Meu destino é você escrita por Cecília Mellark


Capítulo 21
Capitulo 21


Notas iniciais do capítulo

Ei pessoas lindas? Animadas pra mais um jogo da seleção? Vamos ver o que tem pra hoje?



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Os dias começaram a passar, Annie e eu olhávamos aflitas para o céu. Esperando o resgate, mas nada vinha. Aquele povo realmente entendia de cura. Logo nós não tínhamos mais nada no local das queimaduras. A comida não era realmente boa. Quando tinha uma caça para assar era uma festa. Annie passava o dia ajudando algumas mulheres a tecer redes, para a grande pesca. Alex aprendeu a falar um pouco da língua deles, isso facilitava. Eu estava aprendendo a usar arco e flecha. Tínhamos que nos manter com as mentes ocupadas para não ter vontade de sair correndo e gritando. Todas as noites, todos os dias, cada suspiro meu eu pensava em Peeta e em Cecilie.

Logo nossas roupas estavam rotas demais para usar e em hipótese nenhuma eu viveria nua por ai. Alex explicou isso para eles e logo Annie e eu ganhamos umas peças feitas de folhas penas, e o resto das nossas próprias roupas para usar. Contávamos os dias todos os dias.

Eu nunca me acostumava com a comida, estava sempre com enjoo. Um dia conversando com Annie sobre isso, ela me olhou assustada.

– kat, você pode estar grávida.

A ideia me fez rir. Imagine. Tudo bem que eu tinha vivido intensamente ao lado de Peeta quando nos reencontramos. E eu não tomava remédio há anos. Mas tinha que ser muita sorte ou azar diante das atuais circunstâncias.

Um dia na aula de arco e flecha, depois de ter vomitado todo meu almoço. Eu senti o mundo rodar, e logo encontrei o chão. Desmaiei. Quando acordei tinha o senhor mais velho do mundo ao meu lado. Ele estava com incensos na mão, e falando repetidamente uma frase. Dentro daquela oca só estava nós dois. Então depois de alguns minutos que pareceu a eternidade, ele abriu os olhos e começou a rir como se comemorasse alguma coisa. Eu estava rindo só de ver a felicidade dele. Então ele me pegou pela mão gentilmente e levou-me até a porta. Lá fora toda a tribo estava sentada, esperando. Então ele disse alguma coisa e todos ficaram felizes como ele. Eu estava pra morrer de rir, só de ver aquela situação. Então veio uma mulher colocou um colar de penas brancas em mim, e beijou minha barriga. Achei estranho. Até que todos ficaram de pé, fizeram uma fila e um por um beijou minha barriga e deu-me algo feito de penas brancas. Quando estava mais ou menos na trigésima pessoa que agachava para beijar minha barriga é que eu entendi.

Eles estavam comemorando a vida. Pelas minhas contas faziam 3 meses que estávamos aqui. E eu lembro que houve um ritual assim antes. E agora a pessoa que todos beijaram a barriga ostentava uma barriga de uns 6 meses de gravidez mais ou menos.

Annie logo entendeu também, ficou por ultimo na fila e me abraçou ao invés de beijar meu ventre. Ela sabia do meu desespero. Ela estava desesperada também.

Automaticamente minha mente voou para 8 anos atrás, quando eu sai do banheiro com o teste de gravidez marcando duas listras cor de rosa que eu mal conseguia ver por causa das lágrimas e os braços de Peeta me envolveram ele chorava também, mas eu sabia que era mais de alegria do que de medo. Enquanto eu, egoísta como era só pensava que iria engordar ou o que minha mãe iria dizer. Sinto meu coração arder com a lembrança... mas agora era outro nível de preocupação.

O que seria de nós ali naquele lugar com um bebe? A essa altura, eles não estariam mais procurando corpos. Quando fez um mês do acidente nós duas passamos a noite chorando escondidas de Alex. Ninguém viria mais nos procurar. Seria esse meu destino, viver longe de todos para sempre? Numa tribo?

