Contágio escrita por MrArt


Capítulo 102
Estação 6 - Capítulo 102 - Conflito Interno


Notas iniciais do capítulo

Mais uma bomba vindo nesse capítulo! Segura coração!

Robert e Polly estão ausentes neste capítulo.

Boa leitura!



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— Quero que chamem o Juan, agora! – Intimou Kei e então Ozzy saiu em disparada da torre. A oriental tomou um binóculo que estava nas mãos de Boone e colocou, tendo uma visão ampliada do panorama de Albuquerque.

— Estão surgindo aos montes em vários pontos da cidade – Disse Boone – Os atiradores localizaram o primeiro grupo vindo do aeroporto, depois mais deles apareceram de outros bairros residenciais.

— Foram os tiros que atraíram durante a madrugada – Falou Bel abrindo e fechando os olhos, tentando disfarçar uma dor – Provavelmente havia horda passando por aqui.

— E o que vamos fazer agora? – Perguntou Taissa.

— Vamos atirar neles. Temos atiradores os suficientes. Colocaremos homens nas torres e em pouco tempo acabaremos com eles – Falou Vasili, cruzando os braços em tom de ordem – As pessoas daqui sabem atirar.

— Não faz sentido sair atirando em grupos grandes, só vai atrair mais deles – Taissa estava preocupada mais do que nunca com a situação.

— Ela está certa – Disse Kei. Vasili entortou a boca em repúdio – Gastamos muitas balas atirando nos soldados da área 1. Precisamos preservar o maior número possível de munição caso eles tentem alguma.

— Como se eles não fossem fazer alguma coisa para proteger o território deles – Vasili debochou todas as ideias que ouvia.

— Mas isso não os impede de fazer alguma coisa aqui – Disse Bel

Minutos depois, Ozzy trouxe Juan junto com sua equipe de atiradores.

— Temos um problema – Falou Kei. Juan assentiu ao ver o que os aguardava do lado de fora dos muros.

— É, eu sei – Juan encarou-os, nervoso – Graças ao tiroteio temos uma manada deles aqui. Temos que distrair ou matar uma grande parte deles. O muro não vai...

— Ele não vai aguentar – Avisou Taissa – Renata estava certa. Esses muros vão cair se a pressão for muito grande.

— Podemos barricar as ruas da cidade com carros – Opinou Ozzy – E distraímos eles para fora da rota da cidade.

— É mais arriscado ainda, não teríamos tempo para barricar todas as ruas que dão acesso a esse lugar – Juan revirou os olhos. Não havia nenhuma ideia concreta ali e o tempo apenas passava.

— Você mesmo disse que distrair era uma opção – Contestou Boone.

— Eu falei. Mas não é mais - Retrucou.

— Ei, sem estranhamentos agora – Vasili interferiu – Você sabe onde Robert ou Polly estão? – Perguntou para Boone.

— Não. Mas sei que eles estavam juntos quando estávamos atirando nos soldados – Respondeu o tatuado. Kei ouvia a conversa atentamente e sabia que o casal já podia estar longe da cidade.

— Procurarei eles – Kei afirmou com a cabeça e Vasili concordou – Juan, faça o que tenha que fazer. Só usarei alguns atiradores para procurar os dois, caso eles estejam fora da cidade.

— Tudo bem – Ele se virou e olhou para Ozzy - Reúna toda a equipe de atiradores – Falou Juan. Ele observava os zumbis com um arrependimento visível em seu rosto – Vamos tirá-los da rota da cidade antes que cheguem até aqui. Certo? – Perguntou. Todos olharam para Vasili esperando uma resposta final. O russo revirou os olhos.

— Façam o que bem entender – Disse por fim e todos começaram a sair da torre às pressas. Apenas Bel estava ali, com um rosto nada amigável.

— Esse seu plano de dominar El Distrito tem de tudo para dar errado – Disse Bel, balançando a cabeça em reprovação. Andou com um pouco de dificuldade até as escadas, com a mão no estomago.

— Bom, a mesma moça que está dizendo isso atirou em soldados a algumas horas atrás – Vasili riu pelo nariz.

