Lover Eternal - por Demetri Volturi escrita por Bia Kishi


Capítulo 10
Capítulo 10 - Dores de Amores ***Satine


Notas iniciais do capítulo

Quando eu me levantei, o sol já era uma linha vermelha no horizonte, o que significava que a tal reunião, estava para começar. Eu suspirei fundo, ainda sentindo a dor no meu peito. Eu queria tanto que as coisas estivessem diferentes, que queria tanto que tivesse sido eu. Com os olhos fechados, fiquei imaginando como seria se fosse eu. Se fosse meu corpo que ele estivesse tocando, beijando. Se você me vestido que estivesse no chão. Se fosse minha carne sentindo a dele. Não era. Nunca seria.



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Enquanto eu andava, de mãos dadas com Renata, pelo corredor escuro e mofado do subterrâneo, minha cabeça girava sem parar. Por mais que eu quisesse me concentrar em alguma coisa, eu não conseguia. Na verdade, eu nem conseguia entender direito o que se passava na minha cabeça – eu precisava de ajuda. Eu só percebi o “quanto” precisava de ajuda, quando comecei a sentir minha visão nublada e empapada, sim, eu estava chorando.

      Por mais que eu soubesse que as lágrimas estavam descendo dos meus olhos, era estranho de mais para classificar como eu. Eu sentia como se estivesse vendo uma situação acontecer em um segundo plano, como se eu fosse observadora de uma cena de teatro amador.

            Renata tentava me arrastar para o meu quarto, quando eu parei no corredor.

-           Não Renie, eu não quero ficar aqui.

            Renata arregalou os olhos para mim, provavelmente pensando o que eu queria dizer com isso, afinal, o trem para Paris só sairia mesmo no dia seguinte.

-           Leve-me para a casa de Filó, eu preciso conversar com ela.

-           Satine, mestre Aro não concordará com uma coisa destas – e então ela completou – não podemos dizer a ele a verdadeira razão.

Isso era um ponto importante do todo. Eu sem dúvida não poderia dizer a Aro o porque de estar tão chateada com o fato de Demetri estar se pegando com Heidi no subterrâneo, eu não podia contar isso a ele por uma razão básica – eu teria que contar o que aconteceu antes, e isso era algo absolutamente fora de questão. Hey qual garota conta uma coisa destas para o próprio pai?

            Eu engoli em seco e pensei um pouco melhor.

-           Okay, você tem razão.

            Renata sorriu, como se conseguisse compreender um pouco de todas as dúvidas que se passavam em minha mente.

-           Suba, tome um banho e vista-se. Fique bem bonita, eu vou levá-la para dar uma volta – disse Renata.

Eu sorri em resposta. Não foi um sorriso completamente feliz, mas era tudo que eu podia conseguir naquele momento.

Tomei um banho quente e escolhi um belo vestido preto. Ele era de um ombro só, com um recorte interessante. Pelo menos morar na capital mundial da moda, ajudava meu guarda roupas.

Um pouco antes de terminar de me vestir, Renata bateu e entrou em meu quarto. Ela estava muito bonita, em um vestido azul marinho. Os cabelos claros arrumados cuidadosamente para trás, mostrando bem as linhas delicadas de seu rosto. Ela sentou-me na penteadeira e arrumou meu cabelo também. Eu fiquei olhando nossa figura no espelho e pensando se algum dos humanos que iríamos encontrar naquela noite, teriam noção do quão perigosas, nós podíamos ser.

 Eu queria me deitar na cama e chorar. Eu queria me lamentar e ficar gritando como o mundo era injusto comigo, mas eu sabia que não iria adiantar. Eu havia aprendido desde cedo a ser forte. A vida havia me cobrado isto muito cedo, quando me tirou dos meus pais e me colocou ali, no castelo dos Volturi. Não que eu estivesse reclamando, eu não conhecia um lugar melhor. Os meus amigos estavam ali, meu pai estava ali, e Demetri estava ali. Quando pensei nele, senti uma pontinha de dor no meu peito, como se alguém o tivesse esfaqueado. Eu suspirei fundo e olhei para o teto, disposta a segurar – á qualquer custo – aquela lagrimazinha insistente.

