Contágio escrita por MrArt
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Montserrat se encontrava deitada em seu quarto lendo um livro sobre armamento civil. Finalmente pode descansar depois de dias seguidos de conflitos com a Resistência. Para ela, a situação da Elite era grave, principalmente por vários membros terem morrido ou deserdado conforme a base foi atacada e invadida por zumbis, e se não fosse por ela, provavelmente o lugar ainda estaria infestado das criaturas.
Por ser considerada mais histérica que Deb, só que mais inteligente que a mesma, Montserrat mantinha toda a sua equipe intacta e fazendo a ronda por toda o prédio da Elite, já que o Subúrbio havia sido destruído os sobreviventes de lá foram evacuados. Por conta de sua boa colocação como líder, ela tinha ganho uma confiança maior com Arthur e Jessica, diferente de Deb e Jason.
Guardou os seus óculos no criado mudo e deixou seu livro sob a cama, saindo do quarto para verificar como as coisas estavam.
— O que diabos você está fazendo? – Montserrat olhou torto para Deb, que estava abaixada no final do corredor dos quartos, segurando uma bituca de cigarro.
— Estou fumando do lado da ventilação, para essa fumaça não espalhar e a Jessica reclamar comigo – Deb deu uma tragada rápida no cigarro, tossindo logo em seguida – Eu estou estressada para caralho.
— Todos estão – Montserrat colocou a mão na cintura – Destruímos aquele supermercado, o museu e passamos por cima daquele grupo na praia. Fizemos um verdadeiro estrago.
— Um verdadeiro estrago em cima de pessoas. É disso que eu estou estressada.
— Eles nos atacaram e mataram vários dos nossos.
— Por minha causa. Se eu não tivesse sequestrado o Robert e aquela mulher grávida nada disso teria ocorrido. Kurt, Gui e todos os outros estariam vivos e essa guerra desnecessária não existiria. Acho que se todos tivessem ficado em seu canto estaríamos muito melhor.
— Deb, agora não tem motivos para chorar e tentar se matar fumando esse cigarro barato. Essa guerra está acontecendo e é tão real quanto a sua lamentação.
— Mas você sabe que um lado vai perder, e provavelmente não vá sobrar ninguém para contar história.
— E que lutemos com garra para que esse lado seja o deles – Montserrat bateu nas costas de Deb após tirá-la do chão – A Elite nos treinou para isso, temos uma dívida de honra com os Novos Fundadores.
Após deixar Deb para trás com a sua amargura, Montserrat desceu as escadas e foi para o andar térreo do prédio. Lá estavam Raphael, Morello e Julie treinando arremesso de facas em manequins, sob a vigilância de Jason, que mantinha sua fé de que Julie era a melhor combatente daquele lugar. Montserrat foi até Caleb, Valon e um rapaz árabe chamado Zain.
— Está segurando a arma do jeito errado, já te falei um milhão de vezes isso – Montserrat instruiu Caleb a usar o rifle de forma correta – Isso não é uma academia de tiro que eu vou ensinar toda vez que errar, estamos em uma situação de guerra real e isso pode salvar a sua vida.
— Está certo? – Mais a frente, Zain segurava o seu rifle após instalar uma mira que ajudava e facilitava na hora de praticar tiro. Montserrat ficou surpresa ao ver o que ele tinha projetado.
— Isso é excelente – Montserrat mal teve palavras para descrever tão bem feito tinha sido o trabalho de Zain. Aquela mira tinha sido reaproveitada e o sua restauração era perfeita.
— Como fez isso? – Valon arqueou a sobrancelha, abaixando o seu rifle.
— Técnica, meu querido – Zain piscou para Valon – Excelência leva técnica – Sorriu orgulhoso de si mesmo. Desde que tinha ingressado a Elite, Zain sentiu que seu trabalho finalmente tinha sido valorizado, ao contrário de seu grupo anterior – Se essa técnica for aplicada nós ganharemos essa guerra.
Montserrat o considerava um gênio, e certamente a sua inteligência os levaria para a vitória. O problema em questão, é que um recém-chegado da Resistência poderia colocar tudo a perder.
— Eu não gosto desse cara – Morello cruzou os braços ao ver Nicolas aparecer, provavelmente vindo do escritório de Arthur – Ele é um traíra.
— Ele matou uma das líderes da Resistência – Raphael disse para Morello.
— E por isso mesmo ele é um traíra. Não podemos dar confiança para uma pessoa assim – Morello parecia indignado e desconfortável com a presença de Nicolas naquele lugar – Não sei nem porque o Jason o resgatou na rodovia.
