Pov. Lydia

Eu sempre desejei ter controle sobre meus dons, escutar com clareza as vozes e entender o significado do que elas falavam, mas, naquele momento, tudo o que eu queria era não entender e me esconder na ignorância, calar os pressentimentos de morte que me atormentavam.
As vozes não paravam de falar em minha mente, elas começaram a sussurrar com o tom rouca assim que eu acabei de levar os pontos na barriga, elas alertavam o perigo que o humano corria, me avisam sobre a morte e a dor que se aproximava dele e então, de repente eu escutei a voz do própria Stiles.
Seu grito agoniado invadiu meus pensamentos atordoados e a dor em seu berro fez com que as lágrimas escorressem convulsivamente de meus olhos. De alguma forma eu pude sentir a dor que ele sentia, o que me fez gritar de pavor.
Scott me abraçou segundos depois tentando me acalmar inutilmente, mas eu estava em desespero, chorava e gritava sem a parar, a dor e o medo me atingindo.
– Eu posso sentir a morte se aproximando dele Scott.- Falei entre soluços.- Stiles... Meu Stiles, eu consigo o sentir claramente, sentir a sua morte. As vozes me alertaram do perigo que ele está correndo.- Não consegui contar que escutava o grito do humano, pois estava aterrorizada.
Vi de relance Melissa se aproximar de mim, ela e Scott pareciam conversar ao meu lado, mas a única coisa que conseguia escutar era o grito de Stiles sangrando em minha mente, a sua voz rouca era agoniada e desesperada, seu berro só era interrompido por soluços de choro. O som era tão claro que eu quase podia ver sua expressão de dor, ver seus olhos cor de ouro se derretendo em lágrimas.
Meu corpo tremia em colapsos de agonia, minha cabeça explodia de dor com o som agoniado em meus ouvidos e meus braços e pernas se contorciam com dores fantasmas, sentindo garras e socos que não estavam acontecendo.
Minha visão embaçada se tornou ainda mais indistinta quando uma pequena senti uma pequena picada no meu braço, olhei grogue Melissa com um seringa espetada em mim.
Minhas pálpebras se tornaram muito pesadas. A inconsciência me dominou.

#Abertura#

Abri meus olhos assustada, sentindo meu corpo melado de suor e a respiração ofegante, olhei para os lados desorientada e precisei de alguns segundos para lembrar de tudo o que aconteceu.
A lembrança do breve beijo com Stiles que foi brutalmente interrompido fez uma lágrima escorrer pelo meu rosto, até eu ter consciência de que não estava sozinha, Melissa me observava de longe e logo um alivio imenso me atingiu ao perceber o quanto o quarto estava silencioso, não havia nenhuma voz, nenhum som, ao não ser o da minha respiração.
– Meus pais vieram?- Perguntei repentinamente ao me dar conta de que eu devia estar há muito tempo fora de casa.
– Não, eu liguei avisando a eles, mas disse que você estava bem e como estavam trabalhando...- Ela não precisou terminar a frase, eu sabia que eles não preocupariam tão facilmente comigo, mas me sentia tão vulnerável e sozinha que aquilo soou como um soco no estômago.
– Descobriram mais alguma coisa? Falei e a mulher hesitou, parecendo analisar o meu estado. Pode falar, eu estou bem melhor.- Menti.
–Malia perseguiu o homem que o sequestrou e descobriu que estava o levando até Kate, mas ela não conseguiu impedir que ele fugisse e agora ela e Scott foram se encontrar com Derek para achar uma solução.
– O levaram até ela por minha causa.- Falei vagarosamente, engolindo em seco e Melissa me olhou surpresa.- O lobisomem me agarrou, mas Stiles se colocou na minha frente, ele me salvou e então...- Não terminei a frase e a enfermeira veio até mim e me abraçou.
– Você pode falar para o Xerife exatamente o que aconteceu? Vai ser importante para ele ouvir de você.
Assenti com o rosto e ela saiu rapidamente do quarto. O Senhor Stilinski chegou com sua postura de xerife, mas o rosto inchado e o olhar desolado mostrava seu desespero, apesar de ter ser mantido firme enquanto eu contava o que aconteceu.
Omiti o motivo de estar no meio da floresta, apenas disse que era algo de Banshee e ele pareceu entender, também não falei que vi Malia nua na cama de Stiles, nem que eu o havia o beijado, pois queria guardar aquilo somente com ele.
– Ele te deu isso?- Foi a primeira coisa que o xerife falou após eu contar a história.
– O que?
– O colar.
Olhei para baixo e vi o delicado colar com pingente de coração que pendia em meu pescoço, estava tão acostumada a sempre o usar que não havia percebido que estava com ele, o colar que Stiles me deu na festa de boas vindas. Meu coração se contorceu com a lembrança e eu enrosquei a mão sobre o pingente gelado, como se de alguma forma tivesse algo de Stiles ali que pudesse me reconfortar.
– Foi, é que eu sempre durmo com ele.- Murmurei baixinho.
– Ele te amo de verdade, você sabe disso não é?- A colocação me sobressaltou e eu olhei surpresa.- Se eu conheço meu filho aposto que ele não disse o quanto esse colar é importante na sua vida, deve ter fingido que não é nada de mais.- Ele soltou uma risada triste e rouca.- Era da mãe dele, ela estava usando quando morreu e a primeira coisa que Stiles fez foi pegar do seu pescoço. - Ele deu uma longa pausa, antes de continuar a falar, parecia perdido em lembranças. A partir da morte da Claudia que ele começou a ter ataques de pânico e a única coisa que o acalmava era esse colar, pois era ultima lembrança que ele tinha dela.- O xerife esfregou a mão no olho e foi para perto da porta.- Depois ele apelidou o colar de minha pequena força, para ele ter dado isso a você, quer dizer que é a nova força dele.
Não soube o que dizer ou pensar, apenas fiquei paralisada vendo o xerife sair do quarto. Meu estômago se contorceu de agonia e meus olhos arderam com novas lágrimas, eu sentia um desejo desesperador de me jogar nos braços do humano.
Fiquei mais um tempo deitada em silêncio e Kira entrou no quarto pouco depois para me fazer companhia. Fiquei grata por ela estar ao meu lado sem querer dizer que estava tudo bem, nem tentando me animar, ela apenas respeitava meu silêncio e ficava próxima a mim, me dando apoio. Nós apenas encarávamos nossos celulares, esperando uma ligação de Scott falando qualquer noticia de Stiles, mas a noticia veio da forma que menos esperávamos.
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Pov. Stiles

