Lover Eternal - por Demetri Volturi escrita por Bia Kishi


Capítulo 8
Capítulo 8 - A Mesma de Antes ***Satine


Notas iniciais do capítulo

Ele parou, ainda me segurando com o corpo. Seus olhos percorreram meu rosto e desceram. Ele me olhava com encantamento e estranheza, como se não pudesse acreditar no que via. Demetri acompanhou o desenho dos meus seios sob a camisola, desceu o olhar até minha cintura, prensada no chão pela dele próprio. Minha coxa nua estava sobre a perna dele, segurando ainda mais o seu corpo contra o meu. Ele liberou uma mão da minha cintura e escorregou pela pele da minha coxa, de cima para baixo e voltou para cima novamente. Apoiando meu quadril. Eu fechei os olhos e senti. Seu toque era tão forte e tão intimo. Algo que eu nunca havia sentido.



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            Quando Demetri fechou a porta do quarto, eu finalmente pude deixar de fingir. Eu não estava dormindo como ele imaginou, mas eu sabia que ele nunca admitiria que me desejava. Eu não podia julga-lo. Demetri era um homem justo e honesto e eu o amava exatamente por isso.

            Eu fiquei deitada na cama, esperando que o sono viesse, enquanto sentia meus lábios queimando pelo toque dos dele. Tudo bem que eu sou boba e inexperiente, mas eu sabia exatamente o que Demetri me fez sentir.

            Não importa o que eu fizesse, eu não conseguia esquece-lo. Minha mente vagava por mundos desconhecidos. Eu o imaginava vindo até o meu quarto. Eu o imaginava abrindo a porta e entrando á passos lentos. Imaginava que ele pegaria a minha mão e me tiraria da cama para seus braços. Ai meu Deus! Eu tentei me concentrar, afastando os pensamentos.

            Já era quase madrugada, quando eu desisti de ficar no quarto. Eu me levantei ainda de camisola e desci as escadas. O castelo estava vazio e silencioso. Eu fui até a cozinha e peguei um copo de água. Lá fora, no jardim, uma luz tremia de um lampião á gás. Havia alguém ali. Eu focalizei minha visão – era Demetri. Eu não pude deixar de olhar mais. Ele estava no jardim dos fundos, usando apenas uma calça preta enquanto treinava golpes de luta.

            Deus sabe que paciência não é uma virtude minha! Era pedir demais que eu não fosse até lá. Afinal, era uma situação perfeita demais para ser desperdiçada. Eu precisava entender meus sentimentos por ele. Precisava saber o tipo de amor que eu sentia por Demetri. Eu precisava disso. Ali, sozinho no jardim, não havia nada que me impedisse de tentar.

            Eu andei bem devagar. Demetri era um bom rastreador, mas eu muito boa em encobrir rastros. Caminhei contra o vento por todo o tempo. Ele estava tão absorto em sua luta que não percebeu minha aproximação. Eu parei perto do lampião e apaguei a luz. Seria mais difícil sermos vistos assim. Ele virou-se para mim. Embora ele não pudesse me ver perfeitamente, ele sabia exatamente onde eu estava. Ele aspirou o ar com cuidado e sorriu.

-           Precisa de companhia para treinar, general?

Demetri não se moveu, ele também não respondeu a pergunta.

-           Não acha que já passa da hora de crianças estarem na cama, minha senhora?

Eu também não respondi, ao invés disso, eu andei até ele. O vento me trazia o cheiro do corpo de Demetri. O suor e o perfume da pele dele estavam me deixando tonta. Eu o provoquei.

-           Está com medo de perder para uma mulher?

-           Jamais.

-           Então prove.

-           Se eu te deixar brincar disso, você promete que volta para a sua cama?

-           E se eu ganhar, general. Qual será o meu prêmio?

      Demetri sorriu maliciosamente para mim.

-           Se você ganhar, pode me pedir o que quiser.

