Lover Eternal - por Demetri Volturi escrita por Bia Kishi


Capítulo 7
Capítulo 7 - Os Sentimentos Mudam


Notas iniciais do capítulo

- Baby. Não acho que isto seja adequado.
— Você prometeu, se lembra? Tudo como era antes.
— Satine. Não posso ficar com você, em seu quarto. Não agora!
Ela se aproximou mais, jogando o cabelo para trás e me dando uma bela visão do decote de seu vestido. Eu não devia olhar, eu não podia olhar, mas eu não pude resistir. Eu queria olhar. Meus olhos acompanharam a curva de seu decote, seu peito movimentando-se com o respirar, aquela pele suave e cremosa, como seda esticada sobre o vidro. Eu podia sentir o veneno se acumulando em minha boca. Santo Deus, eu estava enlouquecendo!



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Quando o sol finalmente começou a desaparecer no horizonte, naquela tarde que eu havia esperado por tanto tempo, eu me sentei na poltrona de veludo branco e fechei os olhos. Dois anos haviam se passado, dois anos inteiros sem o brilho âmbar daqueles olhinhos. Naquele quarto, tudo ainda cheirava a ela. Cada detalhe, cada cor, cada brilho, cada raio que o sol poente enviava aquele lugar, lembrava-me Satine.

            Naqueles anos, longe dela, minha vida se resumiu a nada. Absolutamente um arremedo de existência sem sentido. Lutas e guerras, e sofrimentos e sangue. Era isso que eu era longe dela – um matador. Não houve um dia sequer, em todos estes anos, que eu não pensasse em minha pequena criança. Não houve uma noite sequer que eu não tenha pensado em como eu gostaria de coloca-la para dormir. Agora, eu estava ali, esperando, mas minha espera terminaria hoje.

            Félix entrou no quarto e soltou um grunhido abafado seguido de um riso debochado.

-           Companheiro quem diria!          

-           Não estou para piadinhas hoje, Félix.

-           Pois deveria! Afinal, nossa jovem senhora chegará em breve.

Eu baixei minha cabeça sobre as mãos. Félix havia tocado o ponto – eu tinha medo de encontra-la. Não que eu não quisesse vê-la, isso era tudo que eu mais queria; mas eu tinha medo do que eu encontraria. Como se pudesse ler meus pensamentos – e às vezes eu realmente achava que eu podia – Félix colocou a mão sobre meu ombro.

-           Ela está esperando por você. Você prometeu a ela.

            Eu suspirei fundo e sorri.

-           Não acha mesmo que eu vou fugir de uma garotinha, não é?

-           Certamente que não, general.

Satine havia escolhido o último trem de Paris para voltar para Volterra, obviamente, por que nenhum de nós poderia busca-la com o sol no céu. Félix e eu seguimos para a estação. Félix com o Ford de Aro e eu, é claro, com o meu cavalo. Andar naquele pequeno pedaço de lata me deixava nervoso, e a julgar por velocidade, Trovão era bem mais rápido.

Enquanto eu cavalgava pelas ruas escuras de nossa cidade, levei a mão dentro do meu casaco. Dias atrás, em uma viagem a Florença, eu havia comprado uma boneca de porcelana. Uma linda bonequinha, cuja pele tinha um tom aproximado ao da pele de Satine. Ela tinha cabelos cor de chocolate e um lindo vestido de cetim rosa. Eu passei vários dias olhando aquela boneca e pensando em minha princesinha.

Félix e eu paramos perto do desembarque. Eu queria vê-la assim que ela descesse do trem. Meu corpo estava inquieto e agitado e eu não conseguia ficar parado por mais que alguns minutos, o que não era comum para um vampiro.

-           Você fará um buraco no chão. 

            Eu não respondi. Eu estava inquieto demais e ansioso demais para me preocupar com as bobagens de Félix, e pensando bem, eu iria mesmo acabar fazendo um buraco no chão.

