Um Erro Inocente escrita por Lady Light Of Darkness


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Sem revisão. ...



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Stella beirava o pânico. Por Deus, o que havia feito? Andando pela biblioteca, ela lutava contra as lágrimas de medo e frustração que ameaçavam vencê-la. Por que dera ouvidos a Hammerback e aos outros?
Sua única preocupação era garantir que o marido voltasse para casa são e salvo. Mas, em vez de ouvir os conselhos de seu coração, deixara-se convencer pelos argumentos do reverendo e dos criados.
Todos a incentivaram a não ceder às exigências do bandido. Eram da opinião de que ela não devia entregar as jóias e o dinheiro na clareira no meio do bosque, conforme ele ordenara.
Sid manifestara a preocupação de que, uma vez de posse daquilo que desejava, o vilão desse fim à vida de Taylor. Afinal, Andrew ainda não sabia que sua identidade fora descoberta. De sua perspectiva, apenas Taylor poderia apontá-lo como autor de um crime hediondo. Seria tolice deixá-lo vivo para testemunhar.
Todos haviam insistido para que Stella deixasse os criados se posicionarem por todo o bosque de forma a cercar o ladrão, que seria observado quando aparecesse para pegar o resgate. Assim, eles o seguiriam de volta até seu esconderijo e salvariam Taylor de uma morte certa.
Assim, enquanto ela vasculhava a casa em verdadeiro desespero, tentando reunir os fundos necessários para pagar o resgate, Hammerback encontrara uma forma de tirar os criados de casa e levá-los para os galpões e estábulos, de onde seguiriam para o bosque a fim de pôr o plano em prática. Ele havia insistido que cada criado partisse com pelo menos meia hora de intervalo, de forma que, caso alguém estivesse observando a casa, não despertassem suspeitas.
Às quinze para as três, Stella havia terminado de arrumar uma pequena valise com as jóias e o dinheiro para levar à localização fornecida por Sam. Deixara a fortuna na clareira, conforme ordenara o bandido, e voltara para casa a fim de esperar por notícias sobre a captura do criminoso. Já escurecia quando Hammerback, desistindo de esperar, pegou a valise e voltou para casa com os empregados.
Agora ela e o reverendo andavam de um lado para o outro sem saber o que deveriam fazer.
— Algo me dizia que eu devia simplesmente entregar as jóias e o dinheiro — ela lamentou, rompendo o silêncio pesado. — Meu Deus, e se Taylor já estiver ferido?
— Não, Stella, esse cavalheiro está mais interessado em obter o dinheiro. Ele será muito mais perigoso depois de obter o que deseja. Até lá, terá de manter lorde Taylor em segurança para ter o que negociar.
Oh, como gostaria de ter a mesma confiança!
— Mas agora nem sabemos o que devemos fazer!
— O patife vai enviar algum tipo de mensagem — Hammerback respondeu seguro. — E se ele seguir a norma, pedirá mil libras além do que já foi solicitado.
Stella fez um gesto de desdém. Não tinha importância o valor solicitado por esse homem. Entregaria tudo, se necessário fosse. Daria tudo que possuía para ter Taylor de volta em total segurança. Daria a própria vida, até.
Ela fechou os olhos para lutar contra uma onda de histeria. Até ser forçada a considerar a idéia de perder Taylor, não havia percebido como ele se tornara vital para sua existência. Tanto que não sabia ao certo se poderia continuar vivendo sem ele.
— Não importa o valor que ele vai pedir, desde que Taylor esteja bem.
Como se sentisse que ela estava a um passo de total colapso, Sid aproximou-se para tocar seu braço.
— Tudo vai ficar bem, minha querida.
Lágrimas transbordavam de seus olhos, apesar da determinação de ser forte pelo marido.
— Não, nada vai ficar bem enquanto Taylor não voltar para casa. Não suportaria perdê-lo agora.
Houve um breve silêncio enquanto o reverendo estudava seus traços tensos. Um sorriso distendeu seus lábios.