-           Tem certeza?

-           Absoluta.

Eu me movi o mais rápido que eu pude e tentei golpear Demetri pela esquerda. Ele agarrou meu braço e o imobilizou. Eu era forte, mas não era exatamente uma lutadora. Tentei girar o corpo e o atacar pelo outro lado, ele me segurou novamente. Seus braços prenderam os meus como barras de ferro, eu não podia me mover. Demetri me imobilizou pelas costas. Seu corpo firme, apertado contra o meu. Suas mãos cruzando as minhas sobre meu próprio corpo.

Eu fiquei ali, parada, sem me mover por algum tempo. Era estranho e muito, muito bom. Eu sentia o corpo dele contra o meu, através do tecido fino da minha camisola. Minha respiração estava acelerada e eu não sabia se era exatamente por causa da luta. Demetri aproximou o rosto do meu pescoço e respirou. O ar que veio até mim, arrepiou meu pescoço. Ele relaxou os braços, descendo suavemente as mãos até os meus cotovelos, minha cintura. Devagar, devagar. Então de repente, ele não estava mais me segurando. Ele estava me tocando. Eu sorri para mim mesma – era a minha chance.

Virei de uma vez só e o golpeei no ombro, Demetri fraquejou.

-           Isto é traição. Eu estava distraído.

-           Errado general! Cada um usa as armas que tem.

      Ele sorriu.

-           Satine, Satine. Sempre a mesma.

            Eu o peguei desprevenido pela costa e dei uma chave de braço nele.

-           Engano seu, eu mudei muito.

Demetri caiu, mas me levou junto. Minha camisola enroscou no galho de um arbusto e se rasgou, até a coxa. Demetri me imobilizou, colocando o corpo sobre o meu.

Eu tentei escapar, tentei me virar. Quanto mais eu me mexia, mas ele apertava o corpo contra o meu.

Eu tentei empurra-lo com a minha coxa, mas ele era muito bom lutando. Era como me livras de algemas de metal.

Ele parou, ainda me segurando com o corpo. Seus olhos percorreram meu rosto e desceram. Ele me olhava com encantamento e estranheza, como se não pudesse acreditar no que via. Demetri acompanhou o desenho dos meus seios sob a camisola, desceu o olhar até minha cintura, prensada no chão pela dele próprio. Minha coxa nua estava sobre a perna dele, segurando ainda mais o seu corpo contra o meu. Ele liberou uma mão da minha cintura e escorregou pela pele da minha coxa, de cima para baixo e voltou para cima novamente. Apoiando meu quadril. Eu fechei os olhos e senti. Seu toque era tão forte e tão intimo. Algo que eu nunca havia sentido.

Eu escorreguei minhas mãos por suas costas, sentindo, tocando. Demetri ofegava sobre mim. Sua boca tão perto do meu pescoço que eu sentia o ar gelado na minha pele. Ele a aproximou mais, tocando meu pescoço com os lábios, devagar. Sua língua tracejou a extensão da minha jugular. Eu podia sentir meu sangue pulsando com seu toque. Ele suspirou profundamente e sussurrou.

-           Seu cheiro, santo Deus. Ele me deixa completamente fora de mim.

            Eu não respondi. Minhas mãos o puxaram mais. Demetri pôs o rosto á centímetros do meu. Sua boca se aproximou da minha. Ele fechou os olhos e eu quase pude sentir o toque frio de seus lábios. Ele parou. Com os olhos fechados, Demetri suspirou novamente.

-           É isto. Eu ganhei. Agora você vai para a cama.

            Demetri se levantou e me puxou junto, colocando-me em pé. Eu sentia ódio puro me queimando. Como ele podia fazer aquilo comigo? Eu não conseguia entender. Em um minuto, ele ia me beijar e em outro, agia como se eu fosse uma menininha!

            Eu engoli o ódio e me virei de costas, ajeitando o que havia sobrado da minha camisola arruinada. Não olhei para trás, embora sentisse seus olhos me queimando.

