-Sev...

-Sim?

-Você está, sabe, ansioso?

-Para o que, exatamente?

O garoto se virou, olhando para a menina ruiva ao seu lado.Os dois estavam deitados sobre a grama macia, debaixo de um maravilhoso céu azul e límpido.A ruiva estava olhando o garoto de cabelos negros e oleosos, olhos de mesma cor e pele pálida, e ela o observava atentamente com os olhos extremamente verdes, e com os cabelos chamejantes espalhados em cima da grama.

-Para irmos à Hogwarts, para o que mais seria?-Indagou a ruiva divertida.

-Na verdade, estou mais ansioso do que gostaria de estar...-Respondeu o outro vagamente.A ruiva assentiu.

-Acho que deve estar, não?Afinal amanhã estaremos embarcando para a maior e melhor escola de magia, pelo que você me disse!-Exclamou Lily Evans extremamente animada.

Lily Evans era uma menina ruiva, de olhos verdes, com onze anos, ao menos nessa época.Era uma menina extremamente gentil, amorosa e caridosa com todos, sem exceção, além de uma garota extremamente inteligente.Severus Snape, seu melhor amigo, um dia havia lhe contado que era uma bruxa, e agora, finalmente os dois entrariam para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Severus sorriu.

-É um ótimo motivo para se estar feliz, não é?-Disse ele.Lily assentiu.

-Um ótimo não, um perfeito motivo para se estar extremamente alegre!-Gritou ela.

-Não é para tanto!-Falou um Severus risonho.

Severus Snape, ao contrário de sua amiga, era um garoto extremamente frio e indiferente para sua idade.Com seus cabelos oleosos, corpo atarracado baixo e feio, nariz adunco e pele pálida, era de se esperar que Lily não tenha ficado amiga de sua aparência, e sim de seu caráter e personalidade.Severus não era um menino muito feliz, e os únicos sorrisos sinceros que conseguia dar, eram os sorrisos que Lily lhe arrancava.

-Lily!-Ouviu-se uma voz gritar ao longe.

-Tenho que ir!-Exclamou a ruiva se levantando e limpando os restos de grama da saia e dos cabelos.Ela se levantou e estalou um beijo na bochecha do garoto.-Tchau Sev, te vejo amanhã!

E saiu correndo pelo gramado verde, se encontrando com sua mãe mais ao longe.Lily se virou uma última vez, acenou para Severus e correu para acompanhar a mãe no caminho de casa.Severus suspirou e voltou a se deitar na grama, recostando a cabeça nas mãos, olhando para o céu azul, e se sentindo cansado.O garoto dormiu ali mesmo, sob o céu azul puro, e em cima da grama verde.

...

No dia seguinte, Lily Evans estava na estação de King’s Cross, observando atentamente as pessoas a sua volta, procurando entre aquela grande multidão Severus Snape.Ela ainda o procurava, quando duas mãos cobriram seus olhos.

-Adivinha quem é?-Perguntou aquela voz arrastada e rouca que Lily tão bem conhecia.

-Sev!-Exclamou ela tirando as mãos de seus olhos e se virando para o amigo, que tinha um sorriso mínimo no rosto.Ela abraçou o garoto e então olhou para a família.

-Papai, mamãe esse é o Sev!-Falou a ruiva animada.Seus pais sorriram e cumprimentaram o garoto.

Depois de um tempo em que Lily se despedia dos pais, os dois ficaram sozinhos com a família de Severus, que acolheu Lily muito mal.Lily já tinha sido avisada sobre o fato de a família de seu amigo não aprovar a amizade dos dois, porém não se incomodou.

Depois de mais algumas despedidas curtas e frias demais, Severus e Lily atravessaram a barreira que separava o mundo bruxo do mundo dos trouxas.

E foi ali que tudo começou.

...

-Sev!-Ouvi-se o grito animado de Lily.

Um Severus Snape de treze anos, que estava lendo calmamente um livro, o fechou para dar de cara com um par de belos olhos verdes.Lily estava ali na frente de Severus, observando-o feliz, com um sorriso no rosto.

-O que você está fazendo?-Perguntou a menina interessada, se sentando ao lado do amigo.

