Entre o Amor e Ódio escrita por Joybessa


Capítulo 37
Perdas


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Amanheceu e eu já estava me preparando para mais um dia de aula. Faltava exatamente duas semanas pra finalmente acabar o ano letivo e eu me formar. O Terceiro ano do ensino médio não tinha sido exatamente como eu esperava. Foi um ano conturbado, cheio de emoções, alegrias e principalmente cheio de dor. Apaixonei pelo cara errado e quando eu encontrei o certo, o perdi. Desde Julho eu não sabia o que era sorrir. No fundo eu sabia que meu pai estava certo, eu não era a Juliana de cinco meses atrás. A pessoa que eu encarava em frente ao espelho havia se tornado uma desconhecida até pra ela mesma. Respirei fundo e tomei a minha dose de coragem e esperança diária para enfrentar mais um dia sem ele por perto. Desci as escadas silenciosamente sem que ninguém me escutasse, queria ver como meu pai estava depois da nossa discussão de ontem. Eu ia pedi-lo desculpas por ser tão desprezível. Quando me aproximei da porta da cozinha ouvi uma conversa.

– William como foi sua primeira noite aqui, querido? Dormiu bem? – minha mãe perguntava – Espero que não tenha tido nenhum incômodo, sinto tanto pelo o que aconteceu ontem com a Juliana.

Revirei os olhos e olhei escondida pra eles, o Will tinha um sorriso cínico nos lábios. Idiota!

– Dormi bem, tive uma interrupção sim, mas não foi desagradável muito pelo contrario, foi bastante agradável. A Juliana veio até meu quarto me pedi desculpas, acho que ela não é tão má quanto parece – Will gargalhou – Tenho a impressão de que seremos ótimos amigos.

Eu não estava entendendo onde ele queria chegar com aquela conversa. Pedi desculpas?! Não foi bem assim que aconteceu. Pensei em interromper a conversa até que ouvi a voz do meu pai.

– Ela te pediu desculpas?! Meu Deus! Temos um avanço. Você não está falando isso pra aliviar o que ela fez ontem, não é William?

– Claro que não, senhor Renato. Ela foi mesmo me pedir desculpas, disse que estava triste e por isso descontava sua raiva nos outros sem querer. Olha, eu não sei o que aconteceu entre ela e o garoto que está no hospital, mas o senhor poderia relevar e deixar ela visitá-lo, não? Ele parece ser mesmo muito importante pra ela.

– Ele é. Só que a Juliana tem que entender que nenhuma birra vai fazer aquele pobre rapaz acordar e ela terá que aprender da forma mais difícil. Pra você ter idéia ela não quer nem ir mais para formatura e o baile. Ela sempre sonhou com o baile, não é Silvia?

– Sim e no inicio do ano, ela e as amigas faziam tantos planos, ainda mais com a chegada da Marina na cidade e agora mal as vejo juntas. A vida da Juliana se tornou o Fernando e por mais que ela o ame, nós sabemos que isso não é saudável. Não é normal ela ficar tão focada nesse amor doentio e se esquecer de viver a própria a vida.

Aquelas palavras doeram como facadas no meu coração. As lágrimas começaram a se formar, eu queria sair dali correndo e ir para o meu quarto, mas me obriguei a continuar escutando cada palavra daquela conversa.

– Não a culpem. Minha namorada morreu em um acidente de carro e eu me lembro exatamente como fiquei logo depois. – Will deu um sorriso triste – E a Juliana é exatamente o meu reflexo durante alguns anos.

Fiquei boquiaberta. O Will perdeu a namorada e eu o tratei como se não soubesse da minha dor sendo que ele sentiu uma muito pior, não agüentei segurar e ali mesmo desabei. Eu tinha sido horrível com uma pessoa que sofreu o dobro que eu.