            Quando entrei no quarto, eu estava tão brava, tão brava que chegava a doer. Eu estava suja e descabelada, parecendo um trapo. Penteei o cabelo para tirar as folhas e o prendi em um rabo de cavalo bem alto. Deixei o que sobrou da camisola cair no chão e entrei na banheira. A água estava quente e perfumada. Eu entrei nela e fechei os olhos. Meu pensamento passeou devagar. Tantas sensações estranhas estavam em meu corpo. Eu sentia o cheiro dele. O cheiro dele ainda estava em mim, na minha pele. Eu sentia o peso do corpo dele sobre o meu, sentia a sensação da sua pele fria. Seu toque. Eu quase podia sentir o gosto dele. E eu queria mais. Eu queria muito mais, muito mais dele. Eu queria sentir a pele dele sobre cada pedaço da minha. Queria suas mãos me tocando, apertando minha carne contra a dele.

-           Satine? Você está dormindo?

            Ai meu Deus, ai meu Deus! Eu abri os olhos percebi o que estava fazendo. Eu era mesmo uma idiota. Deitada ali naquela banheira, tocando o meu próprio corpo feito uma boba e pensando em alguém que nem mesmo me queria! Coisa bem besta de se fazer. Eu me concentrei e respondi.

-           Ah, bem, ah... Eu estou no banho. Quem é?

-           Sou eu querida, Marcus. Posso falar com você um pouco?

            Ah isto sim é perfeito! Será que Marcus havia visto alguma coisa? Como é que eu iria explicar uma cena daquelas? Sim porque se alguém viu, não ia nem de longe, pensar que nós estávamos brigando.

-           Claro, só, bem... Espere um pouco.

            Eu saí da banheira e me enrolei em um roupão de algodão. Quando abri a porta, o rosto de Marcus era totalmente incompreensível. Ele entrou no quarto e sentou-se na poltrona.

-           Está tudo bem?

-           Sim!

            Eu respondi rápido demais, o que era um forte indício de mentira. Marcus não conseguia ler meus sentimentos, mas ele me conhecia bem o suficiente para ler os meus olhos.

-           Pensei ter ouvido barulhos lá fora. Quando me levantei vi apenas Demetri lutando.

            Os olhos de Marcus andaram pelo quarto todo e detiveram no montinho de cetim despedaçado no canto. Ele não disse nada, mas seus olhos me mostravam que ele sabia mais do que me dizia. Embora fosse praticamente impossível, eu tentei explicar.

-           Eu só estava sem sono. Sai para tomar um ar e vi Demetri. Estava escuro e eu tropecei – resposta totalmente idiota, porque Marcus sabia exatamente o quão bons eram meus sentidos e reflexos, mas eu precisava tentar – minha camisola se prendeu em um arbusto e Demetri me ajudou, foi isto.

-           Claro. Foi o que eu pensei.

            Eu sorri, tentando fazer cara de inocente. Marcos levantou-se e me beijou na testa.

-           Está tudo bem agora?

-           Claro – eu falei entre um bocejo, erguendo meus braços para me espreguiçar.

-           Tenha bons sonhos, querida.

-           Obrigado Marcus.

            Marcus deteve a mão em meu rosto – era tão difícil mentir para ele. Eu segurei sua mão entre as minhas sorri. Marcus sorriu comigo.

-           Querida, sabe que pode contar comigo sempre, não é?

-           Sim, eu sei.

            E eu sabia mesmo. Marcus sempre me compreendia. Ele se levantou e caminhou suavemente até a porta, antes fechá-la, ele sorriu e falou:

-           Sabe o que é curioso, querida? Demetri parecia bem nervoso quando passou por mim. Deve ter sido mesmo um arbusto bem grande!

