Um Erro Inocente escrita por Lady Light Of Darkness


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Olhá só mais... Sem revisao nao me matem....



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Uma hora mais tarde, Stella desenhava as rosas que haviam desabrochado na estufa.
Apesar da determinação anterior de dedicar-se ao hóspede, se havia descoberto incapaz de forçar os pés relutantes a levarem-na à sala onde era servido o café-da-manhã. Em vez disso, seguira silenciosa pelos corredores levando um sorriso discreto nos lábios. Precisava ficar sozinha com seus pensamentos.
Como poderia conversar com o Sr. Sid, ou ouvir as intermináveis ladainhas de Frankie, quando tudo que desejava era dançar pela casa e cantar com toda a força de seus pulmões?
Com os olhos fechados, deixou-se inundar pelas deliciosas lembranças.
Na tarde anterior, quando estiveram no bangalô sobre a árvore, Taylor revelara uma ternura e um interesse que a haviam tocado no recanto mais profundo da alma. E na noite passada...
Ah, a noite anterior expusera uma forte necessidade, um instinto que ele não podia controlar, e essa revelação servira para que ela conhecesse a sensação de ser desejada. Ainda estremecia quando lembrava aqueles momentos de paixão...
Nunca, nem em seus sonhos mais ousados, havia pensado que poderia ser tão liberal, tão provocante, ou que uma resposta tão pronta poderia ser arrancada de seu corpo pelas mãos hábeis do marido.
O fato de ter conseguido chocar até a si mesma aumentara a relutância em permitir que outros percebessem que agora eram de fato marido e mulher. Era absurdo, sabia. Mas não conseguia abrir mão de anos de modéstia em poucas horas.
Um sorriso travesso distendeu seus lábios.
Além do mais, era decididamente encantador ter o marido esgueirando-se até seu quarto para despertá-la com uma rosa.
Seu coração bateu mais depressa, mas, balançando a cabeça, ela ignorou o conhecimento de que navegava por águas perigosas. Talvez suas emoções estivessem se tornando confusas demais, mas não conseguia mais erguer as barreiras que antes mantivera entre ela e Taylor.
O som da porta da estufa se abrindo interrompeu a reflexão, e ela se virou para ver o Sr. Sid aproximando-se com passos lentos. Com esforço, tentou disfarçar o sorriso maroto que, sabia, acabaria de expô-la.
— Ah, aí esta você, minha querida — ele murmurou depois de se sentar no banco ao lado do dela.
— Sr. Sid.
O religioso inclinou-se para estudar o esboço que ela começara pouco antes. Os traços eram muito semelhantes aos das rosas que a cercavam.
— É encantador.
— Muito obrigada.
Ele a viu deixar de lado o bloco de desenho e suspirar.
— Sentimos sua falta à mesa do café.
Uma ponta de culpa a incomodou quando, séria, ela se deu conta de que negligenciava seus deveres de anfitriã com esse admirável cavalheiro. Ele não só havia vivido a desagradável e assustadora experiência de se deparar com um ladrão, mas ainda fora condenado a passar intermináveis e solitárias horas ao lado de Frankie. Sem dúvida, o Sr. Sid preferia o ladrão.
— Perdoe-me — murmurou arrependida. — Mas hoje acordei com uma forte vontade de desenhar um pouco...
— É compreensível. Com o talento que tem para o desenho, devia produzir mais obras — ele sugeriu sem demonstrar o menor sinal de censura.
Sua natureza doce só fazia aumentar a culpa, e ela sorriu.
— Oh, não, eu apenas rabisco algumas coisas. Linds sempre foi a verdadeira artista — disse, referindo-se à sua querida amiga de Manhattan .
Hammerback assentiu.
— Ela é impressionante, de fato. Sabe que pintou meu retrato recentemente?
— É mesmo?
— Ficou muito bom. A Sra. Strauss comentou desapontada que ela foi capaz de capturar meus traços com precisão assustadora.
