Os dias se passaram e eu me acostumei a conviver com a dor. Ainda me doía ver o Fernando com a Manuela todos os dias nos ensaios, mas eu conseguia vestir a capa de que estava tudo bem. Meus amigos viviam de burburinho e para ser sincera eu não estava interessada no que eles estavam tramando. Quando cheguei em casa naquele dia comuniquei meu pai a minha decisão. Eu iria prestar vestibular em outro estado. Eu sempre fui apaixonada por Santa Catarina e seria lá que eu reconstruiria minha vida. No inicio eles não receberam bem, mas depois viram que essa seria a melhor solução para eu tentar viver de novo. Eu já estava de passagem comprada e o Will iria ficar comigo por um tempo lá. Eu iria para o aeroporto assim que a formatura acabasse. Eu olhava para o Fernando dos pés a cabeça quando ele estava distraído. Eu tentava aproveitar os nossos últimos momentos para me lembrar dele com o sorriso distraído e seus lindos olhos azuis fitando qualquer coisa. Quando a bruxa da Manuela não estava perto ele voltava a ser o meu Fê de novo. Quem também ficava o encarando era o Marcelo. Desde o dia que o Fernando voltou para escola, o Marcelo ficou ainda mais isolado e até então não tinha tido coragem para ir falar com ele. Era verdade que parte da culpa disso tudo ter acontecido é totalmente do Marcelo, mas eu não tinha mais raiva dele. Eu o perdoei e sabia que ele tinha aprendido a lição com tudo que passou logo após o acidente. O dia da formatura e da minha viagem chegou e a pontinha de dor só aumentava no meu coração.

— Animada filha? – minha mãe sentou perto da minha cama – Seu vestido já chegou e logo as meninas vão chegar para vocês se arrumarem.

— Sei lá, acho que não estou tão animada quanto deveria. O importante é que as minhas malas já estão arrumadas.

— Você tem certeza que quer viajar assim que o baile terminar? Por que não viaja no dia seguinte? Ainda tem tempo de cancelar a passagem.

— Não, eu quero pegar o avião assim que tudo terminar e além do mais já está tudo arrumado.

— Ju, você acha mesmo que ficando longe dos seus amigos vai ajudar? – minha mãe suspirou – Eu acho que você está se precipitando.

— Mãe, eu amo você. Mas eu preciso ir embora. Passei por tanta coisa aqui que me doeria demais continuar indo a lugares e reviver lembranças que eu gostaria de viver.

— Certo. Vejo que não tem jeito. Mas  não pense que se livrou de mim, mocinha. De tempos e tempos eu vou te visitar. Espero que você consiga um bom lugar para ficar. Esse mês de dezembro muitos universitários voltam para casa da família. Fico com medo de você não conseguir boas referencias de um bom lugar para ficar.

— Vai dar tudo certo. Papai já entrou em contato com um amigos dele de  lá e eles irão me indicar um lugar bacana. Enquanto isso eu e o Will vamos ficar em um hotel até tudo estiver acertado.

Eu a abracei para deixá-la tranquila. Mas até mesmo eu não tinha certeza do que estava fazendo. O que eu queria era estar bem longe daqui e só isso. Longe dele e de toda dor que ele me causou. As meninas chegaram bem animadas e todas nós começamos a nos preparar. Mesmo sendo de manhã o dia passava bem rápido e logo chegaria a hora da formatura.

— Eu vou sentir tanto a sua falta – Luiza falou – Não acredito que vai nos abandonar!

— Mesmo entendendo sua decisão – Marina falou – Vou sentir muita saudades.

— Você não pode falar nada, Marina – Luiza a olhou de cara feia – Você vai fazer faculdade no Rio e só eu vou ficar aqui.

— Eu sei – Marina levantou as mãos – Mas você sabe que o Alê também tem a família dele e eles só o deixaram vir para cá com a condição de voltarmos para o Rio assim que nos formássemos.

