Lover Eternal - por Demetri Volturi escrita por Bia Kishi


Capítulo 29
Capítulo 29 - Entre Duas Metades


Notas iniciais do capítulo

Abri o armário e retirei uma velha maleta de primeiros socorros. Peguei o bisturi e levei junto ao meu pulso, não demorou para que o liquido vermelho e pegajoso escorresse direto nos lábios do general. Demetri não se moveu, não abriu a boca, não sugou o sangue para dentro de si; mesmo assim, eu insisti, separando um pouco seus lábios e forçando a passagem do meu sangue.



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Eu estava lá, era meu corpo parado ali, mas eu não sentia nada – tudo parecia amortecido, tudo parecia fora do ar. Eu não podia me mexer, não podia gritar, tudo se passava como em câmera lenta. Eu não sabia o que fazer. Cenas de minha vida se passavam em minha mente. Aro, Demetri, eu não podia escolher. Eu não podia. As lagrimas desciam como uma grande cascata em minha bochechas. Meu corpo não reagia mais, tudo doía terrivelmente e eu tremia como se fosse arrebentar. Tudo que eu sabia era que tinha que matar o demônio á minha frente. Eu não podia morrer.

            Fechei meus olhos e me concentrei na única coisa que me manteria calma naquele momento – Jacob. A voz suave e autoritária dele se tornou audível em minha mente, uma vez mais.

            “Tenha calam garota” “eu estou aqui” “Não vou deixá-la”

            O som era tão firme, tão certo, que por um momento eu pensei que estivesse mesmo morrendo, e o que mais me confortava era que não teria que escolher entre um dos dois.

“Não seja boba, você não vai morrer” “Anda, levanta e deixa a natureza agir. Eu sei que parece estranho, mas vai melhorar”

Eu obedeci e parei de lutar contra os tremores. Eu apenas deixei. Deixei que meu corpo se consumisse naquela sensação de formigamento estranha.

“Demetri” – minha mente sussurrou – “Papa”

“Se concentre!” – A voz insistiu.

No instante seguinte, algo me impulsionou para a frente. Eu não tenho idéia do que aconteceu, mas meu corpo não era mais meu – ou melhor, não era mais como costumava ser. O monstro saiu de dentro de mim, rasgando os farrapos que eu vestia. Embora fosse meu monstro, seu pelo era suave e branco como a neve, seus olhos eram quase felinos, duas fendas cor de âmbar. O mostro correu – ou melhor, eu corri.

Tirei Demetri do meio das chamas e o rolei entre minhas patas até o fogo se apagar, fiz a mesma coisa com Aro. Quando o fogo se foi eu corri até elas, uma a uma, meus dentes dilaceraram as carnes duras como mármore em um amontoado de pedaços de vampiro. Traidoras. Eu não daria a elas nem mesmo a chance de sentirem o fogo em suas peles. Olhei de um lado para o outro do salão – Caius não estava ali.

Não foi uma surpresa que o covarde tivesse fugido, era o que eu esperava de um homem como Caius, então, eu corri mais.

Colina acima, tudo que iluminava meu caminho era o brilho da lua. O brilho se refletia no pelo branco do monstro – meu monstro. Meus olhos enxergavam ainda mais longe, como olhos de lince. Algum tempo depois, eu o avistei. Caius estava lá, tentando fugir pela margem do rio. Eu parei.

-           Veja se não é fantástico – Caius me disse – a princesinha enfim terminou sua transformação! O que o pobre Aro diria se a visse desta maneira?

Eu grunhi.

-           Isso pequena Satine! Rosne como um cão sarnento! É o que você é enfim, não é?

            Eu podia sentir o medo em sua voz, mas ainda assim, ele queria me enfrentar.

-           Acho que você merece o general enfim. Eu jamais me uniria a uma criatura destas. Olhe para você, a pobre garotinha rejeitada enfim se transformou em um saco de pulgas ambulante!

            Eu olhei para minha minhas patas. Grandes e peludas patas brancas – meu pior pesadelo havia se tornado real, eu era um monstro.

