Don't cry escrita por Taty M


Capítulo 1
● Durma, rei veterano.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem seus lindos!



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Perder realmente é frustrante...

Ele queria o consolar, mas o que poderia fazer se o próprio rosto estava agoniado e mergulhado em lagrimas. Droga, era uma verdadeira merda.

Estavam tão confiantes, eram os quatro melhores, mas essa era a vitória que ansiavam. Takao lembrava da piada que fez no vestiário quando soube que marcaria Akashi: “até mesmo Midorima tem medo dele”.

Aquele homem foi o capitão da equipe de Teiko, se Takao conseguisse pará-lo, se... Impossível.

Era uma pressão inacreditável, no fim, a derrota tinha um gosto que ele nunca imaginou existir.

A água quente, muito muito quente — deixada nessa temperatura propositalmente —, corria queimando seus ombros, suas costas, seu peito e abdômen. A nem mesmo quando chegava até seus pés, ela deixava de arder.

Era uma tentativa de assumir sua atenção para outra coisa, mesmo que essa outra coisa fosse ficar com o corpo abrasado pelo calor.

Ele só queria esquecer, Deus, sentia vergonha. Como se por algum motivo, fosse sua culpa.

Ele viu Midorima passar por três deles: Reo Mibuchi, Kotaro Hayama e Eikichi Nebuya. Não era qualquer coisa, eram três generais descoroados. E por maior que fosse seu orgulho, isso só deixava claro que Takao nunca chegaria aos seus pés.

Então tinha Akashi, e ele viu o melhor jogador da Shutoku, simplesmente se tornar... Nada.

Quando saíram do ginásio, ninguém falava nada. Nem mesmo o capitão, ou o técnico, todos estavam certos demais, firmes e almejantes da vitória. Era difícil aceitar a derrota assim.

Ma-boy, nem mesmo o apelido que seu técnico tinha na época que jogava no time nacional soava engraçado. Takao registrou o codinome desde que o pai da treinadora da Seirin deixou escapar.

Masaaki parecia ter apostado suas fichas na Shutoku, segundo o que ouviu, ele tinha dito ao capitão que desde quando foi atrás de Midorima, suas únicas pretensões eram apenas vitória, mas não conseguiram o Intercolegial, e agora disputariam o terceiro lugar da Copa de Inverno contra Seirin ou Kaijo.

Pelo menos ainda eram o que restou da realeza de Tóquio.

Talk to me softly
There's something in your eyes
Don't hang your head in sorrow
And, please, don't cry

Fale comigo suavemente
Há algo nos seus olhos
Não abaixe sua cabeça na tristeza
E por favor, não chore

Takao recordava do murmuro baixo de Akashi Seijuro: Durma, rei veterano.

Deus, era uma destruição!

Se fosse um pouquinho mais fraco mentalmente, ele nunca mais jogaria basquete! Era como instabilizar todo um time. Não conseguia erguer a cabeça.

Ao chegarem na pousada, tinha um jantar os aguardando, como todos os outros dias.

Era estranho comer sem som, sem conversa, sem brincadeira. O que tinha acontecido com seu amado time? Fim. Até mesmo o ânimo para o próximo jogo parecia ter se esvaziado.

Midorima tinha a cabeça baixa, e por mais que sempre comesse calma e cautelosamente, dessa vez mal tocou no prato, murmurando algo inaudível, provavelmente pedindo licença, e subindo para o quarto.

— Takao, você devia falar com ele.

— O-o que? — perguntou, encarando Miyaji.

— Ah você sabe, aquela coisa toda... Piadinhas e tal.

— Mas em seu estado normal, Shin-chan não liga pra minhas piadas, acha mesmo que vai valer algo? — perguntou, forçando a comida, não iria desperdiçar. Uma garfada atrás da outra, comeria tudo mesmo sem fome alguma.

— Vocês são amigos. Ele deve estar se sentindo culpado pela derrota. E meio “assim” porque perdeu para seu ex-capitão.

