— Há algo de errado aqui... – Robert disse para si mesmo. Fazia apenas alguns minutos que havia conseguido conter todos os zumbis da arena e prendê-los novamente em seus recintos. Entretanto, próximo dali ficava as celas onde Timothy e Herrera eram encarcerados, e agora as mesmas estavam destruídas devido as explosões e os dois não se encontravam mais ali.

Olhou para trás e se deparou com as duas figuras atrás de si, segurando dois revólveres, provavelmente pegos de alguém da equipe de segurança que havia morrido nos ataques. Timothy e Herrera transmitiam um olhar de ódio e sede por vingança para com Robert, que agora portava apenas um facão, não tendo tanta vantagem. Tinha que pensar em algo rápido para tentar salvar sua vida.

— Olha só o que temos aqui, Timothy – Herrera apontava o revólver na direção da cabeça de Robert, para ter certeza que o loiro não teria chances de sobreviver – O filho do Romanov, vivo. E nós estávamos lá, presos.

— Essa cidade começou a desandar quando você e o seu grupo chegaram – Timothy disse tranquilamente, mas era visível a sua revolta contra Robert – E agora assumiram a cidade como se nada tivesse acontecido. Isso é repugnante.

— Vamos acabar com essa gracinha agora. Mesmo com essa cidade toda destruída – Herrera hesitou em apertar o gatilho.

— Rapazes. Vamos conversar antes de tomar uma atitude precipitada – Robert levantou as mãos em rendição – Pensem em escapar dessa loucura antes de matarem alguém. Não há mais o que fazer para salvar esse lugar.

— E nem salvar a sua vida – Timothy dessa apontou o seu revólver para Robert – Últimas palavras, Robert?

— Eu... – Robert engoliu pesadamente sua própria saliva. Pensou em correr mas sabia que poderia ser atingido por um dos tiros, mesmo sabendo que os dois não tinham lá uma mira muito boa e ao menos sabiam manusear um revólver. Sua atenção se voltou para outra ação, quando viu Topher aparecer atrás deles.

— Ei! Olha aqui seu cuzão! – Topher gritou, chamando a atenção de Timothy e Herrera. Robert então teve tempo de sair correndo da arena.

— Ele escapou! – Timothy se virou bruscamente ao perceber que Robert havia sumido – Porra! Eu vou te matar! – Começou a disparar contra Topher, que se escondeu atrás de um pilar.

— Agora! – Topher fez um sinal para Moon e Sunshine, que saíram de trás de outros dois pilares. As duas mulheres começaram a atirar com suas metralhadoras. Timothy e Herrera foram baleados sem dó e piedade, caindo no chão apenas quando os pentes das moças ficaram vazios – Caralho... – O rapaz arfou, vendo os corpos estirados no chão – Belo trabalho – Assentiu positivamente para as duas.

— Já posso passar? – Tamar perguntou, saindo de trás de um carro estacionado. A moça segurava Matthew enrolado em alguns cobertores. O bebê usava protetores de ouvido azuis, para abafar o alto barulho dos tiros. Felizmente, ele dormia e não tinha noção do que acontecia.

— Pode vir – Topher garantiu e então Tamar se encontrou com ele.

— Para onde o Robert foi? – Sunshine perguntou, jogando o pente vazio no chão asfaltado.

— Correu para uma das casas – Moon respondeu – Robert! Já pode sair! – Gritou para onde quer que o loiro tivesse se escondido – As ruas estão desertas. Isso é muito assustador.

— Temos que achar Kami, Sky e os outros – Sunshine avisou preocupada – Depois que começamos a matar os zumbis perto do prédio, todos eles sumiram.

— Scorpion deve estar com eles em algum lugar. Depois os encontramos – Topher falou – Temos mais coisas para nos preocuparmos agora – Olhou para os cantos destruídos da cidade e nenhum sinal do loiro – Robert! – Gritou mais uma vez. Um silêncio começou a tomar conta da rua, podendo apenas ouvir o barulho dos destroços das casas caindo em meio a alguns incêndios.

— Temos que continuar – Sunshine foi até Topher – Não podemos arriscar.

— Espera! – Pediu Topher – Há algo de errado... – Virou-se para o lado e viu um movimento entre a fumaça.

Topher quase foi derrubado por Boone quando o mesmo esbarrou nele. Logo em seguida apareceu Polly, Bel, Scorpion e todo o grupo que havia escapado da igreja com sucesso. A rua rapidamente se encheu, mas nenhum sinal de Robert naquela altura.

— Graça a Deus! – Moon foi abraçar Kami, que a recebeu de braços abertos. Ela e Sunshine tão pouco deram atenção para Scorpion.

— Onde está Sky e Karma? – Perguntou Sunshine, aflita.

— Eles... eles foram pegos pelas bombas – Kami lamentou com a cabeça baixa – Estávamos contendo os zumbis no prédio quando fomos surpreendidos. Não deu tempo de fazer nada... – Moon segurou o choro durante alguns segundos, mas logo despencou em lágrimas.

— Isso é... – Moon estava pronta para acabar com Scorpion ali mesmo.