            “Não deixe que ele a distraia Satine”  - a voz suave de Jacob pareceu mais próxima - “Duas metades. Você é duas metades” “Você é como eu!”

            E de repente, o lobo avermelhado apareceu ao meu lado, seu pelo brilhante reluzindo á luz da noite. Seus olhos expressivos me encarnado. Ele parou ao meu lado e tocou seu focinho no meu.

            “Somos feitos da mesma matéria. Você é como eu!”

            E então, naquele momento, eu não tive mais medo, eu apenas entendi. Entendi que eu não podia mais esconder o mostro, porque ele não existia – o monstro era eu, e eu era ele. Uma parte de mim.

            “Isso” – Jacob me encorajou – “Agora vá até lá e vence seu adversário”

            Eu corri até Caius, Jacob ficou para trás. Eu me aproximei e o encarei cuidadosamente. Não era que eu quem estava com medo agora.         

Meus dentes cravaram profundamente na pele dura de Caius e eu arranquei sua cabeça com toda a minha força, mastigando e cuspindo uma massa malformada e gosmenta – ele estava destruido aos meus pés – ou melhor, ás minhas patas.

            Levantei minha cabeça, encarando a lua. Um uivo profundo saiu de dentro de mim, de dentro do meu ser – eu era um lobo agora, como minha mãe havia sido um dia.

            O lobo vermelho se juntou a mim, como uma pequena matilha.

            Descemos a colina correndo lado a lado, como irmãos. Quando estávamos dentro das paredes do castelo Jacob parou.

“Precisam de você agora” – ele me disse.

“Eu não sei o que fazer” – eu respondi.

Jacob se transformou no garoto novamente e sacudiu uma camiseta para mim. Eu me concentrei o máximo que pude, como ele havia me dito. Não foi fácil, mas eu consegui.

Meu cabelo estava sujo e desgrenhado e minha unhas cheias de terra. Puxei a camiseta e deslizei sobre minha pele, cobrindo meu corpo machucado. Por um momento, eu pensei que o lobo realmente parecia em melhor estado que a mulher.

Jacob segurou minha mão e eu percebi que nem tudo havia terminado bem. Meu pai estava ali, caído no chão. Seu corpo fraco não parecia se mover. Ele estava quente ainda e isso não era bom.

-           Ela vai ficar bem, não vai? – eu perguntei a Carlisle.

            Meu pai biológico não respondeu.

-           Meu diga pai, me diga que papa vai ficar bem – eu implorei, segurando a beirada de sua camisa.

            Carlisle não respondeu. Ele apenas me abraçou. Seus braços suaves me embalaram como se eu fosse uma criança e então meus olhos encontraram os outros. Eles estavam lá. Rosalie, Emmet, Jasper, Alice e Esme.

-           Papa se foi, não é? – eu sussurrei junto a seu peito.

            Meu pai apenas me apertou mais forte, suas mãos brincando em meus cabelos.

-           Nós não vamos deixá-la só querida, nunca.

-           Foi tarde demais para ele, não foi? – eu perguntei entre soluços.

-           Aro era muito velho. Seu corpo era fraco demais.

            As lágrimas rolaram mais e mais forte, até que não senti mais a força em minhas pernas – Aro era tudo que eu conhecia como família, havia estado ao meu lado por mais de um século. Eu não tinha idéia de como continuar sem o amparo de meu papa.

-           Sei que é difícil querida. Sei que nada do que eu disser vai ajudá-la a sentir-se melhor, mas quero que saiba que eu estou aqui, que sempre estarei.

            Eu o apertei contra meu corpo, como se fosse um bote salva-vidas – e naquele momento, ele era.

-           Onde está Demetri? – eu perguntei sem ter certeza de querer ouvir a resposta.

-           Lá dentro, com Edward.

-           Ele está bem?

-           Não temos certeza.

            Eu não ouvi mais nada, apenas entrei. Não foi difícil encontrá-los, eu conhecia o castelo como conhecia a mim mesma.

