Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 19
Penúltimo Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Foi complicado, extenuante e gigantesco! Espero que não fiquem entendiados com as 4 mil e tantas palavras desse capítulo.
Comentários relatando o que acharam de todo desfecho seria muito, muito bom.

Beijos!



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O oxigênio atravessava as paredes de argila preguiçosamente. Rony notava a cada respiração que seus pulmões cansados exigiam como o ar pairava com certa dificuldade ali dentro. Perdera a noção dos minutos, o cheiro pútrido não o incomodava mais, e a imensidão negra dos corredores fúnebres pareciam jamais ter fim. Porém, não desistiu. Harry deveria estar avançando com determinação metros abaixo, ou mesmo ter encontrado algo importante. Após outra longa caminhada, algo novo finalmente surgiu.

Ele apontou a varinha para o fosso inesperado passos à frente. Era uma escada rudimentar, descendo em espiral para outro desespero claustrofóbico. Rony respirou fundo, como se pudesse buscar todo o oxigênio que aquele andar ainda oferecia, e que se tornaria mais raro outra vez. Sentiu a varinha escorrer pela sua mão e agarrou-a antes que caísse. Havia algo errado dali em diante.

***

Harry observou Gina, atônito. Era sua esposa sim, ruiva, corada e absurdamente linda como ele se lembrava, mas aquele não era seu tom de voz, nem aqueles olhos frios lhe pertenciam. Uma Weasley nunca conservava pupilas tão maquiavélicas.

Emmanuel saiu de suas sombras e aproximou-se das dela. Usava uma roupa diferente de tudo que o auror já vira o bruxo vestir. Uma espécie de vestimenta trouxa e simplória. Seu rosto detinha aquela nota de vitória. Quando tocou no ombro de Gina, Harry saiu de seu estado de confusão com um rugido:

— LARGUE A MINHA ESPOSA! — berrou.

— Eu não sou sua.

A frase de Gina foi uma bofetada no ar para ele.

— Gina, o que está havendo? — perguntou. A varinha continuava em sua mão, tremulando perto do brilho convidativo no altar.

— Como disse, Potter, esperava não te ver envolvido nisso. Claro, duvidei do bruxo mais poderoso depois de Lord Voldemort, segundo os ingleses estúpidos que puxam seu saco, obviamente. — era Emmanuel que dizia.

— Eu sabia que você tinha algo! Nunca me engano!

— Meus parabéns. — gargalhou Battitori batendo palmas.

— O que quer com minha mulher, seu verme?

— Eu e Gina temos algo muito maior do que você pode supor. Não é, querida?

A ruiva anuiu mecanicamente. Era o Imperius que a controlava? Harry se questionou.

— Solte a varinha, é o melhor para você. — ela pediu.

— Gina, você tem que lutar! Lute com isso! Está na sua cabeça! — exclamou para ela.

Emmanuel sacou sua varinha e apontou para ele com impiedade.

Crucio!

Harry foi mais ágil, remeteu uma cambalhota para esquerda, deslizou no chão e rolou para a direita desviando de um segundo Cruciatus. Então se ergueu de um pulo e arremeteu para cima da ruiva nas sombras, agarrando-a pelo braço com determinação. Puxou-a para si, tomado pela rápida dose de adrenalina, e idealizou sua aparatação. Acabou tropeçando o pé direito no tornozelo dela e ambos se espatifaram no chão. Seus ossos doeram agudamente ao baterem no solo da catacumba. Gina esbofeteou-o na cabeça e no tórax e se levantou em cólera, lhe gritando blasfêmias.

— Isso era pra ser uma aparatação, Potter? — a pergunta veio de Emmanuel. Olhava-o de cima, presunçoso, apontando a varinha contra seu peito — Eu tomei todas as medidas de segurança para que nenhum bruxo, além de mim, conseguisse ficar aparatando nesses corredores. Desculpe, mas não sairá assim...

— Não! — gritou ao ver ele prestes a desferir o feitiço outra vez — Se me quiser mate, vamos, acabe comigo logo, mas não venha me torturar, seu desgraçado! — ao pedir isso olhou para Gina e viu que o rosto dela não se abalou ao pedido dele de morte.