-Eu estava lendo, mas agora que chegou, acho melhor colocar a conversa em dia, não?-Falou o garoto com um sorriso.A ruiva riu e recostou a cabeça sobre as coxas do amigo, se deitando na grama com a cabeça apoiada no colo do garoto.

-Também acho!-Disse Lily olhando para cima, para os olhos negros de Snape.

-Hey, Evans!-Ouviu-se outra voz.Imediatamente Lily se levantou, olhando para os lados, procurando quem a chamara.

E encontrou.Assim que olhou para o lado, viu aqueles quatro garotos andando juntos como sempre faziam.James Potter e seu sorriso largo e brilhante, com cabelos negros e espetados para todas as direções, mais os óculos de armação quadrada emoldurando seus olhos cor de avelã;Sirius Black, com suas vestes desajeitadas, sorriso branco e maroto, cabelo negro estiloso e olhos negros e brilhantes;Remus Lupin com seus machucados espalhados pelo rosto, sorriso amigável, cabelos alourados e olhos castanhos brilhantes;e é claro para fechar com chave de ouro, Peter Pettigrew, baixinho, gordinho e de nariz vermelho, com sua risada contagiante e sua aparência amigável.

O garoto de óculos era o que havia chamado Lily.Imediatamente a ruiva fechou a cara.Os quatro se aproximaram, todos com sorrisos, cada um com seu modo de ser contagiante.

-O que você quer, Potter?-Indagou a ruiva com uma frieza sem medida.

-Meu Merlin, quanto ódio nesse jovem coraçãozinho!-Falou um divertido Sirius Black.Lily fez careta.

-Da última vez que vieram conversar com a gente Sev acabou com as vestes molhadas, então acho que mais cautela com vocês seria necessário.-Falou Lily indiferente.

-Sabe, ainda dá tempo de você ir comigo a Hogsmeade.-Comentou James.Lily revirou os olhos.

-Já disse isso umas dez vezes, e vou repetir.-Falou a ruiva com raiva, se levantando.-Não Potter, eu realmentenão quero sair com você!

-Precisa disso tudo ruiva?-Perguntou Sirius divertido.

-Acho que já acabamos por aqui não James?-Perguntou Remus cauteloso.-Não seria melhor sairmos, sabe, para evitar brigas...

Severus observava tudo aquilo, com uma raiva sem motivo borbulhando dentro de si, afinal, James Potter não havia feito nada de grave ali, ele apenas havia convidado Lily para sair novamente.Severus suspeitava que fosse realmente aquilo que o incomodava, mas ele realmente não queria pensar naquilo naquele momento.

Severus se levantou, limpando levemente as vestes com as mãos.

-Acho que já vou indo, Lil’s, tenho um dever de Herbologia para fazer...-Murmurou o moreno.

-Mas, Sev, nós íamos conversar e...-Começou Lily, ignorando completamente os quatro garotos que a confrontavam.

-Não Lil’s, acho melhor eu ir...-Falou o menino novamente.Lily assentiu e Severus se foi, andando pelo gramado com o livro pendendo do seu lado.

Quando Severus estava perto das grandes portas de carvalho, ouviu o brado de Lily.

-Viu, você o fez ir embora, euodeiovocê!

Um mínimo sorriso se formou nos lábios de Severus Snape antes de ele entrar no castelo.

...

Lá estavam eles novamente, Lily e Severus em seu primeiro passeio em Hogsmeade.Lily sorria e saltitava, olhando tudo com maravilha nos olhos, fazendo o sorriso de Severus se alargar cada vez mais.

-Olha Sev, olha!-Gritava ela apontando para a vitrine da Dedos-de-Mel.-Balinhas de chocolate que explodem na boca!

Severus sorria ao ver aquela imagem de sua melhor amiga.Lily se virava e corria de um lado para o outro, obrigando-o a apertar o passo para acompanhá-la.

Durante aquela visita à Hogsmead, Severus confirmou aquilo que ele realmente estava desconfiando: ele estava definitivamente apaixonado por sua melhor amiga, Lily Evans.

Ao entrarem na carruagem, prontos para voltarem para o castelo, Lily ainda sorria abertamente, fazendo o estômago de Severus pulular e se revirar.

-Foi uma visita realmente excelente,não Sev?-Exclamou a ruiva.