— Por que você o ama?
Expressar seus sentimentos em palavras era mais do que julgava ser capaz nesse momento. Stella estava tensa, perturbada. Além do mais, já havia afirmado seu amor por Frankie. Não parecia correto comparar o que sentia por Taylor colocando essas emoções com as mesmas palavras. Afinal, o que sentia pelo marido não era nada parecido com o que sentira por Frankie.
Com Taylor ela não era a mãe zelosa que devia solucionar todos os problemas. Pelo contrário, ele despertava nela sentimentos positivos de respeito, confiança e, sim, feminilidade, pois se sentia desejada e querida. Eram iguais de um jeito que jamais teria sido com Frankie. E apesar de ter ficado furiosa quando fora forçada a se casar, sua revolta se dera mais por ter perdido o controle sobre um fato de sua vida do que por lamentar a perda de Frankie. Por outro lado, a idéia de perder Taylor abria um enorme buraco em seu coração, uma ferida que, ela sabia, jamais poderia cicatrizar.
— Sim, eu o amo — admitiu finalmente em tom trágico. — E ainda não disse a ele.
Hammerback a confortou com a mão em seu braço e um sorriso doce.
— Mas dirá, minha querida Stella. Precisa ter fé.
Lágrimas quentes banhavam seu rosto.
— É muito difícil.
— Bem, pelo menos sabemos que ele está na região. O bandido deve estar muito perto de nós para ter percebido os criados escondidos no bosque.
Um arrepio a sacudiu, fruto da imagem sombria de um criminoso oculto no bosque, talvez até cercando a casa. E durante todo o tempo ele mantinha o pobre Taylor preso e amordaçado em algum lugar terrível.
Maldição! Se pudesse pôr as mãos nesse sujeito... Faria com que ele se arrependesse muito!
— Não podemos nem procurá-lo sem pôr em risco a segurança de Taylor.
— É uma situação delicada — Hammerback concordou com um suspiro preocupado.
— Impossível!
— Acalme-se, Stella. Ele enviará outra mensagem.
Sabia que o reverendo estava apenas tentando mitigar seus temores, mas estava apavorada e agitada demais para controlar sua língua ferina e seu temperamento explosivo. Queria extravasar a raiva de alguma maneira, talvez atirando os livros no chão e quebrando alguns objetos.
— Sim, e o que faremos, então? — perguntou por entre os dentes, contendo o impulso destruidor. — Ele já conseguiu pressentir uma armadilha, lembra?
— Sim, e considero isso muito estranho. — De fato, não havia como contrariar tal lógica.
— O que é estranho?
Sid cruzou as mãos às costas, a testa marcada por uma ruga profunda.
— Mantivemos os criados bem afastados do lugar onde você deveria deixar as jóias, e todos ficaram bem escondidos entre os arbustos. Também tivemos o cuidado de tirá-los de casa dentro de algumas condições específicas para que não fossem notados.
Stella encolheu os ombros, incapaz de seguir raciocínio tão confuso.
— Ele devia estar escondido perto da casa.
— Correndo o risco de ser surpreendido? — O vigário não conseguia entender o estranho comportamento do vilão. — Se pretendia se aproximar tanto, não acha que teria marcado esse encontro para a noite? Teria sido simples pegar as jóias e fugir antes que alguém o visse.
Stella também ficara surpresa com a ousadia do Sr. Badford. Marcar um encontro como esse para o meio da tarde? Como apontara o religioso, teria sido muito mais seguro deixar seu esconderijo protegido pelas sombras da noite.
— O que mais pode ter acontecido, então?
— Não sei. A menos que...
— Sim? O que está pensando, Sr. Hammerback?
Ele a encarou.
— Talvez ele tenha ficado escondido no topo de uma das árvores. Duvido que os criados tenham pensado em olhar para cima, e ele certamente teria uma visão muito melhor da casa sem precisar se expor.
