SEM RÓTULOS - welcome to my world escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 26
Losings




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– Venha ver, Bella!

Isabella parou de rodar o anelzinho colorido em seu dedo e despertou com o chamado do sobrinho que estava na janela. Colocou um sorriso no rosto e foi ver o que ele mostrava. Ao olhar para o lado de fora, seu sorriso deixou de ser artificial.

– É. O Rio de Janeiro é realmente uma Cidade Maravilhosa, mesmo à noite. – o olhar de deslumbre acompanhava suas palavras.

– O Cristo está bem pertinho! – Mike apontava para a estátua iluminada ao longe. A lagoa iluminada e os pequenos e milhares pontos de luz que forravam o morro e davam ainda mais graça ao cenário.

– Você acha que ele não vai estar amanhã para o voo, não é? – Mike perguntou de repente, ainda olhando para fora.

– Eu não sei. – Isabella afagou o cabelo do menino, sabia que Mike estava pensando no treinador. – Eu, sinceramente, não sei.

– Ele nem ligou?

– Bom, se ligou, não conseguiu falar. Desde que entramos no helicóptero, na ida para a casa dos pais dele, que meu celular entrou em modo “fora de área” e não saiu mais. Até para ligar para sua avó tive de usar o telefone fixo deles.

– Mas ele também não tem que voltar pra escolinha?

– Na verdade, não exatamente. Ele não está de férias, ele é o dono. Eu também não teria, porque minhas férias vão até o dia 30. Mas o senhor, seu Mike, é que não pode perder mais aulas. – ela deu uma bagunçada no cabelo dele.

– Hum. – foi a única resposta do garoto.

– Venha, vamos deitar. Temos que acordar cedo.

– Deixa eu ficar só mais um pouquinho...

– Está bem. Mas não demore. – Isabella deu um beijo na testa do sobrinho e saiu da varanda do hotel em que estavam.

Ela suspirou e pensou na difícil tarefa que teria que fazer quando chegassem a Nova Iorque: Contar toda a verdade para ele. Mesmo que Edward cumprisse a promessa de estar presente nessa conversa, Isabella já havia se decidido que os avós de Mike deveriam estar presentes também. Ele merecia isso.

***

– O que ele faz aqui? – Edward perguntou entredentes.

– Calma, Edward. – Tanya se colocou entre Edward e Laurent. – Ele veio trazer os documentos da Liz que estavam na minha mala.

Edward engoliu em seco e desviou o olhar de fúria.

Foram os três à recepção do hospital preencher a papelada.

– Somente os pais da criança são autorizados para ficar como acompanhantes.

Tanya assentiu com a cabeça e puxou a ficha que a recepcionista colocava no balcão, entregando rapidamente após assinar.

– O pai também tem que assinar. – a recepcionista esticou a ficha para o lado esquerdo de Tanya, onde se encontrava Laurent.

Laurent, apesar da situação delicada, segurou um sorriso. Edward ergueu as sobrancelhas e Tanya balançou a cabeça impaciente.

Ele é o pai. – Tanya puxou a ficha que já estava na mão de Laurent e entregou para Edward.

– Desculpe. – a recepcionista balbuciou nitidamente envergonhada.

– Mas acho que o Edward não pode mesmo passar a noite aqui no hospital, afinal, ele tem um voo amanhã de manhã para pegar. – Laurent soltou e Edward parou com a caneta à centímetros de encostar no papel.

Tanya ergueu o olhar e todos olhavam para Edward em expectativa.

– Verdade. – Tanya disse depois de alguns instantes em silêncio. – Não quero te atrapalhar... – “Você sempre me atrapalha”, Edward pensou assim que ela falou – Tenho certeza que o Laurent não se incomodaria de ficar e...

– Não. Eu posso ficar. – Edward falou e assinou rapidamente, antes que pudesse mudar de ideia. – Vou ligar pro Emmett e pedir que o helicóptero esteja preparado de manhã cedo. Saio daqui e vou direto para o aeroporto no Rio.

Laurent cerrou o maxilar e não disse mais nada.

