntar; hoje é um dia em que os alunos preferem dormir mais do que qualquer coisa.

Fui até o dormitório de Armin e Kentin, este último não estava por lá, mas Armin informou-me: “Se Kim estava atrás de Melody, talvez foi à biblioteca, mas eu não aconselho que…”, mal terminou a frase, e saí correndo novamente.

(...)

“Mas que porcaria de lugar é esse?!” - pensei, caminhando sobre um corredor escuro e frio.

Como cheguei lá? Foi após encontrar, no fundo da biblioteca, uma espécie de portilha aberta. Se Melody e Kim não estavam em lugar algum, só poderiam ter entrado naquele abismo obscuro.

Uma passagem subterrânea cheia de ratos e correntes de ar. A chuva não pode ser ouvida daqui, apenas algumas gotículas de encanamento vazado.

Porque estou fazendo isso? Desde quando eu passei a me afeiçoar tão fácil? Conheci Kim há pouco tempo, e, como nosso vínculo não foi completamente formado, não faria mal se, naquele momento, eu retornasse ao dormitório e tentasse enganar minha própria mente.

“A própria Kim declarou querer agir sozinha. Agora retorne ao seu quarto e cubra seu rosto de lençóis, Elsie.”

Tarde de mais para pensar nisso, visto que, eu já me encontrava num ambiente mergulhado em luz dourada, provinda de holofotes, e formado por um aglomerado de máquinas enferrujadas. Parei de admirar o local após ouvir a voz chorosa de uma garota:

[ KIM - ON ]

A noviça espremeu os olhos, começando a chorar:

— Por que isso de repente?! É algum tipo de brincadeira de mal gosto, Melody? E-eu sabia que não me entenderia!

Que situação delicada, não? Uma provável inocente estava entre nós, então teríamos de eliminá-la, mesmo sabendo que não era uma killer. Um cartão jogado fora, pior, uma vida em vão. Claro que, isso não seria problema para Melody.

— Eu odeio pessoas preconceituosas como você! - dito isso, a garota correu em direção a saída.

— E-espere! - bradei virando-me em sua direção e esticando os braços.

Subitamente, Elsie apareceu entre uma das máquinas e agarrou a noviça em seus braços, tentando contê-la:

— O que está acontecendo aqui?!

— Me solte! Me solte! - a novata se debatia.

— Elsie...! - exclamei sendo, logo em seguida, recebida por uma punhada no queixo.

A batida fez com que os dentes rasgassem a lateral de meus lábios. Sinto o gosto de sangue e a visão irregular. De repente, tudo esmoreceu.

[ KIM - OFF ]

Uma garota em pânico, Kim desfalecida, Melody vem em minha direção. O que fazer?! Se largar esta suposta inocente, talvez ela dedure os killers, e serei desclassificada. Se Melody chegar até aqui, não terei como me defender. Eu sabia! Sabia que deveria ter retornado à suíte. Fui estupidamente ingênua em achar que poderia ajudar alguém!

Só havia uma forma…

Ao apertar suavemente uma região estratégica do pescoço da morena, ela rapidamente desmaiou. Assim, foi possível que eu colocasse-a desengonçadamente deitada em meus braços.

Antes que Melody chegasse até mim, me pus a correr com a garota, ocultando-me pelas máquinas inativas. Só ao entrar num canto seguro entre caldeiras, a ajeitei no chão, agachando-me ao seu lado.

“O que será que aconteceu aqui? Ela não me parece um killer.” - pensei, observando sua face adormecida. - “De qualquer forma, tenho que voltar até lá e ajudar Kim…”

Levantei depressa, sentindo uma presença próxima. Não demorou muito para que, em questão de segundos, um vulto negro se atirasse às minhas costas e contornasse seus braços em meu pescoço - apertando e sufocando.

— Sinto muito por você, Elsie... - Melody dizia com um tom sínico de voz aveludada. Enquanto, numa tentativa em vão, eu me contorcia e fazia esforço para retirar seus braços. - Eu sempre soube que era um killer, mas pretendia deixá-la para outra ocasião.

— C-cale a boca…

— Sabe de uma coisa? Uma garota como você não deveria estar entre nós. Está na cara que não tem a mínima noção da nossa perspectiva sobre o mundo.

As próximas palavras foram ditas ao meu ouvido, como um sussurro:

— E mesmo assim, uma tola como você foi capaz de eliminar Jade.

Será que ficou tão óbvio, que todos os killers descobriram?! Sendo assim, Armin e eu estávamos correndo um grave perigo.

