Ela encarava a comida à sua frente sem a mínima vontade de ingeri-la. Enrolava o macarrão no garfo de prata. O conteúdo do copo ao seu lado jazia pela metade, sinal de que ela o havia bebido, pelo menos um pouco. Bichento ronronava em seus tornozelos pedindo carinho, o qual ela fez rapidamente antes de voltar-se para a posição inicial. O céu lá fora já estava escurecendo e uma fina garoa caía fazendo o tempo esfriar repentinamente. Um estrondo vindo da sala tirou-lhe do seu estado inerte. Enquanto caminhava em direção a sala, ela ouviu tosses e sua mão voou instantaneamente a sua varinha no bolso traseiro de seu jeans. Quando chegou na sala ergueu a varinha, nervosa. Seus olhos encontraram olhos verdes. Era Harry.

–Olá! - disse ele tirando a fuligem das suas roupas - Por que está com a varinha apontada pra mim Hermione?

Ela respirou fundo e voltou a colocar sua varinha no bolso do jeans.

–Você me deu um susto Harry!- disse colocando a mão sobre o peito- Geralmente você aparata, e não usa a Rede de Flu.

– Eu sei- disse rindo- é que a pouco tempo comi uma pizza com uns amigos, e não queria botar tudo pra fora, você sabe.-

–Sim, eu sei- falou ajudando o amigo a se limpar.- Alguma novidade?

–Sim!- repetiu sentando no sofá de cor ônix- Encontrei Minerva no ministério, e ela me disse que ainda esse ano vão reabrir Hogwarts!

Seu coração deu um pulo, aquela notícia realmente a animara.

–Mesmo?- perguntou incrédula, e ele confirmou com um aceno de cabeça- Harry isso é ótimo!

–Sim é, e ela disse que provavelmente daqui a uns dias chegarão as suas cartas- ele ficou feliz ao ver a amiga tão excitada por poder voltar a Hogwarts.

–Harry...- Ela começou hesitante- não vai mesmo voltar para Hogwarts?- perguntou com os olhos brilhando.

–Não Mione...-Ele pode ver os olhos dela perderem o pouco brilho que haviam adquirido

– você sabe, eu quero ajudar a prender mais comensais.

–Bem, acho que este ano será só eu...-disse dando um sorriso triste.

–Não, Gina também vai voltar!- exclamou, tentando animar novamente a castanha.

– Não será a mesma coisa Harry...sem você ou Rony para eu puxar a orelha em relação as lições- ela respondeu sorrindo e passando a mão nos cabelos revoltos do amigo.

–Veja bem Mione...-ele se sentou ereto - você vai voltar a Hogwarts, e provavelmente vai devorar todos os livros daquela biblioteca, afinal você vai estar perto da sua paixão né??

Ela não pode conter uma gargalhada, o amigo realmente sabia como animá-la.

–Vamos jantar ratinha?- ele riu, a chamando pelo apelido inventado à muitos anos.

–Eu já jantei Sr. Cicatriz, mas adoraria acompanhá-lo- riu também, entrelaçando seu braço no dele e o arrastando para a cozinha.

Ao chegar na cozinha, ele se deparou com o prato de macarronada praticamente intacto em cima da velha mesa.

–Você não comeu Mione?- perguntou preocupado

–Claro que comi Harry, só não estava com muita fome- respondeu soltando o amigo.

Ele soltou um suspiro cansado, enquanto observava a amiga jogar a comida na lixeira da cozinha.Ele pegou um prato no armário, serviu-se e sentou na mesa. Ela sentou a sua frente e fixou os olhos nele.

O silêncio se fazia presente, eles estavam sozinhos, já que, a pedido de Hermione, Harry tinha dado férias de duas semanas para Monstro, o elfo rabugento. De repente Harry lembrou-se de uma coisa.

–Uhn, Mione...- ele disse com a boca cheia de macarrão.

–Credo Harry! Engole antes de falar- repreendeu achando o ato de Harry , digno de Ron Weasley.

–Desculpe- murmurou depois de engolir tudo.- Mione eu tenho uma coisa pra lhe falar.

–O que é? -perguntou curiosa. Ele limpou a garganta antes de falar.

–Bom, a Sra.Weasley vai fazer uma jantar de despedidas, antes de você e Gina irem pra Hogwarts.- disse empolgado.

–Nossa Harry, isso é legal!- disse sorrindo.

–quando será o jantar?

–Oh, vai ser um dia antes de vocês irem pra Hogwarts, ela que mandou o recado pelo Sr.Weasley- sorriu de volta.

Como eles já estavam quase no fim do mês de agosto, seria dali a uma semana.

–Nossa tá perto!- exclamou surpresa.

–Sim está.- disse voltando a comer seu macarrão.

Ela esperou ele terminar de comer, antes de se recolher para o seu quarto.Trancou a porta e foi em direção ao banheiro, enchendo a banheira com água morna. Ela despiu-se e soltou os cabelos castanhos que agora estavam mais compridos e mais domados, e entrou na banheira. A água quente fez seus músculos relaxarem, e ela se permitiu adimirar aquele banheiro com um aspecto meio sombrio.

O Largo Grimmauld continuava o mesmo, afinal Harry queria conservar algumas memórias de Sirius. Esfregava as pernas vagarosamente, no seu calcanhar achou uma cicatriz que havia feito na infância, lembrou-se de como o pai a consolou dizendo que era bom sentir novas sensações. Seus pais.Memórias dolorosas invadiram sua mente.