Stella estava quase desprezando a idéia absurda, quando de repente lembrou algo importante. Foi como se o ar ficasse preso em seu peito.
No topo de uma árvore?
— É claro!
Como pudera ser tão estúpida? Por isso o vilão exigira que o encontro acontecesse naquele local específico no meio do bosque, e por isso marcara o encontro para o meio do dia.
Se estava escondido no bangalô de Taylor, não só podia contar com uma visão clara e panorâmica de tudo que ocorria a sua volta, como ainda teria o telescópio para manter o bosque sob constante vigilância. Seria quase impossível chegar à pequenina clareira sem ser visto. E, é claro, aquela seria uma localização mais do que perfeita para manter Taylor prisioneiro.
— Stella, o que é? — Sid perguntou preocupado.
— O topo de uma árvore... — ela repetiu ofegante.
— Sim, eu sei, é absurdo, mas...
— Não, Sr. Sid! E brilhante! — Ela correu ao encontro do velho amigo para segurar suas mãos. — Já sei onde Taylor está.
O reverendo a encarou chocado.
— Você sabe?
— É o único lugar possível.
— Onde?
— Eu direi num instante, mas antes temos de reunir os criados — ela decidiu, já a caminho da porta. — Devemos estar preparados para sair assim que a noite cair e a escuridão puder nos servir de manto.

Taylor nunca se sentira tão furioso em toda sua vida.
Havia sido tolice baixar a guarda só porque não tivera nenhum sinal do mascarado na semana anterior. E não ajudava em nada saber que se distraíra pensando na esposa, enquanto o vilão o espreitava para atacá-lo com uma pistola.
Era mais do que tolo, ele se convenceu. Por causa de sua estupidez não duvidava de que o lunático apontando uma arma para sua cabeça acabasse mesmo por matá-lo com uma bala, tão logo estivesse de posse do tesouro que havia exigido. Ele não fizera nenhum esforço para esconder sua identidade depois de chegarem ao bangalô, como também não havia ocultado o fato de ser, na verdade, um cavalheiro de Qualidade. De maneira nenhuma ele correria o risco de deixá-lo vivo e ser delatado por ter cometido rapto e exigido resgate em troca da vida de um nobre. Pior ainda, Taylor havia posto em perigo a vida de Stella.
E se o lunático ficasse furioso e decidisse punir a inocente mulher por ter preparado uma armadilha para capturá-lo? Ou se percebesse que ela não dispunha de jóias para entregar?
Respirando fundo para conter um forte sentimento de pânico, Taylor testou discretamente a tensão das cordas que o amarravam à cadeira. Já sabia que eram muito apertadas, mas precisava fazer alguma coisa para manter seus pensamentos livres do horror de como essa noite poderia terminar.
Tomando o cuidado de manter a pistola apontada para Taylor, o criminoso dobrou o bilhete que havia redigido pouco antes. Embora fosse um pouco mais jovem do que Taylor havia imaginado, ele possuía uma forte semelhança com os traços que Stella reproduzira naquele desenho. Também havia algo de ligeiramente familiar na linha do queixo e no formato dos olhos, alguma coisa que Taylor tentava reconhecer, mas não conseguia.
— É melhor começar a rezar para que sua esposa demonstre um pouco mais de bom senso na próxima vez, meu lorde — ele resmungou com voz gelada. O homem era certamente um louco e estava disposto a tudo para salvar a própria pele. — Se tentar agir com esperteza novamente, ela vai acabar viúva.
Taylor se recusava a demonstrar o medo que pulsava em suas veias como um poderoso veneno.
— Vai pagar por isso, sabe? Com a vida!
O homem gargalhou.
— Oh, não, não tenho nenhuma intenção de ser enforcada. taylor não duvidava de que ele faria qualquer coisa para evitar tão temido destino, incluindo assassinato. Infelizmente, nesse momento ele não podia fazer nada além de manter o homem falando enquanto esperava por um resgate.