Takao queria gritar para Otsubo, berrar o mais alto possível que ele era quem se sentia culpado, mas olhando dessa forma... Talvez... Será que Midorima pensava ter a culpa toda?

— Eh? Vou subir, boa noite.

— Não esquece que amanhã temos um jogo para vencer e... Tente falar com ele.

I know how you feel inside
I've been there before
Something is changing inside you
And don't you know

Sei como você se sente por dentro
Já passei por isso antes
Algo está mudando dentro de você
E você não sabe

Não era fácil assim tentar falar com ele, de todos ali, Takao sabia como era complexo alcançar Midorima. Fora um de seus trabalhos mais árduos e quase desistiu.

Sabia como ele não tinha companhia e não fazia questão alguma de ter.

Era solitário em meio aquela casa imensa e luxuosa que vivia, com os pais sempre trabalhando para manter o padrão de vida, segundo pode perceber, Midorima viveu literalmente só por muitos anos, até que sua mãe resolvesse ter outro filho. Que por sinal veio a ser uma menina.

Sua irmã era uma graça, mas não podia considerar boa companhia, não quando tinham mais de dez anos os separando.

Estava vindo a se tornar uma criança bem marrentinha, mas isso serviu para que a mãe dele estivesse mais em casa.

Talvez, de qualquer forma, fosse meio tarde.

Agora ele era assim. Sozinho.

Quanto tempo ficou após os treinos, arremessando incansáveis vezes até que Takao percebesse? E quando percebeu, ele continuou a fazer como se a presença do outro ali não fosse nada.

E mesmo quando começaram a andar juntos ele continuou, sem desviar a atenção.

Takao nunca, nunca em seu jogo no fundamental contra Teiko, jamais em todo esse tempo viu Midorima errar um arremesso intocado. Se a bola sofresse um desvio, era admissível. Fora isso, nem em jogos, treinos e pós treino, nenhum erro. Monstro é o que ele era.

Parou frente a porta do quarto que dividiam e recuou. O que falaria? Sua mente não parecia estar pronta para um contato.

Resolveu caminhar até próximo ao salão de jogos e parou frente a máquina de bebidas, depositando o dinheiro e aguardando. Shiruko. Melhor forma de puxar assunto com Midorima.

Não entendia como ele podia gostar de feijão vermelho doce e gelado? Ehr... Mas ele gostava. Ok, não era ruim ruim ruim, mas Takao preferia uma coca cola.

De qualquer jeito... Ele recordou. E um arrepio meio proibido passou por seu corpo. Lembrou do gosto da shiruko na boca de Midorima, gelado, doce, delicioso. Sim, dessa forma era irresistível.

Tinha quanto tempo já que não falavam sobre isso? Quanto tempo que não trocavam sequer um beijo? Essa copa de inverno estava se transformando facilmente numa copa de inferno.

E repassou aquele olhar de Akashi ao parar seu passe, era como aqueles filmes de terror que tanto o fazia vibrar, um olhar insano, de louco. Takao lembra que sentiu... Medo.

Então a derrota. E agora o aviso de quão distantes fisicamente ele e Midorima se encontravam.

Seus olhos pela segunda vez hoje, encheram e pesaram. Era uma merda!

Estava agindo feito uma menininha idiota.

Don't you cry tonight
I still love you, baby
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
There's a heaven above you, baby
And don't you cry tonight

Não chore esta noite
Eu ainda amo você, querido
Não chore esta noite
Não chore esta noite
Há um paraíso acima de você, querido
E não chore esta noite

Não se surpreenderia se aparecesse alguém puxando seu cabelo e cantarolando “chorona, chorona, chorona”. Ele mesmo fez tanto isso no colégio com as garotas, que agora sentia até pena. Como as choronas estavam? Talvez virado nerd, esportistas ou podiam ter engravidado, se drogado. Merda. Ia chorar de novo... E se uma de suas provocações tiverem feito elas sofrerem psicologicamente, na época ele achava uma em especial a mais linda.

E ela também era seu maior alvo, Hina, droga! Ele sequer conseguiu esquecer seu nome!

