Um novo olhar sobre uma nova Seleção escrita por Gato de Cheshire


Capítulo 24
Chuva e grama molhada / Shane e Samantha




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P.O.V Samantha

Mais uma semana se passou. Tenho passado muito tempo lendo na biblioteca, já estou terminando o terceiro livro daquela série que havia começado, conseqüentemente tenho passado muito tempo com Julie e Justin, que não se dão tão bem quanto eu tinha imaginado, quer dizer, ela dá patadas nele sempre que tem a chance de fazer e ele fica confuso com o modo como ela o trata.

Depois que Shane cuidou de mim quando estive doente ele se afastou um pouco, pouco é um eufemismo, ele tem me ignorado completamente, mas isso até que é bom, tenho ficado menos irritada esses dias. O príncipe passou a semana inteira tendo encontros com todas as garotas, até mesmo com Julie e Alice, hoje, enquanto estamos no Salão das Mulheres, Belle está em um encontro com ele. Candece foi eliminada depois do segundo encontro, assim como Amanda. Stacy fez questão de se gabar que ele a tinha beijado, pelo que conheço dela, ela deve tê-lo agarrado.

Enquanto divagava acabei percebendo que eu era a única que ainda não tinha sido convidada para um encontro, não que eu quisesse de qualquer maneira.

–--Você não acha que Belle está demorando demais nesse encontro? – perguntou Ali preocupada.

–--Tanto faz. – dei de ombros – Talvez estejam se divertindo e não viram a hora passar.

–--Sam pegando as manias do Shane... – cantarolou Julie.

–--Como assim? – perguntei confusa.

–--Bancando a indiferente. – explicou.

–--Vocês estão muito irritantes hoje. – falei mal humorada – Implicam com tudo o que eu faço ou falo.

–--Você que está muito estressada hoje. – rebateu Alice.

Revirei os olhos e me levantei.

–--Aonde vai? – indagou Julie.

–--Para longe de vocês.

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P.O.V Shane

–--Então é um Recorde! – exclamou Belle rindo.

Ela se referia ao fato de eu e Samantha não brigarmos a uma semana, o que ela não sabia era que o motivo disso é que eu a tenho evitado. Não sabia o porquê estava fazendo isso, mas desde que cuidei dela me sinto desconfortável em sua presença. Sam, por sua vez, não pareceu afetada com a súbita mudança em nosso relacionamento (se é que podemos chamar assim), ela apenas continuou a me odiar, o que realmente me irritou, também não sei o porquê isso aconteceu. O fato é que achei melhor me concentrar nas outras selecionadas por um tempo.

–--Não quero falar da Samantha. – eu disse gentilmente.

–--Desculpe. – ela estava envergonhada e sua voz saiu muito baixa – É só que vocês têm agido de modo muito estranho ultimamente e Sam não quis me contar o que aconteceu.

Suspirei.

–--Tudo bem você estar curiosa, não me ofendeu. – garanti – E se ela não te contou nada é porque não aconteceu nada, eu apenas percebi que tenho estado mais concentrado na tarefa de infernizá-la do que na de encontrar uma esposa.

–--E como anda essa tarefa?

–--Bem, Alice é muito divertida, Julie é muito inteligente e boa de conversa, Stacy é exatamente aquilo que os outros esperam que ela seja, Rachel me surpreendeu. O resto não me chamou muita atenção.

–--Esse resto inclui a mim e a Sam?

Ela estava curiosa, tão curiosa que nem percebeu que acidentalmente voltara a falar de sua amiga.

–--Não. Vocês duas, com toda a certeza foram as que mais me chamaram a atenção. – garanti com um sorriso.

E isso era a coisa mais verdadeira que eu dissera durante toda a nossa conversa. A garota de olhos violetas me chamara à atenção desde que vira sua ficha, Belle, por outro lado, me chamara atenção logo na nossa primeira conversa quando percebi o estranho instinto de proteção que tinha na sua presença.

Voltamos a caminhar pelo jardim em silencio, no inicio do passeio ela ia me explicando sobre as flores e tudo o mais, porém eu não consegui absorver muita coisa.

