SEM RÓTULOS - welcome to my world escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 13
Cidade Maravilhosa




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– Bom. É pequeno, mas é meu. – Edward deu um sorriso fraco olhando em volta junto com eles. Fazia tanto tempo que tinha batido aquela porta sem olhar para trás... – Vocês podem dormir no meu quarto eu me viro pela sala.

– Não. Claro que não. Não quero atrapalhar, ainda podemos procurar um lugar aqui perto para se hospedar...

– Eu disse que você não me atrapalha. Isso ainda tá valendo, Bella. A cama do meu quarto é de casal, você e Mike podem dormir tranquilamente juntos nela. E eu vou dormir no sofá, mas também, liguei pro meu irmão e ele ficou de me arrumar um colchonete, ele vive acampando.

Isabella olhou para ele com ar de expectativa. “Irmão?”.

O celular de Edward tocou e ele saiu em direção ao quarto puxando a mala de Mike com ele. Isabella aproveitou para olhar a enorme estante que ocupava quase a parede toda. CDs, muitos CDs. Livros. Ela puxou um e tentou ler o título em português. O que significava a palavra “Dom”? Ela se lembrou de “Don Juan”, e de alguns títulos da época do império “Dom Pedro”...

– Obrigam a gente a ler isso no colégio.

Isabella tomou um susto. Edward sorria.

– É literatura brasileira?

– É o que chamam de clássico. Dom Casmurro.

Isabella franziu o cenho com a sonoridade confusa das palavras.

– O que significa?

– Na verdade, Dom Casmurro é o apelido de Bento Santiago, o Bentinho. É um romance que lembra alguns do seu famoso Shakespeare, pode-se dizer.

– Você disse “obrigam”, mas parece gostar da história. Estou errada?

– Não. É uma história interessante. Fala de amor, ciúme. Tem uma questão épica deixada pelo autor, Machado de Assis, que é a seguinte “Capitu traiu ou não Bentinho” – Isabella fez uma expressão engraçada e Edward sorriu. – Vou procurar a obra em inglês para você. Vai gostar.

– Treinador, posso ligar o vídeo game nessa TV? – Mike saíra do outro quartinho que havia no apartamento.

– Claro, se precisar de ajuda me chame.

Mike assentiu e voltou para dentro do quartinho, que era uma espécie de “quartinho da bagunça” ou o protótipo de uma sala de vídeo/música. Edward virou o rosto e Isabella estava como quem admirando as folhas amareladas do livro, ele sabia que com mais um pouquinho de esforço, logo ela estaria lendo em português.

Eles desceram para almoçar e caminharam um pouco pela orla da Barra da Tijuca. No que Edward se lembrava, nada havia mudado muito nesses últimos 5 anos. Isabella ficou para arrumar suas coisas e as do sobrinho enquanto Edward levou o menino para conhecer o estádio. Os treinos começariam no dia seguinte.

Isabella enxugou o suor da testa se lembrando do que Jane havia dito. Sim, sim. Eu deveria ter trazido uns vestidinhos. O barulho da porta da sala batendo fez Isabella voltar de seus pensamentos. Ela se levantou e, sorrindo, foi até a sala, Edward e Mike já deveriam estar de volta. Mas não eram eles.

– Opa! – Um senhor de meia idade pareceu tão surpreso quanto ela.

– Você é...?

– Não, vó! Tem que falar em inglês! – Um garoto que aparentava ter uns 16 anos falou e esticou a mão para Isabella. - Hi, my name isTyler.How are you?

I'mOlivia. Nice to meet you.

E assim, Isabella conheceu os pais e um dos sobrinhos de Edward. Em meio a tentativas e erros, os quatro tentaram se entender com o português precaríssimo dela e o inglês meia água dos pais de Edward e o esforçado Tyler que provavelmente fazia algum cursinho de inglês.

Isabella fechou a porta e se sentou no sofá, confusa. A animação deles foi tão estranha. Tudo bem que os brasileiros pareciam ser um povo hospitaleiro, mas aquilo foi exagerado. Algumas palavras ela não entendeu direito e se forçou a não buscar o dicionário.

– Isabella... – Edward abriu a porta do apartamento quase esbaforido. Olhava para todos os lados como se procurasse alguém. – Eles já foram?

– Seus pais?

Edward balançou a cabeça.

– Sim. E a propósito, seu sobrinho é uma simpatia.

– Você tem um sobrinho, treinador? É da minha idade?

– Tenho mais de um. – Edward praticamente se jogou no sofá. – O que eles disseram?

– Bom. Muitas coisas... – Isabella ajeitou os óculos e puxou o elástico do cabelo apertando mais o rabo de cavalo. – O problema foi o que eles tentaram dizer. As palavras que eu não consegui entender.

– Lembra de alguma?

– Esposa? Filha? Casamento? – ela pronunciou essa e outras palavras e expressões tentando falar em português. Edward as reconheceu e Mike também.