Eu estava estirado no chão frio e empoeirado e apesar do vento gélido me atingir, o suor pingava da minha testa. Não ousava levantar a cabeça, pois escutava os passos de Kate próximos a mim e temia ter que a encarar novamente, preferia a sensação do meu nariz e lábios espremidos contra o piso quebrado e irregular, ferindo minha pele, liberando pequenas gotas de sangue que se acumulavam no chão.
– Não se preocupe querido, eu já vou voltar.- A voz de Kate era suave e casual, mas a ameaça por trás das suas palavras me fez estremecer.
Escutei o som de uma porta se abrindo e fechando logo em seguida e eu permaneci imóvel, não tinha forças para me mover, meu corpo estava destruído e pesado. A dor em meu estômago parecia ser capaz de me perfurar ao meio, meus braços e pernas estavam flácidos após ficarem presos pelas correntes, o sangue da minha gengiva aberta escorria pelos meus lábios e minha garganta queimava como ácido.
A Argent havia espancado meu estômago , logo após ter me mordido e começou a me açoitar com fúria, ainda podia sentir a força sobrenatural de suas mãos me deixando sem ar ao atingir minha barriga, o que fez com que depois de um tempo interminável apanhando e eu começasse a vomitar furiosamente, meu estômago se revirou e expeliu todo alimento que eu tinha, ardendo em minha garganta e sendo despejado ruidosamente pelos meus lábios. A caçadora ficou irada com isso e me deu um soco na boca, imediatamente cuspi sangue e senti a dor da minha gengiva se romper.
Fui golpeado por mais minutos intermináveis antes de finalmente ser solto das correntes e desabar no chão, por cima dos meus próprios detritos, onde permanecia paralisado, as lágrimas começavam a escorrer dos meus olhos e a humilhação fazia meu corpo tremer involuntariamente.
Logo as poucos lágrimas se transformaram em um choro ruidoso, a dor e o medo se agitavam dentro de mim quando um pensamento frágil de esperança me atingiu ao sentir o pequeno volume no bolso do meu jeans. Movi a mão dolorasemente até meu bolso e peguei meu celular que de alguma forma ainda estava comigo, Kate não devia ter se preocupado em me revistar já que tinha os dons sobrenaturais ao seu favor.
Disquei debilmente o número da única pessoa que me trazia esperança naquele momento: Lydia. Espremi o celular contra a orelha e me virei para ficar com a barriga para cima, um gemido dolorido escapou da minha boca com o esforço de me virar no mesmo instante em que escutei a voz fragilizada da Banshee.
– Stiles?
– Lydia.- Falei seu nome soluçando e chorando, escutar sua voz fez com que corpo tremesse ainda mais, meu coração se retorceu de ansiedade para ver-la, precisava dela comigo e me certificar de que estava segura.
– Ó meu Deus! Stiles, me diga onde você está! Você está bem? Fala qualquer coisa para que possamos te ajudar!- Ela chorava e se atropelava nas palavras falando rápido demais, desesperada.
– E-eu não s-sei onde estou, só quero sair daqui!- Solucei desolado olhando para todos os lados, tentando distinguir algo na luz fraca- P-parece a-lgum tipo de g-galpão- Eu ainda gaguejava a última palavra quando vi a porta se abrir, fiquei desesperado para encontrar qualquer informação do lugar, mas estava completamente desorientado - E-ela chegou.
Os olhos de Kate brilharam de raiva e eu não tentei esconder o celular, não havia tempo, meus olhos corriam pelo lugar tentando achar algo diferente, mas o galpão era vazio a não ser a grade e as correntes que estive preso. A caçadora colocou no chão uma bacia de água que carregava e fechou a porta com fúria, mas não antes de eu conseguir ver árvores densas do lado de fora.
– É em uma floresta!- Falei aflito interrompendo os chamados desesperados de Lydia.- Por favor não!- Gritei quando a mulher agarrou meu cabelo revolto pela raiz, pegou meu celular, pôs no viva voz e começou a me arrastar pelo chão.
Soltei um grito de dor ao ser puxado pelo cabelo e escutei os gritos de Lydia do outro lado da linha, ela berrava o meu nome. Fui arrastado até a bacia com água e antes que pudesse raciocinar minha cabeça foi impulsionada para baixo, afundando na água que invadiu minhas narinas. O ar escapou dos meus pulmões e tentei inultimente respirar, me mexia compulsivamente e forçava a cabeça para cima, mas a mão restrintiva de Kate me mantinha mergulhado.
Quando a falta de ar se tornou insuportável, um forte puxão me trouxe o fôlego novamente, arfei desesperado e gritei quando a Argent agarrou novamente meu cabelo e forçou para cima, fazendo com que eu erguesse a cabeça em sua direção e senti a dor do meu cabelo ser arrancado pela raiz, logo em seguida ela olhou com nojo para um grande tufo de cabelo sujo de sangue em suas mãos.
– Essa água era para você beber seu ingrato, mas já que quer tanto ligar para a sua amiginha, o que você acha dela escutar seus gritos enquanto quebro seus ossos?- A expressão de Kate era animalesca, ela rosnou com fúria na minha direção e atingiu meu corpo com suas garras fazendo com que uma nova dor me atingesse e logo desabei no chão, de frente para ela, ainda tentando encontrar fôlego.
A mão da caçadora agarrou meu braço esquerdo e começou a apertar, sua pele se tornou azul e ela rosnou mostrando as presas no mesmo momento em que escutei um estalo no meu braço. Não pude conter o grito de dor ao sentir as garras de Kate perfuraram minha pele, a dor se espalhava pelo meu corpo me fazendo soluçar em um choro humilhante.
– Lydia, escute os gritos dele, tudo isso é culpa sua, seria tão mais fácil se você estivesse aqui comigo....- A caçadora forçou ainda mais meu braço me fazendo gritar mais alto.- Você já deve ter sentido a morte dele não é mesmo? As vozes já lhe disseram o quanto eu vou tortura-lo antes de acabar com a sua vida? Ele vai implorar pela morte.
Eu queria ter força para calar meus gritos, queria ter coragem de dizer que estava bem, desejava desesperadamente acalmar Lydia para que seu chorro se cessasse, mas a dor era insuportável e eu gritava sem parar por nenhum instante, escutando do outro lado da linha Lydia chorando e implorando para que a caçadora parasse de me fazer gritar.
– Eu me rendo!- A Banshee falou soluçando- Por favor! Eu faço qualquer coisa, vou deixar que use os meus dons, por favor me leve com você, mas o solte.
– Lydia não!- Falei rouco e Kate me olhou com desaprovação, soltou meu braço e atingiu meu rosto me fazendo arfar ao sentir sua garra arranhar minha bochecha.
– Espere minha ligação!- A Argent respondeu ainda me encarando e encerando a chamada.