— Se você visse as fotos que ele tirou do corpo da líder da Resistência, Jason o buscaria mil vezes se fosse preciso – Dessa vez foi Julie quem falou – Esse tal de Nicolas é um cara sádico. E olha só com que ele vai mexer – Julie voltou a se concentrar no seu treino quando viu Nicolas ir até Montserrat.
— O que temos aqui? – Nicolas se aproximou com a sua boa autoestima até Montserrat, que lhe lançou um olhar mortal junto uma faca que empunhou logo em seguida.
— Uma faca, que é maior que você inteiro – Montserrat praticamente cuspiu fogo ao ver Nicolas – Se você me tirar a paciência eu rasgo o seu estomago na frente de todo mundo. Odeio gente da Resistência – Jason percebeu de longe o caos que aquilo iria tomar e então resolveu intervir.
— Vamos manter os ânimos, pessoal – Jason ficou entre Nicolas e Montserrat. O ruivo sabia que a última coisa que Arthur e Jessica iriam querer era que sangue rolasse naquele prédio, e se dependesse de Montserrat, Nicolas já estaria morto muito antes de pisar os pés ali – Monts, por que não me acompanha na sala de planejamento para vermos o próximo ataque?
— Melhor do que olhar para a cara de certas pessoas e querer vomitar – Montserrat olhou mais uma vez para Nicolas, marcando bem o seu rosto caso ele fizesse qualquer coisa de errado – Onde está o Mozzo?
— Mozzo está cuidando de uma parte do nosso plano – Jason sorriu de canto.
O tempo estava passando.
E a justiça deixando a desejar.
— Temos que evitar um motim das pessoas da Praia Palm. Se perdermos o apoio deles estamos fodidos – Ozzy disse para Vasili e Robert, após enterrarem Aline e as outras pessoas envolvidas nos assassinatos de Nicolas – Se é que podemos nos foder mais do que estamos.
— Eles não vão se rebelar conosco. O problema deles vai ser com o pessoal do Museu e os dois lados estão sem líder – Robert bufou, passando as mãos nem seus cabelos. Os problemas pareciam não acabar nunca e a cada dia que passava se tornavam piores.
— Robert... – Vasili olhou para o filho, dando um sorrisinho de canto – Não percebeu ainda?
— O que? – Robert indagou estressado.
— Você é o líder dessas pessoas agora – Vasili disse.
— Essas pessoas me odeiam. A última coisa que eles vão querer é ter eu como líder – Robert riu de nervoso.
— Robert, Aline fazia a cabeça das pessoas do grupo dela e o Nicolas... o Nicolas se tornou a pessoa mais contraditória do mundo. Ele que foi um dos iniciantes da rebelião há meses para nos salvar da Elite, é estranho ver a pessoa que ele se tornou – Vasili olhou para o nada, ainda chocado pelo ocorrido com Aline – Ela pode ter sido a pessoa com o comportamento mais tóxico depois do meu, mas ela também contribuiu para nos salvar dessa gente. Aline não merecia ter esse fim.
— É complicado, nós entramos nessa por livre e espontânea vontade – Por mais burra a ideia que Robert achava naquela altura, mas não podiam voltar atrás – Vamos vencer a honrar o nome dos que se foram. Faremos isso por eles... mesmo que isso custe nossas próprias vidas – Falou com a voz um pouco tremula. Sua ansiedade estava péssima naquele dia.
— Faremos isso por muitas pessoas – Ozzy se lembrou das pessoas que encontrou na base da Elite. Felizmente, ele tinha salvo algumas delas e convenientemente poderiam lutar ao seu lado.
— Preciso conversar com a Kei – Robert bufou mais uma vez – Sabe onde ela está?
— Do lado de fora do estádio, parece que apareceu alguns zumbis e estão reforçando a segurança – Ozzy disse, pouco se importando. Robert então pediu licença e foi atrás da oriental.
Enquanto procurava por Kei, Robert passou por Alice e pegou um de seus artesanatos em troca do cigarro eletrônico de Boone, que estava o procurando fazia algum tempo e ele jurava ter perdido enquanto o supermercado tinha sido atacado. Passou pela enfermaria improvisada e encontrou Polly cuidando de Alaska com toda a atenção possível.
Kei por outro lado, estava no estacionamento externo do estádio detendo alguns zumbis junto com Miguel, Aaron, Schindler e Toni. Por mais cansativo que os últimos dias tenham sido, Kei não se importava de cortar a cabeça de zumbis para aliviar a sua raiva de todos os contratempos que tinham ocorrido.