Liz dormia com o panda ao seu lado. O aparelho ligado a ela que auxiliava sua respiração, causava um nó na garganta de Edward. Tanya parecia muito nervosa e saía para fumar quase de 15 em 15 minutos. Ele retirou o celular mais uma vez do bolso e nada. Nenhuma ligação, nem uma mensagem... nenhum sinal de Bella. Ele tinha quase certeza que ela não recebera as mensagens que ele havia enviado, pois ao ligar, o celular continuava dando fora de área. “O número discado encontra-se fora da área de cobertura...”, ele já odiava com todas as suas forças aquela secretária eletrônica.

Puxou do outro bolso algo que era agora como uma joia preciosa, a carta de Isabella.

Não pense que estou o abandonando, nem sendo covarde. Essa é a decisão mais difícil que já tive que tomar desde que te conheci...”

Assim era o início da carta. Ele rolou os olhos logo para a parte final: “Sempre estarei com você. Suas decisões o tornam livre...”

Livre? – Edward pensou e balançou a cabeça. Preso seria a palavra adequada...

Liz se mexeu e abriu os olhos. Edward guardou a carta de volta no bolso e voltou sua atenção para a menina.

– O que aconteceu?

– Olá. – Edward sorriu para ela, ainda sem jeito, sem saber se poderia tocá-la. – Você teve uma crise das brabas e agora está aqui no hospital para fazer uns exames.

– Eu vou morrer?

– Não! – Edward se inclinou mais perto dela sobre a cama. – Você está ótima agora. Os médicos só precisam de uns exames para poder liberar você pra casa.

A menina deu um suspiro.

– Minha mãe está lá fora fumando, não é? – Liz perguntou como se isso a incomodasse muito.

– Não. – Edward disse e deu uma pausa para inventar algo convincente – Ela foi buscar um café.

– Hum. – Liz não pareceu acreditar muito e desviou o olhar para as mãos. – Não gosto de agulhas.

– São agulhas especiais para crianças. Não vão machucar você. – ela não respondeu – Quer alguma coisa? Água?

– Não. – ela bocejou. Seus olhos cansados indicavam que logo dormiria novamente.

A porta do quarto se abriu e os dois olharam em expectativa. Era a enfermeira.

– Olá, sou a enfermeira Zafrina. Estou começando meu plantão substituindo a enfermeira Gianna. Vou vigiar você durante a madrugada. – A enfermeira abriu um largo sorriso e piscou mostrando que a palavra “vigiar” era pura brincadeira. Ou não.

– Zafrina? – Edward perguntou depois de observar o olhar atento da enfermeira ao verificar o aparelho de oxigênio de Liz. Os olhos castanhos escuros e os lábios finos que sustentavam um forte batom vermelho. “Vermelho demais para um hospital”, pensou Edward. O branco do uniforme fazia um contraste único com o cabelo negro de índia de Zafrina.

– Ed? – ela respondeu depois de apertar os olhos fitando-o e o reconhecer. – Meu Deus, quanto tempo! – ela deu a volta na cama e jogando os braços com muita intimidade, deu um forte abraço em Edward.

– É verdade! E quem diria, enfermeira!

– Pois é... – ela deu um sorriso tímido. – Sempre gostei de cuidar dos mais necessitados.

– Lembro bem. – ele sorriu. Automaticamente lembrando-se do dia em que se meteu numa briga no refeitório do colégio, no último ano do colegial, e de Zafrina cuidando dos ferimentos dele com tanto fervor que acabou cuidando de outras partes do corpo que não estavam machucadas, mas precisavam de atenção tão quanto o resto do corpo.

– Perdi alguma coisa? – Tanya entrou no quarto e mais ainda se incomodou ao ver que nenhum dos dois se dera conta de que ela havia entrado.

– Essa é a Tanya. Mãe da Liz. – Edward indicou a menina com a cabeça.

– Olá, mamãe da Liz. Está tudo bem por enquanto. – Zafrina fingiu não perceber o sarcasmo de Tanya. – Durante a madrugada, voltarei algumas vezes para ver se está tudo bem, e assim que o doutor Garrett chegar, começaremos os preparativos para os exames de imagem.

– Ah, obrigada. – Tanya respondeu simplesmente.

– Tchau, menininha. Durma mais um pouco, precisa estar bem descansada para amanhã. Tchau, Ed... Edward. – Zafrina esticou a mão para Edward e prendeu o riso. – Foi um prazer revê-lo.