— Diga-me, Sr. mascarado, que jóias são essas que tanto deseja obter?
— As jóias de minha querida tia Margo.
Taylor ergueu as sobrancelhas.
— Roubou as jóias de sua própria tia?
— Ela se recusava a me fazer o empréstimo de que eu precisava com desespero, e por isso decidi me servir de sua herança. Infelizmente, o idiota do filho dela chegou no exato momento em que eu as tirava do cofre, e fui forçado a escondê-las dentro de uma estatueta que se encontrava sobre uma mesa perto da parede. Frankie pode ser estúpido, mas até ele teria notado o volume das jóias prejudicando o caimento de meu casaco.
Taylor ouvia com atenção, os olhos apertados e os lábios selados.
O cavalheiro prosseguiu com tom orgulhoso:
— Sabia que só teria de voltar mais tarde e pegar a estatueta. Não imaginava que o pateta havia comprado aquele adorno horroroso para dar de presente à noiva. Levei semanas para me dar conta de que as peças já não estavam mais naquela casa.
Taylor respirava profundamente, tentando manter a aparência calma. O criminoso havia revelado mais do que pretendia. Não só contara que as jóias roubadas pertenciam à Sra. Carter, como também acabara identificando-se como primo de Frankie. Se conseguisse sair dali com vida, não seria difícil encontrá-lo e levá-lo à justiça.
Se algum dia saísse dali com vida...
Era difícil combater a frustração e o desânimo.
Faça-o falar, Taylor, ele pensou. Stella era uma mulher de muitos e surpreendentes recursos. Se alguém podia imaginar onde estavam escondidos, ela o faria. Tinha de apegar-se a essa esperança.
— Então, veio até aqui para apoderar-se das jóias — comentou com tom calmo.
— Oh, sim — ele confirmou com um sorriso frio. — As jóias são minhas. E por todo o trabalho que tive, exigi também mil libras como abono. Talvez peça três mil, agora que fui obrigado a perder mais tempo.
Taylor franziu a testa ao reconhecer a evidente ganância do cavalheiro.
— Não dispomos de três mil libras em casa.
Ele sorriu com desdém.
— Nesse caso, espero que sua doce esposa pense em obter um empréstimo o quanto antes. Eu odiaria se ela... — Um ruído abafado o interrompeu, e ele se virou para a porta fechada. — O que foi isso?
— O quê?
— Ouvi um barulho. — Agindo como um rato encurralado, ele brandiu a pistola de maneira ameaçadora na direção de Taylor. — Nem pense em gritar ou fazer algum movimento mais ousado, meu lorde, a menos que queira um buraco aberto bem no meio do seu coração.
Taylor não tinha intenção de se mover. Também havia escutado o ruído abafado, mas esperava que seus criados na houvessem revelado a própria presença de maneira tão desajeitada, a menos que tudo fosse uma armadilha muito bem preparada. Esperava sinceramente que eles quisessem mesmo atrair o criminoso para fora do bangalô. Também esperava que o pânico súbito do vilão não o levasse a concluir que era melhor acabar de vez com a única testemunha que poderia incriminá-lo.
Amaldiçoando as cordas que o mantinham preso à cadeira, Taylor prendeu a respiração enquanto o homem abria a porta com todo cuidado para espiar pela fresta. Por um momento nada ocorreu, e Taylor quase gritou para livrar-se do desapontamento.
E então, com uma rapidez impressionante, a porta foi praticamente arrancada das dobradiças e meia dúzia de seus criados agarraram, derrubaram e imobilizaram o bandido.
A batalha terminou antes mesmo de começar, e Taylor quase gargalhou quando Pietro passou por cima do homem amarrado no chão para aproximar-se dele.
— Meu lorde, está ferido? — ele perguntou, revelando com o olhar sua disposição de vingar imediatamente qualquer ferimento que o seqüestrador pudesse ter lhe causado.
— Não. — Ele olhou por cima do ombro do cocheiro e viu o criminoso sendo levado por seus criados. — O homem está morto?
