Boone continuou arrastando Lauren pelo shopping até chegarem no estacionamento coberto, localizado no subterrâneo do edifício. O ambiente era escuro e havia muitos carros. Podiam apenas ouvir o barulho dos zumbis batendo nos portões e tentando entrar. Não havia mais ninguém por ali além deles

— Lauren! – Boone parou a irmã e a encostou em uma parede – O que você foi fazer?! – Perguntou inúmeras vezes a mesma coisa para ela. Olhava no fundo dos olhos de Lauren e queria não acreditar que ela havia sido responsável pela morte de Amber, Tuppence, e agora de Fani. Não conhecia mais sua irmã.

— Boone. Elas me desrespeitaram! Duvido que você nunca tenha feito isso com ninguém – Lauren disse com uma tranquilidade que chegava a ser assustadora para o irmão – Fani tentou me afrontar, antes ela do que eu. Esse mundo é voraz demais para essas mulheres ficarem vivas dependendo de quem batalha todos os dias para garantir sobrevivência.

— Do que você está falando? – Boone cerrou os olhos, confuso – Você não é a minha irmã Lauren, é uma mulher completamente insana! Essa merda de mundo acabou com a sua essência. Achei que te encontrar fosse uma das maiores conquistas, mas você só me trouxe problemas – Disse agora com raiva. Olhou para trás brevemente e viu um dos portões começarem a vir abaixo por causa dos zumbis – Droga...

— Esse portão não vai aguentar muito tempo. Esse lugar vai se encher de zumbis – Lauren disse tentando disfarçar a situação de risco a qual se encontrava – Vamos parar com toda essa mesmice de sempre, Boone. Temos que sair daqui antes que esses bichos no peguem – Tentou passar pelo irmão, mas foi barrada mais uma vez.

— Não – Disse firmemente – Eu não vou lugar a nenhum com você.

— Mas que porra, Boone! – Lauren gritou. O tatuado a encarava com tristeza. Ela mal desconfiava o que estava prestes a acontecer – Você é ainda é a droga do meu irmão. Me ouça ao menos uma vez. Eu sempre estava do seu lado quando você fazia suas cagadas e o papai e a mamãe ficavam a ponto de te expulsar de casa – Continuou falando, Boone virou-se de lado apenas ouvindo cada palavra da irmã – Quando o filho do pastor foi encontrado morto e você desapareceu, foi uma luta para comprovar que você não foi o responsável por aquilo. Boone você sumiu durante anos e só agora nos encontramos e é assim que sou tratada, quando mais preciso do seu apoio.

— Foram três pessoas que você matou, caralho! – Boone foi para cima de Lauren e a moça se recolheu, assustada. Ao ver a irmã daquele jeito, teve a certeza que nada daquilo seria consertado – Se eles te pegarem, eles vão acabar com você do pior modo. Não posso deixar eles fazerem isso, mas também não posso evitar que algo aconteça com você – Suspirou, segurando as lágrimas. Novamente olhou para o portão, prestes a cair.

— Se você colaborar, vamos conseguir sair dessa – Novamente Lauren tentou contornar a situação, mas Boone não lhe deu ouvidos.

— Preciso de ajuda com esse portão – Boone disse andando em passos lentos – Se não impedirmos que eles entrem, nossa fuga vai ser mais difícil. Pode me ajudar segurando do outro lado da abertura? – Perguntou, como se nada houvesse acontecido a minutos atrás. Encarou Lauren, aguardando uma resposta.

— Claro... – Lauren respondeu desconfiada, mas mesmo assim, foi.

Quando Lauren passou do seu lado e lhe deu as costas, Boone puxou o revólver de seu cinto e apontou para a própria irmã. Um silêncio se fez no local e Lauren sem ter ideia do que iria acontecer com ela, apenas fez o que lhe foi pedido. Confiava em Boone, apesar de ter ouvido tudo aquilo. Não esperava qualquer maldade dele vindo contra ela.

Até Boone disparar um tiro fatal e tirar a sua vida.

Ao chegar no átrio do shopping, o grupo inteiro encontrou a lamentável cena de Fani morta nos braços de Zain, que contou tudo o que havia visto e agora todos estavam em uma caçada para achar Lauren. Começaram a procurá-la por todos os cantos do shopping. Robert estava no meio dessa busca, até notar que Boone também havia sumido. Começou a pensar o pior em relação ao tatuado e o que ele podia ter feito com Lauren.

— Não os acho em lugar nenhum – Disse Polly segurando a sua faca, caso encontrasse a moça na sua frente – Acho que Boone saiu daqui com ela antes que descobríssemos tudo. Que porra! – A loira gritou, chutando uma cadeira – Seis pessoas mortas em menos de uma hora. Isso tudo causado pela porra de uma garota mimada.

— Já olhei todas as lojas de departamento do segundo andar – Ozzy afirmou chegando até Robert e Polly – Aquela maluca se escondeu muito bem ou deve ter dado o fora daqui com o irmãozinho dela.