– Tchau, Zafrina. O prazer foi meu. – Edward apertou a mão dela e acenou com a cabeça.

– Não precisa ficar. – Tanya disse aproximando-se de Edward.

Ele deu um suspiro impaciente.

– Já disse que vou ficar.

– Cadê o café? – Liz interrompeu.

– Você quer café?

– Não, Tanya, o café que você tinha ido buscar para mim. – Edward finalizou a frase com um olhar de repreensão para ver se Tanya se tocava.

Tanya olhou dele para a filha, depois bateu com a mão na testa.

– Caramba! O café. É verdade. – ela foi até a bolsa que estava na poltrona, pegou dinheiro na carteira e voltou para perto da cama. – Fui buscar, mas quando coloquei a mão no bolso, cadê o dinheiro? – falou rindo. – Vai querer o seu bem forte? – falou para Edward após dar um beijo na testa da filha.

– E duplo.

Tanya saiu do quarto e, Liz e Edward ficaram olhando enquanto a porta se fechava. Liz deitou a cabeça no travesseiro e puxou o panda para mais perto dela.

– Por que não dorme mais um pouco?

– Não... – ela bocejou no meio da frase – estou com sono.

Edward sorriu e ajeitou o lençol para ela.

– Então apenas feche os olhos um pouquinho enquanto canto alguma coisa para você.

Liz virou o rosto para ele achando graça do que ele acabara de falar.

– Você canta como o tio Emmett?

– Não tão bem quanto ele, mas quebro o galho.

Liz fez uma careta como se não acreditasse. Piscou os olhos com um pouquinho mais de lentidão. Estava brigando contra o sono que vinha.

– Então cante.

– Só vou começar depois que você fechar os olhos.

Ela sorriu. Era danada de esperta essa criança. Ela fechou os olhos. Edward olhou para os desenhos infantis nas paredes e lembrou-se de uma música que adorava quando criança:

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo

E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo.

Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva,

E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva.”

– Você vai ter ido embora quando eu acordar? Como fez com a mamãe? – Liz perguntou com a voz sonolenta, sem abrir os olhos, na primeira pausa que Edward deu na música.

Um bolo grosso e pesado se formou na garganta dele. O que Tanya teria dito àquela criança? O que ele havia feito afinal? Numa simples pergunta ele sentiu toda sua sentença. A mágoa de anos que pode ter causado àquela menina, tão esperta.

– Não. – ele sentou na beira da cama e, encostando-se na cabeceira, começou a acariciar os cabelos dela. – Eu não vou mais a lugar nenhum. Não enquanto você precisar de mim. – falou mais para si mesmo do que para ela.

– Promete? – ela perguntou mostrando que ainda o ouvia.

– Prometo.

E Liz respirou pesado caindo num sono profundo.

***

– Bella, vamos. Ele não vem. Vamos perder o voo.

Isabella estava quase cogitando se essa não seria uma boa ideia. “Perder” o voo. Mas e se ele tivesse mudado de ideia? E se no jantar tudo correu tão bem que ele resolveu viver feliz para sempre com a mulher que ele tanto amou um dia e com sua filha desconhecida, formando a família feliz que ele tanto merecia?

Ela apertou a ponte do nariz, depois apoiou as mãos nos joelhos e num impulso ficou de pé.

– Vamos. Realmente não há mais o que esperar. – ela falou puxando o elástico do cabelo, apertando o rabo de cavalo, ajeitou os óculos, pegou a mala e saiu sem olhar para trás.

Dentro do avião, Isabella pegou a revista que comprara na ala de embarque. Abriu numa página aleatória com o título “O ar que respiramos” e logo no início do parágrafo se falava sobre doenças respiratórias e a informação: “A ocorrência de asma tem aumentado significativamente desde a década de 1970. Já foram diagnosticadas com asma entre 100 e 150 milhões de pessoas e a doença foi responsável pela morte de mais de 200 000 pessoas.” – O avião deu um solavanco na hora de levantar voo e Isabella fechou a revista.

– Em algumas horas estaremos em casa. – Isabella disse sorrindo para o sobrinho.

Ele retribuiu o sorriso, mas seu olhar nostálgico para fora da janelinha dizia que talvez para ele, o Brasil poderia ser a sua casa.