Renata estendeu a mão para mim.

-           Eu sei que não posso ser sua mãe, mesmo tendo te carregado no colo – ela parou e revirou os olhos para mim – afinal, olhe para isto – ela apontou para o próprio corpo – eu não pareço ter tido um filho, pareço?

            Eu sorri.

-           Não Renie, não parece.

-           Então pense em mim como a irmã mais velha, mas não tão velha assim – nós duas estávamos rindo agora – venha, eu vou lhe mostrar a outra face da noite na Toscana.

Não havia ninguém no grande salão quando nós duas saímos. Renata havia pedido permissão para Aro para me levar para caçar. É claro que ele havia concedido, o que significava que a nossa saída secreta, era mesmo um segredo.

Corremos pelo campo iluminado pela lua. O céu estava absolutamente lindo. Uma lua imensa e alaranjada brilhava bem acima de nós. Renata parou na cidade, em uma taverna e entrou. Eu fiquei esperando por ela. Quando ela voltou, carregava uma garrafa de vinho e uma caneca.

-           Bem, isto não faz muito efeito em mim, mas podemos tentar em você. O que acha?

É claro que eu conhecia vinho, pelo amor de Deus, eu morava em Paris e não em um vilarejozinho de fim de mundo. E é claro também que eu conhecia os efeitos do álcool em mim, o que era bem legal.

-           Ótimo! Era tudo que eu precisava mesmo para uma noite como esta.

Caminhamos até o limite de Volterra, um lugar absolutamente vazio. Havia uma pequena construção, praticamente em ruínas. Nós nos sentamos no andar de cima e ficamos observando a vista.

Eu peguei a garrafa da mão dela, ignorando totalmente a caneca e com ela, as boas maneiras. Tirei a rolha e virei em minha boca. Era um pouco mais encorpado e forte que o de costume. Vitor não gostava muito de vinhos tintos e, portanto, nós tomávamos mais vinho branco. Mesmo assim, era muito bom.

Renata começou a rir, mais ou menos quando eu cheguei ao meio da garrafa. Eu tentei forçar as palavras para fora, embora minha língua parecesse maior e mais inchada que o normal.

-           Espero que não esteja rindo de mim.

-           De certa maneira, eu estou sim.

-           Renie!

Ela se ajeitou do meu lado, tirando o que restava da garrafa de vinho das minhas mãos. Suas mãos suaves ajeitaram minha cabeça em seu colo e ela começou a acariciar os meus cabelos.

-           Alguns anos atrás, eu a carregava no colo. Era tão fácil te fazer sorrir. Agora não sei o que fazer para que você se sinta melhor.

-           Você foi maravilhosa hoje, Renie.

-           Mesmo assim, eu sinto a sua tristeza e não sei o que fazer.

      Eu suspirei fundo. Eu também não sabia o que fazer.

-           Eu estou confusa, é só isso.

-           Você o ama?

-           Acho que sim.

-           Você nunca amou ninguém, não é?

-           Na verdade, eu acho que sempre amei Demetri. É estranho, mas é verdade.

-           Não é estranho, querida. Na verdade, é bem compreensível.

-           Eu tenho medo de estar confundindo as coisas.

      Renata sorriu.

-           Isso também é compreensível.

-           As coisas são mais complicadas agora. Eu não entendo os meus sentimentos, não entendo meus desejos.

-           Bem vinda ao clube! As coisas são mais difíceis quando se é adulto. A diferença é que eu tive mais tempo para me acostumar com as mudanças, você não.

-           Ás vezes eu me sinto uma aberração. Quer dizer, eu tenho oito anos e olha para mim! Definitivamente eu não pareço ter oito anos.

-           Acho que é exatamente este o problema de Demetri. Ele quer enxergar você com oito anos, mas o corpo dele não consegue.