O que é isso? É o Imperius mesmo?

— Garoto engraçado é você, sabia.

A ruiva fixou os olhos na bola azulada, perdendo o interesse na conversa deles. Emmanuel pareceu perturbado ao vê-la evasiva desse modo e Harry pôde sentir suas engrenagens trabalhando para mantê-la cativa. Aproveitou o sopro de distração em seu algoz, pegando a varinha que rolara na queda. No segundo que o bruxo viu sua investida já era tarde.

Estupefaça! — o feitiço fez Emmanuel ser lançado para a parede e bater nela com força. Caiu de cara no chão.

— Gina, venha! — Harry guardou a varinha na capa e pegou-a. Tocou em seu cabelo, sua face e ia se aproximando para beijá-la em ardor, quando levou um tapa forte no rosto fazendo os óculos caírem.

— Não te pertenço.

Ele correu para buscar suas lentes e as colocou com afobação, dizendo:

— Claro que não. Você pertence a si mesma, meu amor. — agarrou-a com força pelos ombros para que não pudesse se rebelar. — Você é Ginevra Weasley Potter! Dona do seu nariz e das suas escolhas! — sacudiu-a tentando fazê-la voltar do transe.

— Não quero viver o segundo fugaz de uma existência humana. Quero a eternidade e toda conquista que possa vir dela. — respondeu num timbre mecânico demais para vir de seus próprios sentimentos.

Gina não dissera aquilo. Era alguém falando por ela. Era Emmanuel. De repente Harry se deu conta do quão poderoso deveria ser Battitori. Ele estava desmaiado e ainda podia ser títere de uma mente tão forte como a dela.

— Tire isso da sua cabeça. Expulse-o da sua mente!

— Não Harry, sou eu falando, Ginevra Weasley Potter. Sou eu quero viver mais que você e todos os meus parentes, sou eu que quero gozar de muito mais do que uma vida monótona ao seu lado... — sua fala hesitou um pouco — Seu amor sufocante já não me é interessante. Vou ver a evolução do mundo, a chegada e a partida de grandes mitos, talvez possa me tornar um deles e estar em Terra ainda para ver minha própria glória.

— Essa não pode ser você...

Harry lembrou-se das formas de ação do Imperius. Lembrou-se das palavras do velho bruxo zelador dos Arquivos Lacrados e elas reverberaram dolorosamente dentro dele:

“...como a finalidade da mágica é controlar o indivíduo ao seu bel prazer a melhor forma de isso ser executado seria fazer o próprio enfeitiçado acreditar que não está sofrendo a influência”.

— Ginevra! Eu não vou acreditar que todas essas ideias um dia foram suas! Olhe dentro dos meus olhos e me responda... Quer viver para ver sua mãe, seu pai e seus irmãos morrerem?

Aquele assunto de eternidade o vinha intrigando. Emmanuel havia certamente trazido a ela a falsa ideia de que poderiam ser eternos.

— Eu... — o coração de Harry palpitou, os olhos azuis dela faiscaram de modo diferente, e familiar.

— Fala, meu amor. Luta com isso! Traz minha Gina para cima, vou te ajudar a criar esse escudo. — ele percebeu a própria visão turva e notou que estava chorando.

— Eu... não quero... morr...

Crucio!

O auror sofreu o golpe pelas costas. Se distraiu por breves minutos de Emmanuel e este foi seu erro. Deveria ter lançado um Petrificus Totalus nele, porém agiu amadoramente na ânsia de resgatar a esposa.

Caiu de joelhos e berrou com desespero verdadeiro, experimentando a sensação devastadora de mil mãos manipulando brutalmente seus órgãos internos. Tudo doía em explosões reverberantes de dentro para fora. Ainda sim ele não se jogou de vez ou se contorceu de dor. Continuou ajoelhado chorando por aquela dor abominável.

— Gina! Lembre-se... eu... estou...aqui... SAÍA DAÍ!

