Um novo olhar sobre uma nova Seleção escrita por Gato de Cheshire


Capítulo 28
Mentira


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei por causa da viagem. Até tentei escrever lá, mas eu saia de manhã bem cedo, voltava para tomar banho e trocar de roupa, saia para jantar e só voltava depois das dez da noite, exausta. Mas, para compensar, esse capítulo tem algo que vocês já estão esperando há um bom tempo.



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P.O.V Samantha

Finalmente sexta-feira chegou e com ela, nossas famílias. Eu ainda estava tentando convencer Julie a me contar quem é a garota por quem Justin está apaixonado, mas ela simplesmente se recusa e começou a me evitar. Justin continua desaparecido e ninguém sabe de seu paradeiro. Taylor tem passado muito tempo com Alice e Belle com Shane, desse modo, tenho passado muito tempo sozinha.

Sendo assim, já estou no quinto livro de Os Instrumentos Mortais. A porta da biblioteca se abre e por ela passa Julie, a me ver, ela rapidamente tenta dar meia volta e voltar pelo caminho que veio. Estava farta dessa situação e cansei de bancar a palhaça, então, impedi-a.

–--Oh, por favor, não saia por minha causa. – falei com ironia – Se te incomodo tanto, eu mesma saio. Não quero ser um incômodo para ninguém, perdoe-me se eu ainda não tinha percebido o quão ruim era minha companhia.

Ela virou-se para mim e me encarou em silêncio, pude ver em seus olhos a quão surpresa e envergonhada ela estava com a minha reação. Baixou a cabeça, mas continuou calada. Se ela queria assim, assim seria. Deixei meu livro em cima de uma das mesas e sai dali o mais rápido que pude.

Eu estava irritada e indignada. Não que eu não adorasse Alice e Belle ou até mesmo Tatia e Rose, mas em pouco tempo eu já considerava Julie minha melhor amiga, ser ignorada e evitada por ela não foi nada fácil, por mais que eu não tenha demonstrado meu incômodo ela deveria ter percebido, afinal, ela era a que mais me conhecia e também a mais observadora.

Não sabia para onde estava indo, mesmo assim caminhava a passos rápidos e pesados pelos extensos corredores do palácio. Parei em frente à grande porta do Salão dos Esportes, fazia tempo que não ai ali, mas parecia o paradeiro mais óbvio naquela situação, considerando minha raiva. Ao mesmo tempo em que sentia que seria uma má ideia entrar ali, um instinto me dizia que eu precisava entrar.

Entrei. Claro que entrei. Eu poderia estar na frente da caverna mais escura e gelada, tendo o instinto, a sensação e o aviso de que eu não deveria entrar que eu entraria mesmo assim. Phil diz que minha cabeça é tão dura que eu posso batê-la várias vezes em uma pedra que a pedra se quebra, mas minha cabeça continua intacta. É por essas e outras que eu não discordo das pessoas quando elas dizem que sou louca, sou mesmo e elas não tem nada com isso, o problema é meu.

Dessa vez eu deveria ter dado o braço a torcer, o salão já estava ocupado e era por ninguém mais, ninguém menos que o príncipe estúpido. Shane estava socando e chutando o mesmo saco de pancadas que eu tantas vezes chutei e soquei antes, com o cabelo suado grudado na testa (indício de que estava lá há muito tempo), vestindo calça de moletom cinza e camiseta preta colada ao corpo.

Agradeci mentalmente por ele não ter percebido minha presença e tentei sair de fininho. Não me perguntem o porquê eu estava fugindo (isso definitivamente não era uma atitude comum para mim), eu apenas tinha essa necessidade desde o nosso encontro surpreendentemente divertido. Estava quase na porta quando escuto seu grito irritado e frustrado.

–--Você não vai fugir de mim, Samantha!

Voltei meus olhos para sua figura. Ele não me olhava, seu olhar ainda estava no saco de pancadas, mas ele tinha um braço estendido em minha direção e um dedo apontado para mim. Quando ele finalmente me encarou, cruzei os braços em um gesto claro de desafio. Isso pareceu enraivecê-lo ainda mais. O problema era dele, eu não me importava nem um pouco e estava longe de estar com medo.

–--Por quê? – foi tudo o que saiu de sua boca enquanto ele baixava o braço e relaxava a postura.

Era óbvio que eu sabia do que ele estava falando, mas me fiz de desentendida.

–--Por que o que?

–--Você sabe! – gritou novamente, ainda mais irado, me dando vontade de rir, mas me contive – Você tem me evitado, me ignorado e fugido de mim durante toda essa semana que se passou. Eu cansei, Samantha. Só o que eu quero é uma explicação.

Aquilo me irritou, não sei exatamente porque, talvez fosse o fato de que eu no meu subconsciente tivesse uma resposta, mas não quisesse admiti-la nem ao meu consciente, muito menos para ele.

–--Quer uma explicação? – perguntei dura e observei-o assentir e desviei o olhar para continuar – Tudo bem, eu vou te dar uma. Eu simplesmente percebi que eu não era obrigada a aguentar a sua idiotice, chatice e burrice!