– Você poderia aproveitar e me contar logo de uma vez o que tem para me contar, não? – Mike pegou Isabella de surpresa com a pergunta repentina.

– Não. Já disse que quero que sua avó Renée e seu avô Phil estejam presentes.

– Eu vou gostar de saber o que é? – perguntou receoso.

Isabella encostou a cabeça na poltrona e ficou pensativa.

– Vai. Acho que vai. Talvez no início, não. Mas depois, sim. – ela sorriu e piscou, tentando disfarçar seu próprio nervosismo.

Mike analisou a expressão da tia e decidiu não importuná-la mais.

– Me acorde quando estivermos em céu americano. – ele colocou os fones no ouvido e voltou sua atenção para as nuvens que já encobriam a visão do Rio de Janeiro que ficava para trás.

Assim que Isabella e Mike pegaram suas bagagens e subiram a alta escada rolante do aeroporto de Nova Iorque, a “Imperial March” começou a tocar incessantemente. Isabella tomou um susto, seu celular não tocava há dias e sua cabeça estava tão cheia de pensamentos que nem se dera conta que seu celular já teria sinal novamente. Toda atrapalhada, no meio da escada rolante, conseguiu puxar o celular de dentro da bolsa e ao segurá-lo com as pontas dos dedos para tentar puxar a bolsa de volta ao ombro, um transeunte passou correndo por ela, quase a derrubando, fazendo com que o aparelho pulasse de sua mão.

Mike até tentou agarrá-lo no alto, ele estava a alguns degraus abaixo de Isabella, mas não teve jeito, os dois observaram enquanto o aparelho se espatifava no chão do primeiro andar e a escada os levava cada vez mais para o alto.

– Fique aqui, vou lá tentar resgatar meu celular, ou o que sobrou dele.

Isabella deixou o sobrinho num canto com as malas e desceu correndo a escada oposta. Um carrinho com bagagens passou por cima dos restos mortais do aparelho assim que Isabella pisou no andar de baixo. “Será que pode ficar pior?” – ela resmungou. Deixou cair os braços e recolheu as peças, jogando numa lixeira antes de subir a escada novamente.

– Não dava mesmo para salvar?

– Esquece, eu já estava mesmo querendo comprar um desses de última geração com GSM-SIM card. – ela deu de ombros.

– Mas, quem estava te ligando, deu pra saber?

– Não. – o olhar de Isabella ficou perdido. – Não deu. Mas eu peço uma conta detalhada para a operadora depois. – ela não queria mostrar a ânsia e a vontade de saber se a ligação era do Edward. Ela ainda estava decidindo se ligaria ou não para ele quando chegasse a casa. Talvez ligasse. Talvez esperasse ele ligar. Talvez não.

Os dois subiram no prédio de casa rindo da cara da Isabella ao ver o celular cair no chão e do tamanho do sorvete que ela tomara “para compensar”. Isabella abriu a porta de casa e quando ia gritar o nome da mãe, seu olhar parou nas pessoas na sala e sua respiração faltou por alguns segundos.

– Bella, deixa eu entrar! – Mike forçou a porta empurrando a tia que empacara na entrada o impedindo de entrar.

Querida vida, quando eu disse "Pode ficar pior?" era uma pergunta retórica, não um desafio. – Isabella pensou. Ela tinha visto essa frase em algum lugar, não lembrava onde, mas se encaixava perfeitamente.

– Michael Junior! – Uma mulher, de cabelos loiros escuros e olhos acinzentados, gritou e esticou os braços na direção de Mike.

Mike deu um passo atrás por reflexo e um homem segurou a mulher, impedindo-a de se aproximar.

– Calma, Karen! – o homem falou num tom baixo, porém firme, próximo ao ouvido dela. – O menino não a conhece, não o assuste.

Renée deu a volta no sofá e com um semblante extremamente triste se aproximou de Isabella e Mike.

– Quem são eles? – Mike perguntou quase assustado. – E por que eles falam português?

Isabella ainda permanecia estática, o olhar vidrado na mulher.

– Eu te liguei, queria te avisar antes de vocês chegarem...

A voz da mãe fez Isabella sair do transe. Ela piscou algumas vezes e então focou o olhar no rosto de sua mãe. Era ela que estava ligando afinal.

– Quando eles chegaram?

