Segundas Impressões

 

 

 

Jacob POV

 

Acordei de manhã com as imagens do meu sonho, ainda em minha cabeça. O sonho que tive com Renesmee me surpreendeu.

 

No sonho eu estava na praia de La Push, Billy ao meu lado curado e andando novamente. Renesmee estava sentada na areia, com o sol batendo em seu cabelo e em sua pele branca. Um sorriso iluminava seu rosto e sua pele se destacava na luz. Ela estava tão linda e olhava para mim com felicidade e corava como ontem à noite.

 

Balancei minha cabeça e resolvi levantar da cama. Tomei um banho frio, tentando tirar as imagens do sonho de minha cabeça, mas parece que elas não queriam ir embora. Me enrolei na toalha e sai.

 

-Renesmee - falei surpreso, e ela mais surpresa ainda assim que sai do banheiro e dei de cara com ela. Apenas corou e saiu o mais rápido possível.

 

Ri meio sem graça também, e fui para o quarto. Percebi também que havia corado. Acho que estou virando um tosquinho sentimental, mas a culpa não foi minha se Renesmee passou na hora errada.

 

Peguei uma roupa qualquer. Uma bermuda velha, e uma camiseta preta. Me olhei no espelho e do nada troquei de roupa. Espero não estar virando frutinha. Coloquei um jeans sem rasgo algum e mantive a camiseta preta, me calcei com um tênis que eu sabia que seria o último que teria, porque o dinheiro que tínhamos não estava dando pra isso.

 

Olhei para minha cômoda e havia um copo de leite, com um guardanapo em baixo para não marcar a madeira do móvel. Sorri comigo mesmo, pegando o copo indo até a cozinha, sentindo um cheiro de café fresquinho.

 

-Billy! - Renesmee o policiou - Nada de comer esse bolo de chocolate! Lembre que diabetes é coisa séria e o senhor Black aqui tem que tomar jeito!

 

Ela retirou das mãos de Billy o prato, com o bolo de chocolate. Pelo que me parecia ela mesma havia feito e parecia delicioso.

 

- Querida irá comer isso tudo sozinha? - papai perguntou apontando para o bolo.

 

Renesmee parecia ser uma pessoa totalmente diferente perto do meu pai, ela realmente cuidava dele, enfrentando sua teimosia com o doce que nem eu conseguia lidar algumas vezes.

 

- Na verdade fiz pra quem pode comer nessa casa, Jacob e eu – respondeu ganhando uma corzinha nas maçãs do rosto.

 

 

 

Billy sorriu, desistindo de teimar com Renesmee sobre o açúcar, pegando uma torrada e seu café, também sem açúcar. Ela havia feito uma salada de frutas para ele, com suas frutas favoritas: manga, laranja e mamão. Na verdade não me lembro de ter essas coisas aqui em casa…

 

- Bom dia gente! - falei entrando na cozinha com o copo já vazio - Bom dia Renesmee.

 

Me dirigi diretamente a ela, que pareceu bem surpresa com minha particularidade. Mexeu no cabelo, pegou uma xícara e um prato para mim.

 

- Bom dia Jake - me respondeu um pouco tarde, mas usando meu apelido e logo percebeu isso ficando sem graça - O que gostaria de comer? Tem bolo de chocolate que fiz hoje cedo, quer um pedaço?

 

- Claro – respondi esticando o braço para pegar, mas nem precisei, pois Nessie já me deu um cortado em meu prato e uma xícara de café com leite

 

O bolo estava delicioso! Com cobertura de chocolate, ainda não sabia como ela havia feito aquilo. Olhei para a mesa e estava farta, com coisas que eu tinha certeza que não tinham em casa.

 

-Está ótimo – falei satisfeito, depois de três pedaços.

 

-Que bom que gostou

 

-Renesmee, você comprou essas coisas? - apontei para a mesa.

 

-Sim, meu pai me deu dinheiro, para qualquer coisa que eu precisasse ou Billy.  Então, hoje de manhã fui a um mercado perto daqui e comprei as coisas, mas o bolo eu mesma fiz - completou o final dando um sorriso, que me fez ficar olhando uns segundos, depois pegou a louça e colocou na pia.