Stella ergueu as sobrancelhas.
— Mas é esse o objetivo de um retrato. Por que ela ficaria desapontada?
Sid riu.
— Creio que a pobre mulher pensava que seria mais digno se eu fosse retratado com mais cabelos e menos papos sob o queixo.
— Bobagem — Stella respondeu com lealdade e bom humor. Esse homem era a pessoa mais gentil e bondosa que jamais tivera o prazer de conhecer, e não mudaria absolutamente nada nele. Nem mais um fio de cabelo, nem um grama a menos de papo. — É perfeito como Deus o fez, Sr. Sid.
Ele riu do tom sério.
— É uma menina muito delicada, minha querida.
— Como vai Linds? — De repente percebia que sentia saudade das amigas de infância. Linds sempre havia sido capaz de fazê-la rir, enquanto Catherine, outra preciosa amiga, a mais sensata do grupo. Juntas elas haviam formado elos inabaláveis que existiriam para sempre.
— Ah, ela está muito feliz — o reverendo respondeu animado.
— Que bom. Fico aliviada com essa notícia. Afinal, ela nunca aceitou inteiramente a idéia de se casar com o Sr. Messer.
Sid levantou as mãos.
— Como acontece no início de todos os casamentos, existem algumas dificuldades a serem enfrentadas. Questões de adaptação, entende? Duas pessoas que mal se conhecem são forçadas a dividir uma casa, e os confrontos são inevitáveis. Mas podem ser solucionados com um pouco de boa vontade Linds e danny possuíam expectativas um do outro, e por isso não conseguiam perceber a verdade do que sentiam. Assim que decidiram buscar o entendimento, tudo ficou bem.
Stella conhecia as dificuldades da vida de recém-casada. Seu casamento também havia sido uma ocorrência precipitada, seguida por meses de amargos ressentimentos e acusações silenciosas, veladas. Seria um grande prazer deixar esse período sombrio no passado.
— Fico feliz por ela.
— Como eu também fico —Sid respondeu sorrido. — E também tenho grande alegria em dizer que Catherine vai muito bem, também.
— Nunca duvidei de que ela seria feliz no casamento. — Ainda recordava o prazer delirante de sua querida amiga por ter descoberto o cavalheiro de seus sonhos. — Ela amou lorde Grissom desde o início.
— Sim, até descobrir que o homem precisava desesperadamente de sua herança.
Stella o encarou chocada. Sua doce e querida Catherine havia sido enganada por um patife? Uma raiva surda a invadiu.
— Está dizendo que o homem era um caçador de fortunas?
— Creio que por essa razão ele buscou ser apresentado a Catherine.
Stella cerrou os punhos. E pensar que havia até sentido uma certa simpatia por lorde Grissom! Ele parecia tão dedicado a Catherine, tão enamorado dela...
— Mas que... canalha! — exclamou revoltada.
— Não seja tão ríspida — Sid a censurou com doçura. — Ele é um cavalheiro bom e honrado e ama Catherine acima de tudo. E creio que lorde Grissom já foi adequadamente punido por sua mentira.
— Espero sinceramente que sim — ela confessou, incapaz de perdoar o homem que havia magoado sua amiga.
— O casal resolveu seus problemas, minha querida, e Catherine perdoou o marido de coração. Não foi uma tarefa simples, mas o esforço rendeu bons frutos, e agora ela está em paz. Não é nada agradável viver com o coração carregado de ressentimentos e amargura.
Percebendo que ele não se referia mais a Catherine, mas a seu relacionamento com Taylor, Stella sorriu.
— Sim, eu sei.
Houve um silêncio breve enquanto ele a estudava.
— Como se sente, minha cara? Notei que estava muito quieta ontem à noite, durante o jantar.