Na ocasião devia ter uns sete ou oito anos, era terrivelmente ainda mais infantil do que hoje em dia, e ela era perfeita, todos os outros garotos a enchiam porque também a achava a melhor.

Com certeza ela ainda deve ter os cabelos longos e soltos, possivelmente ganhou um corpo lindo, porque algumas pessoas tinham sorte em tudo...

Sorte. A sorte te levou a outra pessoa.

Takao reprimiu uma risadinha enquanto fungava, se a visse atualmente, pouco importaria, talvez até a tenha visto e nem se lembrado. Hina você era linda, mas definitivamente não é algo que valha minhas provocações do presente. Não curto cabelos longos e soltos, sequer curto seios.

Ele abriu a porta, e o quarto que dividia com Midorima estava frio e silencioso.

Mas um som baixo vinha do banheiro, chuveiro. Estaria ele tomando outro banho? Logo o som foi cessado, e pouco minutos depois, saía já com pijamas e o rosto muito vermelho.

Talvez pela agua quente do banho, mas Takao era muito bom em observar, e não tinha dúvidas sobre o que significava aquele rosto vermelho.

Midorima era humano, afinal. E essa derrota foi muito mais dolorosa para ele, do que para os outros jogadores da Shutoku.

— Oe Shin-chan, trouxe algo para você.

Takao chegou perto e estendeu a lata bem na frente do seu rosto.

— O que está fazendo, idiota?

— Te mostrando!

— Não sou um maldito cego! — o mais alto disse a contragosto.

— Está sem óculos!

— Argh...

Ok. Primeira tentativa de animá-lo: falha.

Midorima seguiu para a cama encostada na parede sem nem pegar a lata, o leito era próximo a janela e no sentido do aquecedor. Obvio que era a melhor cama, e obvio que era a sua.

Parou e bufou. Takao coçou a cabeça meio sem jeito.

O que deveria ser uma cama impecável, estava lotada de roupa e tralha. E pior, todas pertenciam ao moreno e não ao dono da cama.

Depois teria de tirar tudo aquilo, senão...

— Vai esquentar. — murmurou, colocando a lata ao lado dos óculos dele, na mesinha entre as duas camas. E seguindo para o banheiro. Ligando o aquecedor no trajeto.

Foi um banho rápido, apenas para tirar toda aquela ideia de uniforme, quadra e jogo. Mesmo que já tivesse tido uma sessão tórrida e triste no vestiário.

O banheiro ainda estava embaçado, e só de saber que Midorima tinha estado há poucos minutos ali, o deixava estranho. Lembrou-se de alguns doces tinha na bolsa e maquinou finalizar com eles antes de dormir.

Ao sair do local, percebeu que Midorima estava na mesma posição, sentado em sua cama, com ambos os cotovelos pousados no joelho, sem óculos, olhando para frente, para um nada.

Passou na frente dele ainda de toalha, pegando a shiruko intocada e levando para o frigobar, aquilo esquentaria ainda mais, e a lata já estava suando, e molhando os óculos que estavam repousados ao lado.

— Ei Shin-chan, jogue minha calça ai!

Takao murmurou perto do armário, percebendo que sua calça de dormir estava na desordem da cama do maior, desordem causada por Takao.

Midorima pegou a calça de uma forma automática, enroscou e a lançou, que caiu nas mãos de Takao sem esforço algum.

Ele nem tinha virado direito para o lado do moreno, ele nem estava com óculos. E mesmo assim acertou.

Takao tirou a toalha, exibindo o corpo nu de costas e vestindo apenas a calça. Não era como se Midorima tivesse combinado de olhar, não era proposital. Mas ele tinha lhe arremessado a calça, foi um olhar automático.

E mesmo embaçado, conseguia distinguir o corpo do outro, simplesmente por conhecer tão bem.

O idiota sequer colocou uma roupa de baixo antes da calça, fora que estava vindo para seu lado. Como se tivesse sido pego no flagra fazendo algo, Midorima virou o rosto rapidamente.

Ouvindo uma risadinha de Takao, que começou a cantar uma música qualquer, enquanto tirava as tralhas de sua cama. Olhos e falcão, esse demente com certeza percebeu suas miragens indiscretas. Droga.