            O corpo do general estava depositado sobre minha cama, ele não se movia. Eu me aproximei, segurando as lagrimas

            Ajoelhei ao seu lado na cama e beijei sua mão inerte – Demetri não estava morto, mas o fogo havia consumido muito de sua pele branca e eu podia ver as cicatrizes em seu rosto e corpo. Então, naquele momento eu pensei nela, minha mãe. Pensei em como ela havia sido forte, em como havia suportado tanta coisa por mim; e pedi. Pedi que ela me ajudasse, me emprestasse sua força e que me ajudasse a salvar Demetri.

            Uma a uma as lagrimas rolavam do meu rosto pelas mãos de Demetri.

-           Precisamos fazer alguma coisa – eu disse encarando os olhos de Edward – me ajude.

            Edward estendeu as mãos em minha direção e eu as segurei – ele também não sabia o que fazer, mas estava ali, ao meu lado.

            De repente, meus olhos vagaram para meu braço, de onde um corte mostrava uma fina linha escarlate. Então, um raio de esperança passou por minha mente – meu sangue! Meu sangue era forte, muito mais forte que qualquer outro que eu conhecia! Se algo era forte o suficiente para salvar Demetri, era meu sangue!

            Edward entendeu tão rápido quanto eu, embora seus olhos me dissessem que ele não concordava completamente, eu sabia que ele compreenderia.

            Abri o armário e retirei uma velha maleta de primeiros socorros. Peguei o bisturi e levei junto ao meu pulso, não demorou para que o liquido vermelho e pegajoso escorresse direto nos lábios do general. Demetri não se moveu, não abriu a boca, não sugou o sangue para dentro de si; mesmo assim, eu insisti, separando um pouco seus lábios e forçando a passagem do meu sangue. Depois de um tempo, o corte já havia começado a cicatrizar e ainda assim, ele não havia se movido. Edward saiu do quarto e eu fiquei só.

            Ajeitei meu corpo na poltrona branca, a mesma na qual Demetri havia me ninado por tantas e tantas noites e segurei sua jaqueta de couro junto á mim. Aspirei o ar em volta dela e tentei segura-lo o Maximo de tempo em meus pulmões – meu Demetri, eu não tinha idéia de como viver sem ele também. De dentro do bolso da jaqueta caíram, ao mesmo tempo, um envelope lacrado e uma caixinha.

            Segurei o envelope entre meus dedos – estava lacrado com o selo dos Volturi, e tinha meu nome marcado com a caligrafia de Aro. Eu abri.

           

“Minha amada filha,

 

            Meu tempo neste mundo está se esgotando, mas não se assuste, nem sofra por mim. Eu garanto á você que já vi e vivi tudo que um homem poderia desejar e ainda mais. Quando a encontramos naquela floresta, eu já havia perdido o prazer pela vida, e então, você me mostrou que ainda havia o que viver. Mostrou-me que eu era capaz de amar. Que era capaz de me sentir vivo novamente.

            Fiz o melhor que pude em protegê-la e amá-la e sei que fiz um bom trabalho quando olho em seus olhos. Você é muito melhor que eu, Satine. Muito mais honrada e justa. Nunca poderia imaginar que ficaria tão feliz em entregar meu reino á alguém. Não seja tola e não me diga que não pode, ou que não consegue – você é a mais poderosa de todos nós e descobrirá isso um dia. Obrigado Satine, obrigado por ter realizado todos os sonhos deste velho homem.

            Quero que saiba também que estou muito satisfeito em entregá-la ás mãos do homem que ama, e sim, eu sempre soube disso bambina. Demetri a ama como nenhum outro será capaz, e sei que estará ao seu lado pela eternidade. Não importa em que condições, sente-se naquele trono e seja a melhor rainha que nosso mundo conheceu. Mostre-me que eu estava certo, e lembre-se – eu nunca erro.

                                                                                                          Amor,

                                                                                                                                 Aro Volturi

 

Eu não pude conter as lágrimas, uma á uma, elas rolaram em minha face até que toda a camiseta estava empapada. Segurei a carta junto ao meu corpo e abri a caixinha, dentro, havia um delicado anel. Uma aliança.

Fechei meus olhos e a deslizei no dedo da mão esquerda – Demetri sempre foi e sempre seria o único homem para mim.


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