–--Como começou a se interessar por jardinagem? – perguntei de repente.

–--Herdei a paixão da minha avó. Assim como herdei a paixão do meu pai por xadrez.

–--Meu pai gosta de fotografia, herdei isso dele. A paixão pela música veio do lado da minha mãe. – contei – E o gosto por esportes é algo meu mesmo.

–--Meu gosto por balé também é algo meu. Você e a Sam tem isso em comum, não é?

Olhei para ela, surpreso pela menção a Samantha e confuso quanto ao que ela se referia.

–--O lance dos esportes. – ela explicou.

–--É, acho que temos.

–--Eu também tentei ensinar para ela sobre jardinagem. – contou rindo – Mas ela ficou exatamente igual a você, parecia se esforçar para prestar atenção e não me magoar, mas ao mesmo tempo pensava em qualquer outra coisa. – ela fez uma pausa antes de continuar – Isso é estranho, às vezes acho que vocês dois são extremamente parecidos, outras vezes acho que são completamente opostos.

–--Para mim tudo relacionado a ela é confuso. – admiti.

Voltamos ao silêncio. Geralmente eu achava desconfortável ficar ao lado de alguém sem conversar, mas isso não acontecia quando eu estava com Belle.

–--O cheiro dessa flor é o meu favorito! – ela exclamou apontando para um arbusto de três metros com flores lilases e brancas.

As flores lilases me lembravam os olhos de Samantha... Por eu estou pensando no demônio mesmo?

–--Esse arbusto se chama manacá-de-cheiro. – ela contou-me.

–--Tem mesmo um cheiro muito bom. – concordei – Mas eu ainda prefiro o cheiro de grama molhada, para mim é o melhor perfume que existe.

Ela pareceu pensar por um tempo.

–--Você cheira a chuva. – ela disse por fim – A Sam cheira a grama molhada.

Imediatamente lembrei-me do dia em que nos encontramos na chuva. Ela dissera que gostava do cheiro de chuva, eu dissera que gostava do cheiro de grama molhada e gostei ainda mais da combinação os dois.

–--Você gosta do cheiro da chuva? – perguntei tentando me livrar de meus pensamentos indesejados.

–--Gosto. Meu pai costuma dizer que eu cheiro a uma manhã de primavera. – ela riu como se fosse uma ideia ridícula.

Mas não era, o pai dela estava certo, ela cheirava a uma manhã de primavera, porém eu ainda preferia grama molhada. Certamente eu tinha problemas mentais.

–--A Sam já falou com você sobre a mãe dela? – Belle perguntou de repente.

–--Não. – aquilo me chateava por alguma razão desconhecida, mas não deixei que a loira percebesse.

–--Ela parece ser uma figura. Alguns dias atrás a Sam recebeu uma carta da mãe, ela dizia que sem querer havia perdido a entrevista dela, mas que seja lá o que ela estivesse fazendo estava mantendo-a no palácio e parecia estar te agradando e que era para ela continuar fazendo o que estava fazendo. Nem preciso dizer que a primeira coisa que ela fez foi revirar os olhos.

Não pare de fazer o que você está fazendo. Era uma frase legal e tinha efeito, talvez eu pudesse usar em uma música...

–--O que a Sam disse? – perguntei voltando a realidade.

–--“Claro, mãe. Vou continuar a insultá-lo e ameaçar seus futuros filhos, com certeza serei a próxima rainha”. Mas obviamente eu não consigo imitar o tom de ironia dela.

Eu ri. Tinha que concordar que era difícil alguém ser tão irônico quanto aquela garota.

–--Você acha que sou tão irônico quanto ela?

–--Sim, mas só quando está com ela. Por exemplo, agora, comigo, você não está sendo.

Percebi que gostava de estar ao lado de Belle, mas ao mesmo tempo parecia que faltava algo.

+ + +

P.O.V Samantha

Naquela tarde Julie não foi à biblioteca, eram raras as vezes que ela preferia ficar conversando e rindo das maluquices de Alice, mas aconteciam. Eu estava sozinha terminando de ler “Silêncio” e preferia assim, de certo e estranho modo, a solidão me confortava. O mais esquisito é que eu não sabia pelo que precisava ser confortada.

