( visão da Juliana)

— Eu o odeio, ele é um canalha. O que ele fez é imperdoável. – falei a Luiza o que pensava do Marcelo - Não sei como eu fiquei tão cega de paixão por um mal caráter. 

Eu ouvi um barulho e olhei assustada para Luiza.

— É melhor a gente ir, já deve ter batido o sinal – falei limpando meus olhos - Daqui a pouco vão dar falta da gente. 

Ela acenou a cabeça e começamos a andar pra sala. A única coisa que eu pensava era no Fernando e o quão triste eu estava por ele me ignorar tanto. A Luíza bem que tentou me animar, mas não deu muito certo. Eu tentaria lutar pelo Fernando, mas se realmente ele gostava daquela loira seria uma causa perdida.  

— Meninas, onde vocês estavam? – Lucas chegou e eu me despertei dos meus pensamentos

— Acho que não é da sua conta – Luiza fez uma cara emburrada - Que intimidade é essa. 

— Parece que alguém ta muito nervosinha hoje, desculpa mas a professora estava quase dando falta pra vocês duas, eu só queria ajudar – Lucas deu de ombros

Eu dei um puxão na Luíza e revirei os olhos pra ela.

— Relaxa Lucas. Não liga para Luiza, ás vezes ela é meio nervosinha mesmo, mas foi muita gentileza sua – eu suspirei - A gente já estava a caminho. 

— Não fala de mim, como se eu não estivesse aqui – Luiza esbravejou

— Não se preocupe, Ju. A Luiza não me assusta, além do mais se eu fosse ela se acostumaria com a ideia de nós sermos parceiros no trabalho de campo, iremos passar muito tempo juntos – Lucas deu uma piscadela - Querendo ou não, ela vai ter que conversar comigo. 

— Só acho, japa, que você devia se assustar, só porque iremos fazer esse trabalho juntos não significa que serei boazinha com você – Luiza retribuiu a piscadela - Fica esperto. 

— E quem disse que eu quero que você seja boazinha – Lucas sorriu - Estou muito ansioso, pode apostar. 

Eu comecei a rir. Era claro que ali tinha um clima e eu estava sobrando. Como a aula era Educação Física, eu resolvi sair de fininho enquanto os dois ficavam na mini discussão deles. Eu achei o candidato perfeito para quebrar o coração gelado da Luiza e eu iria tentar mexer meus pauzinhos para que ela finalmente se apaixonasse. Eu fui direto pra quadra antes que a professora me mandasse pra diretoria por matar aula. Desci as escadas correndo pra ir para quadra quando sentir tropeçar em algo, fechei meus olhos esperando pelo tombo feio que eu ia levar, mas logo me senti nos braços de alguém, quando finalmente eu abri os olhos, dei de cara com aqueles olhos azuis que fazia meu coração disparar. Fernando me segurava. O mundo ficou sem foco, era como se só existisse nós dois, ali nos braços dele eu não pensava em nada. O momento durou pouco e logo o Fernando me largou e eu dei um sorriso fraco.

— Obrigada, se não fosse você, eu teria tomado um tombo feio.

— Não foi nada, eu ajudaria a qualquer um – ele disse secamente e começou a se distanciar.

— Fernando, espera! – gritei - Por favor. 

— O que foi Juliana? – ele disse em um tom frio

— Não entendo por quê não podemos ser amigos, eu já te pedi desculpas. – suspirei - Não sei mais o que fazer.

— Sabe por que não podemos ser amigos Juliana?! Porque eu não suporto você, não consigo nem olhar pra você, eu te odeio, tanto quanto você me odeia – ele disse gélido e saiu.

Eu senti as lágrimas ameaçarem a rolar, mas eu não ia chorar. Não ali na frente de todo mundo. Eu ouvi risos atrás de mim.

— Juliana a odiada por todos e a garota da aposta, aiai deu sorte em querida que não deu de cara no chão, eu ia até me sentir culpada pois deixei meu pé acidentalmente escorregar quando você passava – Bruna gargalhava - Imagina o tombo. 

— Hoje não to para suas provocações Bruna, me deixa – eu trinquei meus dentes - Me esquece! 

— Ah querida, te preocupa não, de onde vem esse tombo, vai vim muitos outros, se cuida viu! Estou tão animada pra nossa excursão, mal posso esperar – Ela sorriu maliciosamente e saiu andando

A Bruna estava aprontando alguma coisa e eu estava com uma péssima intuição sobre isso. Eu resolvi sentar em um lugar bem isolado na arquibancada perto da quadra. Eu ainda estava processando tudo o que o Fernando tinha dito e a vontade de chorar só crescia. Tentei me distrair lendo um livro que eu tinha na mochila, ir para o mundo dos livros sempre me trazia um tipo de conforto nas situações mais complicadas. Mesmo tentando me distrair, as palavras de ódio dele não saía da minha cabeça e as lágrimas reprimidas começaram a rolar.

