SEM RÓTULOS - welcome to my world escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 12
“labeled”




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Isabella arrumava os pratos na mesa do quintal do senhor Phil, quando viu o carro de Edward virar a rua. Quase derrubou um copo de vidro. Segurou a tempo.

– O que ele faz aqui? – a voz de Jacob a pegou de surpresa.

– Ele foi convidado, Jake. A viagem também é dele.

– E ele não tem família?

A pergunta de Jacob fez Isabella sentir um aperto no peito. Ela olhou para Edward que agora era recebido com uma baita festa por Mike. Edward colocara as duas mãos no bolso e havia encolhido os ombros, parecendo pouco à vontade. Ela percebeu quando ele, ainda com a cabeça na direção de Mike, atento ao que ele dizia, ergueu o olhar na direção dela.

O céu estava limpo sem nuvens e o sol não batia naquela parte do quintal. Edward usava jeans e uma camisa polo rosa que parecia deixar a pele de seus braços mais amorenada. Sua chegada parecia ter iluminado ainda mais o dia.

– O almoço está servido! – Renée anunciou balançando um pequeno sino de prata. Ela havia preparado uma mesa a parte apenas para a comida. Parecido com um self service.

Não havia muitas pessoas ali, além da família – Renée, Isabella, Mike – estavam a esposa de Phil, o que era algo estranho para Isabella entender, como sua mãe se dava bem com Dolores. Phil fora seu primeiro marido, o pai de Marie, que abandonara a mulher e uma filha com 4 anos de idade para viver com sua amante, Dolores. Óbvio que Renée refizera sua vida, casou-se novamente com Charlie, pai de Isabella e viveram felizes por 25 anos. Isto é, até o ano passado quando um câncer na próstata o levara embora.

Phil e Dolores tiveram mais dois filhos: Ted e George. Ted nasceu 6 meses após a separação, hoje estava com 28 anos, era obeso e sua mulher estava grávida do terceiro filho. George tinha 23 anos, cursava direito e nada se sabia sobre sua real opção sexual. Até hoje, nada de namoradas. Mas Isabella sempre adorara conversar com ele, pelo menos alguém que sabia o valor dos livros.

O almoço transcorreu bem, todos muito falantes e curiosos quanto ao Brasil. Edward não parava de responder perguntas. Ele e Isabella só tiveram a oportunidade de trocarem um “Oi” como o de sempre, mas seus olhares, vira e mexe, se esbarravam.

– Para mim, pode ser o de cassis. Apesar de você não ter perguntado. – Edward se recostou no balcão da cozinha e observou Isabella parar com a colher dentro do pote de sorvete – Ou vai me deixar sem sobremesa de novo?

– Não achei que fosse precisar de mim para satisfazer sua vontade de... – Isabella cavou com força o sorvete retirando uma enorme bola que jogou na taça ao lado – sorvete.

Edward ergueu as sobrancelhas com o comentário inesperado.

– Bella, eu...

– Limite-se a fazer o seu trabalho. Você é o treinador do Mike e é assim que vai ser. Vamos viajar para outro país com laços estritamente profissionais. Não precisamos sequer ser amigos.

– O que deu em você? – Edward soou magoado – O que eu fiz... ou o que eu não fiz com você? – agora estava irritado. Que garota louca. Ele se aproximou dela. – Não precisamos ser amigos, não mesmo. Então acho que devo lhe devolver o som, porque não aceito presentes de estranhos.

– Não somos estranhos, mas não precisamos...

– Não precisamos de quê, Isabella? – Edward estava com o rosto a centímetros do dela – Você me largou na pista ontem, e eu achei que estivesse ficando louco, mas agora vejo que a maluca é você.

– Não acho que a loira que você engolia ontem, tenha te dado tempo de achar alguma coisa.

Um lampejo de entendimento surgiu na mente de Edward. Ela havia voltado. E visto Heidi. Mas por que ela tinha voltado? Precisava saber.

– E você se importa quem eu “engulo” ou deixo de engolir? Afinal, nem amigos podemos ser, ou... – suas bocas quase se encostaram, eles podiam sentir o calor do hálito um do outro.