— Pode fazer uma lavagem cerebral na cabeça de quem quiser. Eu apenas atirei neles por pura defesa, não por ódio que nem a cidade inteira fez – Bel rangeu os dentes – Já vivi muito tempo nesse apocalipse para saber como as coisas dão errado.

— E? – Vasili ficou frente à frente com Bel, severamente maior que ela.

— Fique esperto, não deixe essa cidade ser destruída – Falou – Vou avisar a todos o que está aconteceu – Disse por fim e então saiu da torre, deixando Vasili para trás.

 

— Flashback

 

2013. Bel não conseguia dormir de jeito algum. Pensar em se mudar para o Colorado era a decisão mais radical que havia tomado com a sua irmã Lia. As duas haviam conseguido uma casa nova junto com o amigo Red. Estavam tristes por abandonar Detroit, mas morar naquela cidade não foi uma das melhores opções.

— Que droga! – Gritou Bel ao cair da cama depois de tanto ficar se movendo na mesma. O chão de madeira estava gelado, mas nada que incomodasse Bel. Ficou deitada um bom tempo no solo frio observando o teto de seu quarto.

— Cheguei! – Ouviu Lia entrar em casa, que logo entrou no quarto.

— Oi – Falou.

— O que está fazendo no chão? – Lia perguntou enquanto jogava sua bolsa na cama. Ficou apenas com uma pasta azul nas mãos.

— Eu caí. Fiquei com preguiça de levantar – Bel logo se deitou em sua cama novamente – E aí, resolveu a documentação da casa?

— Resolvi – Lia parecia preocupada.

— E o que mais? Sei que tem algo de errado – Lia não respondeu a irmã – Lia, eu estou falando com você! – Ficou ao lado da irmã, sentada na cama.

Lia suspirou fundo.

— Depois que eu acertei a documentação da casa em Englewood, resolvi ir até a clínica que agendamos o mapeamento genético para pegar o resultado – Lia entregou a pasta azul para Bel, que imediatamente pegou.

— Espera, só o meu está aqui – Bel folheava páginas que continham apenas seu nome – Onde está o seu?

— Eu deixei com eles. Apenas trouxe o seu, é mais importante – Disse.

Após isso um silêncio enlouquecedor se fez naquela casa. Bel ficou lendo as informações sem entender muitas palavras, até chegar na informação que precisava. Lia continuava ao lado da irmã, até que falou:

— Lembra quando o papai morreu? – Perguntou. Bel assentiu em completo silencio.

— Isso foi a dois anos. Ele teve câncer – Bel sentiu seus olhos lacrimejarem. O pai das gêmeas havia falecido precocemente e isso ainda as abalava – Câncer de estomago.

— Por isso pedimos o mapeamento genético – Lia fungou na blusa que vestia. A loira havia ficado o dia inteiro fora para saber como contar algo tão devastador para a sua irmã gêmea. Podiam ser iguais, mas os corpos claramente eram diferentes, assim como suas personalidades – O meu não consta que não terei nenhuma doença genética. Mas o seu sim – Bel sentia como se diversas bombas estivessem caindo em suas costas.

— Espera – Bel passou de preocupação à indignação – Dividimos o mesmo útero, tudo o que eu tenho você também tem. É impossível – Se levantou da cama e jogou a pasta e os papeis em um quarto. Depois de alguns segundos refletindo, olhou para Lia - Está querendo dizer que eu vou ter...

— Câncer – Lia assentiu com a cabeça – Você pode ter a qualquer momento. Pode ser genético, mas eu não vou ter, você sim. O mapeamento não mente – Era mais difícil para Lia do que para Bel aquilo – Mas se for diagnosticado com antecedência, você pode ser curada com mais facilidade.

— Não. Está errado! – Gritou – Se aparecer uma mancha qualquer no meu estomago, pode me dar um tiro na minha cara!

— Bel, não fala desse...

— Eu não vou morrer naquela maca de hospital que nem o papai! – Interrompeu a irmã. Bel começou a puxar os próprios cabelos e começar a gritar. Lia aguentava tudo calada, enquanto se segurava para não chorar – A nossa mudança, está arruinada agora!