Midorima se sentia exausto, mas não conseguiria dormir. Era como se seu corpo estivesse bloqueado de alguma forma.

Give me a whisper
And give me a sign
Give me a kiss before
You tell me goodbye

Me dê um sussurro
E dê-me um sinal
Dê-me um beijo antes de
Me dizer adeus

Assim que terminou de juntar suas coisas, Takao se jogou na cama de Midorima, bem ao lado de onde ele estava sentado, puxando sua mão esquerda e fazendo queixo que estava poiado nela, tombar para a frente, ganhando com isso um olhar de desaprovação.

— O que está fazendo, idiota?

— Parece avoado Shin-chan, estou apenas te organizando. — murmurou abrindo a fita, e passando no primeiro dedo.

Era um ato totalmente impossível, que Midorima tivesse esquecido de fazer isso. Takao levou um tempinho desde que começou a andar sempre com Midorima, para perceber que os dedos de sua mão esquerda só eram desenfaixados três vezes. Apenas isso.

Na hora do jogo.

Na hora do banho...

Takao sentiu o rosto enrubescer ao lembrar a terceira vez que Midorima achava importante tirar suas preciosas faixas.

— Você é um pervertido. — a voz do mais alto ecoou.

Como se simplesmente soubesse exatamente o que Takao estava pensando. Mas não era uma voz de repreensão, e sim de... Talvez... Humor.

— Ah Shin-chan, não diga essas coisas quentes. — caçoou.

— Não foi quente, foi uma crítica.

— Critica? Sabia que eu estava lembrando as três vezes que você desenfaixa os dedos? Claro que você sabia! — o moreno disse em tom de brincadeira. — E tem muito tempo que a gente... Ah, você sabe... Que você não tira as faixas para a terceira coisa.

Midorima virou o rosto num ato que deixava claro seu início de constrangimento, mas não tinha por que recuar. Puxou a mão esquerda, e passou ele mesmo a enfaixar seus dedos.

— Estávamos treinando muito para a copa de inverno, até você pode perceber isso.

— Ah é verdade. Mas isso não responde nada. Afinal, o que uma coisa tem a ver com a outra?

— Você é burro? — o mais alto perguntou com frieza.

Takao não estava preparado para impassibilidade, nesse momento era tão quebrado psicologicamente quanto Midorima, dessa vez não ia retroceder, não mais. Porra! Eram muitas perdas para um dia só.

— Não, não sou. E você sabe disso. A pergunta é clara Midorima, como nosso relacionamento pode interferir em um treino?

— Não podíamos nos distrair com qualquer coisa, fora que o corpo não podia ficar deb...

— Blá, blá, blá. O que um beijo interfere nisso? Para mim nem mesmo o sexo interfere. Fora que agora, segundo você, nossa lance virou “qualquer coisa”, está estranho desde quando começou a perceber de verdade que enfrentaria seus antigos companheiros, principalmente com Akashi. Que suspeito isso.

Midorima o fuzilou com o olhar. É sério que esse cara queria confusão?

— Sei que é raro você se alterar, mas não estou com paciência para isso Takao. Saia da minha cama, vou dormir, amanhã ainda temos um jogo.

— Não vou deixar isso passar, hoje não! Eu faço de tudo para você! E...

Mas as palavras dele ficaram presas, nunca foram ditas e sequer recordava quais eram, pois Midorima o tinha puxado para um abraço.

Apertava tão forte suas costas, que Takao sentia dificuldade para puxar o ar. Naquele momento ele quebrou em mil partes.

Não era a hora de brigas, ambos estavam com a cabeça quente demais, e apenas o maior percebeu isso.

Don't you take it so hard now
And, please, don't take it so bad
I'll still be thinking of you
And the times we had, baby

Não leve isso tão a sério agora
E, por favor, não leve isso tão a mal
Continuarei pensando em você
E nos momentos que tivemos, baby

Ansiava todos os dias um contato assim, volta e meia se jogava em seus braços, sempre acompanhando de uma piadinha e risadas, um disfarce. Takao se descobriu grande ator, fazia isso para que todos sorrissem e achassem que se trava de um deboche com o tão correto Midorima Shintarou.