– O senhor é casado, treinador?

Isabella levantou do sofá numa reação totalmente inesperada.

– Não. – Edward passou a mão na cabeça, esfregou um pouco e depois ergueu o olhar para Isabella – Já fui. Lembra quando eu disse que precisa contar uma coisa? Na verdade... São muitas coisas. Acho que o Mike tem idade suficiente para saber também, sentem, porque a história é longa.

1997. Edward, com 25 anos, tinha uma namorada que amava: Tanya. Mas tinha acabado de receber a proposta para ser treinador numa escolinha de futebol de primeiro mundo em Nova Iorque. Quando contou a ela, Tanya teve uma crise de desespero e disse que estava grávida. Edward achou que era mentira dela e no dia seguinte pela manhã, fez a sua escolha. Embarcou para os EUA sem nem ao menos se despedir nem de sua família nem de seu grande amor.

Edward manteve distância de todos e não aceitava falar com ninguém nem pelo telefone. Alguns meses depois, Eleazar, que era amigo de sua irmã Alice, o convencera a falar com ela. Foi então que ele descobrira que Tanya falava sério, estava mesmo grávida e agora de sete meses. Edward não podia deixar Nova Iorque e também já estava tudo encaminhado para que ele conseguisse um green card.

No dia em que se casava com Claire em Las Vegas, bêbado, Eleazar atendeu o telefone de Edward e deu a grande notícia “Edward se casou!” A irmã de Edward desligou o telefone sem nem ao menos dizer o que tinha ligado para dizer. “Sua filha nasceu, irmão.” Todos na família apostaram que era um casamento arranjado e que Edward, o inconsequente que era, não ficaria casado nem um dia a mais do previsto. E ele realmente não ficou.

– Claire era lésbica e eu fui obrigado a viver com ela e sua companheira por um ano. Mas não tive coragem de contar nada pra ninguém. Fiquei sem falar com ninguém da minha família. Nem amigos, nada do Brasil. Me dediquei ao trabalho em tempo integral, mas quando não estava na escolinha, eu estava bebendo e fumando mais do que eu podia. Em 99 eu procurei um centro de reabilitação e com ajuda, parei de fumar e de beber. E aí consegui juntar dinheiro e comprei a outra parte da sociedade. Voltei a falar com meu irmão e ele me mandava fotos da minha filha, Elizabeth. Mas doía tanto, eu não conseguia me sentir pai, em momento algum. Hoje, ela está com 5 anos de idade. Falo com meus pais esporadicamente, não entendo o que eles vieram fazer aqui.

Isabella ouvia tudo quase sem piscar. Edward estava com os cotovelos apoiados nos joelhos e entrelaçava os dedos. Óbvio que ouvir que ele abandonara a namorada grávida, ou pelo menos sem se certificar de que ela falava a verdade, era algo muito sério e a família dele tinha todos os motivos para achar que ele era o egoísta insensível que achavam. Mas algo soou mais aterrorizante do que tudo para Isabella...

– Então, sua família pensa que você ainda é casado? E agora acham que eu sou sua mulher? – Isabella disse mais para ela mesma do que para ele.

– Isabella, vou ligar para eles e desfazer esse mal entendido, não se preocupe.

Mike soltou um assobio engraçado e os dois olharam para ele.

– Qual o problema deles acharem que vocês são casados? A gente vai embora mesmo daqui uma semana! Acho que podia deixar como está. – ele deu de ombros e fez sinal que iria para o quarto jogar. Isabella e Edward abriram a boca várias vezes, mas nenhum dos dois conseguiu dizer alguma coisa.

Edward foi tomar banho. Mike estava no quarto vendo TV e Isabella estava debruçada na mesa da minúscula cozinha do apartamento de Edward. Era muita informação para assimilar de uma vez só. A família de Edward o achava um egoísta, inconsequente, e provavelmente um mau caráter que nunca tinha se preocupado em conhecer a filha. Sendo que, na verdade, ele apenas se sentia incapaz e não merecedor dela. Quanto ao resto, bem, Isabella tinha lá suas dúvidas. Mas ela ainda se sentia em dívida com ele pelo o que ele havia feito por ela em Indiana.

A campainha tocou e Edward saiu do banheiro feito um flash. De toalha.

– Eu abro. – ele passou por ela ainda cheirando a sabonete, o peito molhado. Isabella só conseguiu arregalar os olhos.

– Oi, irmão! Quanto tempo!

Isabella parou na entrada da sala e observou o abraço carinhoso entre os dois. Mike também saiu do quarto e parou ao lado dela.

– Tio! – Isabella reconheceu o adolescente Tyler que viera mais cedo.

– Nossa, como você cresceu, estou mesmo velho!

Mike cochichava para Isabella traduzindo o que eles diziam.