Emmanuel mirou-o com desprezo, começando um próximo feitiço. Agora era certo que viria a pior das três maldições imperdoáveis. Ele estava no limite de sua paciência.

Por alguns meros segundos, Harry conseguiu controlar o sofrimento físico, desligando seu cérebro disso. Precisou de toda força de vontade jamais reunida para vagar de encontro aos pensamentos de Gina e buscá-la de lá. Lá dentro viu uma linda garotinha ruiva acuada por uma sombra mais do que centenária. Lutou com fumaças cinzentas loucas para devorá-lo e pegou na mão quente dela. A sombra intimidadora tentou lançar-se sobre eles, e conseguiria esmagá-lo se não aparecesse uma quarta presença para ajudá-los. Não era sólido, apenas um sopro de vida, pulsando como um escudo para protegê-los. Sequer tinha rosto ou forma, e, se olhasse com mais atenção, era tão obscura e propensa à maldade como a sombra velha e irrequieta. O fato é que ela os escoltou para os perímetros supostamente seguros onde Gina conseguia libertar-se e Harry acompanhá-la.

A dor voltou com força total. O jovem auror estava prestes a desabar sobre as pernas acertado pelo feitiço mortal, quando a moça do qual escolheu ser sua por toda existência, protestou.

— NÃO! — Gina gritou caindo sobre o corpo de Emmanuel. Atacou-o no pescoço, tentando enforcá-lo. Estava sem sua varinha, sem sua dignidade, e com seu livre arbítrio violado por semanas.

Finalmente o controle sobre suas escolhas e seus movimentos voltaram, e, melhor ainda, voltaram com ela tendo plena consciência de que eram realmente seus.

Battitori desequilibrou-se e escorregou no chão pela investida pesada dela sobre ele. Gina pulou sobre seu tórax e tentou estapeá-lo, mas recebeu uma forte bofetada no rosto como resposta. Rolou para perto de Harry, que ainda se recuperava do Cruciatus. Ao vê-la machucada, ele encontrou a força extinguida pondo-se de pé num salto. Emmanuel era muito rápido também, quase um espectro, e foi mais rápido no contra-ataque.

Lacrimas! — um feitiço amarelado passou chispado da varinha do italiano para o peito dele. Esquivou-se o máximo que seu reflexo permitiu, mas algumas faíscas o acertaram no braço, queimando-o num corte profundo.

Ia preparar para estuporar o inimigo outra vez utilizando o braço bom, quando o viu apontando a varinha para Gina, ainda gemendo de dor no chão.

— Eu mato ela. — ele ameaçou — Eu mato ela.

Harry olhou angustiado para a situação. Um movimento e poderia perdê-la para sempre. Seu próximo e inevitável passo foi jogar a varinha no chão e ajoelhar-se.

— Soltei a varinha. Não faça nada. Não a machuque, por favor.

— Claro que não farei. Preciso de Gina mais do que você ou qualquer pessoa nesse planeta. — Emmanuel lhe apontou a varinha e conjurou cordas sobre seu corpo, amarrando-o com força exagerada. — Quer conhecer uma boa história? Aquele fim clichê onde mocinho descobre o plano do vilão, Potter? Estou com essa grande história presa há anos na minha garganta. Antes de começar o ritual, porém, deixe-me dar mais privacidade para nós. Posso apostar como você trouxe seus amiguinhos inseparáveis. — e apontando para a passagem secreta da alcova proferiu — Colloportus!

***

Vozes abafadas atraíram Rony para aquele lugar. Eram duas alcovas ocultas na escuridão, que exalavam um peculiar cheiro de queimado. Apontando a varinha para dentro das câmaras deparou-se com nada além do vazio. Nos suportes de archotes, entretanto, ele verificou que o fogo fora apagado recentemente. Há minutos.