            Levei a mão dentro do casaco novamente, e tirei a boneca. Eu sabia que Félix iria, no mínimo, rir de mim; mas eu não me importava. Ele era meu amigo e eu não tinha segredos para ele.

-           Veja, eu comprei para ela.

Para minha surpresa, Félix não riu. Ele apenas arqueou a boca em um semi-sorriso, e olhou em meus olhos.

-           É linda. Tenho certeza de que ela vai adorar.

            Eu sorri de volta.

-           Estou com saudades dela – eu confessei.

-           Eu também. Sinto falta da vida que ela nos trazia.

Ficamos ali, olhando as pessoas passarem de um lado para o outro, ocultando nossas figuras nas sombras. Os olhos ameaçadores escondidos por óculos escuros.

Quando ouvi o apito do trem, á algumas milhas de distância, meu coração deu um sobressalto. Eu respirei fundo e endireitei minha postura. Mãos no bolso da calça de linho escura, uma camisa de algodão branca e um casaco de couro preto, embaixo do manto cor de chumbo. Era a mesma roupa com a qual eu a havia encontrado, seria a mesma que eu a reencontraria.

O trem se aproximou, parando em frente à estação. Félix e eu nos mantivemos á distância, nas sombras.

Um mar de humanos descia de dentro daquele trem. Pessoas apressadas, pessoas sem pressa alguma. Umas esperadas por familiares, outras sem ninguém esperando. Crianças, adultos, idosos, mas ninguém era ela. Eu sentia o cheiro dela, mas não conseguia vê-la. Um nó passou por minha garganta naquela fração de segundos. Eu queria correr para lá, eu queria entrar naquele trem e tira-la de lá em meus braços. Eu queria abraça-la e sussurrar que tudo tinha passado, que eu estava de volta e que estaria sempre.

Meus olhos se desviaram para aporta do trem. Eu não via minha menina, mas algo capturava completamente meu olhar. Ela era absolutamente a criatura mais linda que eu havia visto, em mais de duzentos anos.

Um corpo pequeno e esquio, coberto por um vestido carmesim que ressaltava cada uma de suas formas. A pele mais cremosa e mais suave, em contraste com o vestido. Seu rosto estava abaixado, olhando os degraus do trem, mas eu podia ver a linha suave de sua mandíbula. Eu estava completamente e irrevogavelmente hipnotizado. Foi quando ela levantou o rosto e seus olhos encontraram os meus, e meu mundo desabou – ali estavam os meus olhinhos, os olhos com os quais eu havia sonhado por todos esses anos, ali estava minha menina. Ela sorriu, e seus olhos faiscaram em âmbar e chocolate. Seus dedos finos e delicados brincaram com uma ponta solta do cabelo e o vento a balançou, e o cheiro me assaltou, e eu não sabia mais onde estava.

Enquanto ela caminhava com passos lentos e graciosos em minha direção, eu não consegui me mover. Eu não sabia como tirar meus pés do chão. Eu estava lá, parado feito um idiota, com a boneca nas mãos. Absolutamente embasbacado pela mulher á minha frente.

-           Um presente para mim?

Ela sussurrou tão perto, que eu podia sentir o doce aroma do seu hálito. Eu engoli em seco, tentando, sem sucesso, esconder a boneca.

-           Não vai entrega-la?

-           Não acho que você ainda brinque de bonecas – foram ás únicas palavras que saíram da minha boca.

-           Demetri, Demetri. Nunca lhe ensinaram que não é educado esconder um presente?

Ela sorria para mim e sua voz entrava em minha pele, como se falada por um anjo.

-           Eu não acho que você realmente queira ela. Vou comprar algo mais adequado, minha senhora.

Ela levou a mão sobre a minha e uma reação instantânea e inimaginável viajou por cada célula do meu corpo sem vida. Eu não tive reação, apenas me deixei sentir aquele toque.

-           Em primeiro lugar, general, eu quero sim. E em segundo lugar, o senhor está me devendo, no mínimo, um abraço.

            Foi então que Félix se aproximou e quebrou minha reação estúpida.