Apesar de toda a determinação em manter a compostura, foi impossível evitar o violento rubor que tingiu seu rosto. Não havia conseguido comer nada durante o jantar da noite anterior, ocasião em que o marido havia sorrido e lançado olhares repletos de promessas de prazer e paixão. Não entendia como a mesa não se havia consumido em chamas, tal o ardor em seus olhos.
— Eu estou bem, Sr. Sid.
— Alguma coisa a incomoda?
Sabendo que o cavalheiro era astuto demais para ser enganado, ela o encarou com um sorriso frio.
— Quer saber se mais alguma coisa me incomoda, além de um lunático que me persegue e um ex-noivo hospedado em minha casa?
O religioso riu.
— Sim, é uma situação problemática.
— Mas vai passar — ela argumentou com indiferença.
— Bem, não há muito que eu possa fazer para ajudá-la com relação ao lunático, mas posso manter o Sr. Frankie bastante ocupado durante sua estadia.
Pega de surpresa pela oferta generosa, Stella respondeu com um movimento instintivo de cabeça.
— Oh, não, eu não poderia esperar tal coisa de um bom e velho amigo que, além do mais, também é hóspede em minha casa.
— Ah, mas eu não me importo.
— Porque não tem plena noção do que está oferecendo — ela explicou antes de poder conter as palavras impulsivas.
Sid tossiu para disfarçar o riso.
— Descobri que o Sr. Carter pode ser um pouco... sufocante.
Ela fez uma careta ao pensar em todas as horas que fora obrigada a passar literalmente sufocada pela autopiedade de Frankie.
— Digamos que essa é uma forma bem política de descrevê-lo — retrucou.
Tarde demais, ela se deu conta de que revelava mais do que pretendia em princípio. Hammerback ergueu as sobrancelhas e a encarou curioso.
— Devo deduzir que não está mais tão decepcionada por não ter conseguido fugir com o Sr. Carter?
Ela baixou os olhos para esconder o horror provocado pela idéia de passar o restante da vida presa a Frankie. Céus, teria entrado em desespero na primeira semana!
— Não posso negar que fui tola e impulsiva — confessou cautelosa. — Não conhecia Frankie o suficiente. Não para considerar um casamento.
Com a bondade de sempre, Hammerback tocou a mão dela e sorriu.
— Não é tão surpreendente assim, minha menina. Você é uma criatura com grande necessidade de ajudar ao próximo. É muito fácil confundir piedade e amor.
Era o que havia dito a si mesma, mas um medo persistente ainda encontrava refúgio em seu coração, um receio do qual não poderia falar com Taylor.
— Não posso dizer que isso me conforte, Sr. Hammerback.
Sentindo sua vulnerabilidade, talvez, o reverendo inclinou-se para encará-la com um sorriso encorajador.
— Qual é o problema, Stella?
Ela refletiu por um momento antes de encolher os ombros.
— Se pude cometer tão grande engano com relação aos meus sentimentos uma vez, como posso confiar neles novamente?
O religioso ficou sério, mas continuou segurando a mão dela.
— Não existem certezas na vida, Stella, e pode ser muito assustador encontrar-se vulnerável a outro ser humano.
Já se havia feito mais vulnerável a Taylor do que jamais sonhara ser possível, expondo assim o coração ao risco de uma grande decepção.
Podia ter aprendido a confiar em Taylor, mas ele nunca oferecera mais do que sua paixão. Como poderia entregar seu coração, se ele nunca corresponderia às suas mais íntimas emoções? Seria insuportável apaixonar-se por um homem que nunca a amaria, que poderia até se sentir incomodado com o fardo da ligação entre eles.
— Sim — murmurou.
Ele afagou sua mão pela última vez antes de se recostar e voltar a sorrir.
— Tudo que sei é que o amor se resume em duas pessoas colocando a felicidade do outro acima da própria felicidade. Quando existe amor, não existe uma pessoa aceitando e a outra ofertando.
De repente ela compreendeu o significado da mensagem e sentiu-se muito melhor.