Severus olhou para a garota sorridente ao seu lado.Ele queria expor todos aqueles sentimentos, acabar com os segredos de uma vez por todas, romper toda aquela desconfiança entre eles e finalmente se sentir mais leve.Mas não teve coragem.

-Sim, foi um ótimo passeio...-Respondeu o garoto se virando para a janela.

...

-Me solta!

Ouviu-se o pequeno grito de Lily quando ela foi puxada para dentro de uma sala vazia.

Severus e Lily agora já estavam em seu sexto ano.Já havia se passado um ano desde aquela terrível briga entre os dois, em que os dois não se falavam, apesar das investidas de Severus.

Todo aquele acontecimento que afastou os dois amigos, fazia Severus Snape se sentir um nada, o fazia sentir um buraco no coração, o vazia se sentir oco, como se não houvesse sobrado nem um pouquinho de bom-humor, auto-estima, e animação.Todo aquele acontecimento levou Severus a puxar Lily para uma sala vazia, com o intuito de finalmente conversarem.

-Me tira daqui!-Gritou Lily batendo os pés.Severus se espantou com o fato de que até mesmo irritada, Lily ficava extremamente linda.

Desde aquele tempo em que eram amigos, quando ela tinha apenas onze anos, Lily Evans havia mudado.Ela não era mais aquela menina gentil e carinhosa com todos, mas sim era dura, justa e inflexível com quem ela achava que devia ser.Mas ainda sabia ser carinhosa e gentil com quem ela queria.Já não havia nela aquela imagem de garota fofa, meiga e gentil, e agora a imagem sexy e sensual já começava a brotar.

Lily já não tinha mais cabelos longos bem presos num coque, já não era mais baixinha e sem curvas.Lily agora era mais alta, com cabelos mais avermelhados, com leves ondulações, que lhes batia na cintura.O corpo já era definido por belas curvas, mesmo ela ainda sendo muito pequena para sua idade, ela emanava sensualidade por onde passava.

“Linda”, pensou Severus.

-Não Lily, você precisa me escutar!-Exclamou o garoto.

-Eu já escutei, e não quero ouvir mais!-Gritou Lily.

-Por favor, Lily, aquilo foi um erro, e já faz mais de um ano, me perdoa!-Implorou o garoto.Lily balançou a cabeça.

-Severus, eu já te perdoei, mas você sabe, não nos daríamos bem como amigos novamente.-Falou a ruiva.

-Porque não?-Indagou um Severus sofrido.

-Eu já disse Severus, você escolheu seu caminho, e eu, o meu.Não quero lutar com você.-Falou Lily com um suspiro.

-Eununcalutaria comvocê!-Falou Severus.Lily sacudiu a cabeça.

-Você não entende, não é?-Falou ela parecendo cansada.-Se você não lutar comigo, oque espera queelefaça?Fique parado, olhando você desobedecer as suas ordens?Não!-Falou a garota cortando Severus antes mesmo de este falar algo.-Você acha mesmo que Você-Sabe-Quem seria tão piedoso?Ele te aniquilaria, te torturaria até você enlouquecer, te transformaria em um escravo ou algo pior.

Severus se calou, sabendo que tudo aquilo era verdade.Por um instante ele observou a menina que o fitava com um olhar cansado, pensando no quanto a amava, no quanto ele precisava dela, no quanto seu peito doía quando estavam separados.Então Severus fez aquilo que ansiava desde seu terceiro ano, desde que descobriu sua paixão por Lily, ele a beijou, colocando seus lábios frios, nos lábios mornos dela, suas mãos, uma em seus fartos cabelos vermelhos e outra na base de sua coluna.

Lily de início ficou extremamente surpresa, com os olhos arregalados, o corpo imóvel, as mãos sobre o tórax do garoto, sem reação alguma.Mas sem forças retribuiu o beijo, se deixando invadir por aqueles sentimentos malucos que vinham numa grande enxurrada de emoções.

Então eles se separaram, e Lily abaixou a cabeça, olhando para as próprias mãos.

-Lily...-Começou Severus tocando o rosto da garota.

-Vá embora.-Disse ela, a voz fraca e falhada.

-Lily...-Tentou o menino novamente.