-           Se ele não quiser o abraço, eu quero.

Félix se colocou entre Satine e eu e se inclinou para ela, segurando sua mão. Em uma fração de segundos eu a segurei junto ao meu corpo, meio sem jeito. Ela me puxou mais perto, abraçando meu corpo por baixo do manto. Seus braços me prenderam e seu rosto descansou em meu peito. Ela suspirou, moldando seu corpo no meu. Eu não conseguia entender que diabos estava acontecendo comigo, mas meu corpo reagiu. Eu a puxei mais, apertando sua cintura contra mim. Ela suspirou novamente, lentamente, e soltou o ar em meu pescoço. Eu senti minha pele arrepiar.

-           Senti sua falta – ela me disse, quase tocando os lábios na minha pele.

Eu fechei os olhos por alguns segundos e tentei ordenar o que eu sentia. Por mais que meus sentidos gritassem, eu me recusava a ouvir. Eu provavelmente estava ficando louco, aquela era minha Satine, minha pequena Satine. A menininha doce e meiga que eu havia encontrado naquele bosque. A mesma garotinha que eu havia alimentado e ensinado a andar e falar, então, eu suspirei e respondi.

-           Eu também.

-           Bom, acho que não vai sobrar abraço para mim, então, vamos! Félix soltou, fazendo piada.

-           É claro que vai!

Satine respondeu e me soltou lentamente. Ela estendeu os braços para Félix e ele a segurou no ar, em um abraço carinhoso. Eu sabia que ele a amava, sabia quanto ela gostava dele também, mas algo naquele abraço fez meus punhos se cerrarem. Um sentimento estranho e muito, muito forte de posse – eu não queria as mãos dele sobre o corpo dela. Eu sei que sempre fui ciumento e possessivo com ela, mas naquela hora, naquele dia, era diferente.

-           Acho que devemos ir – eu grunhi.

            Félix sorriu e soltou Satine, olhando para mim com deboche.

-           Antes que o general tenha um colapso!

Eu não respondi, meus olhos ainda estavam perdidos em Satine. Eu varri cada centímetro dela com meu olhar. Quando foi que aquilo havia acontecido? Eu não sabia a resposta. Em algum lugar entre Volterra e Paris, minha menininha havia ido embora, para se tornar a criatura mais linda que já vi.

Cortei minha própria confusão mental.

-           Você pode ir de carro com Félix, ele irá leva-la ao castelo. Eu estou com Trovão.

            Ela sorriu maliciosamente, acendendo coisas dentro de mim que eu nem mesmo poderia sentir. Colocou as mãos na cintura e disse despreocupadamente.

-           Félix. Você poderia, por favor, levar minha bagagem? Acho que vamos cavalgar um pouco.

-           É claro que sim, minha senhora.

-           Satine, seja razoável. É uma longa cavalgada – eu fiz uma pausa e lancei meus olhos sobre o vestido de cetim cor de sangue – vai estragar seu vestido.

            Ela capturou meus olhos na imensidão ambarina dos seus.

-           Eu não vou deixa-lo só. Lembra-se de sua promessa?

-           Sim.

-           Então, vamos.

Eu não pude deixar de sorrir – enfim havia sobrado um pouco da menininha impetuosa naquela nova mulher.

Desabotoei o meu manto e o coloquei sobre os ombros de Satine. A noite estava fria e eu não queria o vento em sua pele delicada.

Subi no cavalo e dei a mão para que ela subisse em minha garupa. Apesar do vestido longo de saia farta, Satine subiu com graça e destreza na garupa de Trovão. Suas mãos seguraram delicadamente em minha cintura, enquanto ela apertava o corpo contra o meu.

-           Eu não sabia que na França ensinavam montaria para jovens ladys – eu a provoquei.

            Ela aproximou a boca da minha orelha e sussurrou.

-           Você ficaria surpreso com as coisas que se aprende na França.

Eu não respondi. Não poderia, já que eu não sabia o que dizer, uma vez que meu corpo inteiro estava formigando.