— Era esse sentimento que existia entre meus pais.
— E que um dia você conhecerá, Stella. Estou certo disso. — Hammerback levantou-se e cruzou as mãos sobre o ventre esguio. — Agora devo ir encontrar o Sr. Carter. Aproveite a manhã, minha querida.

Quase duas horas mais tarde, Stella foi procurar o marido. Sabia que era ridículo, mas sentia-se incomodada com a idéia de ele sair galopando pelo campo, mesmo acompanhado por um lacaio. Não ficaria tranqüila enquanto ele não retornasse em segurança.
Sabendo que o mais provável era que ele se dirigisse à biblioteca assim que pusesse os pés em casa, ela se encaminhou para esse mesmo aposento. Foi um choque descobrir que Frankie já estava lá, em pé ao lado da mesa, estudando com atenção um pedaço de papel que tinha entre as mãos.
Pensando em sair antes de ser notada, Stella censurou-se pela reação covarde e respirou fundo, preparando-se para ficar. Nesse instante, Frankie levantou a cabeça e a viu.
Mais ou menos encurralada, ela forçou um sorriso.
— Oh, olá, Frankie. Bom dia.
— Bom dia, Stella — ele respondeu, voltando a estudar o papel.
Curiosa com a estranha e incomum distração, ela deixou de lado a relutância em passar mais do que um minuto além do necessário em sua companhia e atravessou a sala.
— O que é isso? Alguma coisa importante?
— É muito estranho...
— O que é tão estranho?
Ele apontou para a mesa com ar vago.
— Estava procurando por um pouco de cera para lacrar a carta que escrevi para minha mãe, quando encontrei este desenho de Andy. Não sabia que você o conhecia.
Desenho?
Stella parou de respirar enquanto se movia para examinar o papel nas mãos dele. Não havia dúvida. Era o desenho que fizera do vilão, ela reconheceu incrédula e aturdida.
Umedecendo os lábios ressequidos, tentou banir qualquer tensão da voz ao perguntar:
—Andy ?
— Sim. Andrew Bandford, meu primo — ele respondeu prontamente, sem se dar conta da tensão que pairava no ar. — Não é ele?
Com mãos repentinamente trêmulas, Stella tomou o papel da mão dele.
— Fiz esse desenho seguindo a descrição de um ladrão que tentou entrar em nossa casa pulando a janela da biblioteca.
— O quê? Isso é impossível!
Não seria correto nem sensato tirar conclusões precipitadas, e por isso ela tentou se acalmar e dominar o coração acelerado. Frankie bem podia estar enganado. Afinal, aquele era apenas um esboço feito a partir das vagas recordações do Sr. Hammerback.
— Fale mais sobre seu primo. Nunca o mencionou antes.
Frankie encolheu os ombros, olhando para ela como se duvidasse de sua sanidade mental.
— Receio que minha mãe não o aprove realmente.
Stella conteve o riso. A Sra. Carter não aprovava ninguém que não fosse útil para suas aspirações de progredir socialmente.
— Por que não?
— Bem, você a conhece. Meu primo gosta de jogar e mantém relacionamentos muito próximos com diversas atrizes, e minha mãe não concorda com essas escolhas.
Não era muito, mas pelo menos sabia que Andrew era um homem dado ao jogo, o tipo de indivíduo que podia precisar de rendimentos altos e rápidos.
— E agora as jóias de sua mãe desapareceram — ela murmurou, começando a acreditar no que Taylor dizia sobre tudo isso não ser apenas uma simples coincidência.
— Sim... — Frankie também parecia ter concluído algo importante e surpreendente. — Espere um minuto! Não pode estar insinuando que Andrew roubou as jóias!
Sim, sabia que a insinuação soava absurda. Que prova tinha? Nada além de um desenho vago e uma intuição sem nenhum fundamento concreto.
— É a única coisa que faz sentido — ela respondeu, tanto para convencer-se quanto para convencer o ex-noivo. — Mas por que ele pensaria que estou de posse dessas jóias?