Cada dia que passava nossas esperanças diminuía. Todos os dias eu ia até a grande cachoeira, nadava com Alex. Para ele, tudo era uma grande festa. Era como se ele tivesse de férias permanentemente. Por causa do sol, nós 3 já estávamos morenos. Alex começou a se pintar como um deles. Annie ficava feliz quando o via entre os meninos da tribo. E nós estávamos começando a aprender algumas palavras. Eu mesmo grávida insisti nas aulas de arco e flecha, e posso dizer que fiquei muito boa nisso. Mas a noite quando deitávamos nas nossas redes, chorávamos. Eu ouvia Annie chorando, Alex consolando-a. Eu chorava, pensava em Peeta, em Cecilie, e neste bebe que agora estava aqui dentro de mim.

Todas as noites eu tinha pesadelos. Eram pesadelos com o acidente de carro, seguido pelo acidente de avião. Porem uma noite, eu demorei a ir deitar, a lua estava realmente linda, o vento fresco, quando finalmente dormi. Tive um sonho completamente diferente.

Ceci estava linda, num vestido branco. Ela olhava para alguém e o chamava de papai, eu a seguia no meu sonho e ela encontrava Peeta. Eles estavam em uma festa. De repente eu ouvi uma voz que me chamava, eu segui a voz por todo lugar. Até que encontrei uma mulher numa cama, e outra sentada ao seu lado. A que estava deitada não era estranha para mim, ela me pedia desculpas, era morena, com cabelos curtos e parecia doente. A outra que estava acompanhando ela era loira e também parecia doente. Ela segurou minha mão e disse-me “você precisa voltar Katniss eles precisam de você”. Ela levantou e foi na janela, e eu a acompanhei, eu via um campo lá em baixo, via Peeta correndo atrás de Cecilie, e um homem moreno correndo atrás de um garoto moreno como ele. Quando fui perguntar para ela quem era, ele estava ali... Gale, ele sorria para mim, e apontava para o campo onde estava Peeta. Depois abaixou, beijou minha barriga como os nativos. Pegou na mão da garota que estava na cama, e saíram correndo pela porta. E eu voltei a olhar para Peeta e Ceci, eles me viram e acenavam.

Acordei num sobressalto, assustada, e senti meu bebe se mexer, pela primeira vez. Acabei acordando Annie e Alex, e parecíamos três bobos ao sentir meu bebe mexendo.

Este sonho se repetia, todas as noites. Numa tarde eu fui chamada para uma oca, numa coisa que parecia uma missão especial. Pelas minhas contas, eu estava grávida de quase 6 meses. Quando eu entrei na oca, pensei que fosse desmaiar. Me chamaram pra ver o parto da outra grávida. Eu não teria meu filho daquela forma, ela estava agachada, com duas senhoras segurando suas mãos para cima, e cada respiração dela, toda a tribo gritava. Eu estava apavorada. Só agora a realidade de ter um filho naquele lugar estava me batendo duramente.

Annie estava cada dia mais apavorada. Juntas pedíamos a Deus pra nos tirar dali. Queríamos nossas vidas, nossos maridos. Marido. Eu olhava para meu anel, lembrava da promessa de Peeta. Sempre. Agora separados por milhares e milhares de quilômetros, anos luz de distância física. Eu sempre tentava o alcançar com meus pensamentos. Eu estava com medo, assustada, ferida por dentro. Annie não estava diferente. Alex era uma criança, ele percebia o mundo de maneira diferente. Mas ele também chorava de saudade do pai.

A tribo temia muito noites sem lua, e comemoram as noites de lua cheia. E foi num noite de lua cheia, quando estávamos sentados em volta da fogueira comendo esquilos e um caldo viscoso que eu comecei a sentir contrações. Queria ficar quieta, achando que não era isso. Eu tinha uma luz de esperança que alguém nos encontraria antes do bebe nascer. Mas não deu tempo. Quando eu levantei do meu lugar, minha bolsa estourou, deixando Annie apavorada pelos mesmos motivos que eu, e o restante da tribo começando outra comemoração.

Eu sempre pensei que parto natural era coisa mais dolorida do mundo. E é. Mas quando você está vivendo esse momento a dor fica em segundo plano. A sensação é como será meu bebe, será que é perfeito, tem saúde? Parece com quem? E no meu caso de uma gravidez inteira sem acompanhamento médico. Eu não sabia nem se era menino ou menina.

E foi ao amanhecer da primeira noite de lua cheia do oitavo mês depois que chegamos que meu bebe chegou.