Cavalgamos pelo caminho de volta ao castelo com a noite alta. Eu poderia ter ido mais rápido, mas não consegui. Eu não queria admitir a razão, mas a verdade é que eu queria mais tempo com ela, e eu sabia que assim que chegássemos ao castelo ela teria outras coisas para se distrair.

Eu podia sentir o calor de suas mãos sobre o tecido fino da minha camisa. Minha cabeça estava completamente perdida e eu não conseguia ordenar meus pensamentos. Eu ficava repetindo o tempo todo para mim mesmo: “É Satine, a filha do mestre!” “É Satine, a sua senhora!”, por mais que eu repetisse, meu corpo não parecia escutar. Eu tentava desesperadamente associar aquele toque ao toque carinhoso e suave de minha menininha, mas eu não podia.

Eu me torturei em silêncio durante todo o caminho. Não podia falar com ela, eu não sabia o que dizer. Eu tinha medo de que minhas palavras me traíssem.

Quando paramos em frente ao castelo, e eu a ajudei a descer, ela ainda estava em silêncio, a cabeça baixa. E não pude resistir. Levei minha mão em seu queixo e o segurei, encontrando seus olhos com os meus. Eu podia ver tristeza e ressentimento, e podia ver medo, e isso quebrou minhas defesas. Eu encontrei dentro daqueles olhos, os mesmos olhinhos que eu havia deixado na estação, e eu não resisti.

-           O que está errado, Satine? Eu a magoei?

-           Não – ela tentou baixar o queixo, desviando os olhos dos meus, eu a contive – mas você mentiu para mim.

-           Quando foi que eu fiz isso?

-           Você me prometeu que as coisas seriam sempre as mesmas, e elas não são. Você se esqueceu de mim, não me ama mais como antes. Você disse que estaria aqui para mim, quando eu voltasse, e agora nem mesmo consegue agir normalmente comigo.

Meu mundo inteiro desabou naquela primeira lágrima que desceu, rolando suave por sua pele. Ela havia entendido tudo errado. Eu não pude me conter.  Puxei-a para mim até não poder mais. Beijando seu rosto e acariciando sua pele com a ponta do meu nariz. Seu cheiro estava me embriagando, quanto mais perto, mais eu a queria.

-           Ah baby, você não tem idéia do que está dizendo.

Ela permaneceu em silêncio por alguns minutos, tocando sua pele na minha. Então sua cabeça se afundou em meu peito e ela suspirou.

-           Eu senti tanta saudade. Eu sei que estou diferente, mas ainda sou eu. E eu ainda o amo, muito, acho que eu o amo ainda mais.

-           As coisas são diferentes agora, baby.

-           Eu sei.

Eu segurei seu rosto entre minhas mãos, levantando um pouco para olhar em seus olhos.

-           Entre nós, as coisas nunca vão mudar, baby, eu prometo.

Ela sorriu, e seu sorriso encheu meu coração de alegria. Eu descobri que não importava nada, eu sempre viveria para vê-la feliz. Eu morreria por um sorriso daqueles.

-           Vamos entrar? Mestre Aro está a sua espera.

Ela me abraçou longamente e forte, tão forte que eu podia sentir cada pedaço da sua pele quente contra a minha, e então entramos.

Ela irrompeu a sala tempestuosamente, pendurando-se no pescoço do mestre. Ele não a conteve. Apenas sorriu, e puxou-a em um abraço carinhoso.

-           Bambina!

-           Papa, eu senti tanta saudade!

Ele separou-se dela, ainda segurando em suas mãos e passou os olhos em sua figura. Seus olhos demonstravam entendimento. Ele havia reagido á mudança de Satine muito melhor que eu. Sem nenhuma estranheza. Ela ainda era a mesma para ele.

-           Está absolutamente linda, píu bella!

Ela sorriu.

            Marcus se aproximou dela e beijou delicadamente sua mão. Ele a amava também, como uma filha, embora fosse mais distante do que Aro.