— Não adianta culpar Scorpion. Ele tentou fazer de tudo para manter os zumbis fora do prédio – Kami impediu que Moon tomasse qualquer atitude precipitada – Perdemos muita gente dentro da igreja também. Não há quem culpar agora.

Polly correu até Tamar e pegou Matthew, agradecendo a moça por ter cuidado do bebê durante esse tempo. A loira tirou um grande peso das costas ao ver o pequeno vivo e a salvo. Bel tinha a mesma sensação, mas guardava uma preocupação em si devido à ausência de Kei e Robert naquela destruição intensa.

— Robert fugiu para o outro lado quando o salvamos. Herrera e Timothy haviam escapado – Tamar falou para Polly – Por pouco ele não morreu.

— Ele deve ter se escondido em algum buraco. Robert sabe o que faz nessas horas – Polly garantiu que o ex-namorado estivesse bem, mesmo não tendo tanta certeza.

Em algum canto da comunidade, Robert corria mais do que nunca, sem olhar para trás uma vez sequer. Devia sua vida a Topher por causa daquilo. Sua adrenalina estava mais alta do que nunca e não sabia exatamente para onde ir, até se encostar em uma das oficinas daquela rua.

— Droga! – Gritou em meio ao susto quando foi puxado para dentro do local.

— Se acalma! Não há mais nada lá fora para você fugir – Zain perguntou, enquanto Fani fechava a porta atrás dele. Robert suspirou de alívio por estar em um lugar supostamente seguro – A fumaça está bloqueando a visão na rua.

— Timothy e Herrera escaparam das celas. Mas a essa altura do campeonato acredito que eles tenham morrido – Robert proferiu ainda ofegante – Topher apareceu com as garotas de Scorpion e deram um jeito neles.

— Descobriram o porquê desses ataques? – Athena perguntou.

— Não faço ideia – Robert mentiu. Tinha uma hipótese sobre aquilo, mas nada confirmado – Mas, uma coisa. Não podemos ficar aqui muito tempo, há um incêndio na casa atrás da oficina. Isso aqui vai estar dominado por fumaça em minutos.

— Vamos ter que arriscar sair lá fora? – Fani indagou, preocupada.

— Ou correr o risco de inalar fumaça até a morte – Robert rebateu. Foi até uma das prateleiras, procurando alguma arma de corpo a corpo. Encontrou um bastão de beisebol, usado em uma das atividades na arena – Fiquei sem balas. O único risco que não quero correr é ficar desarmado.

— A clínica está a salvo? – Amber foi até Robert. A enfermeira tinha grande preocupação com seus amigos.

— Da última vez que eu vi a clínica, um incêndio havia começado ali. Parece que Vinny e Tuppence fugiram para a igreja – Robert afirmou – Sinto muito Amber, não posso afirmar algo que não tenho certeza.

— Tudo bem... – Amber balançou a cabeça, tentando espantar pensamentos negativos.

— Temos que correr – Juan se aproximou. Todos olharam para uma sala logo ao fundo e viram os primeiros resquícios da fumaça invadirem a oficina – Não vai ser legal ver todo mundo perdido no meio de um incêndio.

— Estou pronto – Robert disse com o taco em mãos, a disposição para rachar a cabeça de alguém.

— Vou na frente – Fani anunciou e então abriu a porta, saindo da oficina as pressas. Robert, Amber, Juan vinham a acompanhando, enquanto Athena e Zain iam logo atrás. O grupo rapidamente cruzou aquela rua e acabaram por chegar até a clínica, sendo confirmado o incêndio que Robert havia dito.

— Não... – Amber juntou as duas mãos em lamentação.

— Amber, não podemos parar agora – Robert voltou para buscar Amber, antes que a moça ficasse muito atrás e se perdesse.

Não demorou muito para Robert voltar até a arena. Pode avistar de longe a comunidade parcialmente reunida. Boone estava sentado no chão asfaltado junto com Matthew, enquanto Polly e Bel permaneciam abraçadas, provavelmente descansando-se uma na outra e Topher havia se escorado em um dos postes de luz. Todos ali tinham o cansaço e medo estampados em seus olhos.

— Valeu por me salvar cara... – Robert foi até Topher e o abraçou fortemente.

— Estou aqui para isso – Topher deu um sorriso fraco.

— Graças a Deus, Robert – Bel foi até o loiro, agarrando seu braço – Kei ainda não retornou.

— Eu sei. Eu sei, Bel – Robert repetiu as palavras, cansado.

— Não podemos esperar a Kei voltar – Vinny falou, deixando Tuppence e Amber de lado – A igreja está infestada de zumbis. Nossos amigos morreram lá dentro e a cidade agora está destruída. De novo – Disse com relento, observando todo o ambiente – Há alguém nos atacando e ninguém sabe ao menos o porquê disso tudo. É tão inacreditável quanto o Robert ter retornado depois de um ano fora.

— O que quer dizer com isso, Vinny? – Polly avançou lentamente contra o médico.

— É suicídio continuar aqui dentro enquanto as coisas pegam fogo – Vinny respondeu com voracidade – Eu e as garotas não vamos mais ficar aqui dentro. Sei que a comunidade tem uma rota de emergência caso tudo venha a baixo. E acho que estamos no momento certo para isso.