 

Sim. Eu me enganei muito em relação a essa menina nova iorquina. Nada do que eu vi em filmes, ou estava acostumado a ver de menininhas mimadas. Fui reparar na roupas que Nessie estava vestido: jeans, blusa de mangas brancas com uma camiseta preta por cima e um tênis. Sem maquiagem ou acessório algum, apenas uma corrente fininha e pequena no pescoço com um pingente de cachorrinho pendurado, achei bem engraçado a escolha. Mas nela ficou muito bonito.

 

-Gostaria de ajuda para lavar? - perguntei tirando o prato de suas mãos. Seus olhos castanhos encontraram os meus por um segundo e depois se desviaram envergonhados.

 

-Pode deixar – respondeu.

 

-É melhor preparar seu material, sua aula é daqui a pouco.

 

-Tudo bem - desistiu levando Billy para sala e depois indo para o quarto.

 

Lavei tudo rápido. Passando por Billy que me parou e sussurrou “muito bem meu filho”, sorri em resposta indo para a garagem e limpando a picape, afinal eu teria que levá-la pra escola, e com certeza é de seu gosto carros de luxo, isso eu tenho certeza.

 

-Nossa!

 

Tomei um susto que bati a cabeça no teto da picape. Nossa que dor! Odeio esse monte de sucata! Vou mandar pro “Pimp My Ride” e ainda vou usar o Quil e Embry pra dar bastante pena mesmo.

 

-Desculpe Jacob - Renesmee foi ao meu encontro - Hum… Acho que vai ficar com um galo.

 

-Sem problema - respondi abrindo a porta do carona - Desculpe o carro.

 

-Tá brincando? Eu amei essa Picape Chevy - nossa que empolgação- É dos anos 60, certo? Eu adoro carros clássicos.

 

-Sim, é - respondi surpreso - Bem, você tem sérios problemas. Essa coisa é um saco!

 

Apenas deu um sorriso e continuamos o percurso em silêncio. Nessie parecia meio sem graça por causa de seu falatório de agora. Meus olhos sempre a olhavam, ela segurava o pingente com força olhando para a chuva.

 

-Muito bonito seu cordão - falei - Bem engraçadinho, o cachorro.

 

-Meu pai deu para minha mãe no primeiro encontro deles. E logo quando eu nasci eles me deram.

 

-Sente falta deles, certo?

 

Ela pareceu meio incomodada com a pergunta, mas se virou para mim e respondeu meio triste.

 

-Sim, eu sinto - seus olhos ficaram cheios de água e logo mudou de assunto - Obrigada por ontem, por ter ido me cobrir.

 

-Por nada - falei sem pensar tocando em sua mão.

 

Nossas cores mudaram. Passavam de rosa, pra vermelho, de vermelho para roxo e logo ao normal. Me apressei retirando a mão.

 

-Então – falei pra quebrar o gelo - Dormiu bem?

 

-Bem, obrigada - estávamos quase chegando na escola - Posso fazer uma pergunta?

 

-Claro, o que quiser.

 

-Por que ainda não foi pra faculdade? Mesmo com o Billy doente, eu estaria aqui. Afinal está na idade de ir.

 

Fiquei parado e sem resposta. Minhas mãos apertaram o volante e forcei a picape ao seu máximo, fazendo um barulho horrível. Minha vontade foi de ficar sozinho na hora.

 

- Desculpe - ela sussurrou para mim, e sem pensar colocou sua mão na minha e eu retirei grosseiramente.

 

Depois, percebi seus olhos encherem de medo e de vergonha novamente e se virou para a janela onde chovia mais do que necessário para uma cidade.

 

-Volto uma hora para te buscar - falei olhando para frente.

 

Ela nada falou, apenas bateu a com força a porta da picape, e andou sem muito sucesso até o prédio tropeçando um pouco. O que me fez rir, Billy já havia me falado que Bella, mãe de Renesmee, era super estabanada.

 

Voltei a me concentrar na pergunta que ela havia feito. Sinto muito ter agido daquele jeito, mas ela não sabe o motivo

 

 

 

Renesmee POV

 

Eu sinceramente achava que ele tinha mudado e começado a me tratar diferente, mas estava enganada, ele era mesmo um grosso, ou bipolar.

 

Eu segui em frente e ouvi o barulho da picape dando a partida, me concentrei no caminho, mas acabei mais uma vez dando uma de Isabella Swan e tropeçando no degrau da frente. Me apoiei no corrimão e segui em frente, afinal isso era comum pra mim.

 

Subi as escadas que dava para o hall da escola da reserva. Era interessante, vários garotos indígenas assim como Jake, ops, Jacob e Billy. Entrei tentando não tropeçar em mais nada e segui para onde as placas indicavam a secretaria.

