Contágio escrita por MrArt


Capítulo 157
Estação 8 - Capítulo 157 - Ouroboros


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Montserrat se encontrava deitada em seu quarto lendo um livro sobre armamento civil. Finalmente pode descansar depois de dias seguidos de conflitos com a Resistência. Para ela, a situação da Elite era grave, principalmente por vários membros terem morrido ou deserdado conforme a base foi atacada e invadida por zumbis, e se não fosse por ela, provavelmente o lugar ainda estaria infestado das criaturas.

Por ser considerada mais histérica que Deb, só que mais inteligente que a mesma, Montserrat mantinha toda a sua equipe intacta e fazendo a ronda por toda o prédio da Elite, já que o Subúrbio havia sido destruído os sobreviventes de lá foram evacuados. Por conta de sua boa colocação como líder, ela tinha ganho uma confiança maior com Arthur e Jessica, diferente de Deb e Jason.

Guardou os seus óculos no criado mudo e deixou seu livro sob a cama, saindo do quarto para verificar como as coisas estavam.

— O que diabos você está fazendo? – Montserrat olhou torto para Deb, que estava abaixada no final do corredor dos quartos, segurando uma bituca de cigarro.

— Estou fumando do lado da ventilação, para essa fumaça não espalhar e a Jessica reclamar comigo – Deb deu uma tragada rápida no cigarro, tossindo logo em seguida – Eu estou estressada para caralho.

— Todos estão – Montserrat colocou a mão na cintura – Destruímos aquele supermercado, o museu e passamos por cima daquele grupo na praia. Fizemos um verdadeiro estrago.

— Um verdadeiro estrago em cima de pessoas. É disso que eu estou estressada.

— Eles nos atacaram e mataram vários dos nossos.

— Por minha causa. Se eu não tivesse sequestrado o Robert e aquela mulher grávida nada disso teria ocorrido. Kurt, Gui e todos os outros estariam vivos e essa guerra desnecessária não existiria. Acho que se todos tivessem ficado em seu canto estaríamos muito melhor.

— Deb, agora não tem motivos para chorar e tentar se matar fumando esse cigarro barato. Essa guerra está acontecendo e é tão real quanto a sua lamentação.

— Mas você sabe que um lado vai perder, e provavelmente não vá sobrar ninguém para contar história.

— E que lutemos com garra para que esse lado seja o deles – Montserrat bateu nas costas de Deb após tirá-la do chão – A Elite nos treinou para isso, temos uma dívida de honra com os Novos Fundadores.

Após deixar Deb para trás com a sua amargura, Montserrat desceu as escadas e foi para o andar térreo do prédio. Lá estavam Raphael, Morello e Julie treinando arremesso de facas em manequins, sob a vigilância de Jason, que mantinha sua fé de que Julie era a melhor combatente daquele lugar. Montserrat foi até Caleb, Valon e um rapaz árabe chamado Zain.

— Está segurando a arma do jeito errado, já te falei um milhão de vezes isso – Montserrat instruiu Caleb a usar o rifle de forma correta – Isso não é uma academia de tiro que eu vou ensinar toda vez que errar, estamos em uma situação de guerra real e isso pode salvar a sua vida.

— Está certo? – Mais a frente, Zain segurava o seu rifle após instalar uma mira que ajudava e facilitava na hora de praticar tiro. Montserrat ficou surpresa ao ver o que ele tinha projetado.

— Isso é excelente – Montserrat mal teve palavras para descrever tão bem feito tinha sido o trabalho de Zain. Aquela mira tinha sido reaproveitada e o sua restauração era perfeita.

— Como fez isso? – Valon arqueou a sobrancelha, abaixando o seu rifle.

— Técnica, meu querido – Zain piscou para Valon – Excelência leva técnica – Sorriu orgulhoso de si mesmo. Desde que tinha ingressado a Elite, Zain sentiu que seu trabalho finalmente tinha sido valorizado, ao contrário de seu grupo anterior – Se essa técnica for aplicada nós ganharemos essa guerra.

Montserrat o considerava um gênio, e certamente a sua inteligência os levaria para a vitória. O problema em questão, é que um recém-chegado da Resistência poderia colocar tudo a perder.

— Eu não gosto desse cara – Morello cruzou os braços ao ver Nicolas aparecer, provavelmente vindo do escritório de Arthur – Ele é um traíra.

— Ele matou uma das líderes da Resistência – Raphael disse para Morello.