Mas na verdade... Era naquele momento que conseguia tocá-lo na frente todos, sentia seu cheiro e como era quente, apesar de ter a aparência de uma pedra de gelo.

Tinha ciência que o relacionamento deles nunca seria visto de uma forma completamente normal por todos, sempre teria alguém para apontar o dedo, torcer o nariz e julgar. Tinham dezesseis anos e não estavam preparados para lidar com o mundo “real”. Mas como humano, Takao desejava estar perto, sentir, sentir e sentir.

E ali estava Midorima o abraçando tão forte que não se surpreenderia se virassem um a qualquer momento.

— Shin-chan...

Sussurrou, enfiando a cabeça no vão do pescoço dele. Deixando os braços o amassar mesmo que morresse por falta de ar, morreria bem. Não, não morreria. Não ao lado dele. Midorima era magro para seu tamanho, mas possuía uma força inumana em seus braços que lançavam — e acertavam — uma bola a qualquer distância.

Porem nesse momento, Takao só conseguia pensar na derrota física e mental que tiveram, e no consolo.

Não era ele quem estava animando o seu Shin-chan, o homem estava fazendo o que podia para que Takao fosse ele, para que voltasse.

“Estava em posição, pernas flexionadas, braços a posto. Sua mão direita pronta para manter a bola no local, e a esquerda curvada com toda força totalizada para mandar o tiro exato, só faltava a bola.

Mas Midorima tinha certeza que ela viria, confiava completamente. Confiava seu salto, sua armação, seu chute.

— Vai.

A voz do moreno ecoou próxima quando ele saltou, a bola pararia eu seus dedos e dali entrariam no aro. Se tudo desse certo, seria um swish shot, como tantos outros que já fez.

— Você não me ouviu? Eu sou absoluto.

Midorima sabia que a frase não era para ele, e ele sabia também que a partir daquele momento, a bola não chegaria de fato em suas mãos, não mais.

Não desistiria do time nem da vitória. Apesar que o martelo tinha sido batido.

A única pessoa que chegava perto de o acompanhar agora estava com mãos atadas e presa nas garras de Akashi.

— Você está acima das minhas expectativas, mas não da minha imaginação.

Akashi ia vencer. E como Midorima desejou ensiná-lo a perder pelo menos uma vez na vida...

Takao passou a agir de uma forma erradica, talvez pela tensão.

— Acabou, Shintarou.

E realmente tinha acabado.

— Eh? Shin-chan está triste? ... Mas, desculpa. Não posso confortá-lo agora”.

Nenhuma frase letal de Akashi durante o jogo se comparou com a sensação de ouvir isso, não que precisasse ser consolado, droga! Não mesmo.

Mas... Da forma que foi dita, com choro e arraso. E por quem foi dita deixava tudo devastador.

A pior frase que fora escutada desde que pisou na quadra aquele dia, dia onde a sorte de Câncer estava maior do que a Sagitário. E a peça de shogi pronta para ser levada.

“— Oe, o item da sorte não é seu jogo favorito? Para que vai levar um artefato de tabuleiro? — Takao perguntou quando se arrumavam ainda no hotel.

— Exatamente por ser meu item da sorte, tem que ser essa peça.

— Ah... você jogava isso com ele, certo?

O mais alto o encarou. Mas Takao jogou a bola de basquete que estava em suas mãos, bem nas de Midorima.

— Seu item da sorte deveria ser uma bola de basquete, apesar que estará dominando uma o tempo todo. Vamos ganhar Shin-chan!

Ele encarou a peça em suas mãos. Sem dúvida seus cálculos não foram tão exatos, talvez a bola sim fosse seu artefato da sorte. ”

E agora, ele desejava estar o mais próximo possível de Takao. Ele quem queria o consolar, conhecia bem Akashi para não se deixar afundar. Mas Takao? Ele podia estar se esforçando para ser como era, interagindo, sorrindo. Mas Midorima sabia muito bem que por dentro ele desejava mais, pelo menos um abraço.