— Acredito que não, meu lorde. Apenas inconsciente.
— Que bom — ele disse aliviado, esperando que o serviçal o libertasse da incômoda posição. — Por mais que aprecie a idéia de enfiar uma bala na boca desse malfeitor, sei que terei maior prazer em assistir ao seu enforcamento.
Pietro cortou todas as cordas que prendiam seu senhor.
— Sim, meu lorde.
Solto, Taylor se levantou imediatamente, esperando um momento para superar a sensação de formigamento nos pés e nas mãos. Por um momento ele cambaleou, quase caindo de joelhos. A combinação de nervosismo e horas seguidas de imobilidade o deixavam tonto. Por sorte, seu fiel cocheiro foi rápido e o amparou passando um braço em torno de sua cintura.
— Obrigado, Sam. — Ele sorriu atordoado, desejando apenas ir para casa e ter a esposa nos braços. — Vamos voltar para Casa.

Taylor puxou a esposa contra o peito e ajeitou as cobertas sobre seus corpos. Havia esperado muito tempo para poder desfrutar de uma pequena medida de privacidade com Stella, ele pensou com um suspiro satisfeito.
De volta , encontrara sua casa mergulhada no caos. Stella não só havia mandado chamar o magistrado local, como também mandara buscar o médico, que se recusara a sair antes de examiná-lo detalhadamente. Depois de ouvir toda a história sobre Andrew Bradford, o magistrado o algemou e levou sob custódia. O médico garantiu que ele estava bem, todos os criados puderam ver que seu amo estava bem... E a noite estava quase no fim.
Isso não o impedira, no entanto, de buscar conforto no abraço de Stella assim que a casa se aquietou e todos se recolheram.
O encontro foi marcado por uma urgência ao mesmo tempo doce e amarga, emoção provocada pela certeza de que haviam estado muito próximos de perderem um ao outro. Taylor a mantinha em seus braços e sentia-se muito feliz por constatar que agora tinham todo um futuro pela frente.
— Meu pobre Taylor — Stella murmurou, tocando os ferimentos deixados pelas cordas em seus punhos.
— Pobre, realmente — ele concordou, beijando sua testa com ternura. Ainda não sabia o que havia feito para merecer a felicidade de ter essa mulher em sua vida. — Vou precisar de cuidados intensivos e constantes até me recuperar.
Sua intenção havia sido fazê-la sorrir, mas Stella ficou tensa ao reviver a fúria despertada por Andrew.
— Quando penso que aquele bandido poderia...
— Não. — Ele a silenciou pousando um dedo sobre seus lábios, confortável demais para recordar os horríveis eventos daquele dia. — Nunca mais veremos Bradford ou sofreremos suas ameaças. Nenhum bem pode advir de revivermos um passado tão tenebroso. Só quero que saiba que estou impressionado com sua astúcia. Não fosse por você ter deduzido onde o criminoso me mantinha cativo, eu ainda estaria amarrado naquele bangalô.
— Também acho que fui muito astuta — ela concordou rindo, aninhando-se em seu peito como se nunca mais pretendesse afastar-se dali.
Taylor riu.
— Linda e modesta. Uma combinação irresistível. O que mais um homem pode querer?
— Devia ter deduzido a verdade muito antes — ela confessou um pouco aborrecida. — Só parei para pensar nessa possibilidade quando conversava com o Sr. Sid sobre como ele estranhava o fato de o Sr. Bradford ter conseguido descobrir a presença dos empregados e sua decisão de marcar o encontro para o meio da tarde. Foi então que me dei conta de que ele devia ter usado o telescópio do bangalô para observar nossos movimentos.
Deixando os dedos acariciarem o cetim perfeito de sua face, ele emitiu um profundo suspiro.
— Foi um erro deixar a escada no chão. O vilão só descobriu o esconderijo por causa desse meu deslize.
Ela se virou para encará-lo, sua expressão firme à luz das velas.
