Um novo olhar sobre uma nova Seleção escrita por Gato de Cheshire


Capítulo 17
Violeta no azul


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora, mas essa foi minha última semana de aulas e tive provas todos os dias, acabei ficando sem tempo.



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P.O.V Samantha

Alguém me balançava. Estranhei isso, afinal Tatia e Rose sempre abriam as janelas para me acordar... Ao abrir os olhos deparei-me com um belo par de olhos azuis, levei um susto e quase cai da cama, não eram minhas criadas, era Shane, se não fosse ele me segurar certamente eu teria caído.

–--O que está fazendo aqui seu doido? – perguntei ofegando e com o coração acelerado devido ao susto.

Ele riu da minha reação. Seja lá o que tinha dado nele ontem, hoje já não o incomodava mais.

–--Eu só queria te avisar que quando você descer para o café da manhã deverá usar a roupa que te dei.

Nem morta eu apareceria na frente de tanta gente vestindo aquilo! Fala sério, até os pais dele estariam lá...

–--De jeito nenhum!

–--Aposta... – cantarolou.

Suspirei, rendendo-me. Pela primeira vez olhei em volta do quarto, ainda estava tudo escuro e minhas criadas não estavam aqui.

–--Que horas são?

Ele abriu um daqueles sorrisos tortos que me dão vontade de arrancar os lábios dele.

–--Três da madrugada.

Puta que pariu! Eu iria matá-lo. Será que ele não percebe que pessoas normais dormem a essa hora? Se bem que eu não era muito normal... Mas ele já sabia que eu apreciava minhas maravilhosas horas de sono!

–--Cacete! Não acredito que me acordou tão cedo... Afinal, o que você está fazendo acordado à uma hora dessas?

–--Fui para o Salão de Música depois do jantar, comecei a compor uma música nova e acabei perdendo a noção do tempo.

Então aquela música que eu o ouvira tocar era de autoria dele? Mas eu tinha gostado tanto dela...

–--Você compõe?

–--Esquece que eu te disse isso. – falou de olhos arregalados, provavelmente por perceber que tinha deixado aquele fato escapar – Sério, só minha família sabe disso e eu nunca mostrei uma música pra nenhum deles. É realmente muito pessoal, então, por favor, mantenha essa sua boquinha linda fechada pelo menos uma vez na vida!

Ele estava desesperado. Nunca achei que o veria naquela situação, não pude evitar uma risadinha.

–--Aquela música que eu ouvi, foi você quem escreveu? – perguntei sorrindo.

–--Foi. – admitiu depois de alguns instantes em silêncio.

Neste momento percebi que ele havia se sentado na beirada da minha cama. Como esse garoto é folgado.

–--Agora vasa que eu quero dormir.

–--Boa noite pra você também. – respondeu irônico enquanto se levantava.

Eu apenas soltei uma risada sarcástica e revirei os olhos. Shane já estava abrindo a porta quando o chamei.

–--Shane? – falei baixinho, mas devido ao silêncio do quarto ele ouviu.

–--Sim? – perguntou.

–--Boa noite. – sorri – E eu adorei a música, você tem talento.

Ele sorriu de volta, verdadeiramente e saiu e em seguida.

+ + +

–--Que roupa é essa, Sam? – perguntou Tatia rindo assim que entrou no quarto.

Depois da saída de Shane eu não havia conseguido dormir de novo, só cochilara, então, depois de passar quase três horas enrolando na cama, decidi tomar um banho e me arrumar de uma vez. O motivo das risadas e incredulidade de Tatia e Rose é que eu estava vestindo a roupa que ele havia mandado.

–--Aposta. Príncipe imbecil.

Minha explicação só fez com que as duas explodissem em mais risadas. Quando elas finalmente se acalmaram, ainda estavam ofegantes e com o rosto vermelho. E eu mantinha uma expressão emburrada em meu rosto. Entrei no banheiro para não descontar toda a minha raiva nelas.

–--Você vai se atrasar! – avisou Rose.