 

Quando cheguei uma senhora de meia idade que tinha um óculos na ponta do nariz se virou para mim.

 

-Bom dia – disse sendo educada.

 

-Bom dia – ela disse com um sorriso – Você deve ser a garota transferida, Renesmee?

 

-Puxa – disse pensando no fato da noticia ter corrido – Sim sou eu.

 

-Aqui esta o seu horário – ela me entregou uma folha – Boa sorte!

 

-Obrigada – peguei o horário e sai de lá.

 

Minha primeira aula era de História, eu adorava historia. Minha matéria preferida. Pelo menos isso eu achava que seria bom.

 

Achei a sala com facilidade, pois a escola era toda indicada com placas e algumas setas. O que era bom, por que meu senso de direção era um completo fiasco.

 

Cheguei na frente da classe e entrei sem cerimônias. Assim que entrei notei que era uma escola como outra qualquer, a única diferença é que sempre tem uma pessoa mais estranha de todos, no caso, essa era eu!

 

Apesar de estarmos em Forks, a cidade do povo transparente de tão branco, eu vim parar na escola de pessoas morenas e com cores tão lindas que eu ficava até com vergonha de ser tão branca.

 

-Fala gatinha – ouvi assim que passei tentando achar um lugar, eu olhei pra ver quem foi, mas pensei ser alguém zombando de mim.

 

Sentei ao lado de uma morena que estava rasgando algumas folhas de caderno. De imediato eu não entendi, mas ela começou a amassar as folhas e jogar em alguns meninos que estavam na frente. Uma bolinha de papel acertou a cabeça de um em cheio, que apenas sorriu e tacou de volta acertando em mim.

 

-Ow! – o carinha falou vindo em minha direção – Foi mau “garota nova” eu queria tacar na Claire!

 

-Larga de ser mentiroso Seth – ela disse rindo – Eu sei que você queria maltratar a pobrezinha só porque é branquinha! – eu comecei a rir com o comentário ela me olhou – Liga não ele tem problemas mentais, sabe?

 

-Claire cala a boca! – eu ria e ela também, mas logo ele me lançou um sorriso amigável – Prazer mocinha branca, meu nome é Seth Clearwater

 

-E eu sou Claire Young – a morena falou me entregando a mão para que eu cumprimentasse – Eu falei isso do Seth, mas somos como irmãos, na verdade ele é meu parente de sei lá qual grau.

 

-Prazer – disse aos dois – Sou Renesmee Cullen.

 

-Re... O que? – o garoto, Seth fez uma careta e eu ri.

 

-Renesmee – repeti – Mas pode me chamar de Nessie ou Ness.

 

-O monstro do lago? – a menina perguntou franzindo o cenho.

 

-Acho que sim – respondi rindo da expressão dela.

 

-Gostei de você, Nessie – Seth falou.

 

Assim que Seth disse isso um professor alto, cabelos pretos um pouco grisalhos e desalinhados entrou na sala. Ele não era da reserva, pois era branco como papel.

 

-Bom dia classe – ele começou a aula.

 

Ele me fez me apresentar, e não foi algo tão constrangedor. Consegui falar tudo de maneira calma, apesar de algumas vezes me enroscar com o motivo de ter vindo pra cá, e muitos acharem que eu fosse metida ou mentirosa por isso.

 

As aulas seguiram normalmente, e eu me apresentando em todas elas. Logo veio o intervalo e eu sentei sozinha, apesar de conhecer Claire e Seth, os dois sumiram com quase metade da escola no intervalo. Quando me sentei um garoto veio falar comigo:

 

-Oi meu nome é Lucca – ele disse, era bonito, mas parecia extremamente arrogante – Eu vou direto ao assunto, e se considere com sorte, quer sair comigo?

 

-Em primeiro lugar não considero sorte sair com alguém tão arrogante e prepotente – disse firme – E segundo, não saio com qualquer um – me levantei e murmurei um “Com licença”.

 

Voltei para as aulas que seguiram normalmente, em uma delas eu voltei a encontrar com Claire que me disse que no intervalo eles vão para fora da escola que é muito mais divertido e ela disse também algo sobre encontrar um garoto que baba por ela, e o detalhe que ela não me fez esquecer era que ele é mais velho que ela. Ela era animada e engraçada, sentia que nos daríamos muito bem.