— Eu amo todas vocês – falei – Vou sentir falta de cada uma, mas nossa amizade não vai acabar. E nas férias eu volto e a Marina ta convidada para ficar na minha casa nas férias.

Olhamos emocionadas umas para as outras e nos abraçamos. Eu agradeci a cada uma pela paciência e por estarem ao meu lado em todos os momentos difíceis desse ano.

— Eu sei que não foi um ano que nós esperávamos, mas eu quero dizer que todas essas dificuldades só fez aumentar o carinho que eu sinto por vocês e claro pelos meninos também. Fico muito feliz pelo Lucas ter quebrado esse coração de gelo, Luiza – olhei para as duas – e Marina, seu namorado ainda é o namorado de ouro.

Elas sorriram e me abraçaram chorando. Naquele momento, eu senti gratidão pelas minhas amigas e apesar de tudo eu estava feliz de estar do lado delas.

— Vamos parar porque a gente vai acabar se formando de olho inchado – Luiza gargalhou – É melhor a gente se apressar. O Will deve estar cansado de esperar a gente lá fora.

O Will já estava dentro do carro.

— Pensei que não iam mais chegar – ele falou – Os caras já me ligaram muitas vezes e eu fiquei de vê uma aparelhagem de som com o Lucas.

— Uma aparelhagem de som? – perguntei – Pra quê? A escola já não tem banda contratada?

— É que pediram o Lucas para olhar com o mesmo pessoal que alugou no dia do show de talentos – Luiza respondeu – Detalhes que não vem ao caso. Vamos tentar nos focar no assunto de meninas. Cabelo, unha e maquiagem!

— Sei – falei desconfiada – O meu vestido está no porta malas e vamos nos arrumar na sua casa Luiza. Vamos fazer valer os nossos últimos momentos juntas!

Pela primeira vez no dia eu consegui, verdadeiramente, está animada. O Will nos deixou no salão e foi direto encontrar os meninos. Só iríamos nos ver de novo na hora da formatura. O dia passou muito rápido. Depois de arrumar o cabelo e fazer as unhas, seguimos para a casa da Luiza. Os nossos vestidos eram iguais e por uma coincidência era azul. Logo, pensei no meu vestido do show de talentos, que era da mesma cor. Os nossos vestidos formatura eram longos e marcava delicadamente a cintura, que tinha alguns detalhes em um azul mais escuro,  e na parte do decote tinha uma transparência com detalhes rendados.

— Meninas, vocês estão  maravilhosas – a mãe da Luiza falou – Agora só falta a maquiagem! A moça já chegou. Quem vai primeiro?

Deixei as meninas irem primeiro e a cada minuto que passava eu ficava mais nervosa. A colação de grau começaria as 18hrs e ás 20hts estava marcada a valsa dos formandos para abrir o baile e então às 22hrs eu já estaria embarcando para Floripa. Assim que a dança terminasse eu e o Will iríamos direto para o aeroporto. Quando terminamos de nos arrumar já faltava uma hora para a colação de grau começar. Nós fomos no carro dos pais da Luiza e encontraríamos os nossos pais e os meninos lá. Chegamos no local e realmente a coreografa não mentiu ao dizer que o espaço era lindo. Tinha um jardim enorme todo iluminado com várias fontes de água espalhados. O cenário era lindo.

— Vocês estão lindas! – minha mãe falou – Olha para nossa filha, Renato! Ficou uma verdadeira princesa.

— Ela é uma princesa – meu pai falou com os olhos marejados – Não acredito que você está formando!

— Não vão me fazer chorar agora – falei – Minha maquiagem vai borrar toda.

Eu os abracei. A Marina estava com os pais dela e os do Alê também. Agora só faltava os meninos chegarem.

— Meninas, que bom que vocês chegaram! – a diretora chegou perto de nós – Já podem ir entrando para o auditório e vocês receberam as instruções lá.

— Estamos esperando o Alê e o Lucas – Luiza falou – Eu só entro com meu namorado ao meu lado.