— Rota de emergência?! – Polly perguntou em deboche – Essa é nova.

— Ele está falando a verdade – Juan cruzou os braços enquanto falava – Organizamos um plano há muito tempo. Se a cidade tivesse um problema que a deixasse em uma situação de risco. Moveríamos toda a população para a estação de trem da cidade – Continuou – Não usamos isso quando tivemos a crise com os zumbis e a área 1, por que daria para salvar as coisas. Mas agora não temos escolha se não sair daqui quanto antes.

— Desde quando os trens irão funcionar depois de anos parados? – Scorpion perguntou, desacreditando do que falavam. Na cabeça dele, parecia mais uma armadilha do que uma opção de fuga.

— Geradores. A estação está conservada até hoje graças ao Fox – Juan assentiu, garantindo que estava certo.

— Estava – Percy lamentou, enquanto mantinha sua mão na cintura de Tamar – Fox morreu na igreja tem alguns minutos. Ele, Patrícia, Uber e vários outros. Precisamos sair daqui antes que sejamos os próximos.

— Já tentamos salvar essa cidade muitas vezes. Está na hora de salvarmos as nossas vidas – Halsey disse, fungando na própria blusa.

— Kei ainda está lá fora investigando o que aconteceu... – Robert tentou fazer com que mudassem de ideia, mas sabia que não iria conseguir.

— É uma situação de emergência! Você ainda não entendeu?! – Carlota gritou, nervosa.

— O que nós vamos fazer? – Robert perguntou para Polly e Bel.

— Nós não temos escolha – Bel respondeu, ainda pensando em Patrícia. Sua cabeça estava atordoada com a morte da moça – Temos que ir com eles. Essas pessoas sozinhas irão morrer lá fora.

— Esperaremos Kei na estação. Com certeza ela sabe dessa rota de fuga – Polly falou – Por mais que eu seja contra essa ideia, Bel está certa. Eles não vão sobreviver muito tempo lá fora, ainda mais se há pessoas estranhas espalhadas pela cidade.

— Boone? – Robert olhou para o rapaz, ainda sentado no chão junto com Matthew.

— Robert, para onde você for eu estou contigo – Boone disse firmemente. Não deixaria Robert sozinho naquela situação.

Com um suspiro pesado, Robert olhou mais uma vez para todas aquelas pessoas. Assustadas, sem rumo e prontas para agirem sem pensar no risco. Sabia que fariam de tudo para salvarem as suas vidas, mesmo podendo perde-las no meio de todo aquele caos.

Sem se intimidar com os olhares sobre si, Robert manteve a sua postura e tomou a atitude que todos esperavam. Polly e Bel continuavam ao lado dele e Boone finalmente havia saído do chão, carregando Matthew em seus braços e indo até o loiro, sem antes se certificar que Lauren ao menos estava com Vinai e Todd.

— Estou saindo de El Distrito. Quem quiser pode me acompanhar. Quem quiser ficar, não vou impedir – Robert olhou de relance para a população atrás dele – Vamos? – Perguntou para os seus amigos ao seu redor, que apenas seguiam-no. Um pingo de ódio por todas aquelas pessoas havia penetrado no corpo de Robert.

— E se essas pessoas nos pegarem? – Polly perguntou, enquanto rumavam até o portão principal.

— Será uma questão de tempo até que nos libertemos delas – Robert respondeu, mantendo-se firme até a saída da comunidade.

Robert, Polly, Bel, Topher, Boone e Matthew foram os primeiros a passarem para fora dos portões de El Distrito. Lauren acelerou o passo até chegar em seu irmão. Vinny, Amber e Tuppence foram os próximos, acompanhados de Percy, Tamar, Halsey e Carlota. Marilyn passava pela rua sozinha e com os braços cruzados a alguns metros Wendy, Todd e Vinai. Zain e Fani iam num absoluto silêncio, ao contrário de Athena e Juan, uma vez que o último crucificava em palavras os responsáveis pelo atentado na cidade.  Por último, vinha mais uma leva de pessoas e encerrava-se com Scorpion e o que havia restado de seu grupo.

— Se forem ficar com essa cara de merda. É melhor que fiquem aqui mesmo – Scorpion disse para seus companheiros – Não podem me culpar para sempre de todos que morreram. Hoje morreu muita gente e nem todas puderam ser salvas. Agradeçam a porra da sorte que tiveram – Moon abaixou a cabeça, ouvindo cada palavra de Scorpion.

— Sky se foi, Karma também. Temos que seguir em frente, igual eles estão fazendo – Kami suspirou – Por mais difícil que seja, ainda há um apocalipse lá fora e precisamos enfrenta-lo, ou nos juntaremos a eles.

— Estou indo com eles, antes que fiquemos muito atrás – Moon levantou a cabeça e seguiu em frente – Vamos, Sunshine – Chamou a parceira.

Kami seguiu as moças. Scorpion foi a última a pessoa a deixar a comunidade, sentindo que aquele terror estava longe de acabar, e infelizmente, mais inocentes estavam prestes a perderiam as suas vidas.