– Vamos Kat, respira e empurra, falta pouco! – Annie estava tão suada como eu. E ela conseguiu que este momento não contasse com todos os telespectadores possíveis. Tinha somente ela e mais duas me ajudando.

Então tomei um folego grande, e gritei empurrando para a vida um bebe pequenininho. Estiquei minhas mãos para a senhora que estava segurando, ela cortou o cordão e me deu.

– É uma menina Annie!! – Annie me abraçou e choramos juntas.

– É uma linda menina Kat. Você vai ser uma ótima mãe. Parabéns! Como vamos chama-la?

– Annie, você sabe que eu não pensei durante a gravidez porque eu não sabia se era menina ou menino. Agora parece que nenhum nome combina com ela.

– Vamos olhar pra ela por uns dias, uma hora o nome virá.

Eu apenas concordei sem conseguir parar de olhar para minha filha. Ela era perfeita. Toda dor parecia sumir do mundo agora. Eu queria tanto que Peeta a visse. Chorei pensando nisso e prometi para minha filha que eu iria ensina-la a amar muito o pai, mesmo ele estando longe. Foi pensando em Peeta que eu descobri como eu iria chama-la.

Ainda sinto o cheiro das flores de laranjeira que estavam colocadas em cima da mesa de mogno do restaurante mais romântico de Nova York. Eu estava entrando no quarto mês de gestação e tinha uma mínima barriga que meu vestido laranja escondia, eu não sabia o que Peeta estava tramando mas o frio na barriga que eu sentia só de estar ali me fazia ficar pensando em um milhão de coisas. Eu estava considerando até que ele fosse terminar comigo, mas eu nunca imaginaria que ele fosse fazer o que ele fez. Depois de muitas brigas por causa da gravidez nós estávamos finalmente vivendo um momento de paz, minha mãe já sabia e os pais dele também, é claro que apesar da preocupação por sermos jovens demais e do susto, todos estavam felizes agora, fazendo planos. Então depois do jantar, eu pedi licença pra ir ao banheiro pela milésima vez na noite e quando eu voltei tinha uma caixinha pequena descansando no meu prato de sobremesa. Acho que o choque foi grande e levei quase um minuto inteiro para desgrudar os olhos da caixa e procurar por ele. Ele estava de joelhos ao lado da minha mesa, segurando minha mão e sem usar as palavras tradicionais ele me pediu em casamento! Ele estava lindo naquela noite, seu rosto brilhava de emoção, e quando ele disse “Fique comigo Kat, para sempre?” eu não tive duvidas em dizer que “sim”. Outra surpresa a parte foi o meu anel, quando eu abri logo reconheci a pérola que ele havia encontrado um mês antes enquanto mergulhava com Finnick para comemorar o nascimento de Alex. Ele disse me daria ela de um jeito especial, mas eu não imaginava que seria no meu anel de noivado. Então pensando neste momento tão feliz e especial da nossa vida, eu soube o nome da minha filha.

Pérola. Quando eu disse para Annie ela se emocionou muito, e Alex ficou aliviado dizendo que não poderia mais chama-la apenas de ‘menina’ ou ‘bebe’.

Aos poucos as feições de Pérola foi se revelando, o cabelo escuro como o meu, o queixo do Peeta. Só os olhos que ainda não tinha uma cor definida, só ficava cada dia mais claro, mais azul. Quando ela estava com 3 meses olhar para os olhos dela, era o mesmo que olhar para os olhos de Peeta. E de Cecilie. Eu sempre tive razão, a filha de Peeta nunca pareceria tanto com ele como Cecilie. Nossa filha tinha uma mistura nossa. Mas Ceci era cem por cento Peeta.

Numa tarde, Annie avisou que iria para o lago da cachoeira com Alex. E eu fiquei cuidando de Pérola. Eu estava amamentando ela, brincando com seus dedinhos perfeitos e lhe contando sobre Peeta, lá fora ouvia-se o barulho normal de um dia de caça na aldeia, a cachoeira, os pássaros. Quando fui colocar Pérola na cesta dela, eu me dei conta que tinha um barulho novo na natureza. Era um barulho constante. Parecia um helicóptero. Eu demorei segundos que pareciam a vida toda pra perceber melhor. Era um helicóptero, não muito longe daqui. Corri para fora, olhando para cima tentando encontrar, não vi quando comecei a gritar, só percebi quando Annie chegou e me abraçou, ela me falava alguma coisa. Eu tinha que ouvi-la.

