Confusão.

Era a palavra que definia Hermione Granger naqueles dias. Desde que havia beijado Draco Malfoy naquela chuva torrencial se sentia perdida. Havia gostado do toque do loiro, mas mesmo assim aquele beijo a havia assustado. Haviam se passado quatro dias desde aquele episódio, os dois estavam sem se falar, sem se encarar mas mesmo assim os pensamentos de ambos não saiam do outro.

Theo estava meio confuso com aquele repentino gelo entre os dois, pois ambos apesar de não demonstrarem frequentemente, eram muito próximos um do outro, isso claro na concepção de Nott. Draco procurava agir como se nada de importante tivesse acontecido, continuava frio e inexpressivo, andava somente com Theo e quando nem este estava com ele, ficava sozinho. Ele observava Granger sempre de longe, ela agia normalmente, sorrindo e falando com os amigos, mas algumas vezes a pegara olhando para ele com uma expressão esperançosa. Não queria se apegar a ela, mas estava se tornando inevitável, adorava o jeito como ela sorria e aqueles olhos constantemente povoavam sua mente.

Hermione estava sentindo falta de Draco, tivera que admitir e para ela aquilo era estranho, pois em tão pouco tempo haviam criado um vínculo tão forte e agora só podia sentir falta da presença do loiro, seu orgulho não a permitia falar com ele, então era como se tivesse retornado a estaca zero. Apesar de se sentir meio solitária, Hermione ainda podia contar com Gina e Theo. Naquela tarde fria resolvera, no entanto, isolar-se em seu quarto e ler um livro. Estava confortavelmente deitada na cama, usava um moletom grosso de lã roxa e meias coloridas nos pés, o cabelo preso em um coque improvisado com alguns fios caindo, lhe dando um ar despojado. Estava tão entretida na leitura que nem percebera quando Theo entrara no seu quarto.

–Terra para Hermione Granger! Está ouvindo? - ele brincou capturando a atenção dela

. -Theo!- Ela sorriu e jogou os braços ao redor do amigo - O quê veio fazer aqui?

–Vim constatar se minha amiga ainda estava viva- ele riu e ela o acompanhou- Falando sério, vim ver como você está, não saiu desse quarto hoje.

Ela suspirou e sentou-se na cama o trazendo junto.

–Estou bem, só muito entretida com a minha leitura- sorriu de canto.

–Hum, interessante...- ele disse desconfiado- isso não tem nada haver com um certo sonserino loiro não é?

Ela fora pega de surpresa pela aquela insinuação e corou fortemente.

–Acho que você tem algo a me contar, sim Hermione? - ele resolvera ser direto e descobrir o quê havia acontecido com aqueles dois, e só conseguiria arrancar informações de Hermione.

Hermione suspirou e jogou-se na cama fechando os olhos, e Theo deitou-se do seu lado.

–Theo, detesto mentir, então vou abrir o jogo...- ela respirou fundo e encarou Theo - Eu e Draco nos beijamos há alguns dias atrás. E depois disso nos afastamos, ele não fala comigo e nem eu com ele. Isso está me cansando, sinto falta dele.

Hermione jogara verde com Theo e se sentia aliviada por desabafar com alguém de confiança. Abraçou Theo deitando sua cabeça no ombro dele.

–Uau Herms, não pensei que esse beijo aconteceria agora- Theo disse olhando para o teto- Mas uma coisa eu lhe digo, Draco é muito orgulhoso e cabeça dura, se você for esperar ele vir falar com você, vai morrer esperando, se realmente sente falta dele, como diz, experimente ir atrás dele, procure ter uma conversa amigável, talvez tudo se acerte, acredite vai ser pior se você ficar se remoendo nessa solidão, creio que Draco jamais faria algo pra lhe magoar novamente, tendo em vista o quanto vocês são íntimos agora sabe

Hermione encarou Theo e absorveu suas palavras, por um lado seu amigo estava certo, seria pior ficar sofrendo mais do quê já sofria, mas ela não sabia se teria coragem o suficiente para abordá-lo.

–Hey Herms...- Theo a chamou baixinho.

–Hum?- ela apoiou a cabeça no peito dele.

–O que você sentiu durante o beijo?

Novamente Hermione fora desarmada, nunca havia parado para pensar nos seus sentimentos. Ela não conseguia esclarecê-los, se sentia uma confusão ambulante, suspirou e encolheu-se perto de Theo.

–Theo... Eu não sei bem- gaguejou- Eu me sinto tão confusa! Nunca havia me sentido assim antes, tão insegura e confusa.

–Entendo, Mas o que você sentiu lá na hora... Quando deram início ao beijo?

A castanha suspirou fechando os olhos e recordando as emoções vividas anteriormente.

–Eu senti como se borboletas voassem dentro do meu estômago, meu coração acelerou consideravelmente e eu fiquei trêmula- ela despejou tudo sem inibição.

– Santo Merlin! Hermione acho que você está se apaixonando por ele- Theo disse como se tivesse descoberto o segredo do século.

–Pare de bobagem Theo! - Hermione ralhou corada- Eu apenas estava nervosa com aquela situação.

Granger tentara parecer racional e procurava ao máximo não pensar sobre paixão naquele momento.

–Então ta, se você diz...

Theo resolvera deixar o assunto de lado, já havia alcançado seu objetivo. Só rezava para a amiga não sair magoada naquela história toda. Hermione abraçou Theo e adormeceu suavemente ouvindo os batimentos cardíacos do amigo.