Frankie balançou a cabeça, deixando claro que não desejava discutir um assunto tão desagradável. Preferia ignorar tais questões e deixar que outros se incumbissem delas.
— Não entendo o que está dizendo.
Não o deixaria escapar tão facilmente. Era um assunto importante demais para deixar de discuti-lo a fim de preservar seus nervos sensíveis.
— Quando foi a última vez que viu seu primo?
— Não sei — ele respondeu agitado, movendo-se como se considerasse a possibilidade de fugir correndo. — Há três semanas, talvez.
— Ele mencionou alguma coisa sobre as jóias de sua mãe?
— É evidente que não! Andrew nem sabia sobre o desaparecimento dessas jóias! De fato, ele falou apenas sobre sua falta de sorte no jogo e... — De repente ele parou, a testa franzida pela lembrança de algum detalhe intrigante nessa conversa com o primo.
— O que foi? — Stella insistiu irritada.
— Bem, ele parecia particularmente interessado naquela estatueta que comprei para você. Disse que queria copiá-la para oferecer essa cópia de presente a uma de suas amantes recentes. Andrew ficou muito agitado quando contei que já havia enviado a estatueta para você como um presente de noivado. Julguei seu comportamento estranho, mas... Bem, Andrew sempre fez questão de dizer que sou um cavalheiro de mau gosto. Este casaco, por exemplo...
— Frankie — Stella o interrompeu com firmeza, recusando-se a perder a oportunidade de descobrir mais sobre toda essa questão das jóias. — Tem certeza de que ele estava interessado na estatueta que você me deu?
Frankie assentiu.
— Suponho que tenha se interessado por ela no início daquela semana, quando a viu pela primeira vez.
Estatueta?
Não fazia sentido. Embora não houvesse examinado o presente de maneira detalhada, tinha certeza de que ele não possuía grande valor material. Não para ser objeto de um roubo. Francamente, a estatueta era muito feia e retratava uma mulher vestida num daqueles vestidos muito amplos e armados usados pelas damas das décadas anteriores. Não havia jóias ou...
De repente ela foi tomada por uma súbita inspiração.
Talvez houvesse jóias... embora ainda não as houvesse descoberto.
Agarrando o braço de Frankie, ela o puxou para a porta com grande impaciência.
— Venha comigo.
— Stella, aonde estamos indo? — ele quis saber, tropeçando nos próprios pés enquanto era praticamente arrastado pelo corredor.
— Venha comigo e já vai entender — ela prometeu, subindo a escada e atravessando o corredor do segundo andar. Quando chegou aos seus aposentos, ela empurrou a porta e entrou.
— Por Deus, Stella — Frankie gemeu aflito da porta.
— O que é?
— Não posso entrar em seu quarto.
— Ah, pelo amor de Deus —- ela respondeu irritada, deixando-o onde estava para ir buscar a estatueta que deixara na pequenina mesa de canto ao lado da cama. Com ela nas mãos, voltou apressada para onde Frankie a esperava. — Aqui está.
— A estatueta? — ele perguntou surpreso.
— Deve haver alguma coisa... — Girando-a de um lado para o outro, Victoria finalmente notou uma pequena trava nas costas do vestido. Tremendo, ela a puxou para cima e descobriu uma porta cortada na porcelana. Um trabalho de mestre, sem dúvida alguma. O objeto fora projetado para guardar os pertences pessoais de uma mulher. E já havia alguns objetos dentro daquela estranha peça. — Oh... Oh, meu Deus!
— O que é? — Frankie quis saber.
Incapaz de fazer funcionar adequadamente os dedos trêmulos, Stella virou a estatueta de forma a fazer cair dela um colar de diamantes e um par de brincos que fazia conjunto com ele. As jóias caíram na palma de sua mão.
— Veja... — ela sussurrou perplexa.
