P.O.V Shane

Os carros pretos entravam pelos portões do palácio, era estranho pensar que cada um deles trazia três garotas que iriam disputar um anel de noivado, o príncipe e a coroa. Era bom saber que uma delas não estava aqui por nenhuma dessas coisas: Samantha Ryan.

Não percebi logo de cara o porquê de ter me interessado por ela. Mas depois de pensar um pouco, descobri que era pelo simples motivo de ela ser diferente das outras garotas, Samantha estava vindo por razões diferentes das outras e não fazia a menor questão de esconder isso.

Isso não significava que eu planejava deixá-la imune por me usar para conseguir o que quer... Tudo bem que ela estava sendo sincera sobre suas intenções, e eu apreciava isso, mas não queria dizer que ela não estava me usando de qualquer maneira.

Estava tão concentrado em meus pensamentos que nem percebi a entrada de minha família em meu quarto.

–--Nervoso? – perguntou meu pai.

–--Não. É apenas estranho.

–--Você não muda nunca. – disse uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar.

Virei-me e encontrei Taylor encarando-me divertido. Eu não poderia estar mais surpreso, fazia tempo que não o via e uma semana atrás os pais dele estiveram no palácio, mas ele não veio.

–--O que quer dizer?

–--Quero dizer que nada, nem ninguém é capaz de afetar o príncipe Shane, muito menos de deixá-lo nervoso. – Taylor fez uma pausa para revirar os olhos e bufar – Quinze garotas? Fácil. É assim que você sempre pensou, pensa e vai pensar. Porque você gosta de bancar o inatingível.

Eu realmente gostava daquele cara, ele era quase um irmão pra mim. Mas ele só não me conhecia mais do que Celeste, porém, diferente dela, ele não sabia quando ficar calado. Olhei para os meus pais.

–--O que esta peste está fazendo aqui? – perguntei sem emoção na voz.

–--Ele te conhece bem, achamos que seria bom trazê-lo aqui durante a Seleção, para te ajudar. – respondeu minha mãe – Ideia de Aspen.

–--Sempre meu pai com suas idéias mirabolantes. – caçoou Taylor.

–--Bom, eu não sei vocês. Mas eu e America temos que receber as garotas. – anunciou meu pai se preparando para se retirar.

–--Eu também vou. – disse antes que pudesse conter a mim mesmo.

–--Mas é justamente você que não pode ir. – Anne falou pela primeira vez.

–--Tanto faz, já conheço todas agora. – disse irredutível.

–--Então vamos. – falou mamãe.

Papai olhou-a apreensivo, mas ela lançou-lhe aquele olhar com o qual ele não conseguia discutir.

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P.O.V Samantha

Fomos colocadas em uma fileira, todas as quinze, eu estava ente Julie e Belle. Aparentemente estávamos esperando um discurso do rei e da rainha e depois algumas explicações de como as coisas funcionariam.

Eu, particularmente, já estava cansada de esperar, parecia que já tinha até ganhado cabelos brancos. Julie interrompeu meu terceiro bocejo com uma cotovelada no estômago, não posso dizer que doeu, mas gostei da atitude da garota. Olhei para ela irritada, ela apenas fez um aceno com a cabeça para o pé da escada onde se encontrava o rei Maxon, a rainha America, a princesa Celeste, a princesa Anne, um cara que eu não fazia à menor ideia de quem era (e nem fazia questão de saber) e para surpresa de todas, o próprio príncipe Shane.

–--Sejam todas bem vindas! – disse o rei. – Sobre a Seleção não há muito que falar, minhas filhas vão ajudá-las a se instalar em seus quartos, vocês farão as refeições conosco e passarão a tarde no Salão das Mulheres com a rainha America. Lembrando que vocês têm livre acesso a qualquer lugar deste palácio.

Ele parecia sincero em tudo o que falava, a rainha sorria como que para dar apoio moral, Celeste parecia entediada, Anne estava quase pulando, o cara que eu não sabia quem era parecia não saber o que fazer e Shane estava olhando fixamente para Stacy com um sorriso sacana, que retribua tanto o olhar quanto o sorriso... E temos uma vencedora!

Claro que eu já imaginava que ele iria olhar justamente para aquela com menos cérebro e mais curvas. Era nojento, mas previsível.

Nem percebi que o príncipe estava cumprimentando cada uma de nós individualmente, só notei quando ele apertava formalmente a mão de Julie. Na minha vez ele parou e me encarou como se me avaliasse, percebi que ele prendia o riso e isso me irritou muito mais do que eu já estava irritada pela simples existência dele.

–--Vai a um velório? – perguntou-me de modo que todos ali presentes pudessem ouvir.

Demorei alguns segundos para entender o que ele queria dizer. Todas as outras garotas vestiam vestidos, saias e shorts claros, brancos ou coloridos, enquanto eu era a única a usar calça jeans escura e rasgada, com regata de cetim preta, jaqueta de couro preta e bota pesada e de couro preto também. De repente, percebi que estava com muito calor.

–--Na verdade, vou a um enterro. – respondi no mesmo tom.

Todos pareciam confusos, tanto com o fato de eu o enfrentar quanto com a resposta sem sentido. Mas isso não abalou Shane.

–--É mesmo? De quem? – tornou a perguntar com aquele sorriso de lado convencido que habitava seu rosto regularmente.

–--O meu.

Todos levaram um choque, inclusive Shane, mas ele se recuperou bem mais rápido que os outros. Droga.

–--Menos mau.

–--O que quer dizer com isso?

–--Aposto que não vão ter muitas pessoas que sentirão sua falta.

Agora a coisa ficou feia. Eu estava furiosa, mas tudo que fiz foi sorrir de forma cínica, antes de contra-atacar.

–--Mudei de ideia. Estou indo ao seu enterro, mais cinco minutos na sua presença e acho que eu mesma faço o favor a humanidade de me livrar de você.

Por um momento o sorriso dele quase se desmanchou, mas ele logo se recuperou.

–--Então é melhor eu sair de perto.

–--Concordo.

Ele estava prestes a sair de perto e cumprimentar Belle, mas infelizmente mudou de ideia e se inclinou sobre mim para sussurrar em meu ouvido:

–--Duvido que consiga dar conta de mim. – sua voz estava rouca, baixa e provocativa.

–--Então você não me conhece e não tem a menor ideia do que sou capaz. – respondi no mesmo tom em seu ouvido.

Ele finalmente se afastou e sorriu maliciosamente antes de seguir cumprimentando as outras. Ouvi-o dizer a Belle que era um prazer conhecê-la e beijou-lhe a mão, depois parei de prestar atenção ao que ele fazia. Celeste olhava-me com aprovação, Anne dava risadinhas, o garoto desconhecido parecia pensativo, a rainha lançava em minha direção um sorriso amável e orgulhoso, o rei me avaliava de modo curioso e as outras selecionadas me encaravam como se eu fosse louca, exceto por Julie e Belle que já estavam cientes da minha personalidade incomum.

Depois de toda aquela encenação, as princesas foram resignadas para apresentar-nos nossos quartos. Eu estava louca para tirar um cochilo, mas quando eu estava subindo a escada ouvi uma voz irritante me chamando.

–--Hey, Samantha!

Virei-me para o príncipe imbecil e arqueei a sobrancelha, esperando que continuasse.

–--Foi um prazer te conhecer. – disse debochado.

–--Pena que não posso dizer o mesmo. – respondi ríspida e segui as outras garotas escada a cima.