— Você deve estar se perguntando: “Como ela soube?”. - dizia com gracejo, levando tudo na forma mais sátira possível. - Pense: O Relatório Diário nos permite saber o horário da morte. E, naquele mesmo horário todos estavam no telhado, observando a discussão entre os rapazes. Mas haviam apenas três pessoas que não estavam lá, Jade era um deles. Quando Shermansky disse sobre uma “dupla de killers”, tudo ficou bem claro.

— N-não preciso de suas explicações! - apertei os olhos entre si. Minha voz tornava-se cada vez mais trêmula.

— Pare de tentar resistir. Você se juntará à Violette; você, Kim e seu cúmplice. Acreditar em Armin foi simplório da sua parte. Você será utilizada como um brinquedo, e logo será descartada. Afinal, ele não é muito diferente da maioria de nós.

Ditou com um sorriso sínico e tom debochado. O suficiente para que uma fervura entalada na garganta subisse. Com muita aversão, proferi:

— Eu… Eu não me importo que trate a minha morte como algo cômico e simples. Mas não admito que compare Armin com pessoas como você…!

Num gesto brusco e rápido, soltei-me de seus braços. Virei-me e tentei socar-lhe a face. Melody desviou habilmente e, agarrando meu pescoço com suas mãos, lançou-me até uma parede, comprimindo minha garganta contra esta:

— Entenda: seu lugar não é aqui. Se por algum "milagre" você chegar ao final, não será mais a mesma pessoa. A primeira morte que execute talvez lhe cause certo arrependimento; Na segunda vez, as angústias são menores; Na terceira, você estará se acostumando com a ideia de que não é a mesma; Na quarta: Você está insano, completamente insano. - dizia, sufocando-me mais. - Tudo se torna estranhamente excitante, mesmo sabendo que numa visão de sociedade, aquilo é errado.

Subitamente, foquei a visão ao panorama às costas de Melody. De longe, Kim estava de pé:

— Ninguém aqui se rebaixará ao seu nível, Melody. Nem eu, nem Elsie somos como vocês: nós buscamos por algo muito mais valioso do que um prêmio.

Cessando um pouco o sufocamento, Melody sorriu tão dementemente que pude sentir espasmos. Voltando-se para Kim, disse:

— Não estou entendendo. Você diz sobre não se rebaixar, entretanto, vocês estão em busca de uma vingança, e isso já é mais que suficiente para se igualarem a nós. Mal percebem que o jogo está transformando vocês.

— Cala a boca! - bradou Kim, com demasiada impaciência, crispando todos os músculos da testa. Bradava alto e feroz. - Em toda a minha vida, eu nunca imaginei que sentiria tanto ódio de alguém!

Dito isso, impulsionou-se em direção de Melody, esta última tornou livre meu pescoço, preferindo defender-se de Kim. Ambas iniciaram seu combate corporal. Enquanto eu, caí de joelhos ao solo, necessitando do auxílio de minhas mãos para não perder o equilíbrio. Com meu rosto fitando o chão, a respiração arfava absurdamente pesada; um suspiro não era o suficiente para que ela se tornasse estável novamente. Inspirei fundo, estabilizando-me aos poucos.

— Elsie! - exclamou Kim. - Leve a garota daqui!

Meus olhos ligeiramente abertos, focaram o outro lado da cena, onde, outrora, encontrava-se a garota desfalecida.

“Para onde ela foi?!”

Entre as remotas e inertes máquinas, entrevi um par de tranças negras movendo-se rapidamente. Levantei-me e corri, passando ao lado das duas disputantes. Meu coração afligiu-se em pensar que eu estava abandonando Kim em tal situação.

" ...Kim quer vingar-se de Melody, e isso é algo que só ela poderia fazer. Você mesma devia saber disto."

Sim, eu entendo o que Armin queria dizer. Eu não aceitaria de forma alguma que, depois de cinco anos, alguém se vingasse em meu lugar de tia Agatha. Não seria justo. Eu não sentiria o tão esperado regozijo de livrar minha alma daquele peso. Mas…

"Elsie, eu sei que você adora ajudar as pessoas e eu admiro muito isso em você…

Abanei a cabeça, tentando focar em meu objetivo: encontrar a garota de tranças.

Ao divergir-me de um gerador, encontrei a noviça. Esta, enquanto chorava aos soluços, agachara para sacar uma pistola caída ao solo - uma que, anteriormente, parecia estar nas mãos de Kim assim que cheguei.

— Ei! - exclamei. - Solte isso!

