A porta da biblioteca era de correr, uma pesada porta de madeira. Não estava trancada, mas Isabella teve de fazer uma pequena força para fazer com que ela corresse para o lado. Logo quando entrou foi atingida por um cheiro de couro forte e o delicioso aroma de livros. A sala era espaçosa e aconchegante. Espessas cortinas de cor vermelho sangue cobriam as janelas, impedindo a entrada da claridade. Ao fundo, havia uma lareira de pedras escuras e uma poltrona de couro marrom com uma luminária ao lado. Um belo cantinho de leitura – pensou.

Do lado oposto à lareira, Isabella pode ver o porquê Esme chamara de “biblioteca/escritório”: uma mesa de madeira escura e de design bem antigo, com alguns papeis e porta canetas em cima, mais um aparelho de fax e um computador de modelo bem antigo. Na ponta da mesa, o telefone.

Isabella não resistiu e, antes, foi até as prateleiras repletas de livros bem organizados. Todas as paredes da sala eram de prateleiras até o teto, na base, havia portas com puxadores de vidro trabalhado, como armários embutidos. Ela passou os olhos e resistiu para não tocar os livros. Havia de todos os tipos, clássicos da literatura de todas as partes do mundo, filosofia, medicina, teologia e nas prateleiras mais próximas a lareira, romance, muito romance. Jane Austen, o tal Machado de Assis que Edward falara e tantos outros que ela conhecia e outros que nunca ouvira falar.

– Também adoro esse lugar.

Isabella deu um pulo de susto e se virou dando de cara com Rosalie. A cunhada de Edward, esposa de Emmett.

– Óh. Perdão... – ela buscava as palavras em português. – Só vim telefonar. – ela apontou para o outro lado, na direção da mesa. – Mas, amo livros. – ela sorriu, sentiu o rosto queimar de vergonha.

– Eu também. – Rosalie sorriu e foi até ela. – Inclusive essa sessão é a que mais gosto. Romances! – Rosalie fingiu procurar algum título, passando o dedo pelas lombadas. – Já te fizeram passar pela sessão de fotos? – perguntou com ar divertido sem olhar para Isabella.

– Ah, não. – Isabella deixou escapar um riso nervoso. E começou a se lembrar que de fato isso fora a primeira coisa que a mãe de Jacob fizera a primeira vez que foi a casa dele.

– Então deixe-me fazer as honras! – Rosalie demonstrou uma animação estranha.

Rosalie abaixou-se e abrindo de uma vez as portas da parte de baixo, puxou uma enorme caixa de papelão grosso de lá de dentro.

– Essa é só uma parte! – Rosalie falou e olhou para Isabella que tinha uma expressão confusa no rosto. – Entende o que falo? Desculpe, meu inglês é péssimo, mas...

– Não, tudo bem! Eu estou entendendo sim! – Isabella segurou a caixa, sentindo o peso, para que Rosalie se levantasse.

As duas foram para o centro da biblioteca que tinha quatro sofás, de dois lugares cada, fazendo um quadrado em volta de uma mesinha no centro deles. Isabella pousou a caixa sobre a mesinha e Rosalie começou a abri-la com animação.

– O que estão fazendo? – a voz monótona de Angela quase fez eco na sala.

– Que bom que apareceu, filha! Venha me ajudar a falar com a Isabella! Agora vejo como devia ter entrado no cursinho com seu pai!

– E se eu não quiser?

Isabella olhou para a menina que estava recostada na porta de entrada e erguia uma sobrancelha em desdém.

– Deixe de ser malcriada, menina! Venha logo aqui! – Rosalie enfim olhou de cara feia para a filha.

Angela bufou e entrou na biblioteca.

Isabella puxou um álbum qualquer para fingir não ter entendido a pequena “discussão” das duas. Logo a primeira foto era uma festa, uma mesa com um bolo colorido, bolas no alto. Uma linda jovem de pele negra parecendo estar gargalhando de olhos fechados, enquanto braços musculosos a seguravam por trás como se a estivesse puxando para não apagar as velas do bolo. Isabella olhou a fotografia mais de perto. Os braços pertenciam a Edward.

– Tanya.

Isabella ergueu o olhar para Rosalie que olhava para a foto também.

– A mãe de filha de Edward? – Isabella perguntou tentando falar um português claro.