– Estávamos também na época da formatura escolar. Vocês sabem como é a formatura nos Estados Unidos, eu já tinha até comprado um corsage para minha namorada usar no baile, é uma tradição as garotas americanas usarem nos bailes de formatura e simboliza que oficialmente estávamos juntos. Lembro que a Liz havia me pedido um corsage com a rosa branca, ela nunca soube que eu havia preparado um buquê inteiro cheio delas, ela amava rosas brancas. – Will suspirou – Uma semana antes do baile o acidente aconteceu, nós estávamos no carro junto com toda a família dela, voltávamos de um final de semana que passamos em uma das propriedades do meu pai. Estava tudo tranqüilo na estrada até que um caminhão desgovernado atravessou a pista e acertou o nosso carro, todos morreram, menos eu e por incrível que pareça eu sai ileso daquele acidente, só tenho uma pequena cicatriz na cabeça – Will puxou seu cabelo loiro pra trás

Quase não dava pra perceber que aquilo era uma cicatriz. Era um risco fino ao lado da testa. Estremeci ao ver aquilo e meu coração se apertou. Eu ainda não tinha coragem pra caminhar até lá mesmo que tudo que eu queria agora era falar pra ele o quanto eu sentia e dizer que eu pelo menos entendia um pouquinho a sua dor. Meus pais olharam pra ele incrédulos.

– Logo depois eu me culpei por tudo, eu achava que não era justo eu viver e a Liz e os pais estarem mortos. Eu cheguei até desejar que eu tivesse morto junto com eles. Abandonei todos os meus amigos, desisti da formatura e do baile e só conclui o ensino médio por pressão do meu pai. Passei dias sem comer e ignorei todos que chegavam perto de mim, nada fazia mais sentido sem ter a Liz por perto e o seu sorriso. Até que um dia caí em mim. Eu havia sonhado com o nosso baile de formatura. Eu a peguei em meus braços e dançávamos valsa pelo salão de festa. Quando olhei para a expressão no rosto dela, ela chorava. Perguntei o por quê. Ela dizia que eu estava acabando com a minha vida, que eu estava a decepcionando e que eu tinha que ser feliz mesmo sem ela, e que ela estava aqui – Will colocou a mão no coração – E que mesmo que eu não pudesse vê-la, ela sempre estaria comigo. Desde então eu tenho tentado buscar ser feliz, no outro dia eu era outra pessoa. Eu só me arrependo de ter perdido o baile de formatura. Não deixe que a Juliana cometa o mesmo erro que eu. Tenho certeza que esse tal de Fernando não ia querer isso.

Minha mãe já estava chorando, se levantou e abraçou o Will, meu pai deu tapinhas nas suas costas e secou a lagrima que ameaçava descer.

– Pois a Juliana não vai perder o baile e você vai levá-la ao baile e ter a oportunidade perdida de volta. Claro se você aceitar – Papai falou

– Bem, eu poderia sim, mas duvido muito que a Juliana irá aceitar.

– Ela não vai ter escolha é isso ou nós vamos fazer as malas e ir embora daqui – meu pai falou convicto

Respirei fundo e apesar de ter crescido certa raiva dentro de mim, esfreguei os olhos, me recompus e foi até eles.

– Não vai ser preciso usar esse tipo de chantagem pai, eu vou ao baile com o Will. Eu escutei tudo.

Todos olharam surpresos pra mim e meu pai não escondeu o sorriso.

– Eu sinto muito por você Will, de verdade – estendi a mão pra ele

Ele deu aquele sorrisinho, se levantou e me puxou para um abraço forte.

– Eu mais que ninguém entendo sua dor Juliana – sussurrou no meu ouvido – Obrigado por me dar essa oportunidade, eu não me esqueci do que te prometi.

Sorri ao ouvi isso, parece mesmo que o Will estava certo, talvez esse seja o inicio de uma bela amizade. Soltei-me dele e olhei para o meu pai. Eu sabia o que tinha que dizer, pedir desculpas. Com toda essa historia eu comecei a entender eles e perceber no que eu estava me tornando, eu não podia mais continuar assim e sabia que jamais o Fernando iria querer me ver nesse estado ''Seja Feliz'' era o que ele havia me dito e o que eu estava fazendo era completamente ao contrario. Quando o Fernando acordasse, porque eu sabia que ele iria acordar. Eu tinha fé. Ele não ia gostar de jeito nenhum de saber o que eu havia feito comigo mesma. Eu tinha que estar bem para ele e era isso que eu ia começar a fazer a partir de agora.