— Não vamos colocar Boone numa situação sem saber o que realmente aconteceu – Robert falou, apesar de saber que eles estavam certos.

— Em volta do shopping está cheio de zumbis. Se eles saíram daqui não devem ter ido muito longe – Polly especulou.

— Não. Fiz treinamento com Lauren na base de Corpus Christi, ela é muito boa no quesito de fuga. A essa hora ela pode não estar mais aqui – Robert balançou a cabeça negativamente – Que droga...

— Mais mortes que sairão impunes. Isso é inaceitável, Robert! – Polly rangeu os dentes.

— Isso não vai sair impune. Pode ter certeza disso, Polly – Boone apareceu com a mão ensanguentada, e na outra, segurava um revólver. Seu rosto esboçava um mar de tristeza e cansaço. Quem estava ali podia ter entendido o recado, mas apenas esperava o tatuado confirmar o ocorrido – Minha irmã está morta – Sua mão estava trêmula e acabou deixando cair o revólver. Kei, Topher, Scorpion, Bel, Marilyn e Merle apareceram vindo de diferentes corredores – Ela não vai mais fazer mal para ninguém.

— O que você fez?! – Bel perguntou abismada.

— Fiz o que qualquer um de vocês iria fazer se encontrassem ela – Boone falou friamente e o silêncio ali continuou, até começarem a ouvir barulhos de coisas se quebrando no andar inferior – Os zumbis quebraram os portões do estacionamento coberto e estão invadindo o shopping. Não temos muito tempo para sair.

— E você só nos avisa isso agora?! – Kei exclamou nervosa. Boone encarou a oriental com repúdio – Eu sei que você teve que matar a sua irmã. Com todo respeito, era você ou qualquer um de nós como mesmo disse, mas agora temos outro problema! – Correu até uma das janelas. Robert e Polly a seguiram. Os três olharam o enxame de zumbis adentrando no edifício rapidamente a procura deles.

— Não vamos conseguir sair daqui a tempo – Polly estava com a barriga fria devido o nervosismo – Nem se matarmos alguns zumbis para abrir caminho pelo estacionamento, será impossível.

— Podemos ir pelas galerias de esgoto – Boone disse atrás deles. Se lembrou do caminho que havia feito para resgatar Ford do antigo cassino de Vasili, junto com Tobbie – É arriscado, mas por enquanto é nossa única alternativa de fuga. Como vamos levar o Matthew, eu não sei, mas precisamos sair daqui.

— Vou buscar o Matthew no dormitório – Marilyn falou. Acelerou o passo pelo átrio, antes que os zumbis chegassem até ele.

— Tem certeza que vai sozinha? – Merle perguntou preocupado.

— Merle, eu fui treinada para isso. Provavelmente terei de salvar você no caminho se me acompanhar, então obrigada – A ruiva piscou para o rapaz e então saiu dali. O restante do grupo começou a correr para a sala de caldeira, indicada por Boone como uma das opções da rota de fuga.

Ao chegarem no primeiro andar, se depararam com alguns zumbis vagando pelos corredores das lojas, algumas já haviam sido invadidas por eles. Kei foi na frente, matando vários deles, enquanto Topher e Scorpion vinham atrás esperando por Marilyn, que havia conseguido pegar o bebê.

A moça corria pelos corredores que em breve estariam lotados de zumbis. Ao passar por uma das lojas abandonadas, viu Zayn sentado no chão, ao lado do corpo de Fani, agora coberto por um lençol branco. O moreno não ligava para o que estava acontecendo no shopping e provavelmente não iria sair dali.

— Zain, o shopping está cheio de zumbis! Temos que sair agora! – Marilyn tentou puxar Zain com uma mão enquanto segurava Matthew na outra com certa dificuldade. O moreno recuou – Zain!

— Não tem mais sentido continuar com isso, Marilyn – Zain disse olhando fixamente a moça – Vocês vão se matar sempre, independentemente de onde passam. Éramos quase uma centena a alguns dias e agora estamos em extinção quase completa – Falou, pensando apenas nas mortes ocorridas no shopping – Eu não quero fazer parte disso.

— O que eu falo para eles? – Marilyn perguntou aflita pela decisão de Zain, mas por um outro lado, entendeu claramente o que ele quis dizer. O grupo estava morrendo e só estavam adiando isso aos poucos. Seu coração partia-se ainda mais ao ver Matthew em seus braços, sem saber o futuro que aquele bebe teria.

— Que os zumbis me pegaram enquanto tentava te ajudar com o Matthew – Zain respondeu olhado para a pequena criança – Ele sim merece ter a salvação, do contrário de todos nós. Estamos todos impuros nesse mundo – Os dois ouviram os rangidos dos zumbis próximos a eles – Você precisa ir.

— Boa sorte, Zain – Marilyn abraçou-o fortemente de lado. Zain pode ter a certeza que Matthew segurou seu casaco por alguns segundos e depois o soltou, antes de ser levado por Marilyn de volta ao grupo.

Zain apenas olhou para o corredor vazio do shopping, sem ter ideia alguma do que a vida lhe reservava.