(visão do Fernando)

Eu saí dali irritado. Como a Juliana ainda tinha coragem de dizer aquilo?! Em presumir que eu participaria dessas apostas ridículas do Marcelo. Eu decidi não me importar mais, eu tava cansado de ajudar quem não queria ser ajudado. Ela me fazia perder a cabeça de todas as formas, mas eu não seria trouxa de ficar correndo atrás e ser humilhado. Eu tentei, mas se ela não acreditava em mim, então nunca mudaria de opinião. Queria que ela me conhecesse melhor, que olhasse através desse cara esquentado que eu demonstrava ser. Mesmo que eu quisesse demonstrar o que eu sinto, ela não iria me dar uma chance. Droga, por que eu fui me apaixonar pela garota que me odiava? Soquei a parede.

— Ihh! Já vi que alguém ta irritado.

Eu já ia mandar quem quer que fosse se ferrar quando vi que era a Manu, a minha melhor amiga de infância. Eu não a via fazia uns quatros anos.

— Manu?! Não acredito, o que você ta fazendo aqui?

— Nossa Fê, você sempre foi um doce né, nem pergunta se eu vou bem – ela fez beicinho - Até parece que sempre me vê. 

Sem que eu percebesse, ela já estava me abraçando apertado. A última vez que eu vi a Manuela ela estava parecendo uma pirralhinha, mas agora de pirralha ela não tinha nada, seu cabelo loiro escuro havia crescido e seu corpo havia ganhado curvas, seus olhos castanhos pareciam até ter ganhado mais cor, estava uma verdadeira mulher, fisicamente, porque, pelo jeito, ainda continuava aquela menininha manhosa que sempre foi.

— Desculpa Manu, eu só estou irritado. Você não me pegou em um dia bom. 

— Ah, deixa eu adivinhar, foi aquela tal Juliana? De quem você me falou no face, que vive te enchendo o saco e que vocês dois vivem na briga.

A Manu sabia das minhas brigas com a Juliana, só não sabia que eu havia me apaixonado por ela.

— É complicado, o problema é que eu estou procurando um forma de não brigar com ela, quero que ela não sinta raiva de mim.

— Ahhhh, eu não acredito que você ta apaixonado. Quem é você e o que fez com meu Fernando? Serio mesmo Fê, me apresenta essa garota que eu vou exigir que ela me devolva você. – ela falou em um tão brincalhão - Não é possível. 

Eu gargalhei.

— Deixa de ser boba, nós sempre vamos ser amigos, e a Juliana não gosta de mim, mas me conta como você veio parar aqui? - tentei mudar de assunto - Você não falou nada que iria vir pra cá. 

— Minha mãe me mandou pra cá e eu vou morar com a minha tia. Você sabe que no interior é complicado. Assim que eu cheguei aqui, eu pedi pra minha tia me matricular na mesma escola que a sua, e cá estou eu. Eu ia te fazer surpresa, por isso não comentei nada – ela abriu um sorriso grande - Eu estou muito feliz. 

— Posso dizer que foi uma baita surpresa mesmo, mas não foi em um bom momento - dei de ombros 

— Da pra perceber. Quero que você me conte tudo sobre essa Juliana. Como ela fez pra conquistar você? Eu tentei durante anos e não consegui –  ela fez uma careta

A Manu uma vez se declarou para mim quando tínhamos uns 14 anos. A gente ficou tão próximo, que ela confundiu as coisas, eu logo mandei a real de que nada iria rolar e que ela ia encontrar alguém que a merecesse. Eu achei que ela tinha entendido, pois nunca mais voltou a tocar no assunto. Mesmo se tornando esse mulherão, eu já tinha a dona do meu coração. Eu expliquei pra ela a história toda com a Juliana. Era bom ter uma amiga mulher para eu tentar adivinhar o que se passava na cabeça da Juliana. As mulheres são tão difíceis! 

— Ai Fê que azar, por isso todo mundo diz que quem muito odeia alguém, no fundo tem algum sentimento ali, mas pela reação dela quando você a beijou eu acho que ela gostou. Mesmo que você tenha ganhado um tapa no final. Para você deixar assim barato, é porque você gosta mesmo dela. Você sempre perdeu a cabeça por pouca coisa. 

— Lá vem né, era melhor eu ficar calado, eu estava com saudade de você maninha - eu dei um abraço apertado nela - Bom te ter aqui! 

Quando eu olhei pra trás,  a Juliana estava subindo a escada com o rosto todo vermelho.  Ela deveria ter chorado muito. Quando ela me viu  com a Manu, mais lágrimas pareciam se formar em seus olhos castanhos claros. Ela subiu a escada correndo. Eu assustei e larguei a Manu.  Quando eu me preparava para ir atrás da Ju, a manu me puxou.

— Ela é a Juliana, não é? Fernando, primeira coisa: não deixe uma mulher pensar que só tem ela na jogada. Deixa ela pensar o que quiser, não acho que depois do que ela fez, você deva qualquer explicação.  Se ela vier falar com você ignora ela, acho que ela não merece mais depois do que te disse. 

Acho que a Manu tem razão, depois de tudo não sei porque eu ainda deveria me importar. Então resolvi aproveitar o resto do recreio matando a saudade dela, já chega de tentar ajudar quem não reconhece.