– Desculpa Pai, você estava certo. Eu não te odeio. Eu te amo muito e desculpa se eu fiz com que o senhor não me reconhecesse mais. Sinto muito mesmo. – as lagrimas desciam – Prometo que vou melhorar e voltar a ser o que era. Mesmo não concordando com o castigo, eu sei que eu estava errada.

– É claro que eu te perdôo filha, vem cá – Meu pai me abraçou – Sinto também não poder tirar o seu castigo ainda, mas você está no caminho certo para poder ter o direito de ver o Fernando.

Soltei dele e dei um sorriso fraco. Claro que se eu não tivesse como ver o Fê, eu estaria desesperada, mas agora eu tinha um aliado e estava tranqüila. Abracei minha mãe e também pedi desculpas. Tomamos café da manhã. Já era quase 07:15 quando meu pai tirou o carro para me levar na aula.

– Acho que vou chegar atrasada e a diretora vai encher o saco e a culpa é de vocês – Sorri apontando para o meu pai e o Will.

– Não vai ser preciso ela chamar sua atenção, acabei de ligar para ela e expliquei o motivo do atraso e claro perguntei a ela como ia funcionar os ensaios para o baile, já que você não tinha se interessado até o momento e surpresa! O Will vai com você pro colégio, a diretora permitiu, pois os ensaios vai ser nos seus dois últimos horários e como ele não sabe chegar lá sozinho, ele já vai ficar por lá. Bom que você apresenta ele para os seus amigos, depois da aula você vai com ele até o centro da cidade pra almoçar e levá-lo para conhecer o arredores da cidade, às cinco horas quero os dois de volta em casa. Pois eu e o Will vamos ter uma reunião com o pessoal da empresa. Certo, Juliana?

– Claro – Falei contrariada e um pouco surpresa

Ótimo, agora eu teria que explicar pras minhas amigas o que esse loiro bonitão estava fazendo comigo e como de uma hora pra outra eu iria pro baile, não sei por que mas estava com uma sensação que isso ia dar uma confusão. Enquanto eu estava de pé atrás com essa historia, o Will pareceu achar um máximo voltar a entrar em uma escola.

– Que legal! Então eu vou lá trocar de roupa – ele saiu correndo

Entrei no carro pra esperar o Will. Passaram alguns minutos e eu já estava começando a ficar impaciente.

– Desse jeito nós não vamos chegar à escola hoje – bufei

Eu odiava esperar. Quando o Will apareceu, toda espera tinha valido a pena. Ele estava incrivelmente lindo. Seu cabelo loiro estava todo pra trás, formando um pequeno rabo de cavalo. Ele usava uma camisa pólo com um short jeans e calçava sapatênis. Ele se parecia muito com aquele ator que fazia o Thor, Chris Hemsworth. Seus olhos verdes me fitavam, ele parecia se divertir com minha surpresa.

– Ah entra logo! – Revirei os olhos e ele sorriu

Evitei encará-lo durante o caminho e fiquei pensando em como eu ia explicar pras minhas amigas aquilo. Quando chegamos ao colégio, eu não tinha perdido aula, estavam todos no pátio, era um horário vago pra todo mundo, para o meu azar. Quando as pessoas começaram a perceber o Will do meu lado, começaram a me encarar e os comentários vieram logo a seguir.

– Olha isso! Nem esperou o Fernando esquentar a cama daquele hospital não é Juliana? Que amor é esse hein enquanto o namorado está no hospital, você já ta pegando outro? – ouvi uma risada maldosa – Que bom, parece que agora eu tenho o Fernando só pra mim, nem vou precisar tirar você da jogada, sua vadia!

Eu conhecia aquela voz muito bem. Era a Manuela.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Obrigada por ler



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