Minhas mãos suavam e me coração batia freneticamente acelerado, enquanto Alice e Rosalie puxavam meus cabelos de um lado para o outro em um penteado que eu nem mesmo podia ver.

-           Acalme-se pelo amor de Deus Satine! Ou vamos acabar furando você com estes grampos - adverti Rosalie.

Eu não podia me acalmar. Não podia ficar quieta. Tudo que eu conseguia pensar era que em menos de uma hora eu consolidaria meu amor por Demetri por toda a eternidade.

Meu coração ainda doía a cada vez em que eu pensava em Aro e Marcus. A cada passeio que eu dava por dentro dos muros de pedra de nossa realidade, eu me sentia um pouco mais melhor. Hoje, o castelo estava quase como costumava ser, minha família e Demetri haviam me ajudado a reconstruir quase tudo lá dentro. O pouco que não havíamos erguido novamente, mostrava justamente que uma nova era se aproximava.

***

Naquela tarde, enquanto os últimos raios de sol ainda inundavam os jardins com sua luz amarelada, eu caminhei. Esme havia se esforçado tanto para que o castelo voltasse a ter a mesma vida que tinha no tempo de Satine, que os jardins estavam especialmente floridos naquela primavera.

Sentei-me no bordo da fonte e observei o pátio á minha frente – tantas imagens povoavam minha mente que eu as sentia quase reais. Eu ainda podia ver a garotinha correndo com seu vestido de fita. Ainda podia vê-la perseguindo os esquilos, brincando com as borboletas. Ainda podia ouvir o som de seu choro quando tropeçava. Tudo passou tão rápido.

Agora, o que eu via era uma linda e poderosa mulher, apesar de seu rosto de menina. Satine havia se tornado realmente digna de suceder meu mestre. Ela havia se tornado realmente uma Volturi. E eu, havia me tornado muito mais que seu protetor. Eu havia me tornado seu companheiro.

O castelo estava uma correria só. Vampiros chegavam de todas as partes do mundo e de todas as maneiras possíveis. Meu pensamento vagou até Aro – meu mestre gostava de festas. Gostava de reunir as pessoas ao seu redor. Pensei em como ele estaria feliz no dia de hoje. Dia em que Satine subiria ao trono. Dia em que eu devotaria minha existência á ela, uma vez mais.

***

A noite começava a cair, quando a porta se abriu e meu pai entrou. Ele estava tão lindo em seu terno chumbo que eu não pude deixar de sorrir. Seus olhos estavam em paz – ele sabia que eu havia aceitado meu destino.

Carlisle parou atrás de mim, frente ao espelho. Suas mãos repousaram suavemente em meus ombros nus.

-           Está maravilhosa querida – meu pai me disse.

Fitei a menina no espelho – ela se parecia comigo, mas era como se carregasse o mundo nas costas. O peso da responsabilidade era visível em meus olhos.

-           Não se preocupe, minha criança – ele me confortou – eu estarei ao seu lado, sempre. Eu a ajudarei a escrever uma nova historia para nossa raça.

      Recostei minha cabeça em seu peito, enquanto meu pai acariciava meus ombros.

Com uma batida suave na porta, Esme entrou. Ela usava um vestido azul escuro que acentuava o tom acobreado de seus cabelos. Esme caminhou até mim.

-           Está linda querida! Eu vim ver se precisava de algo, mas vejo que não precisa de mais nada. Alice e Rosalie fizeram um ótimo trabalho.

Olhei novamente no espelho – eu gostava do que via. Alice havia encomendado para mim um vestido Versace, ela dizia que alguém como eu não poderia se casar com outro estilista. O vestido era branco e sem alças. A cintura marcada acentuava minhas curvas e o véu rendado remetia á França. Era um vestido delicado e harmonioso, digno de uma princesa.

-           Ainda não está pronto – meu pai interrompeu – falta um detalhe.

De dentro do bolso do terno, ele retirou uma caixinha de prata. Dentro, havia uma corrente fina e delicada, de onde pendia uma cruz, igualmente delicada; trabalhada em ouro branco e diamantes, com pequenos rubis.

-           Ah papai, é lindo!

      Meu pai a colocou em meu pescoço e abotoou o fecho.

-            Pertenceu a sua avó, minha mãe. Ela usou no dia de seu casamento e por isso, quero que fique com ele.

Uma lágrima pequenina rolou dos meus olhos, enquanto Carlisle beijava minhas mãos.

-           Vamos? – ele me disse, estendendo ás mãos em minha direção.

            Eu as segurei.

-           Vamos.

***

Eu estava lá, andando de um lado para o outro do grande salão. Lá embaixo, os convidados tomavam seus lugares para assistir minha menina se tornar a nova líder.

Para mim, nada daquilo importava – Satine sempre havia sido minha senhora mesmo – o que realmente importava, era que á partir daquela noite, ela me pertenceria para sempre. Uma união eterna.

Eu mal podia me concentrar em cumprimentar todos que passavam por mim, meu corpo todo formigava, como se ainda estivesse vivo.