— Vamos embora de Detroit – Lia se levantou e ficou de frente para a irmã – Vamos recomeçar nossa vida no Colorado. Tudo vai dar certo.

— E se eu ficar doente? – Bel perguntou, mais calma.

— Eu vou cuidar de você. Vamos fazer um plano médico melhor e todo mês faremos consultas – Combinou – Pode ser?

— Tudo bem. Que droga – Bel limpou as lágrimas de seu rosto.

— Fica tranquila, isso pode demorar para acontecer. Pode ser que nem aconteça – Lia abraçou a irmã, que retribuiu prontamente – Tudo vai ficar bem conforme o tempo – Queria acalmar Bel, mas por dentro sabia que as coisas não estavam tão boas para as duas. No entanto, estavam prestes a se mudar para o Colorado, onde tudo ia mudar em algumas semanas.

 

— El Distrito –

 

— Está querendo dizer que além do perigo que estamos correndo com os soldados – Vociferou Stacy – Tem zumbis vindo para a cidade?

— Infelizmente sim. Por isso trouxe vocês para cá – Bel estava com um grupo de habitantes da cidade na arena, já desmontada após os atendimentos do ferido durante a batalha – Sei que estão assustados pelo o que está acontecendo, mas vocês precisam aprender a se defender enquanto os atiradores ficarão fora da cidade para desviar os zumbis – Bel segurava um machete, assim como todos ali presentes.

— O que o Vasili está fazendo a respeito de tudo isso? Não duvido que as pessoas da área 1 já estejam sabendo – Perguntou Cameron e todos olharam para ele, um pouco assustados com a aparição do rapaz.

— Ele está cuidando disso com o pessoal – Respondeu, com um sorriso falso no rosto – Vou mostrar a vocês como fazer um acerto preciso com o machete. Vocês precisam ter força – Ergueu o objeto e o bateu no ar. Sentiu uma nova pontada no estomago – E uma visão boa do ângulo. Óbvio – Fez uma cara feia logo em seguida.

— Está tudo bem? – Fani perguntou após repetir o movimento de Bel com o machete.

— É só um mal-estar – Bel se sentou em um caixote e deixou o machete de seu lado. Boone estava ao fundo ajudando Riki e Hunter a colocarem sacos de areia nos muros e logo sua atenção foi voltada para Bel, notando a estranheza da moça.

— Quer continuar a aula depois? – Uber foi até Bel checar seu pulso – Posso te levar na clínica se quiser.

— Não. Eu estou bem – Se levantou, mas a dor continuou.

— Definitivamente não está bem – Argumentou Uber. Ele segurou Bel pelo braço, mas ela rapidamente o tirou – Você precisa ir para lá, se for outro envenenamento podemos te salvar – A clínica já está limpa, retiramos todos os corpos e...

— Minha amiga morreu lá! – Gritou. Todo mundo que fazia alguma coisa ali por perto ficou encarando Bel, que se sentia incomodada com tanta atenção.

— Vem comigo – Boone estendeu a mão para Bel – Vou ficar do seu lado o tempo todo, pode ficar tranquila. Bel resistiu durante alguns segundos, mas logo pegou na mão de Boone – Vamos – Falou para Uber, e então seguiram para a clínica.

Após os três irem para a clínica, o restante do pessoal continuou na arena treinando. O clima em El Distrito estava tão tenso que quase ninguém conversava entre si. Juan, Kei, Ozzy, Taissa e toda a equipe de atiradores estavam fora da cidade para tirarem os zumbis da rota de El Distrito.

A medida em que um possível ataque podia acontecer a qualquer momento ou os muros caírem devido uma invasão zumbi, a maioria dos habitantes estavam barricando as próprias casas e pegando armas no arsenal. Riki, Hunter e Mark bloqueavam os muros para os mesmos terem resistência contra a pressão dos zumbis. A clínica estava reabastecida e limpa.

Até então todos os corpos haviam sido enterrados, incluindo o de Renata

(...)

— Desde quando você está desse jeito? – Perguntou Vinny, passando o estetoscópio no abdômen de Bel, deitada em uma cama forrada por papel. Boone estava do outro lado do consultório de Vinny, vendo pela janela se havia alguma coisa de diferente do lado de fora.