— Não, estou feliz por ter deixado a escada aparente. Ele estava determinado a raptá-lo, e se o tivesse levado para outro lugar, nós nunca o encontraríamos.
Taylor sorriu.
— Bem, como disse um famoso bardo muito antigo, tudo está bem quando acaba bem.
— Exatamente.
— Presumo que o Sr. Carter já esteja planejando sua partida para breve? — Era difícil manter a voz baixa e controlada Não acreditava mais que Frankie Carter estivesse envolvido com as atitudes criminosas do primo, mas não podia negar um forte e premente desejo de livrar-se de sua incômoda presença. Não queria dividir Stella com ninguém, especialmente ex-noivo.
— De fato — ela confirmou rindo. — ele foi para a cama bem cedo depois de termos encontrado as jóias da Sra. carter, e negou-se a sair do quarto até ter certeza de que o primo havia sido levado em correntes. Agora ele está ansioso para voltar a State Island e provar à preciosa mãezinha que não estava envolvido no roubo.
— Pois que vá de uma vez.
— Taylor!
Não pediria desculpas por sua antipatia.
— O homem é um bufão, Stell! E por isso nos causou problemas de grande monta, primeiro atraindo sua piedade e induzindo erros afetivos com sua conduta chantagista, depois lhe oferecendo um presente perigoso. Uma estatueta cheia de jóias roubadas!
— Ele não sabia sobre as jóias. Sejamos justos.
— Estou sendo mais do que justo. Pense em todos os meses de sofrimento que suportei, no ciúme que senti acreditando que o amava!
— Sentiu ciúme? — Ela levantou as sobrancelhas compondo uma expressão debochada. — Não acredito nisso.
— Pois pode acreditar, minha querida. E foi um ciúme amargo, devastador, quase assassino.
Ela fingiu pensar um pouco no assunto enquanto sentia os dedos acariciando seu braço. Stella retribuiu o afago, e Taylor estremeceu de prazer. Era impressionante! Só precisava estar perto da esposa para ser consumido pela paixão. Uma sensação assustadora, mas deliciosa.
— Bem, ele também é responsável de algum modo por nossa união.
Taylor fez uma careta, recusando-se a ceder um milímetro que fosse ao tolo covarde.
— Prefiro acreditar que foi o destino. Não consigo imaginar nenhuma outra mulher senão você como minha esposa.
Os olhos dela ganharam uma nova luz depois dessas palavras, e uma expressão estranhamente sombria dominou seu rosto pálido.
— Taylor?
— Sim, minha querida?
Houve uma pausa prolongada antes de ela pigarrear nervosa.
— Há algo que desejo lhe dizer.
Ele sentiu o coração parar de bater. Haviam enfrentado muitas coisas juntos num curto espaço de tempo. Stella não podia estar arrependida agora! Não acreditava ser capaz de suportar tal golpe.
— Não estou gostando do seu tom de voz — ele tentou brincar, assustado demais para encorajá-la a falar.
— Não se impressione com minha seriedade. É que...
Respirando fundo para dominar os nervos, ele a tocou no rosto. O que quer que desejasse falar não queria que ela sentisse medo de dizer sempre a verdade. Era hora de instaurar definitivamente a honestidade em seu relacionamento.
— Pode me dizer qualquer coisa, Stell.
— Eu... amo você — ela murmurou encabulada.
Um alívio incrédulo e perplexo o invadiu, deixando-o tonto como se houvesse consumido uma dúzia de garrafas de champanhe. Incapaz de conter-se, ele jogou a cabeça para trás e riu. Riu muito, gargalhadas profundas e sinceras que ecoavam por todo o quarto.
Ofendida pela reação incomum a sua declaração de amor, Stella encarou-o com um misto de ressentimento e vergonha.
— Qual é a graça?
Tentando conter o riso, Taylor inclinou-se para beijá-la nos lábios.