– Ora, ora! Então esta é a minha cunhada americana? – O irmão de Edward, Emmett, que já beirava os 40 anos de idade, tinha uma barba aparada e bigode, mas a beleza via-se que era de família.

Isabella sorriu enquanto ele ia em sua direção.

– Emmett, não... ela...

– Olá. – ela disse em português. – Muito prazer conhecer irmão de Edward. – Isabella se esforçou em dizer.

Edward balançou a cabeça fazendo que “não” para ela, mas Isabella sorriu e aceitou o abraço de Emmett enquanto Tyler já cumprimentava Mike.

Edward se sentiu de mãos atadas, Isabella entrara no jogo e conduzia a conversa muito bem. Emmett estava ali com uma “missão”, convencê-los a ir almoçar na casa dos pais em Volta Redonda.

– Não, irmão. Eu vou ligar pra eles, agradecer, mas temos que voltar...

– Temos que voltar na segunda, Edward. Podemos almoçar lá no sábado, sim, por que não? – Isabella olhava para Mike que conversava empolgado com o sobrinho de Edward. Seria um almoço com toda a família, num sítio com campo de futebol... como ela poderia privá-lo disso?

– Perfeito! Eu já vou indo porque o trânsito é tenso. Prazer em conhecê-la, cunhada! Irmão, você acertou em cheio, hein, ela é linda!

– É, eu sei, irmão, eu sei.

***

– Você tem certeza disso?

– É apenas um almoço, Edward, o que pode dar errado? – Isabella pegou o coco que Edward trouxe para ela.

Edward suspirou.

– Temos que acertar uns pontos.

Mike atacava seu sanduiche natural, especialidade da barraca do Pepê, mas balançou a cabeça mostrando que estava prestando atenção.

– Eu pensei sobre isso. Podemos dizer que tivemos uma briga e ficamos separados por um tempo...

– 3 anos.

– E voltaram quando ela precisou fazer aquela viagem pra Indiana!

A ideia era tão brilhante que dava até arrepio.

– Por que você quis fazer isso? – Edward perguntou intrigado.

– Não sei. – ela respondeu sinceramente – Acho que algo me dizia que eu precisava fazer isso. A sua família parece não conhecer quem você realmente é...

– Mas eu realmente nem sempre fui... bom, Bella.

– Mas você mudou, não? Eles precisam saber disso. E tem a sua filha...

– Por favor, não quero falar sobre esse assunto, não me sinto...

– Mas precisa falar. Não pensa em conhecê-la?

– Ela não está no Rio. Está em Florianópolis com a família da mãe dela. Talvez um dia. Quando eu me sentir pronto.

Isabella sugou a água de coco e olhou para ele que agora mirava o mar. O que ele precisava para “estar pronto” para conhecer sua filha? Que parte faltava nesse quebra cabeça? Será que ela queria descobrir?

***

A semana passou rápido. Edward e Mike passavam quase o dia todo no São Januário e Isabella preferia ficar no apartamento, arrumando as coisas e lendo. Já tinha aprendido muita coisa em português com seus CDs de aulas e os dicionários.

Sempre à noite, Edward os levava para conhecer alguns lugares especiais. O Pontal, o Barra Shopping – onde Isabella aproveitou para comprar uns “vestidinhos” –

Ipanema e Copacabana. O Cristo Redentor e o Pão-de-açúcar. Centro cultural do Banco do Brasil. E na sexta-feira foram à Quinta da Boavista, pela manhã, visitando o museu e o Zoológico.

Isabella sentia que agora sim, eles podiam dizer que tinham uma amizade, apesar de alguns momentos onde os olhares diziam mais do que deveriam... As brincadeiras na varanda com Edward e Mike testando seu português... Ela estava pronta para ser a “mulher” de Edward para a família dele, porque eles seriam o que deveriam ser na frente de todo mundo: amigos. Grandes amigos.

Depois no passeio no Zoo pela manhã, almoçaram e foram para São Januário. Seria o jogo onde o olheiro estaria analisando os jogadores e Isabella estava mais nervosa do que tudo.

Mike fez o que ele sabia fazer, mas de fato os meninos do Juniores do Vasco eram praticamente profissionais. Ela sabia que mesmo que de nada saísse dali, seu sobrinho teria tido uma baita experiência para levar em sua carreira adiante.

Já no apartamento, o celular de Edward tocou e ele foi para a varanda atender. Quando voltou, Isabella estava na cozinha procurando o tal telefone da pizzaria que ele havia falado.

– Suspende a pizza.

– Por quê?

– Vamos para a casa dos meus pais.

– Agora? – Isabella conferiu as horas, eram quase sete da noite. – Você não disse que levava umas 4 horas para chegar lá, de carro?

– Pois é. De carro. Mas meu pai enviou o helicóptero.

Isabella automaticamente olhou para o alto. Helicóptero? Isso só podia ser brincadeira.


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