Eu não queria me atrasar, eu queria não ir. Mas eu sabia que não tinha escolha, então reuni toda a minha paciência e respirei fundo uma vez antes de voltar ao quarto.

–--Até que a roupa não é tão ridícula. – disse Tatia, analisando-me – É só que não combina com você.

Ela estava certa, eu nunca havia usado vestido ou saia em toda a minha vida. Além disso, se eu fosse uma empregada certamente me recusaria a usar um uniforme como esse. Preferi não responder nada e sai.

+ + +

Assim que passei pela porta todos os olhares se voltaram para mim. Alguns estavam assustados, outros confusos, outros riam. E eu mantinha uma carranca estampada em meu rosto.

Meus olhos imediatamente encontraram-se com os de Shane. Violeta no azul. Raiva no divertimento. Ele sorriu de lado e chamou-me com o dedo indicador. Fechei os olhos e respirei fundo antes de ir até lá.

–--O que é? – perguntei grossa.

–--Alguém não dormiu muito bem hoje... – provocou.

–--Talvez seja culpa de certo príncipe imbecil que tem o estranho hábito de invadir os quartos de pobres garotas indefesas às três da madrugada. – disse o horário entre dentes.

Todos na mesa encararam Shane. Justin repreensivo. Taylor como se o amigo tivesse enlouquecido. A rainha e as princesas com curiosidade, provavelmente queriam saber o motivo. O rei parecia achar aquilo engraçado, mas tentava parecer bravo com a atitude do filho, o que resultou em uma careta engraçada. O príncipe, porém, ignorou todos e manteve seu olhar no meu e o sorriso estampado no rosto.

–--Você não parece uma garota indefesa.

Revirei os olhos, não adiantava nem argumentar, todos ali sabiam que eu não era.

–--Fala logo o que você quer! – resmunguei.

Ele levantou uma sobrancelha, como se esperasse alguma coisa. Bufei, não acreditando que ele ainda insistia naquilo e fiz uma reverência.

–--O que deseja, meu Supremo Soberano?

Taylor não conseguiu conter a risada. Lancei meu melhor olhar amedrontador em sua direção e ele logo se calou e engoliu em seco. Foi a vez de Shane rir do medo do amigo em relação a mim.

–--Não tenho o dia todo, Alteza... – cantarolei.

–--E o que você tem para fazer, posso saber? – perguntou debochado.

–--Socar um saco de pancadas a tarde toda, quem sabe assim eu fico cansada o suficiente para não quebrar essa sua cara feia.

Ele fez sua melhor expressão de falsa indignação.

–--Cara feia?! – exclamou com a mão no peito e boca aberta, como se fosse o maior insulto do mundo.

–--Tão feia que não agüento mais olhar para ela, então eu agradeceria se você fosse mai rápido.

Taylor, Justin, Celeste e Anne seguravam o riso.

–--Sente-se. – ordenou o príncipe.

Fiquei confusa, mas puxei a cadeira ao seu lado. Shane surpreendeu-me ao colocar sua mão sobre a minha, me impedindo.

–--Quer que eu me sente no chão? – perguntei cínica.

Sua única resposta foi afastar sua própria cadeira e dar um leve tapinha em sua perna. Torci os lábios e arqueei as sobrancelhas.

–--Quer que eu me sente em seu colo? – perguntei pausadamente com incredulidade e raiva contida.

Ele simplesmente me olhou, sério, e assentiu.

–--Sim, é o que eu quero. – respondeu calmo.

Os demais presentes na mesa encaravam-me assim como ele, esperando por minha reação. Será que os pais dele não podiam pelo amor de Deus, intervir? Pelo jeito não, pelo que pude perceber, eles eram bem liberais com o primogênito. Abri o sorriso mais falso e forçado do mundo e joguei todo o me peso em sua coxa direita. Ele arfou.

–--Depois eu que sou gordo...

–--Diz logo o que mais eu tenho que fazer... Ou quer que eu fique aqui só de enfeite? Sei que sou linda, mas não vou servir de acessório. – falei com um sorriso irônico.

–--Pouco convencida você, não é, Sam? – interveio Taylor.