— Eu não sei. Realmente não sai – Bel tremia um pouco. Depois de tanto tempo lutando em um apocalipse, mal podia lembrar dos problemas que tinha antes de tudo começar.

— Comeu algo que fez mal? – Vinny passou a mão na região e Bel se incomodou com a dor novamente.

— Falei para ela se podia ser envenenamento – Argumentou Boone.

— Ela bebeu demais. Se fosse envenenamento ela teria morrido durante a madrugada – Disse Vinny, que ficou um pouco pensativo ao ver Bel ansiosa – Tem alguma coisa que não contou?

Bel não tinha alternativas no momento. Já era complicado ter um médico à sua disposição e ainda mais em um apocalipse zumbi.

— Eu preciso contar uma coisa – Bel se sentou na cama.

— Quer que eu saia? – Perguntou Boone, indo em direção a porta.

— Não precisa. Acho que vou precisar de você aqui para segurar minha mão – Sorriu tristemente.

Não demorou muito para Bel começar a contar sobre sua possível doença estar começando a surgir no seu corpo. Nunca havia pensado naquilo em meio ao desastre que havia sido sua vida após Denver ser destruída, Lia morrer, Mike morrer, Horan morrer e até mesmo Renata morrer. Foram alguns minutos de choros, palavrões por parte dela e até mesmo um pedido de suicídio, completamente negado por Vinny, comovido com a situação de Bel.

— Vamos fazer um raio x— Vinny estava com uma mão no ombro de Bel, que chorava nos ombros largos de Boone – Qualquer coisa que aparecer, vamos te tratar da melhor forma possível – Pela primeira vez Vinny abraçou um paciente após tanto tempo exercendo a medicina.

— Certo. Vamos lá – Bel limpou as lágrimas dos seus olhos com a manga da blusa de Boone.

Boone ficou no corredor daquele andar enquanto Bel fazia os exames com Vinny na sala de raio x. Não sabia se ficava mais preocupado com tantas coisas que aconteciam na cidade ou se Bel podia ter uma terrível doença num terrível mundo que estavam vivendo, onde os recursos e o perigo eram as coisas mais preocupantes no momento.

Tuppence, Carol e Amber estavam ajudando outros pacientes na clínica, mas logo que souberam de Bel, vieram para prestar apoio à garota, mesmo que o resultado não indicasse nada. No momento, todos os amigos de Bel estavam fora dos muros de El Distrito.

Não demorou muito para Bel sair da sala, um tanto nervosa.

— Já pegou o resultado? – Boone se levantou da cadeira. Bel negou com a cabeça, uma vez que estava nervosa demais para falar.

— Saem bem rápido. Vinny precisa apenas estudar como está a chapa – Informou Amber.

— Logo ele aparece aqui – Falou Tuppence.

— Bel – Carol segurou nas mãos da moça e sorriu – Vamos cuidar de você, independente do que esteja acontecendo – A morena sorriu, dando todo o apoio possível.

Bel não tinha muito o que falar no momento, estava ansiosa demais, mil coisas passavam por sua cabeça e não sabia como seria sua vida aqui por diante.

Todos fizeram silêncio ao verem Vinny sair da sala. O médico segurava a chapa, a tão temida chapa que tinha o destino de Bel.

— Bom... – Vinny se sentia nervoso com seus amigos à sua frente.

— Fala logo. Sem enrolação – Disse Bel por fim. Vinny suspirou.

— Pelo raio x conseguimos detectar uma pequena mancha mancha em seu estomago. Quer dizer, um tumor – Falou. Bel começou a tremer mais que o normal. Boone estava logo atrás de Bel antes que ela tivesse um colapso ou outra coisa – É tratável e temos recursos para te ajudar no tratamento.

— O que isso quer dizer? – Bel colocou as mãos na boca. Seu rosto estava completamente vermelho de nervoso.

— Sinto muito Bel, mas você tem câncer – Anunciou. Segundos depois, Bel se pôs ao desespero naquela clínica.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!!



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