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Pov.Lydia

A ligação foi encerada e eu imediatamente me levantei da cama de hospital, minha barriga ainda estava dolorida pelos pontos, mas eu ignorei e sai do quarto lutando para secar as lágrimas, deixando Kira estatelada me encarando assutada.
– Lydia onde você vai?- Kira me perguntou me seguindo, ela chorava discretamente, mas parecia tentar se controlar por minha causa.
– Eu já havia escutado esse grito, exatamente igual.- Murmurei zonza e finalmente encontrei Melissa- Eu preciso ser liberada agora.
A mulher pareceu confusa, mas concordou, afinal eu só havia levado pontos, não tinha nada que me prendesse ao hospital. Pedi a Kira que contasse ao Scott o que aconteceu e fosse até ele para ajudar, demorou um pouco para convece-la de me deixar sozinha após aquela ligação, mas depois de um tempo ela finalmente foi para o loft de Derek, enquanto eu fui direto para a clinica veterinária.
Durante o trajeto finalmente consegui parar de chorar, coloquei uma música calma no carro e tomei um comprido para dor de cabeça. Por dentro eu me sentia quebrada e devastada, mas uma determinação cresceu dentro de mim durante a ligação, eu salvaria Stiles de qualquer maneira e para isso eu precisava ser forte, não ia ficar parada chorando enquanto ele era torturado. Eu ia lutar por ele.