-           Você está incrível! – uma voz sensual soprou em meu pescoço.

      Eu me virei a circulei a cintura da vampira com meu braços.

-           Você também Rennie. Linda. Como sempre.

Renata era minha melhor amiga, a pessoa que sempre esteve ao meu lado, independente da situação. Tê-la aqui comigo, no momento em que todos os meus sonhos pareciam realizar-se era perfeito.

-           Ah Demetri, estou tão feliz. Sabe, depois da morte do mestre, Satine tornou-se tudo que temos. Você sabe o quanto eu a amo. Sabe o quanto desejo permanecer na guarda real.

      Eu a abracei mais forte.

-           Sempre haverá lugar para você em nossas vidas, Rennie, minha amiga amada.

      Olhei em volta – faltava apenas um integrante da grande guarda, Félix.

      Como se pudesse ouvir meus pensamentos, Félix se aproximou.

-           Juntos novamente – ele me disse, socando de leve meu ombro.

-           Juntos eternamente – eu respondi, descansando um braço sobre o ombro de cada um deles.

***

Enquanto meu pai me conduzia até a sala do trono, todas as pessoas com as quais eu havia dividido alguma parte de minha vida, estavam ali. Algumas das quais eu nem mesmo me lembrava do nome, e que mesmo assim, sorriam em encorajamento.

Meu pai caminhou comigo até o salão principal, de onde um imenso tapete vermelho com filetes dourados, mostrava o lugar indicado – o trono. Ele parou, beijou minha mão e me soltou – dali em diante, a nova governante deveria seguir sozinha.

Meus amigos formaram um grande corredor, que se estendia até o trono. De todos eles, ninguém se fazia mais visível que o grande lobo avermelhado – Jacob estava lá.

“É claro que eu viria!” – o lobo me disse em nossa conexão.

Eu sorri, cumprimentando seus olhos expressivos.

Félix fez uma pequena reverência e Renata repetiu o gesto.

-           É um prazer servi-la, minha senhora – Alec sussurrou.

Governar Volterra não seria uma tarefa fácil, e saber que eles estariam ao meu lado era maravilhoso. De repente tudo pareceu mais fácil. Estufei meu peito e caminhei até o homem que eu amava. Demetri estava lá seus olhos carmim demonstrando todo o amor que ele também sentia. Se eu pudesse, teria corrido. Teria corrido e me jogado em seus braços.

***

            Minha princesinha caminhou até mim com a mesma impetuosidade de sempre. Nada a desviava de seu caminho – seus olhos eram meus.

            Caminhei de encontro á ela e estendi minha mão.

-           Minha senhora.

      Ela sorriu.

-           Sempre.

A cerimônia se fez como deveria, vampiros não se casam da maneira tradicional, nossas uniões são verdadeiramente eternas. Nossas mãos foram postas juntas e as palavras foram proferidas. O anel que um dia havia pertencido á minha mãe, agora adornava o dedo da mulher que eu amava, e ficaria ali para sempre.

-           Com este anel, amada minha, eu a desposo – eu disse, e beijei sua mão.

-           Com este anel, eu lhe entrego minha eternidade – Satine repetiu, beijando o anel em meu dedo anelar.

Então, eu a conduzi até o trono, de onde ela governaria o mundo dos imortais para sempre, trono este que ela havia herdado por direito e justiça.

      Eu me ajoelhei aos seus pés e curvei meu corpo em respeito.

-           pero que aceite minha lealdade, senhora minha. Nada me dará mais prazer, do que devotar minha vida á ti.

Naquele momento, enquanto as palmas de todos os presentes anunciavam uma nova era. Era esta em que vampiros e lobos estariam unidos por uma rainha mestiça, eu só podia olhar em seus olhos e pensar que havia enfim realizado minha missão. Eu havia feito o que meu pai sempre esperou de mim. Havia me tornado o homem que minha mãe desejou que eu me tornasse. E mais que isso. Eu havia cumprido a promessa que fiz á uma pequena criança de olhos cor de âmbar. Mais de um século atrás. Eu havia prometido a dois olhinhos assustados que os protegeria com minha própria vida, e havia cumprido. Satine estava onde devia estar, e eu estava ao seu lado; onde era o meu lugar.

Epílogo

O que se passou até aqui, foram os relatos de um general vampiro, apaixonado por uma princesa mestiça. Nossa história não acaba com o fim deste relato, ao contrario, temos á eternidade nos esperando com um brinde.

Eu mesmo, certamente, terei muito mais á revelar desta vida – vida sim, porque estar ao lado dela é como poder respirar novamente. Tenho muito mais a relatar sobre os dias em que acordei sentindo seu corpo junto ao meu, ou sobre as batalhas que venci em honra de seu reino. Eu não deixei de lutar. Não poderia. Eu apenas mudei de estratégia. Agora, Demetri Volturi, o general da guarda real luta por um ideal – tornar o mundo um lugar mais digno de minha princesinha e do que mais o mundo nos reservar.

Fim, por enquanto.