            Marcus fechou a porta e eu fiquei me sentindo ainda mais idiota. Obviamente, a história de “tropeçar num arbusto” não ia colar. Eu me vesti e tentei salvar o que restava da noite, dormindo!    

            Acordei com um dia escuro e nublado, o que não era normal naquela época do ano. Eu mês espreguicei e levantei da cama, caminhando até a janela. Abri a cortina para olhar a vista da cidade.

            Volterra era um amontoado de casinhas de pedra e tijolos, mas era onde eu me sentia em casa. Respirei fundo e enchi os pulmões com o cheiro da Toscana. Tinha cheiro de campos de Lavanda e madressilvas. Eu me lembrei de Filomena. Durante o tempo que passei na França, eu me lembrei dela á cada dia. Filó havia sido muito mais que uma babá, ela havia sido tudo que eu sabia de mãe. 

            Desci as escadas tranqüilamente, eu não tinha pressa nenhuma de encontrar Demetri. Na verdade, eu não tinha mínima idéia do que ia dizer – ou fazer – quando o encontrasse.

            O grande salão estava cheio. Praticamente todos estavam lá e foi realmente estranho olhar todos eles de uma só vez. Acho que não foi diferente para eles, porque eu pude perceber o susto no rosto de cada um que eu ainda não havia visto. Renata sorriu e veio até mim.

-           Satine, querida. Como você está linda!

Eu a abracei carinhosamente – Renata e eu sempre fomos próximas.

-           Obrigada! É bom vê-la, Renata.

-           É bom vê-la em casa também.

      Aro caminho até nós duas e colocou as mãos sobre nossos ombros.

-           É muito bom ver minhas meninas se dando tão bem!

Heidi estava no canto da sala, ao lado de Demetri – o que me irritou imensamente – ela não falou comigo, mas me olhou o tempo todo.

            Aro me deu o braço e eu caminhei com ele até o trono, onde estavam Marcus e Caius.

-           Papa, tenho um pedido á fazer.

-           É claro querida, diga.

-           Preciso ir até a cidade. Tenho algumas necessidades que precisam ser sanadas.

Caius me interrompeu.

-           Creio que temos tudo de que precisa aqui mesmo, doce Satine.

Eu suspirei fundo – já estava me esquecendo o quanto ele conseguia ser irritante quando queria. Fiz um olhar doce e meigo e olhei direto nos olhos de Aro.

-           Eu preciso de café. Acaso temos café aqui no castelo?

-           Não que eu saiba – Aro respondeu sorrindo.

-           Papa, eu preciso de comida humana – eu fiz uma pausa para dar ênfase ao final da frase – e eu queria muito visitar Filó. Já faz tanto tempo. Você sabe que eu devo a ela minha vida.

Aro acariciou meu rosto.

-           Sim querida, eu sei. Sei também que precisa de coisas que não temos aqui, mas não posso permitir que vá á cidade sozinha.

Minha mente se acendeu.

-           Eu não preciso ir sozinha, Demetri pode ir comigo.

Eu me virei e olhei para ele. Demetri não se moveu. Os olhos de Heidi faiscavam de ódio – o que, confesso, me deixou de extremo bom humor.

            Caius bateu as mãos na mesinha de madeira e se levantou da poltrona.

-           É um absurdo! Você não deve ficar por aí, andando entre os humanos!

Eu paguei a mão de lê e levei um pouco acima do decote do meu vestido, onde era possível sentir o batimento do meu coração.

-           Sente? Eu sou humana também, Caius. Eu estou viva.

Caius subiu a mão com suavidade pelo meu rosto. Seu toque era frio e delicado. Ele era um homem bonito e muito refinado, embora fosse muito egoísta e arrogante.

            Seus olhos eram totalmente meus, assim como toda a sua atenção. Ele dirigiu as palavras á mim, como se mais ninguém estivesse na sala. Suas palavras eram doces e muito sensuais.

-           Diga o que precisa, minha princesa, e eu mesmo mandarei buscar. Não lhe faltará nada do que deseje, nunca.