— Você parecia estar se preparando para confessar que havia incendiado o estábulo com todos os cavalos dentro! Nunca imaginei que pudesse estar prestes a ouvir uma declaração de amor.
Contrariada com o tom brincalhão, ela balançou a cabeça.
— Não devia ter falado nada.
Gostaria de saber se o coração de um homem poderia explodir de alegria. Se isso fosse possível, corria o sério risco de morrer ali, na cama de sua esposa.
— Agora é tarde, minha querida. Não pode mais retirar o que disse — informou-a com firmeza, memorizando com o olhar cada pequeno detalhe de seu adorado rosto. — Não importa como declara seu amor, você sempre enche meu coração de alegria.
— E também o divirto muito, certamente.
Beijando-a nos lábios mais uma vez, Taylor encarou-a sério.
— Peço que me desculpe pela reação espontânea, minha querida. Sei que não deve ter sido fácil dar o primeiro passo e tomar a iniciativa de dizer essas palavras, e por isso vou aplacar seu constrangimento confessando que também a amo. Adoro você, minha doce Stella. E quero tê-la a meu lado para sempre. Você é a mulher dos meus sonhos, minha mais cara e secreta fantasia que se realiza.
Ela o abraçou emocionada, os olhos brilhando como preciosas esmeraldas à luz dourada das velas.
— Oh, Taylor...
— Meu amor. Deus devia estar realmente olhando por nós, ou não teria permitido que dois tolos teimosos e arrogantes se encontrassem em meio a tantas pessoas.
— Quase não aconteceu, não é?
Taylor não tinha coragem nem mesmo de reconsiderar o estranho emaranhado de circunstâncias que haviam posto essa mulher em seu caminho. Como teria sido fácil nunca perceber que Stella era a única esposa certa para ele, e como teria sido ainda mais simples ela terminar atada para sempre a Frankie.
Seu estômago se contraía quando pensava nisso, e ele balançou a cabeça.
— Quase... — respondeu em voz baixa, como se temesse reconhecer o perigo que haviam corrido. — É insuportável pensar que poderíamos estar separados agora.
Ela sorriu.
— Mas estamos juntos, e tudo porque você invadiu meu quarto com a intenção de seduzir-me.
Sedução.
Uma expressão provocante substituiu a sobriedade anterior. Esse era um assunto mais interessante para o momento.
— Aquele foi só o início de toda uma vida pontuada por noites de sedução. Invadirei seu quarto centenas de vezes, meu amor, e sempre com o propósito de seduzi-la — ele prometeu, deslizando as mãos por seu corpo de maneira a comprovar sua intenção.
— Meu lorde, o que tem em mente?
— Bem, consegui comprar as terras vizinhas às nossas antes de ser raptado. Vamos precisar de herdeiros que apreciem meu esforço.
— Ah, sim, essa é uma idéia muito objetiva e lógica.
— Certamente. Afinal, não devemos negligenciar deveres de família.
— Nunca...
— Além do mais, se devo voltar à minha cama sozinho, preciso levar algum conforto que me mantenha aquecido e satisfeito pelo resto da noite, até podermos nos encontrar novamente.
Ela o encarou séria.
— Não.
Claredon piscou confuso.
— Não?
— Quero que você fique.
— Aqui? — ele indagou incrédulo.
— Sim, aqui.
Sabia que essa era a última barreira que ela ainda mantinha, o último obstáculo que caía por terra, e por isso ele a amou mais uma vez com paixão ainda maior. Finalmente Stella aceitava o verdadeiro compromisso da união entre um homem e uma mulher que se amavam e pretendiam viver juntos para sempre, sem dúvidas ou hesitação.
— Tem certeza? — ele ainda persistiu uma última vez, temendo pressioná-la.
Ela sorriu.
— Não quero me separar de você nunca mais.
— Quem sou eu para contestar tão poderoso argumento? Prepare-se para ter-me a seu lado até a eternidade, meu amor.
— Isso é tudo que quero.
Sorriu acariciando sua face e o beijando apaixonadamente.


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