– Isso. Essa foi... Angela, me ajude aqui.

Rosalie falava e Isabella prestava atenção à tradução de Angela, pois não queria deixar de entender nenhum detalhe.

“Esse foi um aniversário dela aqui na fazenda. Acho que fazia 24 anos”. – Isabella olhou para a foto de novo, praticamente a idade que ela tinha agora. – “Se me lembro bem, foi um mês antes de Edward ir embora”.

– Mas eles brigavam muito, isso eu lembro. – Angela interrompeu a narrativa da mãe para tecer um comentário. – Nesse dia mesmo eles tiveram uma briga feia e eu mesma vi o tio Edward ficar com... – Angela mordeu o lábio e pegando o álbum da mão de Isabella folheou até encontrar o que queria. – Com pelo menos três dessas aqui! – ela apontou mostrando para Isabella e sorriu.

Isabella ergueu as sobrancelhas ao ver que na foto Edward estava abraçado com sete garotas sorridentes. Uma garrafa de vinho em uma das mãos e um cigarro na outra.

– Fazendo minha caveira, cunhadinha?

As três levaram um pequeno susto com a entrada repentina de Edward na biblioteca, seguido por Mike, Tyler, Jéssica e Lauren.

– Tio, que susto. – Angela ficou levemente corada mas se ela não tivesse dito, pouco se notaria que tivesse levado algum susto.

Edward sorriu, fez um carinho no topo da cabeça da sobrinha, olhou a foto que viam e ergueu o olhar para Isabella.

– Isso é passado. – ele disse em inglês.

– Uma parte sua que eu desconheço.

– Melhor assim. Vai por mim.

– Ei, o que eles estão dizendo? – Rosalie perguntou mais baixo para a filha.

Angela deu de ombros.

– Eles falam muito rápido, não entendi direito. – mentiu.

– Conseguiu ligar para sua mãe? – Edward perguntou, aparentemente tentando mudar de assunto.

Isabella bateu a mão na testa lembrando-se o porquê de ter ido ali. Levantou-se rapidamente.

– Vou ligar agora.

– Vamos ou não vamos, tio? – Tyler perguntou agitado.

Isabella olhou para Edward como quem perguntava “aonde?”.

– Emmett e eu vamos levá-los num parque antigo que tem aqui nos limites da fazenda.

– Um parque de diversões?

– Um parque velho e abandonado. – Angela falou se levantando também.

– Abandonado, não. Desativado. – Rosalie juntava as fotos de volta dentro da caixa. – Fizemos seu aniversário de 15 anos lá e foi muito divertido!

– Bom, era isso ou usar um vestido de babado cor de rosa. Adivinhe? – Angela fez uma careta para Isabella.

– Vamos, galera! – Emmett apareceu na porta.

Os adolescentes saíram quase correndo, Rosalie levou a caixa sem ajuda de ninguém de volta ao armário e Angela se afastou indo em direção as prateleiras onde ficavam os livros de terror e suspense. Isabella pode ver alguns títulos de Anne Rice e Stephen King.

– Escute. – Edward segurou Isabella delicadamente pelos ombros e aproximou bem o rosto do dela. – O cara naquelas fotos, a história daquele cara... Não sou mais eu.

– E quem é você então? – Isabella perguntou quase num sussurro.

Edward teve vontade de arrancar aqueles óculos do rosto dela. Aquelas lentes pareciam um campo de força que o impediam de se aproximar.

– Ah! Bella, mamãe perguntou se você pode ajudar na cozinha? – Emmett perguntou tirando Edward e Isabella de sua bolha.

– Claro. – ela respondeu sem tirar os olhos de Edward.

– Uma hora... um dia eu conto tudo pra você, só peço que confie e acredite em mim, acima de qualquer coisa, você pode fazer isso por agora?

– Por agora posso. – ela foi categórica e se afastou dele.

Edward seguiu para o parque de diversões juntamente com seu irmão, Mike e os sobrinhos. Angela não quis ir com eles e Edward achou melhor assim, de alguma forma seria bom que ela ficasse próxima de Bella. O que será que Rosalie teria contado a Isabella? Será que teria contado sobre Leah, também? Ele sentiu os pelos de seu corpo arrepiarem. Leah era... uma outra história complicada.