Ela e Harry andavam por uma ruela, eles estavam com os braços enroscados um no do outro. Aquela cena fazia Hermione se lembrar de quando eles foram à Godric's Hollow. O clima era semelhante ao daquele fadado dia. Só que eles não estavam na Inglaterra, e sim na Austrália. Finalmente depois de uma semana de término da Guerra, ela resolvera ir atrás de seus pais e retirar o feitiço.Ela planejara ir sozinha, porém Harry fez questão de acompanha-lá, dizendo que ela estava lá quando ele precisara, e que ele também estaria lá quando ela precisasse. Finalmente encontrara, a casa. Não fora tão difícil, já que, ela esperta, colocara um feitiço de localização em seus pais.

Eles pararam em frente à porta cor bege e Hermione tocou a campainha trouxa. Um trouxa de cabelos grisalhos e estatura mediana apareceu na porta, e os olhos de Hermione brilharam de felicidade. Era o seu Pai.

–Boa noite!-Saudou gentilmente- Em que posso ajudá-los?

Antes que Harry ou Hermione fizessem algo, uma menina que aparentava ter uns 6 anos e tinha longos cabelos castanhos, apareceu gritando.

–Papai! Papai!- gritava- olha isso!

Quando Hermione escutou a menina chamar o seu Pai, de Papai, sentiu o mundo desabar. A garotinha trazia um cupcake de chocolate e entregou ao pai que beijou sua testa carinhosamente. Quando a garotinha saiu, o homem voltou a atenção e para o casal de amigos.

Hermione estava com os olhos marejados, e o homem a sua frente a encarava com uma sobrancelha erguida. Harry deu um leve esbarrão em Hermione com o ombro, e ela voltou a realidade.

Começou a balançar a cabeça negativamente mordendo os lábios. Deu uma desculpa qualquer a seu Pai e arrastou Harry ruela à baixo. Harry confuso parara, forçando a castanha a parar também.

–Hermione...-começou Harry.

–Não Harry!- ela já chorava copiosamente- Você não vê? Eles estão felizes do jeito que estão.

–Mas Hermione você é filha deles e...-

–Mas nada Harry!-gritou em meio ao choro- eu não posso estragar a felicidade deles, só por um capricho! Eles já tem a família completa! o que fariam de descobrissem que têm uma filha bruxa? Hã? uma filha anormal-Ainda gritava- Harry, eu só não posso...não posso.

Harry pensou em protestar, mas ao ver o estado da amiga, ele desistiu. Eles aparataram no Largo, e Harry abraçou Hermione, que se dissolvia em lágrimas. Aquela noite fora difícil, Harry tivera que dormir junto com ela, porém manteve uma distância respeitável.

Desde aquele dia, ela andara sempre triste e pensativa, o amigo algumas vezes conseguia agilmente fazê-la sorrir, mas eram raros esses momentos. Ela costumava visitar os pais nos feriados, mesmo que secretamente. Vê-los bem, a fazia ter a sensação de dever cumprido.

As lembranças de seus pais, a fizeram ficar triste. E do nada, ela começou a sentir uma sensação de solidão. Ela imaginou sua vida sozinha, sem Harry, Rony, Gina ou sem ninguém, e a sensação de pânico a invadiu.

Sentiu-se ligeiramente sufocada entre aquelas quatro paredes. Sua respiração ficou escassa e ela empalideceu.

–Harry!Harry! -gritava desesperadamente, imaginando estar sozinha.

Harry ao ouvir o seu nome ser gritado, começou a correr escada acima. O grito era de Hermione. Ao chegar à porta do quarto dela, percebeu que estava trancada, e com um feitiço a abriu. O quarto estava vazio, mas a porta do banheiro estava aberta.

Quando adentrou o banheiro, deparou-se com a amiga chorando desesperadamente, suas lágrimas escorriam pelo rosto, até se misturarem com a água morna da banheira. Ela o encarou com os olhos vermelhos, e seu rosto continha uma expressão de dar pena. Ele ajoelhou- se ao lado da banheira e abraçou a amiga, que ainda estava com o corpo molhado e nu. Ela o abraçava sem se importar com sua nudez.

–Harry? - sussurrou no ouvido do moreno.

–Sim? - falou baixinho

Promete nunca me deixar?- disse chorando- por favor...

–É claro que eu nunca lhe deixaria Mione!- ele disse- você é como uma irmã pra mim, e eu nunca deixaria minha irmã sozinha.

–Obrigado!- ela o abraçou mais forte.

Quando separaram-se, Harry se deu conta da situação que estavam. E desviou os olhos de Hermione, corando levemente, enquanto ajeitava os óculos no nariz. Hermione por sua vez estava vermelha, e sentia vergonha de sua estupidez.

Harry saiu do banheiro a deixando terminar o seu banho. Quando terminou, Hermione vestiu um robe de seda azulada que ia até seus joelhos.Ela jogou-se na cama e seus cabelos se esparramaram pelo travesseiro.

Ela adormeceu instantaneamente. E a cena do banheiro invadiu seus sonhos, a fazendo pela primeira vez em meses, ela ter uma tranquila noite de sono.

Someone who knows when you're lost and you're scared

(Alguém que sabe quando você está perdido e assustado)
And there through the highs and the lows

(Lá nos altos e baixos)
Someone you can count on, someone who cares

(alguém com quem você possa contar, alguém que se importa)
Beside you wherever you'll go

(Ao seu lado onde quer que você vá)