E quando o fez, soube que esperou a mesma coisa o tempo inteiro.

Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
There's a heaven above you, baby


Don't you cry, don't you ever cry
Don't you cry tonight
Baby, maybe, someday
Don't you cry, don't you ever cry
Don't you cry tonight

Não chore esta noite
Não chore esta noite
Não chore esta noite
Existe um paraíso acima de você, querido


Não chore, jamais chore
Não chore esta noite
Querido, talvez, algum dia
Não chore, jamais chore
Não chore esta noite

— Você é... Jogou muito bem, Takao. — Midorima disse bem baixo, ainda apertando ele contra o próprio corpo.

Takao sentiu que choraria novamente, seria a milésima vez no dia? Devia estar de TPM ou algo semelhante a isso que dê em homens, já que sua irmã ficava num estado parecido durante tal período.

Mas não chorou. Não choraria mais.

Deu uma risadinha contra o pescoço de Midorima.

Reconhecimento. Era tudo que sempre desejou desde que pisou na quadra da Shutoku e viu esse assombro dos arremessos lá. E era o que ele lhe oferecia nesse momento. Igualdade, não em habilidade e sim em visão.

E para Takao, tinha ganhado mais do que a Copa de Inverno. Era o prazer, a confiança, a garantia que seriam imbatíveis e que nos próximos intercolegiais e/ou copas de basquete, ninguém poderia derrota-los.

Midorima o enxergava e agora o rapaz só pensava na vitória que teriam no dia seguinte.

Eu te amo”. Queria falar, ao menos sussurrar. Amava o cheiro dele, e a pele. Sua cor e seu perfil assim como estava, sem óculos, Deus! Era perfeito.

Mas se limitou apenas em respirar fundo e afastar um pouco quando Midorima parou de segurá-lo.

— Obrigada... Shin-chan está tão deredere agora...

— Cala a boca, idiota! Não estou nada! — o maior levou a mão até seu rosto, com intuito de ajeitar os óculos, para perceber que não os estava usando.

Takao deu uma risadinha e se encararam.

O moreno sabia que provavelmente o outro estaria vendo embaçado, mas não precisava ver nada se sua intenção seria que ele justamente fechasse os olhos. Então, sem mais delongas, o puxou para um beijo.

Foi exatamente nesse misto de derrota e vitória, com o frio velando toda cidade, que a noite da primeira copa de inverno dos dois, primeira semifinal no ensino médio para ambos... Se encerrou.

Com a certeza da vitória não somente no jogo do dia seguinte, como nos que viriam.

E claro, a conquista maior entre eles.

~BÔNUS~

— Shin-chan... hmmm...

Ambos se emaranharam na cama do maior, completamente despidos.

Tudo tinha começado após a sessão melosa, Takao tomou a iniciativa do beijo e Midorima não negou.

Para que negaria, afinal?

Estavam abstinentes por tanto tempo, que após o moreno encontrar as bocas, acabou sendo Midorima que o prensou contra a cama num contato urgente.

Rápido, correndo, beijos, mordidas, gemidos, pedido de silencio. Droga...

— O quarto que Otsubo e Miyaji dividem é ao lado do nosso, cala a boca!

Midorima o repreendeu.

Como ele ficaria quieto? Foi tanto tempo sem um beijinho e agora ambos estavam num estado bem mais avençado que apenas isso. Takao sentia a boca dele passando por sua pele, pescoço, mamilos, abdômen.

E mais, muito mais.

Calar a boca... Sem dúvida estava sendo complicadíssimo manter essa ordem.

Ele recordava de estar nessa mesma posição meses atrás, deitado, empolgado, estimulado, e assistindo Midorima de joelhos entre suas pernas, segurando seu membro e incerto do que deveria fazer. Bom, na época era incerteza, porque agora ele passava a língua por toda extensão para finalmente o colocá-lo na boca.