-           Eu tenho medo disto.

      Renata sorriu novamente, com mais vontade, desta vez.

-           Não tenha medo, querida, fazer amor é maravilhoso. Você vai ver.

Eu levantei a cabeça e peguei a garrafa de vinho novamente, dando uma golada bem grande. Por alguma razão, o vinho já não estava mais tão doce.

-           Eu tenho medo desta parte também.

-           Tudo no seu tempo. Não apresse as coisas. Você vai saber quando estiver na hora.

-           Heidi não tem medo.

-           Isso porque Heidi é uma vadia!

-           Ele gosta dela.

-           Não! Ele se diverte com ela, apenas. Eu sei que isto é péssimo, mas os homens geralmente são assim. Quando chegar a hora certa, é você que ele vai procurar. Ele ama você, só precisa entender isso. E você também.

-           E o que eu faço?

-           Por enquanto, eu acho que você devia aproveitar mais da vida. Não fique por aí chorando por causa de Demetri ou correndo atrás dele – homens gostam de garotas más!

Um pouco antes do sol, nós nos levantamos e andamos de volta para o Castelo. Eu ainda estava triste e magoada, e ainda existia um ferimentozinho no meu coração, mas estava melhorando. Renata tinha razão – eu não iria ficar por aí chorando e me lamentando.

Quando entramos no castelo, eu ainda me sentia meio bêbada, como se minha cabeça pesasse uns cem quilos. Para minha sorte, Aro não estava lá. Para o meu azar, Caius estava.

Ele sorriu e caminhou com desenvoltura até mim. Eu olhei para ele. Talvez eu estivesse mesmo bêbada demais, mas pela primeira vez, eu o vi diferente. Estranho, eu sei, mas é verdade.

Caius sempre foi bonito, sempre foi elegante e perigoso, mas para mim, ele era só Caius. Hoje ele era mais. Algo na maneira como ele me olhou me disse que ele não me via como se eu tivesse oito anos, ele não se importava. Caius olhava para mim e via o que eu realmente era, uma mulher. Eu me lembrei de tudo que conversei com Renata e então senti um friozinho no estômago – Caius me desejava.

-           Bela Satine. Vejo que teve uma noite agradável, você está maravilhosa.

Ele segurou minha mão entre as suas. Seu toque era delicado, mas poderoso. Eu não disse nada, apenas sorri.

-           Caius, se me der licença, eu preciso fazer minhas malas.

Eu tentei falar fazendo um certo charme. Rezando para todos os santos que eu não soasse completamente imbecil, porque eu não tinha a mínima idéia de como flertar.

-           Já estão prontas. Eu mandei uma criada arrumar todas as suas coisas.

      Bem, por esta eu não esperava.

-           Hum... Bem...

      Eu não tinha a menor idéia do que dizer.

-           Venha, eu mandei prepara o seu café da manhã.

Caius me conduziu gentilmente até a sala de jantar. Eu me sentei e bebi um pouco de café. Depois de algum tempo em silêncio, Caius colocou a mão fria sobre a minha.

-           Minha bela Satine, você não tem idéia do quanto é especial. Em meu tempo, Homens começam guerras por uma mulher como você.

Eu engoli um pedaço de croissant e tomei uma golada de café por cima. Eu não me sentia nem um pouco interessante com um pedaço de pão entalado na garganta.

-           São seus olhos.

-           Não e sim. Não, não são apenas os meus olhos, mas os de todos que a vêem. E sim, os meus olhos a vêem ainda mais especial. Você é perfeita – ele sorriu e inundou toda a sala de jantar com seu som musical – eu sem duvida começaria uma guerra por você.

Eu não disse nada, mas confesso que algo se agitou em meu estômago. Quer dizer, era diferente, não tinha toda aquela emoção desesperada que tinha com Demetri, mas também era bem mais simples. Caius não tinha nenhum problema com o que sentia por mim, ele só queria e pronto. Eu também não tinha tanto medo de magoá-lo ou de fazer a coisa errada – ou os dois – eu apenas deixava acontecer.