— Só acho que uma menina bonita dessas não devia estar chorando – Marcelo chegou

Eu limpei meus olhos rapidamente, era só o que me faltava agora. Por que comigo?! Eu me perguntava.

— Não quero falar com você Marcelo, quantas vezes eu vou ter que te dizer pra me deixar em paz?

— Eu sei Ju, mas você pelo menos você pode escutar o que eu tenho a dizer?

— Por que? Agora você quer me explicar? Era só uma brincadeira inocente não é mesmo? – falei sarcasticamente

— Eu tentei explicar só que seus amigos mal me deixam chegar a um centímetro de você e eu sei que fui um idiota todos esses dias e eu não devia ter segurado seu braço daquele jeito. Eu estou muito arrependido do que eu fiz, brincar com você foi um erro e pra falar a verdade, os dias que passamos juntos não me saí da cabeça, eu só queria que você me perdoasse.

Eu olhei para o Marcelo e pude sentir sinceridade nas suas palavras, eu estava cansada de sentir tanto rancor no meu coração que me senti tentada a perdoá-lo.

— Eu não sei, Marcelo.

— Por favor Ju, eu me arrependi, fui um idiota.

— Tudo bem Marcelo, eu te perdôo – suspirei

Ele veio pra me beijar e eu virei o rosto.

— Eu te perdôo e você já vem querendo me beijar?!

— Eu pensei que você iria voltar comigo.

— Pensou errado, eu te perdoei mas isso não quer dizer que a gente vai voltar a ficar juntos, se você veio com essa intenção pode ir tirando seu cavalinho da chuva! – fiz cara feia

— Desculpa, não ta mais aqui quem fez isso.

— Quero deixar bem claro pra você Marcelo, que quero apenas sua amizade e mesmo assim não confio totalmente em você.

— Eu já esperava. Obrigado Ju, vou reconquistar você, isso é uma promessa – ele deu uma picadela e saiu andando

Eu suspirei e pensei que ele nunca seria capaz de me ganhar novamente, se é que meu coração foi realmente dele. Era só o Fernando que eu queria, era ele com quem eu queria ter tido essa conversa, mas a realidade era completamente diferente. Quando pensei ter um momento de paz a Luiza veio fula da vida atrás de mim.

— Juliana, como você pôde me deixar lá com o Lucas sozinha?!

— Ah Luiza, não vejo mal nenhum e pra você ter demorado tanto é porque a conversa estava boa

— Faz-me rir, ele é bem atirado e...

— E charmoso e Lindo?

Nós rimos juntas.

— É... Eu sou obrigada a concordar com você.

— Ah é! Vejo uma lasca de gelo se quebrar aí dentro?! – brinquei - A rainha da neve, vai se derreter? 

— Ah cala a boca Juliana.

Nós ficamos o resto do horário conversando, não contei pra Luiza o que o Fernando tinha me dito, não podia cortar a empolgação dela com a minha tristeza. O resto da aula passou bem rápido e assim que o sinal tocou para ir embora, eu e a Luiza fomos encontrar a Marina e o Alê, afinal não tínhamos ficado até o fim da declaração e eu estava louca pra saber como os dois estavam. A Marina saiu radiante da sala com o buquê de rosas em mãos e o Alê ao seu lado. Ela entregou o buquê ao Alê e veio correndo me abraçar.

— Ju! Eu não tenho palavras para te agradecer por ter feito isso junto com o Alê. Quer dizer, não sei se te agradeço ou mato os dois por me deixarem daquele jeito até o último momento – sorriu - Eu amo muito vocês. 

— Ah mas tenho certeza que valeu a pena,não é?

— É claro, estou tão feliz, mas não vi você nem a Luiza no final de tudo.

— Ihh! Longa história depois te atualizamos.

— Desculpa meninas, mas hoje a minha namorada é só minha – o Alê brincou e deu um beijo na Marina

— Vai lá com o seu namorado impaciente depois a gente te conta – falei fazendo uma careta para o Alê.

Vê a felicidade dos meus amigos sempre me animava e eu não poderia estar mais feliz por esses dois que eu tanto admiro. Depois de encontrar a Marina e o Alê, eu me despedi da Luiza e segui sozinha para casa, tudo que eu precisava agora era pensar e fica só.

A semana dali em diante passou muito rápido, o Fernando mal me olhava e não nos falamos desde aquela vez. O Marcelo tentava se aproximar, mas eu me fechava ainda mais sobre as suas tentativas, ás vezes eu até me divertia com as rixas entre a Luiza e o Lucas, que cada vez mais vivia sob constantes indiretas e um clima fora do comum. A Marina e Alê estavam muito bem e cada vez mais apaixonados, parecia que tudo dava certo pra todo mundo, menos para mim. O dia da excursão era amanhã e cada vez mais eu sentia uma coisa estranha quando pensava nesse trabalho, infelizmente eu não poderia escapar, teria que passar o dia todo com a garota que me odiava, principalmente agora com o Marcelo tentando se aproximar de mim novamente, as provocações e ameaças se tornaram cada mais vez constantes que o comum.