A morena voltou-se para mim. Encostou a ponta da arma sobre a lateral da cabeça e imprimiu um sorriso:

— Eu não faço a mínima ideia do que está acontecendo aqui. Mas… Eu estou com medo. - uma lágrima rapidamente transcorreu sua face e, assim que esparziu pelo maxilar… O gatilho foi acionado.

Seu sangue quente respingou em meu rosto. Permaneci estática por alguns segundos, de olhos vastamente arregalados, fixando o olhar no líquido que caía de seu corpo. Este finalmente alcançou meu calçados, trazendo-me uma sensação de terror. Minhas pernas tremiam bambas. Aquela sensação nostálgica…

T-tia! O que aconteceu? Por que não me responde?!

Durante estes cinco anos, sempre que repensava sobre seu falecimento, as consequências psicológicas proporcionavam somente pequenas recaídas, que ao longo do dia eram esquecidas. Entretanto, ao reviver aquele momento, todo meu horror e angústia foram amostrados.

O ambiente foi mergulhado em meu profano grito de pânico.

[Armin]

No escuro do quarto, sentado no chão, com as costas apoiadas sobre a lateral da cama, jogava pelo PSP. Uma pequena vasilha cheia de amendoins salgados era meu aperitivo do dia. Comida e videogame; meus sábados sempre se resumem a isso. E com essa chuva de hoje, minha vontade de sair do quarto é menor ainda.

Após ficar por quase uma hora tentando passar a mesma fase, pausei o jogo.

— Eu não acredito que estou tão mal assim. Deve ser algum tipo de carma! - suspirei irritado e levei um punhado de amendoins à boca, triturando os grãos.

Na verdade, eu sabia que aquelas minhas derrotas eram parte do meu nervosismo gerado por um receio. O videogame era só uma forma de não enfrentar a realidade - a realidade que sempre abominei.

“Eu não deveria ter deixado que ela fosse.” - pensei, olhando fixamente para o chão. - “E ainda agora, mesmo sabendo que ela pode estar em perigo, não tenho coragem.”

E as visões daquele dia retornaram, memórias tão velozes quanto uma flecha que perfura o seio…

“Se eu tivesse chego antes, ninguém teria lhe causado sofrimento.”

“Se isso, se aquilo...”, uma vida baseada em teorias. Caso arrependimento matasse, eu já estaria gelado sobre um esquife de mármore. Mas não importa, estou interiormente morto há muito tempo.

Meus devaneios foram cessados após ouvir o rangido da porta se abrindo.

Kentin entrara no cômodo com uma toalha amarela envolta o pescoço, os cabelos desgrenhados, a camiseta molhada de suor: estava no Clube de Exercícios. Ligou a luz e levou uma garrafa de água gelada aos lábios. Fitei seu abdômen contraindo-se a cada ingerida do líquido. Depois, observei o pote com amendoins ao meu lado, a mão granulada de sal e o PSP engordurado.

Kentin voltou-se para mim:

— Está tudo bem? - fechava a garrafa plástica.

— Sim, tudo ótimo. - desviei o olhar.

— Sabe… Não vi Elsie hoje. - colocou a toalha em seu cabide. Estranho ele tocar neste assunto tão de repente.

Abaixei a cabeça, diminuindo o tom de voz:

— Eu deixei ela ir.

— O que?

— E deixei ela ir. - repeti.

— Ir aonde?

— Ajudar Kim…

— O que?

Furioso comigo mesmo, levantei o rosto:

— Eu deixei ela ir com Kim! Não escutou, porra?!

Kentin fixou em mim seu olhar surpreso, petrificado. E ficou assim por alguns segundos. Logo começaram suas repreensões mais que merecidas:

— Você ficou maluco? E o que está fazendo aí parado?! - disse já levando as mãos à maçaneta.

Depois de abanar a cabeça, suspirou. Reduziu o tom de voz, e observou o chão:

— Sabe qual é o seu problema... Você está sempre se escondendo pelos cantos, tentando ignorar a realidade.

Kentin abriu a porta e saiu. Em seguida, bateu-a com força.

Inspirei fundo e ocultei os olhos sob as mãos:

— Mas que droga… - suspirei. Elevei as mãos à cabeça, enraizando mechas de cabelos dentre os dedos. Franzindo a testa, mordi os lábios trêmulos.

“Se eu o tivesse impedido, nada teria acontecido.“


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro, principalmente ortográfico, porque estou sem o Word. (°◇°;) Se há alguma frase incompleta ou minhas anotações, me avisem por favor. FHDSYGFHD
Aceitando opiniões e sugestões como sempre.
Até a próxima! ( ´ ▽ ` )ノ