-Vá embora!-Repetiu ela um pouco mais forte, deixando uma lágrima solitária escorrer por seu rosto.

-Não, Lily, Por fa...-O garoto repetiu a tentativa.

-VÁ EMBORA!-Gritou Lily chorosa se levantando.

O garoto se afastou, indo em direção a porta, olhando uma última vez sobre o ombro para a garota, e então finalmente saindo da sala.Então Lily se permitiu chorar,soluçar, gritar, se jogar no chão.A garota ficou horas ali, chorando, até que chegou um ponto em que ela não encontrava forças nem ao menos para soluçar, então apenas ficou ali, sentada no chão,com as lágrimas escorrendo pelo rosto, a ponta dos dedos sobre os lábios, numa silenciosa guerra interior.

...

Lily Evans e James Potter, riam enquanto bebiam sua cerveja amanteigada em sua última visita em Hogsmeade.Os dois se encontravam no Três Vassouras, o lugar mais reservado que se podia arranjar em Hogsmeade na época, já que a sensação do momento era o Cabeça de Javali.

-...E então o Trasgo disse: "Vassoura?Não vi nenhuma por aqui, mas acho que você pode perguntar para aquele ali ó!".-James concluiu a piada, fazendo a namorada gargalhar novamente.

Estavam em seu sétimo e último ano em Hogwarts, ano em que finalmente tudo parecia estar nos eixos para Lily, com seu namorado maravilhoso, com suas amigas incríveis, e aquele ano maravilhoso que havia tendo até aquele momento.Tudo parecia parecia estar perfeito, exceto por um pequeno detalhe.Severus Snape.

Enquanto a ruiva ria, ela olhou por cima do ombro de seu namorado e antigo inimigo e encontrou com aquele conhecido par de olhos, aquele que costumava brilhar quando a via.O sorriso se apagou de seu rosto, quase que imediatamente.

-Aconteceu algo?-Indagou James preocupado.

-Preciso conversar com alguém.-Disse Lily.James seguiu seu olhar e encontrou Severus Snape os observando da outra mesa.

-Vocêrealmenteprecisa conversar comele?-Perguntou James.Lily se levantou.

-Não irei demorar.-Murmurou ela pegando a caneca de cerveja amanteigada e indo em direção ao antigo amigo.

Severus Snape a seguiu com o olhar, acompanhando os movimentos da ruiva até a mesma se sentar diante dele.Ela o fitou com aqueles olhos assustadoramente verdes e lindos.

-O que faz aqui?-Perguntou Severus friamente.-Pensei que já tivéssemos resolvido esse pequeno problema da perseguição...

-Eu também.-Retrucou a ruiva.-Porque você estava me observando?

-Porque você está saindo com aquele babaca?-Rebateu Snape arqueando uma sobrancelha.

-Você não manda em mim.-Murmurou Lily.

Um silêncio cheio de tensão pairou no ar, deixando ambos irritados e constrangidos.Severus observou a menina que costumava ser sua amiga, com uma dor excruciante, quase física em seu peito.Respirou fundo, tentando controlar a tristeza que enchia seu peito por saber que ele a havia perdido.

-Enfim, o que faz aqui?-Indagou Snape torturado com aquele silêncio.

-Eu...-Começou Lily, então ela suspirou e continuou.-Eu só estou fazendo uma última tentativa de te trazer para o lado certo, sabe.

-Não adianta, você mesma já disse, eu escolhi meu caminho, você, o seu.-Disse Severus com sua voz naturalmente baixa e ríspida.

-Sev, eu não quero lutar contra você!-Exclamou a ruiva baixinho.-Basta escolher o lado certo e...

-Não dá!-Exclamou Severus um pouco alto, fazendo com que todos no recinto olhassem para ele, inclusive James, que franziu o cenho, desaprovando aquilo tudo.

-Não dá.-Repetiu Severus mais baixo desta vez.-Mesmo...Mesmo que eu quisesse, não tem mais volta.

-Mesmo que você...-Repetiu Lily baixinho.-Comoassim?

Severus Snape suspirou torturado novamente.Ele olhou para os lados, não acreditando que iria fazer aquilo, não acreditando que finalmente revelaria quem realmente era para o amor de sua vida.Sem coragem de olhar nos olhos da meninas, ele abaixou os olhos e puxou Lily mais para perto, erguendo um pouco a manga esquerda das vestes, revelando a marca negra em sua pele.