–--Só falo a verdade. – dei de ombros.

–--Só você pensa isso, amor. – disse Shane.

–--Veremos... Tay? Justin? – olhei-os inquisitivamente.

Eles trocaram um breve olhar, então se voltaram para nós e sorriram largamente.

–--Ela tem razão. – disseram em uníssono.

Sorri vitoriosa para o príncipe, que revirou os olhos. Encaramo-nos por alguns segundos, que para mim pareceu uma eternidade, sem perceber me perdi naquela imensidão azul e aos poucos meu sorriso morreu. Ele parecia tão distraído quanto eu, ainda olhando em meus olhos. Violeta no azul.

Alguém tossiu, despertando-nos de nosso transe. Olhamos assustados para Justin, fora ele quem chamara nossa atenção.

–--Então... O que você quer? – perguntei disfarçando meu embaraço com raiva e impaciência.

Ele ainda piscou algumas vezes, como se tentasse se lembrar, mas rapidamente seu sorriso torto retornou a sua face.

–--Alimente-me.

–--Perdão? – perguntei piscando algumas vezes e demonstrando minha incredulidade.

Eu não tinha certeza se havia ouvido direito. Ao perceber que aquele sem noção falava sério, respirei fundo. Peguei uma torrada de seu prato e levei a sua boca, ele mordeu um pedaço e, mesmo comendo, conseguia manter o sorriso no rosto. E eu mantinha minha carranca.

Depois de algum tempo, ainda dando-lhe comida na boca (como ele era inútil, nem uma tarefa tão simples era capaz de fazer sozinha), resolvi acabar com o silêncio constrangedor que se instalou, principalmente porque todos na mesa nos observavam.

–--Vai me contar por que expulsou Melissa?

Ele levou um breve choque, mas se recuperou antes que qualquer outra pessoa percebesse.

–--Ela te xingou. – deu de ombros, como se não fizesse diferença.

–--Eu te xingo todos os dias, e ainda estou aqui. – argumentei.

–--Tem uma grande diferença entre xingar a mim e xingar a você.

Aquilo não fazia o menor sentido e eu não poderia me sentir mais confusa, mas decidi deixar pra lá, seria mais saudável para minha sanidade mental. Afinal, quem entendia Shane? Ele era louco.

–--Café. – ele disse.

Não pude evitar o sorriso que se formou em meu rosto. Felizmente, ele pareceu não perceber. Levei a xícara a sua boca, mas inclinei-a de um modo que o líquido quente se derramasse todo em sua roupa.

–--Puta merda! Isso queima.

Ele recebeu olhares de repreensão do pai e de Justin pelo palavrão dito.

–--Foi mal, desculpe-me, Alteza. – me fiz de inocente.

Ele encarou-me descrente. Continuei a fitá-lo mantendo meu sorriso inocente. E novamente façamos assim por alguns momentos. Violeta no azul. Fui a primeira a desviar o olhar, usando o garfo para pegar mais um pedaço do bolo em seu prato e levá-lo a sua boca. Ele ainda tinha seu olhar sobre mim, seguindo cada um de meus movimentos, aquilo me causava uma sensação boa e inquietante ao mesmo tempo.

Finalmente olhei-o novamente e ri. Ele tinha chantilly no canto da boca, assim ficava parecendo uma criança. Gostei disso, Shane parecia mais humano, vulnerável.

–--O que foi? – perguntou confuso.

–--Você está com a boca suja. – respondi ainda sorrindo.

–--Limpe. - ordenou.

Dessa vez não senti raiva, pelo contrário, eu ainda sorria quando usei o guardanapo para limpar o canto de sua boca. Pela primeira vez notei que ele tinha lábios bonitos e bem desenhados... Mas que porra eu estou pensado?! Foco, Samantha!

–--Já posso ir? – perguntei um tanto atordoada com o rumo de meus pensamentos.

–--Pode.

Levantei-me e sai. Não sabia o porquê, mas tivera a impressão de que sua voz também parecia um pouco afetada e que ele tivera tanta urgência em se afastar de mim quanto eu dele.


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