            Ele começou a tracejar a linha do meu braço com a ponta dos dedos.

-           Eu sei que quer ir embora hoje, mas eu gostaria de fazer-lhe um pedido.

-           Faça.

-           Fique esta noite. Teremos uma reunião aqui, alguns aliados virão. Eu gostaria que estivesse comigo – e então ele se corrigiu – conosco. Sei que faria Aro feliz, e a mim também.

            Eu pensei por algum tempo. Ele tinha razão, Aro ficaria feliz. Pensei em encarar Demetri novamente e meu estômago revirou – Okay, eu sou uma boba, fato – mas por outro lado, seria uma ótima oportunidade de mostrar a ele que eu havia crescido. Respirei fundo, e deixei as palavras saírem.

-           Eu fico.

-           Perfeito.

Eu dormi um pouco. Pelo resto do dia, para ser mais exata. Eu ainda me sentia mal e desconfortável e tive pesadelos em que eu arrancava a cabeça de Heidi com os dentes e Demetri gritava comigo. Okay, a parte de arrancar a cabeça não era propriamente um pesadelo, estava mais para sonho; mas a parte de Demetri gritando comigo era terrível.

Quando eu me levantei, o sol já era uma linha vermelha no horizonte, o que significava que a tal reunião, estava para começar. Eu suspirei fundo, ainda sentindo a dor no meu peito. Eu queria tanto que as coisas estivessem diferentes, que queria tanto que tivesse sido eu. Com os olhos fechados, fiquei imaginando como seria se fosse eu. Se fosse meu corpo que ele estivesse tocando, beijando. Se você me vestido que estivesse no chão. Se fosse minha carne sentindo a dele. Não era. Nunca seria. De repente, eu perdi a vontade de me arrumar. Não queria mais sair daquele quarto. Tudo parecia tão difícil.

Pensei em minha mãe. Pensei em como eu gostaria de tê-la conhecido. Se eu estivesse com ela, nada disso teria acontecido. Eu não era uma reclamona, mas naquele momento, eu queria colo. Senti minhas bochechas esquentando, esquentando e então, uma lágrima rolou. E outra, e outra. Estúpida! – eu gritei comigo mesma. Eu era mesmo uma estúpida de estar pensando em alguém que me abandonou. A verdade doeu um pouco mais, mas foi suficiente para que eu me lembrasse que ficar ali, chorando na janela, não resolveria nenhum dos meus problemas.

Olhei para as malas prontas no chão do quarto e fiquei tentando recuperar a coragem suficiente para abri-las e procurar algo para vestir. Depois de um tempo, eu decidi que era melhor tomar um banho logo e deixar para escolher a roupa depois.

Quando entrei no closet, eu quase fiquei feliz – um lindo vestido preto estava pendurado em um cabide. Alguém certamente havia pensado em minha falta de disposição.

Tomei um longo banho e ajeitei meus cabelos presos em um coque. O vestido serviu perfeitamente em mim. Era de cetim preto e bem ajustado ao corpo, inclusive a saia, o que não era muito comum na época. Eu parei em frente ao espelho e fiquei olhando a mulher que aparecia ali. Oito anos, apenas oito anos, desde que eu fui encontrada pelos Volturi, e o que eu via no espelho era uma mulher. Jovem, mas uma mulher. Quem será que eu era? Esta era uma pergunta estranha, mas eu não tinha a resposta. Eu não fazia idéia de quem eram meus pais, embora imaginasse que pelo menos um deles fosse um vampiro. Eu terminei de me maquiar e andei pelo corredor, segurando um pouco a saia.

-           Absolutamente perfeita. Como eu imaginei que estaria.

Eu não precisei ver o rosto para saber de quem era a voz – Caius. Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Ele andou em minha direção com as mãos no bolso do paletó. Caius estava muito elegante, vestido de preto. Sua pele azeitonada reluzia como osso, nas luzes fracas dos candelabros. Eu apenas sorri, enquanto o observava.