Lily Evans abafou um grito com as mãos, logo se recompondo.Pegou seu copo de cerveja amanteigada, se levantou, e com toda a frieza, indiferença, arrogância e ignorância de seu ser dirigiu as palavras de despedida para Snape:

-Merlin sabe que tentei.Passar bem.

E se virou, esvoaçando os cabelos chamejantes.Andou a passos rápidos e curtos até a mesa onde se encontrava o namorado, se sentou defronte a ele, segurando as lágrimas.James olhou de relance para ela, e com um simples olhar entendeu a situação.

-Vamos.-Murmurou ele.

Deixando alguns galeões na mesa, James se levantou, pegou a namorada pela mão, levantando-a junto, e saiu do estabelecimento, não sem antes lançar um último olhar frio para Severus Snape.

...

Lily Evans floreava a varinha agitadamente, e com apenas alguns movimentos de pulso, três Comensais da Morte estavam no chão.Ali perto, seu marido, James Potter, batalhava duramente contra algum Comensal durão, enquanto Sirius Black combatia Bellatrix que agora já não era mais Black, e sim Lestrange.Lily olhou á sua volta, tentando achar mais algum Comensal que houvesse sobrado.

Ao olhar para um canto mais afastado, encontrou um vultoencapuzado tentando escapar pela porta dos fundos, para finalmente poder desaparatar dali.Lily sorriu de canto.

-Ainda não...-Murmurou e correu em direção à pessoa que tentava fugir.

Parou na sua frente, e quase caiu no chão, tamanha foi sua surpresa.

Debaixo do capuz negro, ela encontrou aqueles conhecidos olhos enegrecidos e opacos.Sem sombra de dúvida aquele a sua frente era Severus Snape.Lily tremeu ligeiramente, mas apertou a varinha com força.

-Eu d-disse que não lutaria com você...-Sussurrou ela tão baixinho, que se Severus não tivesse visto sua boca se mexer pensaria que estava ouvindo vozes.

-Mas...Mas se for preciso, eu lutarei!-Concluiu Lily firme.

Severus quase tremeu.Ele realmente queria sair dali, mas sabia que era dever dele matar Lily, e era dever dela derrotá-lo.Mas ao mesmo tempo em que ambos sabiam de suas obrigações, ambos lutavam contra o instinto de se abraçarem e finalmente resolver as divergências.

Permaneceram segundos se olhando, segundos que pareciam horas, segundos que não acabavam nunca, segundos eternos cheios de conflitos, significados, mágoas não resolvidas.Então, ao mesmo tempo Lily e Severus ergueram a varinha.

-Me desculpe...-Sussurraram ambos com a voz tão baixa, que era quase impossível se ouvirem, então berraram:

-ESTUPEFAÇA!

-CRUCIO!

Os feitiços se cruzaram no ar, mas logo o feitiço de Snape se quebrou, e ele caiu estuporado no chão, fazendo Lily se sentir tão mal a ponto de cair ao seu lado.Lily agarrou o rosto de Severus.

-Seu tolo!-Soluçou ela.-Seu grande tolo!Eudisseque não queria lutar com você!

Lily olhou para o corpo inerte de Snape uma última vez, limpou as lágrimas e se levantou, se deparando com a situação das lutas de Sirius e James.Lily suspirou, apontando primeiro para Bellatrix Lestrange.

-Expelliarmus.-Disse Lily sem animação.A varinha de Bellatrix voou para longe, dando tempo de Sirius estuporá-la.Então Lily apontou para o adversário de James.-Estupefaça.

O homem caiu no chão, desmaiado.

-Devemos levar esses Comensais para a Ordem?-Questionou Sirius.

-Kingsley cuidará deles depois.-Respondeu Lily, fria.

-Aconteceu alguma coisa, Lil'ls?-Perguntou James.Lily olhou para o corpo ainda imóvel de Snape.

-Apenas velhos incômodos.-Respondeu Lily indiferente.-Vamos.

Então os três saíram dali, e desaparataram, e Lily agora tinha gravado na mente: Severus Snape havia mudado, ele era seu inimigo agora.