Por um segundo, eu me detive em seus olhos profundos. Um segundo, porque Marcus o interrompeu.

-           Não vamos encarcera-la aqui, irmão! Se Satine deseja sair, então é sairá. Ela não é uma prisioneira, ela é uma de nós.

-           Eu não quero vê-la exposta a nenhum tipo de ameaça. Irmão.

-           E é por isso que o general irá acompanha-la.

Eu quase sorri. Respirei bem devagar, tentando manter minha boca em uma linha reta.

-           Assim será – Aro disse, não permitindo negociação.

No mesmo instante, as mãos de Caius caíram do meu rosto. Ele cerrou os punhos e voltou para o seu lugar.

      Aro gesticulou para Demetri.

-           Demetri. Venha até aqui.

            Ele caminhou com desenvoltura e graça, sem encontrar meus olhos. Eu precisei me concentrar ainda mais para não sorrir, quando olhei nos olhos de Heidi. Ela era a imagem do desconsolo.

-           Sim mestre.

-           Acha que pode manter Satine protegida.

Demetri não olhou para mim, mas suas palavras eram mais sinceras até do que eu gostaria.

-           Não importa o quanto me custe, mestre.

      Eu sabia que era verdade, ele me mantinha protegida até dele mesmo.

-           Hey, ninguém me convida para a reunião?

-           Se você não passasse a noite toda pelas tavernas, saberia que nos reunimos logo de manhã – Caius praguejou para Félix.

-           Parece que alguém não teve seu sono de beleza – Félix respondeu baixinho.

      Seus olhos me encontraram e ele caminhou em frente, até estender a mão e segurar a minha.

-           Você sem dúvida teve o seu, docinho. Você está absolutamente maravilhosa!

            Eu me lancei em seus braços. Félix era meu amigo, e as coisas não iam mudar apenas porque eu fiquei adulta.

            Ele apertou meu rosto contra seu peito e beijou minha testa.

-           É bom acordar vê-la aqui, enchendo esta sala de vida.

-           É bom estar aqui.

Aro não teve nenhuma reação ao meu abraço em Félix. Ele, como a maioria, já estava acostumado. Caius torceu o nariz, como se Félix tivesse acabado de levantar de um monte de coco de vaca, mas eu já esperava por isso também. O que eu não esperava foi á reação de Demetri. Ele simplesmente fuzilou Félix com os olhos e virou-se para mim. Suas palavras eram secas e ríspidas, como se ele quisesse me bater, ao invés de falar.

-           Quando estiver pronta, minha senhora, mande me avisar.

Eu senti meus olhos enchendo e tentei reprimir, respirando mais rápido – a ultima coisa que eu queria era chorar na frente de Demetri. Félix pegou minha mão e sorriu.

-           Não se preocupe, ele não morde tanto assim! Além disso, eu trouxe uma coisa para você.

      Eu sorri.

-           O que é?

Félix pegou uma sacola na mesinha e tirou um saquinho escuro de dentro. No mesmo instante o aroma encheu meu nariz, afastando as lágrimas.

-           Café!

-           Me disseram na cidade que era bom, eu achei que você gostaria. Vamos até a cozinha prepara-lo.

Félix pegou minha e me levou até a cozinha. Eu não olhei para traz, não procurei por Demetri. Não importa o que ele sentia em relação ao meu crescimento, isso não dava a ele o direito de ser grosso comigo.

            Eu preparei o café e me servi de uma xícara. Félix havia trazido ainda dois pãezinhos de milho quentes e fofos. Puxei uma cadeira e me sentei ao lado dele.

-           Você pensou em tudo.

      Ele sorriu presunçoso e jogou os braços para traz, espreguiçando-se na cadeira.

-           Eu sempre penso, docinho. Eu sempre penso.

-           Félix, obrigado. E me desculpe.

-           Desculpar? Pelo que?