– Hoje.

– Contem logo de uma vez para ele ou nós contamos! – a mulher estava quase descontrolada.

Mike deu mais um passo atrás, encostando o braço no da tia.

– Mike. – Isabella segurou os dois braços do menino e apertou com força os olhos antes de prosseguir. – Lembra que eu disse que tinha uma coisa para te contar? – as lágrimas começaram a se formar nos olhos de Isabella – Que tínhamos, eu e seus avós, que conversar algo sério com você?

Mike assentiu sem dar uma palavra. O olhar no de Isabella, sem piscar.

– Então. Essa mulher... – Isabella baixou um pouco a cabeça, como se isso pesasse falar - Essa mulher é sua tia.

Mike olhou para a mulher que agora chorava. Isabella também virou o rosto para ela e era ela mesma. A mulher nas fotos que sua irmã havia lhe mandado por e-mail uma vez, do aniversário de um ano de Mike. Isabella jamais esqueceria aqueles rostos. Os rostos da família de Michael Newton. De Mike. Ela parecia mais magra, obviamente mais velha também, mas era ela. Por treze anos fugiram desse dia e agora o dia os encontrara.

Isabella se recompôs e tentou contar a história toda, mesmo que resumida, Renée completava algumas partes dando apoio a filha. A mulher e o homem, que depois se soube que era Afton, marido e advogado de Karen, sentaram e ouviram toda a história que as duas contavam sem sequer dar uma única palavra. Não havia mentiras naquela história, mas eles também tinham a deles e não iam querer ser interrompidos na hora de contar.

Depois de contada toda a história, Mike ficou em silêncio, parecendo digerir toda aquela informação.

– Quero conversar com ela. – ele apontou para Karen. Ela se levantou na mesma hora.

– Mike, mas... – Isabella tentou falar, mas ele não deixou.

– Sozinho. No meu quarto.

Isabella assentiu e com as lágrimas rolando pelo rosto, viu Mike acompanhar Karen pelo corredor. Afton também foi barrado e teve de esperar na sala com elas.

Depois de quase meia hora, Mike e Karen saíram do quarto. Ela, sorridente. Ele, visivelmente havia chorado, mas mantinha uma expressão suave.

– Ele... – Karen quis começar a dizer.

– Deixa que eu falo. – Mike parecia um homem ao falar. Karen se calou. – Vou com eles...

– Não! – Isabella quis ir até ele, mas Renée a segurou. – Por favor, me escute, meu fil... Mike! Eu amo você, nós amamos você!

– Eles também me amam, mas foram privados de me ver crescer.

– Ela envenenou você contra mim, ela...

– Isabella. – Mike deu a volta pelo o outro lado do sofá, para não passar perto de Isabella e pegou sua mala. – Não me faça dizer nada agora. Estou com raiva, muita raiva. Estou confuso e triste. – ele olhou para Karen e esta pegou sua bolsa e foi na direção da porta com o marido. – Enquanto eu decido o que pensar, ela não vai dar parte de vocês. Enquanto eu descubro quem eu realmente sou e o que eu perdi, eu analiso quem são vocês, também. Amo vocês, mas amar é confiar e confiança é que nem papel, depois que amassa, mesmo depois que estica, não fica mais liso como antes. – Isabella agora chorava compulsivamente e Renée já via tudo embaçado. – Preciso desse tempo e se vocês me amam de verdade, vão me deixar ir.

Isabella não conseguia dizer nada, era como num sonho que você quer gritar, mas o som não sai.

– Vá, meu filho. – Renée engoliu as lágrimas e disse com carinho. – Pense com carinho em nós. E que Deus o abençoe.

– Tenho sua benção, vovó? – Mike fraquejou ao falar. As palavras saíram entrecortadas.

– Sempre. – Renée respondeu.

Mike abaixou a cabeça. Por um instante, elas acharam que ele ficaria ou que pelo menos as abraçaria, mas não, ele levantou a mala do chão e saiu, fechando a porta atrás de si e não vendo Isabella desabar de joelhos no chão, deixando a cabeça cair nas mãos e ser abraçada por Renée que também não conseguiu mais conter o choro.

Elas não podiam tê-lo perdido, não podiam. Ele voltaria, não voltaria? Tinha de voltar.


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