— E por isso mesmo ele é um traíra. Não podemos dar confiança para uma pessoa assim – Morello parecia indignado e desconfortável com a presença de Nicolas naquele lugar – Não sei nem porque o Jason o resgatou na rodovia.

— Se você visse as fotos que ele tirou do corpo da líder da Resistência, Jason o buscaria mil vezes se fosse preciso – Dessa vez foi Julie quem falou – Esse tal de Nicolas é um cara sádico. E olha só com que ele vai mexer – Julie voltou a se concentrar no seu treino quando viu Nicolas ir até Montserrat.

— O que temos aqui? – Nicolas se aproximou com a sua boa autoestima até Montserrat, que lhe lançou um olhar mortal junto uma faca que empunhou logo em seguida.

— Uma faca, que é maior que você inteiro – Montserrat praticamente cuspiu fogo ao ver Nicolas – Se você me tirar a paciência eu rasgo o seu estomago na frente de todo mundo. Odeio gente da Resistência – Jason percebeu de longe o caos que aquilo iria tomar e então resolveu intervir.

— Vamos manter os ânimos, pessoal – Jason ficou entre Nicolas e Montserrat. O ruivo sabia que a última coisa que Arthur e Jessica iriam querer era que sangue rolasse naquele prédio, e se dependesse de Montserrat, Nicolas já estaria morto muito antes de pisar os pés ali – Monts, por que não me acompanha na sala de planejamento para vermos o próximo ataque?

— Melhor do que olhar para a cara de certas pessoas e querer vomitar – Montserrat olhou mais uma vez para Nicolas, marcando bem o seu rosto caso ele fizesse qualquer coisa de errado – Onde está o Mozzo?

— Mozzo está cuidando de uma parte do nosso plano – Jason sorriu de canto.

O tempo estava passando.

E a justiça deixando a desejar.

— Temos que evitar um motim das pessoas da Praia Palm. Se perdermos o apoio deles estamos fodidos – Ozzy disse para Vasili e Robert, após enterrarem Aline e as outras pessoas envolvidas nos assassinatos de Nicolas – Se é que podemos nos foder mais do que estamos.

— Eles não vão se rebelar conosco. O problema deles vai ser com o pessoal do Museu e os dois lados estão sem líder – Robert bufou, passando as mãos nem seus cabelos. Os problemas pareciam não acabar nunca e a cada dia que passava se tornavam piores.

— Robert... – Vasili olhou para o filho, dando um sorrisinho de canto – Não percebeu ainda?

— O que? – Robert indagou estressado.

— Você é o líder dessas pessoas agora – Vasili disse.

— Essas pessoas me odeiam. A última coisa que eles vão querer é ter eu como líder – Robert riu de nervoso.

— Robert, Aline fazia a cabeça das pessoas do grupo dela e o Nicolas... o Nicolas se tornou a pessoa mais contraditória do mundo. Ele que foi um dos iniciantes da rebelião há meses para nos salvar da Elite, é estranho ver a pessoa que ele se tornou – Vasili olhou para o nada, ainda chocado pelo ocorrido com Aline – Ela pode ter sido a pessoa com o comportamento mais tóxico depois do meu, mas ela também contribuiu para nos salvar dessa gente. Aline não merecia ter esse fim.

— É complicado, nós entramos nessa por livre e espontânea vontade – Por mais burra a ideia que Robert achava naquela altura, mas não podiam voltar atrás – Vamos vencer a honrar o nome dos que se foram. Faremos isso por eles... mesmo que isso custe nossas próprias vidas – Falou com a voz um pouco tremula. Sua ansiedade estava péssima naquele dia.

— Faremos isso por muitas pessoas – Ozzy se lembrou das pessoas que encontrou na base da Elite. Felizmente, ele tinha salvo algumas delas e convenientemente poderiam lutar ao seu lado.

— Preciso conversar com a Kei – Robert bufou mais uma vez – Sabe onde ela está?

— Do lado de fora do estádio, parece que apareceu alguns zumbis e estão reforçando a segurança – Ozzy disse, pouco se importando. Robert então pediu licença e foi atrás da oriental.

Enquanto procurava por Kei, Robert passou por Alice e pegou um de seus artesanatos em troca do cigarro eletrônico de Boone, que estava o procurando fazia algum tempo e ele jurava ter perdido enquanto o supermercado tinha sido atacado. Passou pela enfermaria improvisada e encontrou Polly cuidando de Alaska com toda a atenção possível.

Kei por outro lado, estava no estacionamento externo do estádio detendo alguns zumbis junto com Miguel, Aaron, Schindler e Toni. Por mais cansativo que os últimos dias tenham sido, Kei não se importava de cortar a cabeça de zumbis para aliviar a sua raiva de todos os contratempos que tinham ocorrido.