— Por favor, Luiza. Não dificulte as coisas! Eu estarei aqui e avisarei quando os rapazes chegarem. Agora entrem porque eu quero ser pontual com o horário.

Entramos no auditório e a ajudante nos mostrou onde ficar. Parece que cada formando iria ser chamado e sentaríamos nas primeiras fileiras em ordem de chamada para facilitar a entregar do diploma. O Alê e o Lucas chegaram e eles estavam um charme. O terno bem alinhado e a gravata azul bem colocada.

— Nossa, vocês estão maravilhosas! – Lucas falou – Linda, eu estou muito feliz de estar aqui ao seu lado.

A Luiza sorriu e o beijou e eu estava muito feliz pela minha amiga.

— Tenho que concordar com o Lucas – Alê falou – Meu amor você está tão linda! Uma verdadeira princesa. A minha princesa.

A Marina fez uma careta. Eu pensei que ela ia bater nele, mas pelo contrario. Ela o puxou pelo colarinho e deu um beijão.

— Hey! Não mereço ficar de vela – brinquei – Deixem a melação para a valsa.

Todos os nossos colegas de classe iam chegando aos poucos. Ele ainda não tinha chegado e desde que o dia amanheceu eu venho preparando o meu coração para lidar com ele e a Manuela

— Meninos, o Will foi para o auditório? – perguntei

— Foi, Juliana, Fica tranquila que tudo vai ser melhor do que você imagina – Alê deu uma piscadela – Você vai ver!

O tempo passava e eu ficava cada vez mais nervosa. Só faltava o Fernando e aquela bruxa chegar. Passaram-se alguns minutos e ele chegou. Ele estava ainda mais bonito de terno. O cabelo preto bem arrumado, mas alguns fios caiam nos seus olhos. Ele chegou com ela de braços dados assim que seus olhos encontraram os meus eles se arregalaram. Manuela percebeu o desconforto do Fernando e o puxou para longe. Revirei os olhos e esperei dar inicio a cerimônia. Chamaram-nos um de cada vez. Fernando e Manuela ficaram distantes de mim e eu resolvi tentar ignorá-los ao máximo. Eu sabia que o pior ainda estava por vim. A valsa. Foram muitas emoções em cada entrega de diploma. Os professores homenagearam cada um de nós e na vez do Fernando eu não me agüentei e deixei algumas lágrimas escaparem. Quando a cerimônia acabou nos direcionamos para o salão e todas as meninas subiram as escadas que dava direto para o camarim e uma a uma ia descer novamente de encontro ao seu par. Perdi-me das meninas no meio da confusão e comecei a ficar preocupada porque quase todas já estavam a postos e minhas amigas não tinham chegado e por incrível que pareça a bruxa da Manuela também não estava lá.

— Juliana, você vai ser a ultima a descer. Ocorreram algumas mudanças – a coreografa falou – Bom, meninas o resto continua na mesma posição. Vamos chamar uma por uma. Lembre-se de descer a escada com delicadeza e sorriam! É a valsa dos formandos!

— Espera! E a Luiza e a Marina? – perguntei – Não podemos começar sem elas.

Antes que ela respondesse as meninas chegaram correndo.

— Desculpa, tivemos que resolver um problema! – Marina falou

Olhei aflita para as minhas amigas e sem entender nada. Mas não deu nem tempo de perguntar porque já começaram a nos chamar. Eu fiquei por ultimo e meu coração estava disparado. Nesse meio tempo que aconteceu tudo isso não consegui nem falar com o Will direito.

— Juliana! – ouvi a cerimonialista chamar

Respirei fundo e me preparei par descer as escadas. À medida que fui descendo, começou a me bater um desespero, pois o Will não aparecia e pelos ensaios já era para ele estar em baixo. Era só o que me faltava ele não aparecer! Procurei desesperada pelo salão de festas e não o achei. Até que faltavam apenas uns três degraus para eu chegar até lá embaixo e então alguém apareceu e me estendeu a mão.