Depois daquele breve sono Hermione acordara determinada, iria falar com o loiro, ignoraria o seu orgulho por ele, necessitava senti-lo perto de si, necessitava do seu abraço, e pedia aos deuses para não sair magoada daquela situação. Theo já havia partido do seu quarto e ela ficara, terminava de amarrar o cadarço de seu all star. Quando finalmente terminara de se arrumar, olhou-se no espelho criticamente, estava razoável, sacudiu os cabelos lhes dando um ar revoltado sexy e saiu do quarto.

Andava pelos corredores cheios de alunos à procura do loiro sonserino. Já estava quase desistindo quando avistou a cabeleira loira na entrada do castelo, estava sozinho admirando a paisagem chuvosa do céu. Aproximou-se hesitante, sua coragem estava lhe abandonando, sua razão pedia pra fugir e seu coração para se aproximar. Suspirou e apoiou os cotovelos no parapeito, parando exatamente ao lado do loiro.

– Malfoy...- disse meio sem fôlego, suas pernas estavam querendo lhe trair, mas ela apoiava-se fortemente ao parapeito.

– Granger- Malfoy sibilou friamente, sem encará-la.

O coração de Hermione rachara ao sentir o tom frio com qual ele a tratara, mas mesmo assim ela continuou, respirando pesadamente.

– Como vai? - perguntou sem coragem de ir direto ao ponto.

–Como você pode ver, bem, mas creio que isso não seja da sua conta. - falou com descaso.

Outra facada. O coração de Hermione já estava estilhaçado.

–Você pode estar muito bem por fora e uma completa confusão por dentro- Hermione disse insistindo com o tom suavemente doce.

– E como pode ter tanta certeza? - Draco arqueou uma sobrancelha para ela em sinal de ironia.

–Por que eu estou assim e...- ela dizia baixinho.

– É, mas acontece que eu não sou você e se não percebeu Granger, somos bem diferentes. - O orgulho de Draco começara a erguer barreiras impenetráveis.

Uma lágrima ameaçava cair do olho de Hermione que dificilmente conseguiu contê-la.

–Pode ser, mas eu conheço você! - ela gritou.

–Você não conhece nem 10% de mim, não tire conclusões precipitadas sobre quem você mal conhece garota!- o tom dele fora cortante e gélido.

–Eu conheço sim! Aquele garoto que sofreu sem escolhas, que teve seus traumas e mesmo assim foi capaz de ser generoso com alguém que julgava inferior, foi capaz de ter compaixão e pode ser capaz de amar! - a lágrima desceu discretamente.

–Pare de tirar conclusões precipitadas Granger! Não seja tão tola, você não me conhece, não aja como se fosse alguém importante na minha vida, não pense que você sabe de tudo, pois não sabe. - Draco fora tão frio que aquela altura já fizera a garota chorar.

– Pensei que você tinha mudado, pensei que eu fosse capaz de fazer você mudar, pensei que realmente tinha mudado e se arrependido do que fez, me enganei feio... - Hermione disse dolorosamente por entre suas lágrimas. - Pensei que se importasse comigo...

–Pensou muito errado, e antes que você crie alguma esperança sobre algo impossível- ele dizia maldosamente frio- Aquele beijo idiota não significou nada, foi só apenas mais um de vários que já ganhei e vou ganhar, tola.

Hermione soluçou, seu coração caía aos pedaços, as palavras frias dele doíam e tudo que conseguia fazer era chorar, fraquejava na frente dele. Suspirou pesadamente, limpou as lágrimas e olhou mortalmente para o loiro, em seguida acertou-lhe um tapa certeiro, descontando ali metade de sua dor.

– Eu odeio você- disse friamente antes de virar-se e sair andando.

Quando alcançou um corredor vazio, desabou ali, caiu sentada chorando litros de lágrimas, a dor estava insuportável e então ela mordera os nós dos dedos para abafar os soluços e descontar sua dor em si mesma.

–Hermione, você é a tola de todos...- ela sussurrara para si mesma, mordendo ainda mais os nós dos dedos.

Draco sentia a dor do tapa ardendo ainda, tinha certeza de que ficaria marcado. Não esperava aquela ação de Hermione, não queria ter visto suas lágrimas, não queria ter feito aquilo com ela.

Cada lágrima que ela derramasse agora, sabia que seria por sua culpa, e se sentia pior ainda. Amaldiçoava todas as suas gerações e a si mesmo por ter aquele orgulho impenetrável, aquele orgulho que destruia os sentimentos dos outros para manter os seus intactos, o orgulho que o dominara e destruira Hermione Granger. Queria correr e abraçar a castanha, pedir desculpas e dizer que tudo que dissera era mentira e que ela era importante pra ele sim, mas não conseguia, sua razão e o odiável orgulho não deixavam. Talvez logo ela lhe perdoasse e voltassem a se falar e ele poderia lhe roubar mais beijos, mas Draco sabia que aquilo era impossível e que nunca mais beijaria aquela boca suave, saber que não sentiria o beijo suave da castanha e não a abraçaria quando ela chorasse, fazia seu coração doer, ele gostava de Hermione mas não sabia como e nem o quanto.

–Draco Malfoy, você é um tolo insensível- ele gritou consigo mesmo puxando os fios loiros, frustrado.

E naquela noite Hermione sofrera e chorara ultrapassando qualquer limite racional, ela estava sozinha, os pesadelos voltaram a lhe atormentar com força, estava voltando ao seu estado depressivo.

I pulled away to face the pain

( Eu me afastei para enfrentar a dor)

I close my eyes and drift away

(Fecho meus olhos e me desvio)

Over the fear

(Sobre o medo)

That I will never find a way

(Que nunca encontrarei uma maneira)

To heal my soul

(De curar minha alma)

And I will wander till the end of time

(E vagarei até o fim dos tempos)

Torn away from you

(Dilacerada de você)

(My Heart Is Broken- Evanescence)