— De onde está saindo tantos zumbis? – Kei chutou um zumbi para longe, e então Schindler o pegou e o decepou.

— Não sei de onde estão saindo, mas parece que sei de onde eles saíram – Schindler sorriu e então apontou o dedo para trás de Kei, ela se virou e viu Robert, Bel e Polly segurando Alaska, todos juntos – Parece que querem falar com você.

Kei estava com a mão sobre a testa para cobrir os raios de sol que estavam um pouco mais fortes que o comum naquele dia, e abaixou ao ver as pessoas que mais prezavam estarem ali, são e salvos. Manter a própria família reunida era difícil em um apocalipse zumbi, mas Kei fazia o possível para mantê-los unidos. Mesmo após terem presenciado Robert matar Scorpion, ela e Polly preferiram acreditar que ele havia feito aquilo por sobrevivência, ou do contrário, não estaria mais entre elas e provavelmente todos estariam mortos caso a Elite os atacasse.

— Acho que isso não vai acabar bem com você segurando essa coisa – Robert disse debochadamente, rindo de Kei segurando o seu machete.

— Ele é meu confidente – Kei também riu, limpando o sangue ao passar a mão na lâmina.

— Confidente que já cortou a cabeça de muita gente por aí – Bel cruzou os braços.

— Idiota, cortou todo o clima bonitinho que estava – Kei fingiu estar cansada de Bel, que ficou preocupada por alguns instantes com o que tinha dito – É brincadeira, sua trouxa – Bel revirou os olhos e então Kei deu atenção a Polly em seguida – Como está a princesinha do apocalipse?

— Ela se alimentou demais para uma pessoa só – Polly segurava Alaska firmemente, que dormia tranquilamente em seus braços – Nem tem noção do mundo em que nós estamos vivendo. E que ela vai crescer – De certo modo Polly não se sentia bem e até mesmo culpada por engravidar no auge do apocalipse e na violência que os humanos remanescentes praticavam, sem contar que Alaska não cresceria como crianças cresciam a pelo menos quatro anos atrás.

— Ela vai crescer bem protegida e nós vamos ensiná-la a se proteger. Tem o Matthew, o Andrew – Bel disse acariciando a cabeça de Alaska – É incrível como há tantas crianças nascendo nesse mundo.

— Ao menos não entraremos em extinção. Não tão cedo... – Robert ainda considerava a possibilidade de que não existiriam mais humanos caso a ideia de reconstruir a civilização falhasse – Não acham loucura entrarmos em guerra com as poucas pessoas que ainda restam nessa região?

— Como assim, Robert? – Polly arqueou a sobrancelha.

— Robert está falando algo coerente. Passamos pela Califórnia, Arizona, Nevada, Novo México e por todos esses lugares vimos grupos serem exterminados e quase ninguém nas principais cidades. Parece que a cada dia mais pessoas estão morrendo – Kei podia numerar todos os grupos que tinham feito parte e a lista seria grande – Muita gente se foi até chegarmos aqui e a tendência é diminuir.

— Espera, vocês estão cogitando a ideia de formar uma civilização.  Com a Elite? – Bel perguntou com uma ponta de indignação.

— Ninguém disse isso – Robert deu os ombros, mas no fundo, essa ideia acendeu nele.

— Preciso voltar para o serviço pessoal – Kei percebeu que Toni precisava de ajuda com alguns zumbis – É melhor levar ela para dentro – A oriental olhou para Alaska, e então Polly e Bel se afastaram imediatamente com ela – Quer me ajudar? – Perguntou para Robert.

— Não, eu estou bem suave ajudando o meu pai a não surtar por causa do braço da Kimberly – Robert então colocou a mão no bolso, esquecendo por pouco o motivo de estar ali – Pega isso – Lançou um colar para Kei, que o pegou imediatamente.

— O que é isso? – Olhou para o colar que tinha como pingente com o formato de uma serpente se engolindo.

— Alice me deu e disse que é um Ouroboros, mas isso tá mais para um símbolo do infinito – Robert falou e Kei apenas o olhou de volta – É maneiro, poxa.

— Vou usar ele com certeza, Petterson – Kei fechou a mão, guardando o colar para si.

— De nada, Tahada – Robert deu as costas para Kei, mas se virou para ela novamente – E não me chame de Petterson! Meu sobrenome agora é Romanov – Piscou para a oriental, que apenas se deixou ouvir e voltou ao seu serviço.


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