– Katniss, pare!! Eles já foram atrás do helicóptero Alex está com eles. De acordo com Alex os meninos da tribo disseram que as vezes vem os homens curandeiros brancos aqui e lhes ajudam com remédios. Eu imagino que são médicos Katniss.

– Eles virão até aqui? Eles vão nos levar? – não ouvia mais o barulho das hélices.

– Eu não sei, mas eu espero que sim. É a nossa única chance.

Olhei ao redor, e ficamos encarando a trilha que levava para a cachoeira, nós duas de mãos dadas, com um só pensamento: voltar para nossa vida. Primeiro apareceram crianças correndo, rindo, com várias luvas descartáveis nas mãos. Depois apareceu o chefe da tribo mais alguns homens da caça e logo atrás deles, homens de branco. Médicos. Alex estava segurando a mão de uma mulher e nos apontava. Eu percebia que todos estavam nos olhando incrédulos. Conheciam-nos. Seriamos resgatadas. Cai de joelhos e vi Annie fazendo o mesmo e chorávamos, os médicos chegaram se apresentaram, mas nós não conseguíamos falar. Alex falava tudo, contou sobre Pérola, alguém me levantou, levou-me para dentro, trouxe Pérola para mim.

Logo começamos uma despedida longa e cheia de presentes de todas aquelas pessoas amáveis que cuidaram de nós. Eu seria eternamente grata a eles. Eles nos salvaram, salvaram minha filha. Alex chorava abraçando as crianças. Ganhamos centenas de presentes. E no final do dia estávamos nós quatro dentro de um helicóptero alçando voo, de volta para a civilização.

Quando chegamos à capital, fomos logo direcionadas até o hospital para exames, vacinas, visitas dos diplomatas que nos repatriaram, um senhor chamado Plutarch veio até meu quarto e me explicou que nós três estávamos mortos, mesmo com a ausência dos nossos corpos entre os escombros alguns meses depois foi expedida nossa certidão de óbito. Eu estava tão feliz que achei engraçado ver minha certidão de óbito. Agora, eu nasceria de novo na sociedade, e trazia comigo Pérola.

– Meninas – disse Plutarch entrando mais uma vez no nosso quarto - devo avisar-lhes que vocês são agora celebridades, tem algumas dúzias de repórteres ai fora. E logo a noticia vai espalhar então eu acho que é melhor vocês entrarem em contato com seus entes queridos primeiro. Eu não gostaria de receber uma boa noticia dessas pela TV.

– Eu não sei como dizer, não parece estranho dizer ‘Oi Finn estamos vivos’ ele pode morrer! – Annie estava apavorada, e eu sentia a mesma coisa. Como você pode desaparecer por um ano e depois ligar dizendo que está viva. Enquanto trabalhávamos um jeito de começar a conversa Alex agiu. Só nos demos conta quando ouvimos a voz mansa e chorosa dele dizendo: “Papai vem me buscar!”.

Foi uma coisa divertida, Annie pulou da cadeira e Alex continuou conversando chorando com seu pai e depois de alguns momentos estendeu o telefone para Annie.

– Papai quer falar com você mamãe.

Enquanto Annie se afastava chorando, e fazendo uma tentativa de explicação eu olhei para minha filha, dormindo agora com roupinhas de bebe de verdade. Sua pele clara, contrastando com seu cabelo escuro, me perdi admirando ela e imaginando qual seria a reação de Peeta. Annie apareceu para me tirar do devaneio.

– Katniss, o telefone já está chamando. Peguei o numero da casa do Peeta, achei que você gostaria de falar com ele primeiro.

– Obrigada Annie – eu falei pegando o telefone e começando a ouvir a chamada. Chamou uma, duas, três... na sétima vez atenderam.

– Alô – disse uma voz de criança que eu reconheceria em meio de um milhão de vozes. Cecilie.


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Notas finais do capítulo

Aposto que vocês não imaginavam que seria assim não é? Hahahaha, espero que tenham gostado! Beijinhos



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