...

Depois de muito tempo desde que Snape havia visto Lily pessoalmente, lá estava ele, o primeiro a saber da tragédia.Ele estava parado bem em frente a casa dos Potter, o olhar fixo na porta.Severus Snape sentia que seu coração estava partido em pedaços, e repetia a si mesmo que aquilo não era verdade.

Mas ele sabia que era.Ele sabia que a culpa era dele, ele sabia exatamente o que havia acontecido ali, sabia que Albus Dumbledore havia quebrado sua promessa.

Finalmente criando coragem, Severus andou até a porta escancarada, onde se encontrava o corpo sem vida de James Potter.O coração de Snape parou por um instante.Se este corpo estava sem vida ali, ele não queria ver se continuaria daquele modo.Mas mesmo assim ele se forçou a andar até o primeiro degrau.Aquela área estava completamente destruída, e isso ele podia ver, ainda podia sentir o cheiro de queimado.

Snape continuou se forçando escada acima, cada degrau parecia mais longe, mais impossível de se alcançar.No que pareceu uma eternidade, ele finalmente chegou no segundo andar.Caminhou lentamente e sofridamente até o único som que conseguia escutar: um choro alto e agudo de criança.

Então ele chegou no portal de um lugar que deveria ser um quarto, mas que agora era apenas uma pilha de escombros alegres demais.Snape tentou evitar ao máximo possível olhar para o chão, mas em algum momento teria que olhar, e esse momento chegou cedo demais.Tanto que Severus Snape, ao olhar o corpo inerte e sem vida de Lily Evans, se viu sem chão.

Severus caiu, ajoelhado ao lado do amor de sua vida, agarrou o corpo ainda quente daquela mulher, o apertou, abraçando-o contra seu corpo, se permitindo chorar, e soluçar.Snape afastou Lily ligeiramente de seu corpo e tentou:

-Lil's, acorda!Lil's, por favor, não me assuste assim!Vamos, eu estou aqui, do lado certo, não precisamos lutar!Lily!

Mas ela continuou imóvel, continuou inerte, continuou morta.Um uivo alto e doloroso escapou da boca de Severus Snape.Então, por uma última vez, ele selou seus lábios nos dela, se separou, e ainda próximo de sua boca sussurrou:

-Eu te amo.Me arrependo de nunca ter te dito isso antes...

Então Severus ouviu um estalo de aparatação, apertou Lily mais uma vez contra seu corpo, e escapou rapidamente, tendo como última lembrança dali, o grito doloroso de Sirius Black.

...

Depois de anos, Severus ainda sentia a mesma dor de tempos atrás, a mesma dor excruciante, que só aumentava ao olhar para os mesmos olhos verde-esmeralda praticamente todos os dias, uma dor que não passava nunca, já que Lily parecia estar presente em tudo na sua vida, desde de seus alunos e professores, a brisas frescas e paisagens alegres.

E depois de todo aquele tempo, a única coisa que Severus Snape queria era vê-la uma última vez, e por uma única vez em toda a sua triste vida, dizer um sincero "Eu te amo".E em busca disso, o professor andava pelos corredores de Hogwarts, a procura do famoso Espelho de Ojesed de que Albus Dumbledore tanto falava.

Severus Snape andava pelos conhecidos corredores da escola procurando pela porta que estaria escondendo o tal Espelho.Abrindo uma das portas mais desconhecidas e esquecidas do castelo, encontrou uma grande sala circular, onde bem no centro havia um grande espelho.

Severus nem se incomodou em admirar o espelho ou sequer verificar se era mesmo aquele objeto de tanta estima, apenas se posicionou na frente do espelho, esperando qualquer mudança.De início nada ocorreu, mas logo a imagem de Snape foi se distorcendo até se transformar na imagem mais bonita que o professor de poções já havia visto.

Lily Evans Potter estava parada ali na sua frente, do outro lado do espelho, com um longo vestido branco, com mangas longas que se arrastavam até o chão.Os cabelos chamejantes enfeitados com uma coroa de flores brancas, e nas mãos delicadas, havia um buquê muito bem arranjado de lírios.