-           Falta apenas um detalhe.

Caius pegou uma caixinha de dentro do paletó e abriu. Uma linda gargantilha de pedras pretas reluzia dentro dela.

-           Posso? - Ele me perguntou, segurando a jóia nas mãos.   

            Por um instante, eu pensei em como ele era bom comigo. Caius sempre me tratou como uma princesa. Por mais que eu não concordasse com a maneira dele de agir, comigo era diferente. Ele era paciente e cuidadoso, como se quisesse me proteger. Caius olhava para mim com curiosidade e desejo. Ele não tentava esconder ou fingir, seus olhos me mostravam exatamente o que ele queria de mim. Isso era bom.

-           Sim – eu respondi.

Ele se aproximou por trás e colocou a jóia em meu pescoço. Suas mãos frias se demoraram um pouco mais do que o necessário, em minha pele. Caius escorregou os dedos em minhas costas, causando arrepio. Seus olhos procuraram os meus e eu desviei. Eu não conseguia. Eu simplesmente não conseguia parar de pensar em Demetri. Mesmo assim, eu segurei no braço de Caius e ele me conduziu ao salão.

Aro estava lá, seus olhos brilharam quando me viram. Ele realmente estava feliz. Eu cumprimentei a todos e me sentei em meu lugar de direito, junto dos Volturi.

-           É maravilhoso vê-la conosco, minha querida – Aro sussurrou para mim.

      Ele não fazia idéia do verdadeiro motivo, e isso era bom.

Depois de um tempo, eu resolvi andar um pouco pelo jardim. Eu desejava tanto que a noite terminasse.

Eu senti o cheiro, antes de vê-lo. Seu aroma inundava todos os meus sentidos. Eu não conseguia resistir. Quando eu me virei, para constatar o inevitável, eu a vi com ele. Eu não conseguia decidir se eu queria morrer ou matar, mas eu sabia que meus pés não concordavam. Eu não conseguia me mover. Demetri estava lá, sentado no jardim e ela estava com ele. Os braços dela se enrolavam ao redor do corpo dele e eu comecei a sentir algo doce e pegajoso se misturando ao delicioso aroma do meu general.

Pequenas gotas começaram a escorrem em meu rosto. Ele estava lá, com ela. Eu sentia como se um buraco negro estivesse me tragando.

Demetri parou e aspirou o ar, provavelmente percebendo a minha presença. Eu queria correr dali, mas eu não conseguia. Ele se levantou e veio andando até mim.

-           Satine, eu preciso falar com você. Você não entende.

 Eu estava brigando com a minha mente para que algo adulto e inteligente saísse da minha boca em resposta, quando senti duas mãos frias em meus ombros.

-           Não. Você não precisa, general. Os fatos falam por si só.

      Demetri parou. A mão erguida caiu ao lado de seu corpo.

-           Mestre Caius, eu preciso explicar a ela.

-           Explicar o que general? Que você não consegue se controlar? Que não pode manter-se longe de uma mulher? Acho que Satine já percebeu.

      Demetri baixou os olhos e encarou o chão. Caius continuou.

-           Ela merece muito mais do que isso. Ela merece o que você não quer dar a ela. Alguém que a veja como ela é. Alguém que ame.

      Os olhos de Demetri faiscaram.

-           Eu a amo.

-           Talvez, general. Ou talvez só não consiga perder. Se você a amasse não a teria exposto ao que ela viu ontem.

      Ah esta doeu! Doeu em mim, inclusive. Demetri olhou sem entender para Caius.

-           Sim, Heidi veio falar comigo. Ela me disse o que aconteceu.

Bem, agora eu é que estava com vergonha, porque eu não sabia qual parte do que aconteceu, ela havia contado. As mãos de Caius deslizaram delicadamente em meus ombros, enquanto ele continuava.

-           Pelo que acabei de presenciar, o que aconteceu ontem não foi um fato isolado. Eu não vou permitir que brinque com Satine desta maneira.