– Bella? – Jacob chamou como se estivesse vendo Isabella ser assassinada.

Isabella deixou a colher de sorvete cair no chão. Edward e ela abaixaram para pegar ao mesmo tempo. A mão dele por cima da dela. Ela puxou a mão e se levantou rapidamente tentando disfarçar sua leve tontura. Edward mordeu o lábio inferior e respirou fundo. Passou por Jacob, mas parou com a mão no batente da porta e olhou para Isabella.

– Vejo você amanhã no aeroporto, senhorita Isabella. – e saiu.

***

– Bella, para quê tantos suéteres? Você não vai para a Europa, queridinha, vai para o Brasil. Lá, dizem, faz um calor dos infernos! É primavera lá, não? Leve mais vestidinhos...

– Não estou indo a passeio, Janie. Provavelmente só irei sair para ir até o campo de futebol e só. E contar os dias para voltar pra casa.

Jane suspirou desanimada. Sentia que existia uma conexão entre o treinador e Isabella, e essa negação da amiga só confirmava isso.

– Você deveria ter me ligado ontem, teríamos te buscado...

– Vim de metrô e até onde sei, cheguei antes de você. Mas não faça essa cara. Foi bom. Agora sei que estava sendo totalmente infantil achando que as palavras dele queriam indicar isso ou aquilo, que o olhar...

– Bella, o olhar dele diz com letras garrafais “desejo você” e isso é independente do idioma que se fale. Não precisa de tradução.

– Ele olha assim pra todo mundo, até pra você.

Jane soltou um meio gritinho alto, quase ofendida com o comentário.

– Tudo bem. Ele parece esconder algo, sei lá, ou possa ser impressão só por ele ter esse jeitão de badboy responsável o que não combina muito. Mas desarme-se. Ele já provou que é de confiança. Seja amigável. Se não rolar nada, que sejam ao menos amigos, por que não?

– Não preciso de mais um amigo, já tenho você.

tem a mim você quis dizer. Então precisa de um namorado. Ou de um amante! Ah, Bella precisa de emoção!

– Já tive emoção demais nos últimos dias. Prefiro a segurança dos meus livros e de minhas HQs. Não falham nunca.

– Uma mulher tem necessidades...

– Não eu.

E com isso, Isabella fechava questão e encerrava o assunto. Elas eram tão diferentes, às vezes nem ela entendia como conseguiram se tornar tão amigas. Quer dizer, Isabella lembrava bem. Jane se escondia na escada de incêndio para chorar quando o pai chegava bêbado. Uma vez Isabella deixou sua bolinha cair ali e quando foi buscá-la, encontrou Jane toda encolhida. Isabella, dois anos mais velha, apenas se sentou ao lado de Jane que na mesma hora deitou a cabeça no colo dela. E ficaram assim, até que Jane parasse de chorar e começaram a conversar.

Isabella tinha 9 anos e depois ela se lembra das vezes em que as duas sentaram para estudar, Jane sempre péssima em matemática, mas ótima em história. Elas se completavam e as diferenças se tornaram invisíveis. E com essas lembranças, Isabella adormeceu sabendo que sentiria muita falta da amiga nesses dias que estaria no Brasil. Mas passariam rápido e logo estaria de volta. Sã e salva.

Naquela noite, Isabella sonhou com sua irmã Marie num jardim verde e amarelo.

***

Edward olhou para o homem na poltrona ao lado da que era a sua e na mesma hora mudou de ideia.

– Mike, façamos assim, você viaja com sua tia e trocamos os lugares depois da primeira parada. Preciso tirar um cochilo, campeão, tive uma noite terrível.

Como Edward sabia que Mike estava totalmente alvoroçado e iria querer conversar o tempo todo, sabia que essa era uma boa desculpa. Isabella deu de ombros e se sentou ao lado do sobrinho. Edward se acomodou em sua poltrona e estava de cabeça baixa procurando seu chiclete dentro da mochila quando tocaram seu ombro.

– Com licença, senhor. Creio que esse seja o meu lugar.

Edward levantou os olhos e diante dele estava uma mulher muito bonita e elegante, cabelos avermelhados cortados até o queixo e olhos cor de mel.