Takao nunca soube se ele era virgem até ficarem juntos, já perguntou, insistiu, mas o outro sempre desconversava. De qualquer forma talvez fosse melhor assim.

Apesar de que bem intimamente ele sabia a resposta, desde a primeira vez que Shin-chan se colocou entre suas pernas, empurrando o quadril contra o dele num contato íntimo, desde quando sentiu seu corpo sendo invadido dolorosamente, excitante, duro e gostoso.

O rosto vermelho, a respiração acelerada, a dança ritmada do pênis dele sendo bombeado contra Takao, obvio que Midorima não era virgem, mas estava ali.

Na sua primeira vez e em todas as outras.

E estava ali agora também, mordendo seu pescoço e sussurrando em seu ouvido uma pergunta tão frequente: “está tudo bem? ”. Se Takao falasse NÃO, ele pararia, era uma certeza.

Mas nunca poderia dizer não, estava tudo ótimo, tudo perfeito.

Ah droga! Só podia ser um vício, ele estava viciado não apenas em puxar-saco, ou ser o braço direito de Midorima. Estava viciado em ouvir o som que ele emitia quando Takao rebolava o estimulando.

Viciado na forma que ele apertava seu quadril quando trocavam de posição, o moreno tinha os joelhos pousados na cama, e o maior o segurava com força, mantendo-o no lugar enquanto afundava mais e mais, pausando, respirando fundo. Se controlando para então continuar.

Seria possível estar viciado em sexo? Claro que sim!

Tudo em Shin-chan o atraía. Sua voz, seu sorriso (ou quase), sua altura, seu corpo, sua habilidade, sua personalidade, suas palavras, soa forma correta, seu pên... Sim, absolutamente tudo!

Quando terminavam, Midorima repetia a frase inicial: “está tá tudo bem? ”, todas as vezes ele fazia a mesma coisa, organizadamente e corretamente.

— Você é sempre tão fofo quando fazemos isso! — Takao murmurou, forçando uma risadinha. Na verdade, ele estava exausto demais.

— Hunf, não seja idiota! E pare de dizer essas coisas ridículas.

— Está tudo bem Shin-chan, agora está. — murmurou abraçando o maior.

Estava claro que acabariam dormindo ali na mesma cama, e mil possibilidades de acordarem doloridos, tortos e com torcicolo passou pela mente de Midorima.

— Vamos ganhar amanhã, será bem fácil. — disse depois de alguns minutos, já pensando estar falando sozinho.

— Kise não vai jogar Shin-chan, é uma vitória fácil demais. Terceiro lugar é uma boa posição.

— É...

— Shin-chan, será que Otsubo-senpai e Miyaji escutaram algo? — Takao perguntou num tom preocupado.

“Obvio”, o maior pensou.

Takao não tinha noção de como poderia se tornar escandaloso. Mas apenas apertou de leve o braço dele, numa tentativa de expelir qualquer preocupação.

— Vai dormir.

— Shin-chan me dá um beijo de boa noite.

— Takao!

— Shin-chaaaaaaaaaaaaaaan!!

— Argh...

Na verdade, ele queria esse beijo de “boa noite” tanto quando Takao. Mas obviamente nunca admitiria. Então, acabaram sucumbindo ao mundo dos sonhos, e acordaram no dia seguinte — surpreendentemente — sem dor muscular alguma apesar de terem dividido uma cama de solteiro.

Porem tiveram que lidar com um olhar suspeito vindo de Miyaji e Otsubo, para então finalizarem o dia com uma vitória.

De fato foi comprovado que chorar é diminuir a profundidade da dor. Mas existe uma forma de anulá-la, e sem dúvida é estar ao lado de quem nos é importante.

Não importa quanto vai durar – é infinito agora.

Caio F. Abreu


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Notas finais do capítulo

Então foi isso!
Esse jogo no manga é a parte mais triste para mim, não quero nem imaginar como será assisti-lo no anime quando retornar... Espero que tenha agradado a alguém, se quiserem COMENTAR, FAVORITAR, RECOMENDAR... essas coisas fofas que autores curte e tal, fiquem a vontade.

Beijos e até à próxima!