Lily sorria abertamente para Severus, que não sabia o que fazia, afinal aquela imagem tanto fazia seu coração bater forte, como fazia seu peito arder de culpa, então fascinado Snape colocou uma das mãos sobre o espelho.A Lily do espelho imitou o gesto, colocando sua mão sobre a dele do outro lado do espelho. Severus conseguiu sorrir.

-Eu te amo.-Ouvi-se um sussurro quase inaudível, tanto que se Severus não tivesse visto os lábios da Lily do espelho se mexerem ele acharia que era sua imaginação lhe pregando peças.

Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Snape.

-Eu também.-Respondeu o homem numa tentativa falha de finalmente se declarar.

-Um homem não pode viver de sonhos, Severus.-Ouvi-se outra voz, esta mais forte e calma.-Pensei que soubesse disso.

Severus se virou e acabou olhando para a imagem de Albus Dumbledore.O professor de poções não disse nada.

-Todos perdemos coisas na vida, e devemos saber lidar com isso.-Continuou Albus Dumbledore.

-Eu apenas ouvi boatos sobre o espelho e quis conferir.-Respondeu Snape calmamente.

-Não minta para mim, Severus.-Disse Albus com uma voz repreensiva.

Severus olhou para o espelho novamente, onde a Lily o olhava com aqueles olhos lindamente verdes, com o mais bonito sorriso do mundo, perfeitamente linda.Severus suspirou.

-Só queria vê-la de novo.-Sussurrou Snape.-Ao menos uma última vez.

-Um homem não pode viver de sonhos.-Repetiu Albus.-Que isto fique bem claro.Ás vezes, nossos sonhos não são coisas boas.Um exemplo disso é o seu desejo impossível.

Snape olhou para Albus, fitando aqueles olhos incrivelmente azuis por trás dos oclinhos de meia-lua.O primeiro suspirou e saiu da sala sem dizer uma palavra, determinado a esquecer tudo aquilo, inclusive seus sonhos delirantes.

Mas mesmo com todos os seus esforços, Severus não pôde evitar sonhar com um belo par de olhos verdes acompanhados de cabelos ruivos e um sorriso de tirar o fôlego.

...

-Olhe...para....mim.

Aquelas foram as últimas palavras proferidas por Severus Snape.

Harry Potter obedientemente olhou para seu antigo professor de Poções/DCAT, deixando Snape apreciar seus belos olhos verdes, extremamente semelhantes àqueles olhos verdes que faziam Severus tremer.

O último tentou inflar o peito mais uma vez, numa falha tentativa de aumentar seus poucos segundos de vida.

Mas mesmo aqueles poucos segundos muito significaram para Snape, pois ele pôde aproveitar seus últimos momentos com o par de olhos que mais amava.

Em um certo ponte que Severus não conseguiu definir, os olhos de Harry Potter pareceram sairem de seu corpo e formarem a imagem completa de Lily Evans, com seu belo sorriso compreensivo, suas belas feições calmas e perfeitas, seu belo corpo baixo e bem esculturado, tudo isso formando a pessoa dos sonhos de Snape, aquela pessoa que aparecia em seus sonhos mais delirantes, em seus devaneios mais profundos.

E naquele momento Severus Snape sentiu que não precisava de mais nada.Parou de buscar o ar, desistiu de sua própria vida, deixou seus olhos se focarem em um ponto distante e afrouxou o aperto nas vestes do garoto á sua frente, olhando diretamente para aquela ilusão, a mais perfeita que tinha ao seu alcance, a vida de seus sonhos, sua razão de existência na terra.

Severus Snape soltou um último suspiro antes de deixar a terra e finalmente se ver livre daquele fardo que carregava desde o final da Primeira Grande Guerra Bruxa: a perda de Lily Evans.

Depois do ocorrido, as histórias que contavam sobre a guerra, sempre levavam o grande nome de Snape, que foi eternizado por todos os bruxos, sendo considerado o maior herói da Segunda Guerra Bruxa, quase tão importante quanto o próprio Harry Potter.

E até hoje, mesmo não vivendo mais, sua história é um exemplo de vida para qualquer bruxo que quer melhorar, que quer viver melhor.Com a história de Snape, todos aprenderam que até mesmo a mais errada das pessoas consegue se corrigir, e a única coisa que faz isso, é o amor.