Assim que terminei de ler a última página e fechei o livro comecei a e levantar para procurar pelo quarto e último, mas, antes que o fizesse, a porta se abriu e por ela passou a garoto loiro que era uma presença constante naquele cômodo. Quando Justin sorriu para mim, não pude evitar sorrir de volta, mesmo sem vontade de fazê-lo.

–--Vejo que já devorou mais um livro. – comentou ainda sorrindo.

–--É. – dei uma leve e breve risada – Eu estava indo pegar o próximo.

–--Deixa que eu pego. Sei onde está.

Segundos depois ele já havia desaparecido pelas fileiras de estantes, porém não demorou a voltar.

–--Aqui. – ele disse estendendo-me o livro.

–--Obrigada. – agradeci estendendo a mão para pegá-lo e nossos dedos se encostaram.

–--Desculpe. – desculpou-se ele, mas não afastou sua mão.

–--Tudo bem. – respondi me afastando com o livro em mãos.

Voltei a me sentar no banco perto da janela, estava quase colocando meu nome nela já que eu costumava sentar-me sempre no mesmo lugar quando vinha aqui. Justin sentou-se ao meu lado.

–--Acho bom você já ir pensado em mais livros que eu possa gostar porque não irá demorar para que eu acabe com esse. – disse rindo.

–--Eu já sei de mais uma série que você certamente gostará. São seis livros.

–--E qual seria o nome dessa série de livros? – perguntei curiosa.

–--Os Instrumentos Mortais. – respondeu rindo.

Ri junto. Só pelo nome já parecia algo de que eu gostaria. Depois que paramos de rir ficamos em silêncio, porém não era algo desagradável. Passamos um longo tempo conversando sobre livros, ele fazia o resumo de algumas histórias que achava que eu poderia gostar.

–--Por que sua amiga Julie sempre tenta me rebaixar? – ele perguntou de repente, surpreendendo-me.

–--Eu não sei. – admiti com um suspiro – Também gostaria de entender, mas ela sempre foge do assunto quando tento perguntar.

Ele abaixou a cabeça, parecia realmente chateado com o modo como ela o tratava, às vezes eu ficava com raiva disso, Justin era tão legal, gentil e simpático, eu simplesmente não entendia como alguém conseguia ser rude com ele, era a mesma coisa que maltratar um filhotinho, era mais ou menos isso que eu sentia em relação à Belle também.

–--Não fique triste. – pedi – talvez conversando mais com você ela mude essa primeira impressão que teve.

Ele me olhou como se agradecesse o encorajamento, mas dava para ver em seu olhar que ele não acreditava em minhas palavras. Acho que eu também não acreditava, se bem, que eu não acreditava que Julie não gostasse dele, parecia fingimento para mim.

Passei e mão em seu rosto, em um gesto de conforto e amizade.

–--Você é muito legal quando quer. – ele disse.

Sorri.

–--Eu sei.

–--Então por que afasta os outros? Por que não é assim sempre?

–--Porque... Quando as pessoas vêem o bem, esperam o bem e eu não quero decepcionar ninguém. Por mais que eu consiga ser gentil quando quero e tento, uma hora ou outra deixarei escapar algum tipo de ironia, ou palavrão ou qualquer coisa do tipo e poderei magoar alguém.

–--Eu gosto de você mesmo quando fala palavrão ou é rude, ou irônica. – ele falou sério.

–--Obrigada, eu também gosto de você.

Nos abraçamos. Aquele gesto foi algo completamente espontâneo, gostei de saber que estávamos ficando mais próximos e solidificando nossa amizade, realmente gostava dele.

–--Você cheira a grama molhada. – ele comentou.

–--E você cheira a canela. – respondi rindo. – Julie cheira à café e Taylor a hortelã.

–--Shane cheira a chuva.

Desvencilhei-me de seus braços. Eu cheirava a grama molhada? O príncipe cheirava a chuva? É, Justin estava certo, Shane cheirava a chuva. Eu gostava muito desse cheiro. Lembrei-me da noite que passamos na chuva e sorri, eu gostara da combinação de chuva e grama molhada.


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