Enterrar Akio, Ygor, Katya, Irina, Monna e todos os outros foi realmente uma tarefa muito complicada. Quinze covas foram abertas nos jardins do cassino e os corpos foram depositados lá, enrolados em lençóis e finalmente cobertos por terra. Tudo aquilo foi feito em silêncio, ninguém tinha coragem de fazer sequer um som.

Kei ficou parada em frente a cova de Akio, com os joelhos tocando o solo. Ela ficou em silêncio o tempo inteiro, enquanto Robert, Polly, Renata e Bel observavam aquilo ao fundo, Ford e Boone terminavam de enterrar o corpo de Anne e de Dimitri. Vasili estava do mesmo jeito que Kei, mas agora entre as covas de Katya e Ygor.

— Eu perdi um comboio inteiro – Ford sussurrou para Boone, jogando a pá que usava no chão – Todos estão mortos, perdemos os ônibus, toda a nossa feira agora já era, e o pior de tudo, é que estamos com Vasili do nosso lado – O ex-líder do comboio disse e Boone virou a cabeça, encarando-o.

— Sabe, acho que a pior coisa que fiz na minha vida foi ter te salvado – Boone olhou com repulsa para Ford – Eles estariam vivos agora se não fosse aquela ideia absurda de levar todas as armas do cassino – Ford revirou os olhos, enquanto ouvia Boone falar – Perdi meus amigos, Jenny uma pessoa que ela gostava, Vasili perdeu quase toda sua família e Robert um irmão que mal havia conhecido, Kei perdeu o namorado e todas as garotas ficaram traumatizadas. Isso é horrível, Ford! Todos estão destruídos! – Boone sentia-se totalmente culpado pelo o que aconteceu no cassino.

— Você acha que eu não me arrependo do que fiz? – Ford disse agressivamente, deixando Boone intimidado – Eu nunca quis que ninguém morresse, nem mesmo a família do Vasili. Essa porra dessa culpa irá cair nas minhas costas, não nas suas! Então cale essa porra dessa sua boca! – Ford começou a gritar.

— Pode ficar quieto? Pelo menos uma vez! – Jenny falou um pouco irritada, enquanto lamentava a morte de Irina. As duas cultivaram um relacionamento extremamente amigável, contudo, Jenny não conseguiu revelar seus sentimentos há tempo – Porra, eu gostava tanto de você – As lágrimas de Jenny caiam sobre a terra onde Irina se encontrava enterrada.

Robert à mando de Polly, foi até o pai, que agora estava de pé e caminhava sem um rumo especifico, os dois tiveram uma profunda conversa que resultou em outro abraço comovente. Kei após de ter seus últimos ‘’momentos’’ com Akio, foi até o russo junto com os demais, exceto Boone e Ford, que continuavam discutindo e o primeiro sempre saia perdendo naquilo, ficando cada vez mais afetado.

— Tem certeza que é isso que querem fazer? O cassino seria atacado de qualquer jeito se eles estivessem com as armas – Robert falou para todas as pessoas que estavam ali no círculo: Seu pai, Kei, Polly, Bel, Renata e Jenny – Estamos fazendo o mesmo que Anton, isso vai aumentar o número de mortes.

— Por causa do Ford, o Akio não pode ajudar a Polly como podia, e agora ele está debaixo de terra – Kei falou e Polly segurou seu choro. Kei de fato, não ficou muito abalada ao saber que Akio havia morrido para salvar outra pessoa, aquilo era heroico.

— Vocês só estão copiando a imagem do Anton, não podemos tirar a vida das pessoas! Está errado! – Robert falou, sendo que ele mesmo havia orquestrado os ataques ao grupo de Anton junto com Polly, Bel e Nitori – Se fizerem isto, estarão sendo iguais a ele. Vingança é um prato que se come frio.

— E Anton fez isso, ele tirou a vida de inocentes, mas Ford não é nenhum inocente – Vasili falou enquanto olhava para o seu inimigo, que ainda discutia com Boone – Robert, foi minha esposa e meu filho que morreram – Robert ficou triste ao lembrar que seu meio-irmão havia morrido no massacre – Todos sabiam atirar naquele cassino, mas as porras das armas foram levadas pelo Ford e isso me deixa muito mais furioso só de pensar.

— Se o Ford vai ser morto, acho que o Boone também merece a mesma coisa – Renata argumentou. Ela entendia perfeitamente a raiva que Vasili estava passando, Ford sempre causava mortes e sempre saia impune, e isso a deixava incrédula, principalmente quando ela quase foi morta pelo homem na frente de Robert e Kei

O pior de tudo, é que Renata havia ajudado na fuga de Ford.