— De onde está saindo tantos zumbis? – Kei chutou um zumbi para longe, e então Schindler o pegou e o decepou.
— Não sei de onde estão saindo, mas parece que sei de onde eles saíram – Schindler sorriu e então apontou o dedo para trás de Kei, ela se virou e viu Robert, Bel e Polly segurando Alaska, todos juntos – Parece que querem falar com você.
Kei estava com a mão sobre a testa para cobrir os raios de sol que estavam um pouco mais fortes que o comum naquele dia, e abaixou ao ver as pessoas que mais prezavam estarem ali, são e salvos. Manter a própria família reunida era difícil em um apocalipse zumbi, mas Kei fazia o possível para mantê-los unidos. Mesmo após terem presenciado Robert matar Scorpion, ela e Polly preferiram acreditar que ele havia feito aquilo por sobrevivência, ou do contrário, não estaria mais entre elas e provavelmente todos estariam mortos caso a Elite os atacasse.
— Acho que isso não vai acabar bem com você segurando essa coisa – Robert disse debochadamente, rindo de Kei segurando o seu machete.
— Ele é meu confidente – Kei também riu, limpando o sangue ao passar a mão na lâmina.
— Confidente que já cortou a cabeça de muita gente por aí – Bel cruzou os braços.
— Idiota, cortou todo o clima bonitinho que estava – Kei fingiu estar cansada de Bel, que ficou preocupada por alguns instantes com o que tinha dito – É brincadeira, sua trouxa – Bel revirou os olhos e então Kei deu atenção a Polly em seguida – Como está a princesinha do apocalipse?
— Ela se alimentou demais para uma pessoa só – Polly segurava Alaska firmemente, que dormia tranquilamente em seus braços – Nem tem noção do mundo em que nós estamos vivendo. E que ela vai crescer – De certo modo Polly não se sentia bem e até mesmo culpada por engravidar no auge do apocalipse e na violência que os humanos remanescentes praticavam, sem contar que Alaska não cresceria como crianças cresciam a pelo menos quatro anos atrás.
— Ela vai crescer bem protegida e nós vamos ensiná-la a se proteger. Tem o Matthew, o Andrew – Bel disse acariciando a cabeça de Alaska – É incrível como há tantas crianças nascendo nesse mundo.
— Ao menos não entraremos em extinção. Não tão cedo... – Robert ainda considerava a possibilidade de que não existiriam mais humanos caso a ideia de reconstruir a civilização falhasse – Não acham loucura entrarmos em guerra com as poucas pessoas que ainda restam nessa região?
— Como assim, Robert? – Polly arqueou a sobrancelha.
— Robert está falando algo coerente. Passamos pela Califórnia, Arizona, Nevada, Novo México e por todos esses lugares vimos grupos serem exterminados e quase ninguém nas principais cidades. Parece que a cada dia mais pessoas estão morrendo – Kei podia numerar todos os grupos que tinham feito parte e a lista seria grande – Muita gente se foi até chegarmos aqui e a tendência é diminuir.
— Espera, vocês estão cogitando a ideia de formar uma civilização. Com a Elite? – Bel perguntou com uma ponta de indignação.
— Ninguém disse isso – Robert deu os ombros, mas no fundo, essa ideia acendeu nele.
— Preciso voltar para o serviço pessoal – Kei percebeu que Toni precisava de ajuda com alguns zumbis – É melhor levar ela para dentro – A oriental olhou para Alaska, e então Polly e Bel se afastaram imediatamente com ela – Quer me ajudar? – Perguntou para Robert.
— Não, eu estou bem suave ajudando o meu pai a não surtar por causa do braço da Kimberly – Robert então colocou a mão no bolso, esquecendo por pouco o motivo de estar ali – Pega isso – Lançou um colar para Kei, que o pegou imediatamente.
— O que é isso? – Olhou para o colar que tinha como pingente com o formato de uma serpente se engolindo.
— Alice me deu e disse que é um Ouroboros, mas isso tá mais para um símbolo do infinito – Robert falou e Kei apenas o olhou de volta – É maneiro, poxa.
— Vou usar ele com certeza, Petterson – Kei fechou a mão, guardando o colar para si.
— De nada, Tahada – Robert deu as costas para Kei, mas se virou para ela novamente – E não me chame de Petterson! Meu sobrenome agora é Romanov – Piscou para a oriental, que apenas se deixou ouvir e voltou ao seu serviço.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!