*Annie

Acordei meio de mal humor, é claro. Afinal, eu tinha sido traída pela minha melhor amiga e pelo meu namorado. Assim que levantei, Cat foi atrás de mim.

–Me desculpa, Annie. Me perdoa por favor.

–Eu to atrasada, da licença.

Fui até o banheiro, me arrumei e fui tomar café da manha. Resolvi sentar longe de todo mundo. Era como se todo o internato estivesse encarando aquela mesa redonda. Tinham mais ou menos umas cem pessoas em todo o internato, e estavam olhando para mim. Minha mesa verde, naquele refeitório fechado do primeiro andar era a que mais se destacava.

–Foi largada, queridinha? –comentou Natália, passando direto por mim.

Bufei e continuei comendo meu cereal. Tinha uma luminária bem em cima de mim, que não parava de balançar. Cat balançou a cabeça de longe, com uma cara de pena. Fred fez a mesma coisa, mas ele não estava ao lado dela. Léo ria com aquela aluna nova, e Serena e Clarice olhavam para mim. Espera! Aquele Lucas ta de mãos dadas para a Serena? Nossa... Não aguentei mais ficar sozinha, mas não podia ir para aquela mesa do quarto 204. Afinal, já tinham posto até duas cadeiras a mais. Dei uma olhada em volta e sentei numa mesa, quase vazia.

–Oi. –falei sentando.

–O que você quer? –perguntou uma menina de cabelos negros e mechas verdes e azuis.

–Não quero nada.

–Todos querem alguma coisa. Já no seu caso, provavelmente veio falar com a gente para causar ciúmes nas suas amiguinhas, que não para de te encarar. –ela disse.

–Não liga para ela, não. Eu sou a Bella, essa é a Carter, e aquela é a Stephanie e essa aqui é a Laura. Somos do quarto 234.

–O da Natália?

–Isso aí. –ela disse num sorriso.

–Aquela garota é insuportável. –argumentou Carter.

–Você é aquela menina da peça não é?

–Sim. –disse Laura, meio sem paciência.

–Pensei que fosse toda animada e contente.

–Você pensou errado! Agora, me deixa ler em paz. –ela disse pegando o livro.

–A Laura só participou da peça porque a chefe do jornal da IGF precisa participar de algum evento importante do internato. E tinha que ficar perfeito, para ela não correr o risco de perder seu posto para a Angélica, uma outra garota. –disse Bella.

–A ta... E você Stephanie?- perguntei.

A menina deu um pulinho da cadeira, deixando cair leite no colo da Carter. Ela era ruiva, um cabelo média, e tinha pele clara, mas não pálida.

–Olha o que você fez! Sua desastrada!

–Desculpa, foi sem querer. Só não chora. Não se chora sobre o leite derramado.

–Você bateu com a cabeça quando nasceu? Sai da minha frente! –disse Carter indo ao banheiro.

–Desculpa. Eu sou meio desastrada mesmo. –falou Stephanie.

–E do que você gosta? –perguntei.

–Paçoca, ouvir música, Silêncio, dormir, cafuné na cabeça, dormir no colo de alguém, olhar para o céu, cantar quando ninguém observa, sentir o vento no rosto, brincar com animais pequenos, correr, comer coisas macias, falar com pessoas engraçadas, receber atenção ou carinho e falar com animais.

–Legal.

–Vou para o quarto. –disse Laura, saindo.

–É melhor eu trocar de roupa, caiu leite em mim também. –falou Stephanie, indo logo atrás.

–Eu preciso fazer um dever de história. Nos vemos por aí?- disse Bella.

–Claro. –falei.

Ela saiu, me deixando sozinha. Voltei para a minha mesa, enquanto todos me olhavam de novo. A luminária presa no teto, não parava de chacoalhar. Olhei em volta, e quando voltei a olhar para o teto, vi a luminária caindo.

–Cuidado! -gritou um menino.

Não senti nada. Quando olhei para o lado, vi um menino, com o cabelo para o lado, sobrancelhas grossas e olhos escuros.

–Tudo bem? –ele perguntou.

–Sim, o que houve?

–A luminária caiu, e eu te empurrei. Você não se machucou e a luminária não caiu em você.

Eu estava sentada no chão, e ele levantou e ergueu o braço me ajudando a ficar de pé.

–Qual é o seu nome?

–Annie, e o seu?

–Você não sabe?

–Não.

–Fala sério! Todas as meninas aqui sabem.

–Bem... Eu não.

–Meu nome é Antonio Lancaster. Com certeza já ouviu falar.

–Na verdade... Não. De qualquer forma, prazer, Antonio. E obrigada por salvar a minha vida.

–De nada. –ele falou ainda surpreso por eu não conhecê-lo, e depois saindo de perto.

Foi naquele momento, que quem não me encarava, agora olhava para mim chocada.

–Você é muito sortuda. –disse Natália chegando.

–Como?

–Aquele ali é o Antonio Lancaster!

–E...? -Ele é o ator mais gato de toda a TV. Já interpretou o Fiyero em Wicked na Broadway, fez o papel de Bernardo na Malhação, é modelo da Coca Cola e muito mais! Ele é o adolescente mais cobiçado do Brasil!

–Ta dizendo que ter quase morrido foi sorte minha?

–Eu daria tudo para quase morrer e ser salva por ele.

–Devo te lembrar que você tem namorado?

–Eu largava o Rick para ficar com um cara desses.

–Ok...

Dei as costas e fui para o quarto.

...

*Clarice

Estávamos no pátio. Já tinha acabado a aula. Só estávamos eu, Serena Lucas e Cat. Serena e Lucas estavam sentados na beirada rochosa do chafariz, eu estava em pé ao lado da Cat.

–Quer dizer que vocês estão juntos mesmo? –perguntou Cat.

–Sim, ele é perfeito. –disse Serena o abraçando.

–Que estranho... Nunca vi vocês se beijando.

–Ah é? –perguntou Lucas.

–É. –ela disse.

–Vamos nos beijar então, certo, Serena?

–Claro...

Os dois se beijaram, por um tempo.

Me senti uma pedra, vendo meu melhor amigo e minha melhor amiga se beijando. Parecia que eu não estava lá. Eu era um castiçal, de tanta vela que eu segurava. Fiquei chocada. Era como se eu estivesse com ciúmes. Mas porque? Era realmente estranho.

–Tudo bem Clarice? –perguntou Lucas, olhando para mim com um sorrisinho torto.

–Tudo ótimo. –eu disse, ainda olhando estranho.

–Sabe, acho que vocês ficaram bem juntos. –disse Cat. –O que você acha Cla?

–Ficam lindos... –falei falsamente.

Algo naquele casal me incomodava...