Não tinha percebido, mas enquanto falava aquelas palavras frias, duras e enraivecidas, havia me aproximado dele e agora estávamos há apenas quatro passos de distancia um do outro. Curiosamente, fiquei apavorada ao perceber o quão facilmente poderíamos acabar com aquela distancia que eu mesma impus entre nós.

Não conseguia decifrar a expressão em seu rosto e seus intensos olhos azuis pareciam transmitir uma onda de diversos sentimentos que eram impossíveis de serem identificados.

–--Não é verdade. – ele sussurrou.

Estranhamente, aquilo me assustou mais do qualquer grito dele ou expressão de raiva. Involuntariamente comecei a andar para trás. Péssima ideia, conforme eu me afastava, Shane se aproximava. Senti meu corpo bater contra algo concreto que percebi se tratar da estante de equipamentos para boxe. Agora estávamos com três passos nos separando e eu estava encurralada. Naquele momento me senti como um rato sendo pego pelo gato.

Mesmo estando em movimento, em nenhum momento havíamos desviados nossos olhares. Ambos estávamos irritados. Violeta no azul. Raiva.

–--É sim! – eu quis gritar, mas saiu apenas um sussurro.

Ele apenas negou com a cabeça e deu um passo a frente. Agora estávamos tão próximos que eu pude ver uma gota de suor escorrendo pelo lado direito de seu rosto.

–--Eu não acredito em você. – disse ainda sério enquanto se aproximava mais um passo, eu pude sentir meu corpo arrepiar, queria fugir e, pela primeira vez, tive medo dele – Para alguém que é sempre tão sincera, você é uma ótima mentirosa quando quer ser. Mas eu tenho certeza absoluta de que você está mentindo, assim como tenho de que a terra é redonda e as estrelas são fogo.

–--Prove! – desafiei erguendo a cabeça.

Em questão de segundos ele acabou com a pequena distancia que havia entre nós e fez a coisa mais improvável do mundo.

Shane Schreave, príncipe de Illéa, o cara que mais me irrita no mundo, aquele que eu acreditava que nunca iria querer conhecer, me beijou. Tão rápido que nem consegui perceber seu movimento, ele deu um passo à frente e colou nossos lábios.

Tentei resistir, juro que tentei. Meus punhos batiam freneticamente em seus ombros tentando afastá-lo durante os primeiros segundos, mas ele era mais forte e insistente. Por mais que eu odeie admitir, não demorou a que eu amolecesse completamente e correspondesse, movimentando meus lábios em sincronia com os dele.

Não foi romântico, longe disso. Parecia que estávamos descontando nossa fúria naquele beijo, era rápido, desesperado, bruto e necessitado. Ele puxava meu cabelo, puxando-me para mais perto (se é que isso era possível) e eu arranhava sua nuca, puxando também. O hálito dele era gelado e o meu quente, éramos como fogo e gelo, completamente opostos.

Somente nos separamos por falta de ar e ele colou nossas testas. Passamos algum tempo em silêncio enquanto recuperávamos o fôlego. Assim que senti que já tinha o controle de meu corpo novamente, empurrei-o.

–--Não me beije. – eu disse.

Ele sorriu. Não um sorriso qualquer, foi aquele sorriso de canto que sempre me dá vontade de arrancar de seu rosto. Ou beijá-lo, pensei, mas fiz questão de afastar logo esse pensamento. Sai desse corpo que não te pertence!

–--Você não vai fugir de mim, Samantha Ryan, eu não vou deixar. De novo não.

+ + +

P.O.V Shane

O que me levou a confrontar a Miss Irritadiça foi o simples fato de que percebi que fizemos a mesma coisa. Assim que as coisas ficaram mais... Digamos, intensas, entre nós, nos afastamos. Quando eu fiz isso, esperei que ela desse primeiro passo para uma reaproximação, e ela o fez, agora era minha vez.

Não sei o que fez com que eu a beijasse, fiz por instinto e isso é algo que está além da minha compreensão. Tudo relacionada a Sam é confuso para mim. Só sei que não vu deixá-la fugir de novo e eu também não vou. Eu e ela somos muitas coisas, temos muitos defeitos e somos muitos diferentes, mas não somos covardes.

A única coisa que me impediu de agarrá-la de novo foi a entrada inesperada de Taylor. Aquela mesma vontade de matar Justin que tive no jardim voltou só que agora meu alvo era outro. Olhei-o irritado.

–--O que é? – perguntei rude.

Achei que ela fosse me repreender por ser grosso com ele, mas Sam apenas ficou calada, parecia agradecida pela interrupção, eu jamais admitiria em voz alta, mas aquilo me chateou.

–--Vim avisar a Sam de que a família dela chegou. Aliás, seus pais querem que você esteja presente também.

Suspirei. Não teria como fugir.

–--Avise que eu tomarei um banho rápido e me juntarei a eles.

–--Phil está aqui? – perguntou ela esperançosa.

Taylor fez que sim com a cabeça, em reposta, ela sorriu de orelha a orelha e saiu correndo em disparada. Acho que um pouco da pressa era vontade de fugir de mim. Meu amigo arqueou as sobrancelhas, como se perguntasse o motivo da minha alteração, dei de ombros e passei por ele indo direto para meu quarto.


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