      Eu baixei meus olhos.

-           Por Demetri.

-           Não foi sua culpa. Olha, não se preocupe. Demetri é assim mesmo, quando se trata de você. Ele morre de ciúmes de qualquer um. Ele a ama.

-           Não estou mais tão certa disso.

      Félix ergueu meu queixo com sua mão grande.

-           Satine, eu conheço Demetri á muito tempo. Sei bem o que esperar dele e o que não esperar também. Ele a ama tanto que não sabe lidar com o que sente.

            Eu mantive meu olhar.

-           Félix, o que você vê quando olha para mim?

-           Uma linda mulher – ele respondeu imediatamente.

-           E isso te incomoda?

-           De maneira nenhuma.

-           Você me acha atraente?

Seus olhos percorreram a extensão do meu corpo todo, em um segundo. Félix abriu um pouco os lábios, quase sorrindo.

-           Completamente.

-           Demetri não acha.

Eu não disse como uma pergunta, disse como uma constatação. Félix soltou uma risada sarcástica.

-           Não foi o que eu vi ontem, no jardim.

Eu senti minhas bochechas corarem, como se alguém tivesse acendido uma fogueira nelas. Baixei minha cabeça na mesma hora. Uma coisa era fazer o que eu fiz sozinha com Demetri no escuro. Outra, completamente diferente, era ter platéia.

Eu não sabia o que dizer e não conseguia olhar para Félix. Ele tornou as coisas mais fáceis. Levantou-se e me beijou no alto da cabeça.

-           Não se preocupe. Ninguém mais viu.

Félix saiu e de repente, meus pãezinhos de milho não estavam mais com o mesmo sabor. Eu deixei o segundo pela metade e subi as escadas para o meu quarto.

Quando fechei a porta e tirei o vestido, eu fiquei me olhando no espelho. As palavras de Félix dançavam em minha mente. Ele me achava atraente, o que era no mínimo interessante, se você pensar que ele tinha me carregado no colo, literalmente. E o mais importante, ele havia percebido algo entre eu e Demetri. Desejo, talvez? Por que sem dúvida nenhuma, ficar se agarrando na grama do jardim, não pode ser amizade! Um sorriso escapou dos meus lábios.

Eu coloquei uma saia de seda azul marinho bem acinturada, e um corpete sem alças preto. Ajeitei meus seios dentro da blusa para que ficassem bem marcados. Um cordãozinho de ouro branco com um pingente de água marinha – presente de Vitor – finalizava o visual, pendendo delicadamente, até quase se perder em meu decote.

Quando a criada entrou para arrumar o meu quarto, eu a chamei.

-           Por favor, diga ao general que eu estou a sua espera.

Eu desci as escadas devagar. Ele estava lá, no pé da escada, me esperando. Seus olhos brilhavam em carmim e sua pele reluzia. Ele não sorriu, mas não deixou de me olhar. Eu sentia a intensidade de seus olhos em mim.

      Ele dobrou o corpo e segurou minha mão.

-           Vamos, minha senhora. O carro a aguarda.

-           Se não se importa, eu gostaria de caminhar.

-           Como quiser, minha senhora.

Se eu não estivesse tão irritada, talvez até achasse graça em todos estes “minha senhora”, mas naquele momento, isso me irritava profundamente.

Nós dois andamos pelas ruas de Volterra, protegidos pelo dia nublado. Entramos em alguns armazéns e compramos tudo que eu precisava, um criado de Aro se encarregou de levar as compras ao castelo. Eu me sentei na praça enquanto tomava uma xícara de chá, olhando o movimento das pessoas. Em nenhum momento, os olhos de Demetri encontravam os meus. Eu estava chateada, magoada e muito, muito irritada.

-           Vai ficar me ignorando o dia todo?

-           Eu não estou ignorando você.

-           Está sim! E isso não é nem um pouco delicado.

-           Desculpe. Eu não sou tão elegante quanto o mestre Caius.