Eu esperei que Demetri fizesse alguma coisa, esperei pelo menos que ele falasse alguma coisa, mas ele não disse nada. Seus olhos encontraram os meus por um momento e ele desviou. Demetri sempre desviava. Eu me senti tão mal. Senti como se o mundo fosse cair em cima de mim.

-           Satine, Caius tem razão, eu não tenho direitos sobre você.

E então o chão faltou para mim. Caius tirou o manto e o colocou sobre meus ombros.

-           Vamos, minha querida, o ar gelado poderá lhe fazer mal.

Eu andei ao lado dele, sem sentir absolutamente nada. Era como se eu apenas tivesse apagado. Eu me esforcei o máximo que pude para conseguir falar.

-           Eu não quero voltar lá para dentro.

-           Não vou leva-la a lugar algum.

Ele me sentou em um banco e sentou-se ao meu lado. A noite estava fria. Caius tocou meu rosto com as mãos e de repente eu tive vergonha. Fiquei pensando no que Heidi havia dito á ele e minhas bochechas coraram. Ele sorriu.

-           Para mim não faz diferença, Satine. Viva sua vida, eu já vivi a minha.

-           Caius eu...

-           Como eu já lhe disse, Demetri é apenas um soldado. Um soldado do nosso exercito. Podemos substituí-lo assim que for conveniente.

-           Eu não gosto que você fale assim dele.

-           Mesmo depois de tudo.

Eu pensei por um instante no que ele havia dito. A verdade é que mesmo depois de tudo, eu ainda o amava. Eu ainda o queria, e se ele voltasse, eu correria para ele. Quando eu não respondi, Caius entendeu.

            Seu rosto aproximou-se do meu o suficiente para que eu sentisse sua respiração gelada em minha pele. Ele beijou meu rosto. Suavemente, tocando minha pele com os lábios.

-           Deixe-me tentar – ele sussurrou em minha pele.

Eu não estava bem certo do que eu sentia, mas eu estava certa de que sentia alguma coisa. Alguma coisa estranha se agitava em meu estômago e minha pulsação acelerou.

-           Viu, seu corpo reage ao meu toque.

Eu simplesmente odiava o fato de que era a única com batimentos cardíacos. Como é que eu ia esconder alguma coisa dele?

-           Caius isso é involuntário.

-           E é exatamente por isso que é sincero.

Caius tocou a boca na minha. Seus lábios tocando os meus suavemente. E então eu me lembrei: Hey, eu nunca beijei Demetri de verdade! Okay, a gente andou fazendo algumas coisas bem piores, mas beijar mesmo, não! Eu não ia gastar o meu primeiro beijo com Caius!

      Eu me afastei e Caius suspirou. Ele sorriu.

-           Eu sou paciente.

-           Melhor assim.

Eu me levantei e Caius me acompanhou até o meu quarto. Já estava amanhecendo, quando eu desci as escadas com as malas. Demetri não estava lá. Ele não se despediu de mim. Eu reprimi o choro até que o carro deixou o castelo, levando apenas Félix e eu.

Félix abriu o braço e eu me aconcheguei nele. Quando meu rosto tocou seu peito forte, eu chorei. Uma avalanche de lágrimas em seu casaco. Eu não conseguia dizer nada. Tudo que eu sabia era que Demetri não me queria mais e não havia nada que eu pudesse fazer. Ele não estava lá na despedida e não estaria quando eu voltasse.

            Quando paramos na estação, Félix me abraçou e beijou minha testa. Acho que era a maneira dele de dizer que tudo ficaria bem, eu sabia que era mentira. Nada ficaria bem sem Demetri.

            Eu entrei no trem e suspirei – mais uma vez, eu estava deixando minha casa para trás. Mais uma vez eu estava sozinha. Só que desta vez, ele não estaria esperando a minha volta – eu suspirei novamente – se ele não estaria me esperando, então eu não voltaria.


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