            Caius esperou em seu lugar, sem tirar os olhos dela nem por um momento. Eu não gostava da maneira como ele a olhava. Eu não gostava nem mesmo que ele a olhasse. Seus olhos encontraram os dela e ele sorriu maliciosamente.

-           Então quer dizer que o único a ganhar um abraço espontâneo é o general? – ele a provocou.

Ela andou calma até ele, e com a sutileza própria da realeza, ela falou.

-           Ao contrário Caius, papa acabou de ganhar um abraço também, e acho que foi suficientemente espontâneo.

Como se não fosse suficiente, ela estendeu a mão para que ele a beijasse, desafiando-o. Ele segurou sua mão, sem desviar os olhos dos dela, e a puxou para si. Ela não recuou, mas também não o abraçou. As mãos dele percorreram o caminho de suas costas, e eu senti meus nervos se retesarem. Ele a beijou na bochecha. Ela não sorriu, apenas o encarou. Eu queria ir até lá quebrá-lo, literalmente, por mais idiota que fosse.

Enquanto eles conversavam, eu saí. Eu havia previsto que não sobraria muito tempo dela para estar comigo. Andei pelos arredores do castelo, até a divisa do muro leste. Eu gostava daquele lugar, a vista era bonita, e o muro baixo de pedra me permitia apreciar a vista. Deitei-me sobre o muro, com as mãos por trás da cabeça e fiquei admirando as estrelas. Já era bem tarde, mas eu não queria ir embora. Eu fechei meus olhos e fiquei aspirando o ar para dentro de mim, o ar estava empregnado com a essência dela, seu aroma. Eu queria sentir, mais e mais, e mais. O aroma foi ficando mais pesado, mais forte, mais doce. Abri meus olhos, ela estava lá, como um sonho. Seus cabelos caiam em ondas, quase tocando meu rosto. Eu podia sentir o cheiro deles. Seus olhos estavam quentes e brilhantes, como ouro derretido. Eu contemplei cada linha de seu rosto, cada curva de sua pele. Ela não parecia se importar com minha investigação, ela me olhava também. Então, como se quisesse quebrar nosso silêncio, seus lábios se tornaram em um sorriso sedutor.

-           Estou com sono. Não vai me levar para a cama?

Eu não pude evitar minha mente de viajar, em seus olhos, sua pele, seu corpo. Não! Ficou louco? É Satine! Satine! – eu repeti para mim mesmo, em uma fração de segundos.

-           Então, general, vai me colocar para dormir?

Eu balancei minha cabeça e me levantei, para afastar o restava das loucuras da minha mente.

-           Baby. Não acho que isto seja adequado.

-           Você prometeu, se lembra? Tudo como era antes.

-           Satine. Não posso ficar com você, em seu quarto. Não agora!

Ela se aproximou mais, jogando o cabelo para trás e me dando uma bela visão do decote de seu vestido. Eu não devia olhar, eu não podia olhar, mas eu não pude resistir. Eu queria olhar. Meus olhos acompanharam a curva de seu decote, seu peito movimentando-se com o respirar, aquela pele suave e cremosa, como seda esticada sobre o vidro. Eu podia sentir o veneno se acumulando em minha boca. Santo Deus, eu estava enlouquecendo!

            As próximas palavras me tiraram de meu estado de êxtase.

-           Qual o problema, general, acha que não consegue ficar comigo no quarto.

Eu não estava bem certo, mas não podia permitir que ela percebesse minhas duvidas.

-           Não é isso, Satine. Só não acho adequado. O que Aro pensaria? Eu sou seu guardião, se lembra?

Ela me puxou pela mão, suavemente.

-           Então guarde meus sonhos. Aro já se retirou, junto com Marcus e Caius. Nenhum deles irá nos ver, basta que sejamos discretos.

Meu bom senso gritava para mim que eu não devia ter aceitado aquele convite, que aquele convite seria a minha ruína. E quem disse que eu ouvia o bom senso? Eu não podia resistir. Não a ela. Eu nunca havia resistido aquela pequena criança, como poderia resistir agora a esta linda mulher.