Isso me irritou! Eu fiquei tão brava que poderia gritar! Mas é claro que eu não faria. Eu não daria este gostinho a ele.

-           Este é o problema então. Eu não posso ser admirada por ninguém.

Ele se levantou de repente e começou a caminhar.

-           Vamos para a casa de Filomena, já está ficando tarde e eu tenho muitas coisas para fazer.

-           Como se divertir com as suas amantes?

Okay, eu peguei pesado, mas o que eu podia fazer? Eu estava irritada e ele não estava facilitando as coisas.

Demetri parou e virou a cabeça para traz, olhando para mim.

-           Não vou discutir isso com você. Você não tem idade para este tipo de coisa.

      Senti meu rosto queimar – se ele tivesse me dado um soco, não tinha doido tanto!

Eu não disse mais nada, Demetri também não. Nós dois caminhamos como dois estranhos até a casa de Filó.

Quando ela abriu a porta eu me joguei em seus braços. Filomena me segurou junto dela por um longo tempo. Acariciando meu cabelo.

-           Minha menina! Como está linda.

-           Ah Filó, eu senti tanto a sua falta.

-           Eu também.

            Nós entramos e nos sentamos na cozinha. Filó havia acabado de assar um bolo de laranja e eu comi um pedaço bem grande ainda quente. Demetri permaneceu mudo, no canto da cozinha, em pé, olhando o nada. Filomena e eu conversamos por horas. Era tão bom estar com ela novamente. Em algum ponto da conversa, ela me perguntou baixinho.

-           O que houve com ele?

      Eu não respondi tão baixinho assim.

-           Ele é um idiota insensível.

      Demetri praticamente se materializou na nossa frente.

-           Pelo menos eu sei o meu lugar!

            Eu o encarei.

-           Pelo menos eu vejo as coisas como elas são.

-           Eu vejo as coisas como elas são, o problema é esse!

-           Não Demetri Volturi, você finge que vê! Como finge que as coisas não mudaram!

Ele me olhou, e depois, desviou novamente.

-           Olhe para mim, general, quando eu falo com você! Eu nunca pensei que fosse covarde.

-           Não me provoque, menina!

-           Eu não sou mais uma menina!

Filomena interrompeu nossa discussão.

-           Vou dar uma saidinha. Fiquem à vontade. Só não quebrem nada.

Assim que a porta se fechou, a discussão continuou.

-           Você sempre vai ser uma menina para mim!

      Eu me levantei e segurei o rosto de Demetri.

-           Olhe para mim!

      Ele desviou o olhar.

-           Olhe Demetri! Por mais que você não aceite, é isto que eu sou. Eu cresci, sou uma mulher agora, e você vai ter que lidar com isso – eu baixei minha cabeça e deixei minha mão cair – pelo menos pelos próximos dias.

Demetri segurou minha mão, suavemente. Seus olhos de repente eram tão suaves e sinceros.

-           O que quer dizer com “pelo menos por alguns dias”?

-           Eu vou voltar para a França.

Eu respondi com a cabeça ainda abaixada. Seus dedos brincaram pelos meus, subindo lentamente pelo meu braço. Eu fechei meus olhos e senti o seu toque. Demetri caminhou os dedos até o meu ombro e acariciou o meu cabelo. A outra mão tracejou meu abdômen, até a cintura e ele me puxou para si. Fechando os braços em torno de mim.

-           O problema, baby, é que eu a vejo exatamente como você é.

-           E isto é ruim?

-           Eu não posso baby. Não posso sentir o que eu sinto, não posso ver o que eu vejo e – ele parou e suspirou – eu não posso querer o que eu quero.

            Eu me ajeitei em seus braços, acariciando suas costas por baixo do casaco.

-           Não é fácil para mim também. Eu também estou confusa, Demetri. Também tenho medo do que eu sinto. Eu nem sei o que eu sinto – eu fiquei na ponta dos pés e encostei minha boca em seu rosto – eu só sei que não quero ficar longe de você.