— Boone não merece morrer – Jenny falou e todos a olharam – Mesmo ele tendo libertado o Ford, não foi ideia dele de saquear tudo, ele não queria fazer isso, apenas tirar o Ford das condições em que ele se encontrava.

— Nós não podemos matar um culpado e deixar o outro vivo, é loucura! – Polly exclamou, começando a ficar irritada por ninguém chegar a uma conclusão concreta – Eu vi o Akio despencar de sete metros enquanto tentava me salvar. Se ele estivesse com uma simples pistola, tudo aquilo seria evitado.

— O que você acha disso, Bel? Você também esteve lá dentro – Robert perguntou para a amiga.

— Podem fazer o que quiser, isso não vai trazer nenhum deles de volta – Bel falou com a cabeça baixa, se lembrando de Horan e Dimitri sendo assassinados e acidentalmente ter baleado Anne – Isso não cabe a mim.

— Então, eu vou fazer o que deveria ter feito há muito tempo – Vasili disse por fim e ninguém falou mais nada. Kei sabia que aquilo era uma escolha controversa, mas não se arrependia por estar do lado de Vasili.

A conversa foi desfeita quando Ford e Boone terminaram a discussão e foram até eles para saber o que estava acontecendo. Vasili saiu de perto da roda e foi em direção à Ford, na proporção que o mesmo andava até ele.

— Boone! Vem comigo! – Jenny foi até o amigo e o puxou para longe, indo para fora dos arredores do cassino, deixando o rapaz extremamente confuso e curioso, pois ele viu Kei e Vasili começarem a cercar Renata.

— O que..., mas que porra é essa? – Ford perguntou debochadamente ao ver Vasili a sua frente e perceber que Kei estava logo atrás dele – Onde a Jenny está levando o Boone? – Perguntou para Robert, Polly, Bel e Renata, que não disseram uma palavra sequer. Ford podia jurar que ouviu Kei falar ‘’Isso vai ser rápido’’, e então, tentou fugir, mas foi segurado pela oriental.

Vasili retirou sua adaga russa da bainha e a acertou em cheio no estomago de Ford.

— Uugh!— Ford chiou ao sentir a perfuração em seu estomago. Ele tentou se soltar a qualquer custo, mas Kei o segurava fortemente. Bel colocou as mãos na boca, tentando abafar o choro, não suportando ver Ford sendo executado na sua frente.

— Isso foi por me entregar a polícia e isso... por pegar o que não é seu – Vasili novamente apunhalou Ford na barriga, que cuspia sangue por todos os lados. Robert virou o rosto, não querendo presenciar aquela cena, Polly assistia cena um pouco perturbada enquanto Renata estava adorando ver aquilo.

— Essa também é em memória do meu filho, da minha esposa, da minha secretária, do meu médico e de todas as pessoas que foram assassinadas no cassino, incluindo as do seu grupo – Vasili mais uma vez deu um golpe com a adaga no estomago de Ford, pressionando o objeto pontiagudo dentro do homem.

— AAARGH!— Ford já não tinha forças e sentia que não iria mais aguentar muito tempo, e foi isso o que aconteceu, após uma última olhada de Vasili sobre o seu inimigo, ele retirou a adaga de dentro de Ford, que despencou no gramado do jardim, misturando-se ao seu próprio sangue.

Kei deu um chute no corpo de Ford, verificando se o mesmo realmente estava morto.

— Como é bom ver as pessoas pagando pelo que fazem – Ela se ajoelhou em frente ao corpo de Vasili, que estava com o olho aberto, ainda que morto – Odeio gente que faz cagada e sai impune – Kei deu um olhar mortal para Bel, que saiu andando até Jenny e Boone – Parece que já fizemos tudo o que tinha que fazer. Vamos embora dessa cidade agora.

Vasili limpou sua adaga com um lenço que sempre carregava e a colocou de volta em sua bainha e foi em direção ao seu carro, que estava estacionado na rua, vigiado por Jenny, que confortava Boone, depois de terem assistido de longe Ford ser executado. Boone mesmo com extrema raiva de Ford, ficou chocado ao ver sua morte.

O grupo de oito pessoas por fim conseguiu se amontar no carro, que agora estava lotado e sem espaço nenhum, apenas levavam com eles armas, uma caixa de suprimentos e uma sacola de remédios que Bel havia guardado por emergência. Todos ficaram em silêncio, enquanto Vasili colocava um mapa em cima do painel do carro.

— Arizona deve ser um lugar interessante – Kei falou enquanto visualizava o mapa, Vasili apenas concordou com a cabeça, e então ligou o carro e deu partida no mesmo, indo em direção à saída mais próxima da cidade, pondo um fim naquele pesadelo que finalmente havia acabado com a morte de Ford.