 

-E então quer uma carona pra casa? – ela perguntou assim que saímos da escola.

 

-Não, obrigada, o filho do meu tio vai vir me buscar – expliquei.

 

-E ele é gatinho? – Claire era obcecada por rapazes ou impressão minha?

 

 -Eu não sei – disse corando – Jacob Black, conhece?

 

-CARA! – ela deu um grito que me assustou – Ele é maravilhoso! Ele trabalha com o Quil o carinha que eu te contei, mas ele também é um pedaço de mau caminho.

 

-Não exagera – disse olhando ao redor pra ver se avistava a velha picape, mas nem sinal dela.

 

-Ok – ela disse conformada e depois estalou um beijo no meu rosto e sorriu animada – Nos vemos amanhã Nessie?

 

-Claro – sorri de volta e vi ela sumir para trás da escola no estacionamento.

 

Sentei em uma mureta esperando que Jacob aparecesse, pelo jeito havia deixado ele chateado, afinal estava me castigando por me deixar esperando. E para piorar minha situação aquele garoto, tal do Lucca, não para de me olhar e comentar com alguns amigos, tenho que admitir que fiquei com até medo daqueles olhares.

 

Esperei quase meia hora e nada do Jacob chegar, achei que seria melhor ir a pé, afinal não era tão longe assim. Comecei a caminhar despreocupada pela berada da auto estrada, esperando que nenhum doido passasse, pois de um lado era apenas uma floresta úmida.

 

-E ai gata? – olhei pra trás pra ver quem havia falado isso e vi que era o tal Lucca – Andando sozinha? É perigoso, sabia? – ele disse cheio de malicia.

 

Resolvi não responder, virei pra frente e continuei a caminhar. Mas minhas pernas tremiam. Eu sabia que aquele garoto queria fazer algo de ruim comigo, e pra piorar não havia ninguém perto.

 

-EI! – ele gritou e eu o senti me pegando pelo braço, ele era forte e me apertava com força – Eu falei com você!

 

-Me larga! – disse puxando meu braço mais era inútil – Me solta!

 

-Pobrezinha a menininha encara quando pode, mas quero ver você falar comigo de novo daquele jeito! – ele gritava no meu rosto e eu me encolhia, eu era bem menor que ele.

 

-Eu falo assim quando quiser – disse tirando coragem de sei lá onde – ME LARGA!

 

-Nem pensar boneca! – dizendo isso ele se inclinou pra frente e travou sua boca na minha e eu o mordi – AI! Sua demente! – ele apertou mais meu braço e eu já o sentia formigar quando ouvi uma freada na estrada, vi que era a minha oportunidade de pedir socorro.

 

-SOCORRO – gritei – Alguém me ajuda!

 

-CALA A BOCA! – quando falei isso ele me pegou pelo outro braço também e começou a me sacudir.

 

-DEIXA ELA EM PAZ! – ouvi uma voz conhecida e arregalei meus olhos de pavor de alivio, era Jacob.

 

-Qual é cara, eu... – antes do Lucca terminar de falar Jacob o acertou com um soco na boca e com isso o garoto me largou no chão e eu cai estupidamente feito uma molenga.

 

Eu apenas me virei tirando meu cabelo da frente e observando Jacob o pegar pelo colarinho ensanguentado e o puxar pra cima. Lucca era grande, mas Jacob era mais, e eu definitivamente ficaria com medo dele se fosse ele.

 

-Nunca mais encoste um dedo nela, ou isso vai piorar muito – ele disse jogando ele no chão e se virando em minha direção.

 

Ele não disse nada apenas estendeu a mão pra que eu levantasse e eu prontamente a segurei. Ele me puxou pra cima e seguimos pra velha picape que ele havia parado na estrada.

 

Entramos no carro, eu estava tremendo e percebi que meus olhos estavam cheios de lagrimas involuntárias. Jacob estava nervoso, mas respirou fundo e me olhou, sua visão foi direto para o meu braço, ele levantou a manga sem falar nada e olhou. Eu também vi, estava roxo com os dedos do Lucca estampado da minha pele.

 

Jacob respirou mais uma vez e colocou a manga de volta ao lugar, dessa vez ele segurou o volante e novamente me olhou no fundo dos meus olhos, mas dessa vez tinha convicção e ternura.

 

-Nunca mais vou me atrasar – ele falou solenemente – Eu juro! E ele nunca mais vai encostar um dedo em você.