— As jóias de minha mãe — Frankie constatou chocado. — Mas como elas foram parar dentro dessa estatueta?
Incapaz de acreditar que suas loucas suspeitas se confirmavam, afinal, ela balançou a cabeça
— Creio que somente Andrew pode nos dar a resposta para essa questão.
Frankie recuou um passo, a testa marcada por uma ruga profunda.
— Não, isso não é possível! Andrew jamais se envolveria em uma ocorrência tão desagradável.
Não queria perder tempo discutindo com essa criatura patética. Determinada, Stella passou por ele a caminho da escada.
— Preciso encontrar Taylor — disse, ansiosa para revelar ao marido tudo que conseguira descobrir.
— Stella, espere... — Frankie chamou-a.
Mas ela nem se deu ao trabalho de olhar para trás. Decidida, desceu a escada e chegou ao hall principal da casa onde vivia. Seu único pensamento era encontrar o marido. Ele certamente compreenderia a importância de sua descoberta. Mais importante, ele saberia precisamente o que deveriam fazer. Era um homem com quem se podia contar. Surpresa, Stella tentou determinar quando, exatamente, passara a contar com ele ou com seu apoio. Desde que se entregara fisicamente? Não podia ser só isso. O mais provável era que sempre soubera da força desse cavalheiro, apesar de sua determinação em mantê-lo distante.
Era uma descoberta muito inquietante.
Balançando a cabeça diante do absurdo de tais pensamentos, ela seguiu do hall ao corredor lateral, esperando que Taylor já houvesse retornado.
Stella não viu nem sinal do marido, até chegar ao saguão de entrada, onde o criado acabava de pôr os pés.
— Oh, Sam, que bom que está aqui — ela exclamou, correndo ao encontro do rapaz. — Sabe onde posso encontrar lorde Taylor?
O criado empalideceu.
— Samuel...?
— Oh, minha lady! — Samuel gemeu angustiado, torcendo as mãos com evidente nervosismo. — Ele foi levado.
Chocada demais para compreender o pleno sentido das palavras do lacaio, Stella o encarou confusa.
— Levado? Como assim? O que quer dizer?
— Cavalgávamos pelo bosque quando um cavaleiro mascarado apareceu empunhando uma pistola.
Stella sentiu uma súbita vertigem e teve de agarrar-se à mesa de correspondência para não cair. Não podia ser. Era impossível! Taylor havia prometido tomar cuidado. Prometera ir encontrá-la em sua cama mais tarde.
— Por Deus, ele não... — Não suportava sequer pronunciar as horrendas palavras, temendo que expressar seu terror pudesse torná-lo real e concreto.
— Ele está bem — Sam assegurou apressado. — Mas o desgraçado... desculpe-me, senhora, o patife o obrigou a acompanhá-lo. Disse que as jóias devem ser deixadas precisamente às três da tarde no exato local onde ele raptou lorde Taylor, e devem ir acompanhadas por mais mil libras.
Era difícil não perder os sentidos, tal a intensidade do alívio que a invadia. Taylor estava vivo. No momento, isso era tudo que importava.
Alguns minutos se passaram enquanto ela tentava recuperar a capacidade de reação e decidir o que devia ser feito. Tinha de ser forte, disse a si mesma com severidade. Mais tarde poderia ter todos os ataques histéricos que desejasse. Por ora, seu único pensamento deveria ser salvar Taylor, antes que fosse tarde demais.
— Devemos organizar uma busca — ela determinou com tom surpreendentemente firme. — E vou mandar buscar o magistrado e...
— Minha lady — Sam a interrompeu preocupado.
— O que é? — ela disparou impaciente.
— Ele disse que deve ir sozinha, ou... — A voz do rapaz desapareceu num silêncio aterrorizado.
Stella sentiu o sangue esfriar nas veias.
— Ou o quê? — perguntou com um fio de voz.
— Ou ele matará lorde Taylor.


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