Demetri virou o rosto devagar, sua respiração estava acelerada quando ele passou os lábios pelos meus. Ele não beijou. Seus lábios ficaram nos meus enquanto ele falava.

-           Eu não posso mais ficar longe de você, baby.

-           Então vamos aproveitar melhor o tempo que temos, sem brigas.

-           Então me ajude.

-           Como?

-           Eu não sei. Faça alguma coisa. Eu só sei que este vestido não está ajudando muito – ele desviou um pouco e cheirou o meu cabelo – nem o seu cheiro.

-           Se eu rolar na lama e me vestir com roupas velhas ajuda?

Demetri sorriu e me apertou mais contra seu corpo.

-           Nem se você rolasse em estrume e se vestisse com trapos – ele beijou minha testa sorrindo – mas vamos dar um jeito em tudo.

-           Promete?

-           Sim.

      Quando Filomena voltou, Demetri e eu ainda estávamos abraçados, em silêncio.

-           Muito melhor agora!

      Filomena colocou uma mão em meu ombro e outra no ombro de Demetri.

-           Vocês dois foram feitos para estarem assim.

Naquela tarde, depois que voltamos da cidade, eu fui para o meu quarto. Apesar de tudo, eu estava feliz. Era boa a sensação de ter resolvido as coisas com Demetri. Sentimentos intensos são sempre difíceis de resolver, especialmente quando não se sabe exatamente o que significam.

Eu tomei um longo banho de banheira. Penteei meus cabelos e vesti uma camisola longa e sem mangas. Saí do closet e encarei o meu quarto – era estranho estar lá sozinha. Eu sentia falta de Demetri. Estar em Volterra e não ficar ao lado dele era muito estranho. Fiquei olhando a vista da janela. A noite já estava alta e as luzes da cidade eram fracas e mínimas. Sorri para mim mesma quando o pensamento passou pela minha cabeça – eu não precisava ficar sem ele, era só procura-lo!

Saí bem devagar pela porta central do castelo, tomando o cuidado de não ser vista. Caminhei pelo canto do muro até o lado leste – eu sabia que o encontraria lá.

Demetri estava sentado, apoiado no muro. Os olhos contemplavam a lua. As mãos escondidas dentro do manto cinza-chumbo. Eu me aproximei. Ele sorriu e abriu os braços.

-           Venha.

Eu sorri também e caminhei até ele.

Demetri me aconchegou em seus braços, por baixo do manto, cobrindo-me com ele. Eu envolvi meus braços ao redor de sua cintura e descansei meu rosto contra seu peito. Ele acariciou cuidadosamente meus cabelos, deslizando os dedos em seu comprimento.

-           Quando eu a encontrei, eu a trouxe para cá assim, envolvida em meu manto – ele sussurrou em meu ouvido.

-           Sinto falta do seu colo.

-           Não sinta. Eu sempre vou estar aqui.

Demetri ergueu meu queixo bem devagar depositou seu juramento com um selar de lábios. Por mais suave e singelo que fosse, todo o meu corpo se aqueceu em resposta. Eu fechei meus olhos e fiquei ali, sentindo o cheiro doce e confortável do meu general.

            Minha razão me dizia que ele jamais poderia ser meu. Dizia que eu precisava entender que ele jamais me veria de maneira diferente. Para ele eu seria sempre a menininha da cesta. Sempre o mesmo bebê. 

            Minha emoção, por outro lado, me dizia que eu não podia ignorar o fogo que subia por minha garganta a cada toque dele. Eu havia fantasiado tanto, eu havia esperado tanto em cada noite solitária em Paris. Nada se comparava com a verdade. Não era um amor platônico do tipo que se tem por um professor bonito. Eu amava Demetri de verdade. Meu corpo sabia disso e eu não podia ignorar, nem ele.


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