– Desculpe, senhora. Mas tenho certeza que este é o meu lugar...

– Não falo com o senhor, falo com ele. – ela fez sinal com o queixo para o homem que parecia estar absorvido numa espécie de mantra, de olhos fechados.

A mulher mostrou o bilhete a Edward e estava certa. O lugar era dela. Depois de alguns segundos tentando falar com o homem, pois ele não falava inglês e por sua aparência parecia falar algo como o grego, uma simpática aeromoça conseguiu resolver tudo com eficiência. A mulher, que se chamava Lucinda, acomodou-se com um ar de total felicidade ao lado de Edward e logo travou uma conversa animada com ele.

Isabella olhava tudo sem conseguir acreditar. “Conversar com o Mike: um problema, com uma mulher desconhecida, mas bonita, okay.” Edward cada vez mais se distanciava de ser o “amigo” que Jane tanto sugerira que eles fossem.

Depois de algumas horas de viagem, Isabella enfim adormecera. O ambiente estava escuro e quando acordou, demorou para se localizar onde estava. Olhou para seu lado esquerdo, Mike dormia tranquilamente. Olhou para seu lado direito e encontrou as duas poltronas vazias. Olhou para trás quase que automaticamente em direção aos banheiros. Nenhum sinal de Edward e de sua “acompanhante”. Ou deveria dizer amante? Um ódio em forma de adrenalina fez Isabella expirar com dificuldade. Olhou de novo para o sobrinho, tomara que ele não acordasse para presenciar isso. Que tipo de exemplo esse treinador estava sendo? Treinador não era o mesmo que professor? Onde estaria sua ética? Provavelmente no meio das pernas daquela ruiva agora.

A porta do banheiro se abriu, acendendo uma luzinha verde, Isabella fechou os olhos e tentou fingir que dormia. Um cochicho baixo... ela não aguentou e abriu os olhos. Edward segurava o cotovelo da mulher enquanto ela se sentava. E como se soubesse do olhar de Isabella ele se virou olhando diretamente para ela. Seu maxilar se retesou e havia algo em seu olhar que Isabella não soube identificar. Ela virou a cabeça para o outro lado e fechou os olhos querendo esquecer que Edward existia.

Não houve trocas de assentos, quando enfim estavam em terra firme, esperando o taxi no aeroporto do Rio, Mike foi ao banheiro e Edward finalmente conseguiu arrancar mais do que um “aham” ou “não, obrigada” de Isabella.

– Tenho uma coisa que preciso te dizer...

– Não há nada sobre você que eu queira saber. Acho que já vi demais em menos de uma semana. Você não perde tempo mesmo e pode esquecer porque não farei parte de sua listinha de conquistas.

Edward entortou a boca num sorriso.

– Se está falando da mulher no avião...

– Aliás, bom tocar nesse assunto, aproveitando que o Mike não está aqui. Que belo exemplo, hein? Isso é o quê? Mostrar o qual viril e cafajeste um homem pode ser? Faz parte do seu treinamento?

– Sabia que você estava pensando isso. Eu não fui transar com Lucinda no banheiro. Acredite você, ela havia feito um aborto, horas antes de embarcar, passou mal e quase vomitou em cima de mim. Tonteou para se levantar e eu a acompanhei até o banheiro. Ela estava sangrando e começou a chorar. O que você queria que eu fizesse? Eu disse que chamaria uma aeromoça, mas ela tinha vergonha e não queria que ninguém soubesse, só me contou porque eu vi o sangue na saia dela. – Edward passou a mão na cabeça e soltou o ar.

– Edward, eu...

– Sim. Você foi precipitada em me julgar, “sem rótulos” lembra? Mas eu não culpo você. Eu realmente não sou um homem em que se pode confiar, eu avisei que eu não era um herói.

Mike voltou do banheiro no exato momento em que o taxi deles chegou. Edward sentou na frente, deixando Isabella e Mike admirando a paisagem no banco detrás. O trânsito estava infernal como já era de se esperar numa segunda-feira no Rio de Janeiro. Ainda mais quando o trajeto era Zona Sul/ Barra. Pelo menos a orla carioca era algo que se valia a pena o transtorno.


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