Nós entramos no quarto, eu me sentei na poltrona, enquanto Satine andava pelo quarto, reconhecendo seu lugar.

-           Eu estava com saudades daqui – ela me disse, enquanto se jogava nas almofadas da cama.

Tantas cenas se passaram em minha mente naquele momento. Aquele quarto tinha tantas lembranças. Não sei se meus pensamentos a chamaram, ou se as lembranças eram fortes para ela também, mas Satine se levantou e caminhou até mim.  Seus pés descalços tocando suavemente o chão de linóleo. Ela se ajoelhou em frente a mim, debruçando sobre os meus joelhos.

-           Eu não quero que as coisas mudem, Demetri. Eu não quero perde-lo.

Eu separei um pouco as pernas e a puxei para mim.

-           As coisas nunca vão mudar baby, não entre nós. Eu prometo.

Ela me abraçou. Eu amava tanto aquela menina. Tê-la novamente em meus braços fazia com que o mundo ficasse completo – eu não precisava de nada mais.

Satine se levantou e caminhou até o closet, para se trocar. Eu fiquei lutando para manter a sanidade de minha mente – eu não podia me esquecer de quem ela era, não importava o quanto ela estivesse mudada. Eu podia ouvi-la soltar os botões do vestido, um após o outro. Podia ouvi-lo escorregar por sua pele. Eu podia ouvir o roçar da camisola sobre sua pele. Eu queria entrar naquele closet. Eu queria vê-la. Eu queria contemplar sua pele em toda a sua extensão. E eu estava completamente fora de mim.

Meus olhos correram pelo quarto e eu encontrei a boneca. A bonequinha de porcelana que eu havia comprado para minha garotinha. E aquela boneca me fez recuperar um pouco de bom senso. Ela ainda era a mesma. Ainda era minha princesinha. A mesma que corria atrás de esquilos e ralava os joelhos nas pedras do jardim. Eu não podia me esquecer disso. Eu não podia me esquecer também de quem ela era – a filha do meu mestre. Satine era minha senhora. Minha senhora!

Ela saiu caminhando como um anjo, em sua camisola de cetim azul. O contraste do tecido escuro em sua pele clara era de tirar o fôlego. Perfeita. Seu corpo era absoluta e proporcionalmente perfeito. Suave e delicado, como o de um anjo. Ela me pegou pela mão e me levou até a cama. Puxou os lençóis e se deitou. Eu a cobri com a mesma manta de cachemire.

Sentei-me ao seu lado, acariciando seu rosto com a ponta dos dedos. Meus dedos brincaram pelas ondas de seus cabelos, deslizando entre elas. Eu me distraí completamente naquele toque, ela foi além. Levantou-se um pouco e tocou seus lábios nos meus, delicadamente. Cada músculo do meu rosto respondeu aquele mínimo toque. Eu tive que segurar na beira da cama para não puxar sua boca para minha. Ela havia acendido um pavio sem volta dentro de mim. Eu queria aquele toque de novo, queria aquela boca na minha. Eu queria explora-la com a minha língua. Queria o gosto de Satine. Fechei meus olhos e me concentrei o máximo que pude.

-           Você não devia ter feito isto – eu disse entre dentes.

-           Não posso dar-lhe um beijo de boa noite?

-           Não assim.

-           Porque? Você não gostou?

-           Não é isto.

-           Diga-me Demetri, você gostou?

Eu não poderia responder. Não poderia mentir para ela, então, eu fiquei em silêncio. Ela não disse mais nada. Deitou-se novamente, e fechou os olhos. Eu permaneci ali, acariciando seu cabelo, até que sua respiração ficou calma e regular – ela estava dormindo. Então eu me levantei e arqueei o corpo sobre o seu. Meu nariz raspando contra sua pele delicada, e deixei minha boca descansar em sua fronte. Eu a beijei na testa, e sussurrei em seu ouvido.

-           Eu gostei.


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