Colocou-se em posição de alerta e caminhou procurando pisar devagar para seus passos não o delatarem. O clima exalava magia, ele sentia sua varinha muito mais agitada. Novamente na boca do corredor, inspecionou os dois extremos entre as alcovas, mas tudo continuava incólume. Voltou olhando para trás, para dentro delas. Ao fazer isso notou um brilho sorrateiro rasgando o chão. Lentamente agachou-se sobre o local e foi arrematado pelo fedor repugnante da superfície enegrecida. Aquele era o caminho para algum lugar depois da parede. Ficou de pé outra vez, forçou com os ombros nos tijolos e tentou absorver qualquer som vindo do outro lado, sequer houve um ruído ou sinal de que sua força cederia a argamassa.

Foi explorar o território. Testou saliências, suporte das tochas, as outras paredes e tudo quanto foi possível e imaginável resguardar uma alavanca ou dispositivo de destrave. Nada encontrou. Pensou em gritar o nome do amigo, quase o fez, e ao invés disso preferiu escutar seus medos, calando-se. Estava tudo errado.

Rony voltou para os corredores de ossos, passando os olhos atentamente em cada prateleira funerária. O Lumus tremulava inquieto, de modo que tinha de apertar a vista em alguns trechos para vencer o breu. Em uma das pilhas de restos, encontrou algo fora do padrão das demais. Nela jazia apenas um esqueleto humano. Estava inteiriço, conectado dos pés ao ápice do crânio, parecendo uma sentinela adormecida protegendo, talvez demarcando, o túmulo. Ele resolveu arriscar. Pediu seus respeitos pelo cadáver e trouxe a ossada para o chão com o mínimo ruído possível. Quando passou a varinha dentro do buraco para iluminar, algo veio pulando enraivecido em sua direção. Tombou de susto, caindo de costas, e viu a ratazana passar chispando para o corredor escuro.

O auror praguejou aquele maldito lugar e voltou na sua investigação. Esticou a mão para dentro da prateleira, analisando seu fundo. Um vento úmido veio por entre seus dedos, mas nada de achar o fim. Então resolveu embrenhar-se mais, arrastando o tórax inteiro lá dentro. A sensação de falta de ar misturado ao fedor pungente era vertiginoso e Rony continuou persistente. Lançou outro feitiço tênue de luz para confirmar suas suspeitas. O raio esbranquiçado avançou com eficiência, iluminando todo um túnel de pedra até ricochetear na curva de mais um túnel.

Rony descobriu fatidicamente que teria de espremer-se ali dentro. Suspirou, enrolou a capa de auror na bainha na cintura para não atrapalhar, e pôs-se a arrastar-se com dificuldade pela soturna passagem. Ao encontrar sua esquina só achou outra extensão de túneis. Não tinha escolha.

***

Emmanuel arrastou Harry para perto daquela linda bola azulada. Nessa altura, o rapaz já supunha o que aquela energia seria: A Magia Incandescente. A pergunta seguinte, a que ainda ficava em desconfiança, era referente à qual feitiço.

O italiano lacrou a passagem para as câmaras e isolou o som lá dentro com ajuda do Abaffiato. Desarmados e isolados, agora ele e Gina estavam entregues aos cuidados daquele bruxo tão repugnante quanto misterioso.

— Só não a machuque. — Harry implorou mais uma vez.

— Ela ficará bem se colaborar. — sorriu mirando na ruiva também amarrada. — Dependerá apenas de você, Potter, da própria Ginevra e de minha querida mamãe, é claro. Sou muito poderoso, muito mesmo, mas se ficarem, os três contra mim não poderei ajudar no livre-arbítrio de sua esposa. — Emmanuel apontou com a cabeça para a Magia Incandescente. — Vamos lá! Peça para minha mãe parar de ajudá-los. Diga assim” Sra. Pellinazzari, chegou a hora de orgulhar-se de seu filho. Saia do caminho dele! ”

— O que está falando, seu maluco... — o auror resmungou, estafado.

— Ginevra tem de descobrir espontaneamente que possuí a força e o espírito chave para trazer-nos a Magia Incandescente do Imperius. Somente uma mulher pode transferi-la para mim, e não uma qualquer, tem de ser alguém compatível em determinação e caráter a sua primeira usurpadora.

— Imperius? Você domina o feitiço bem porque se alimenta desta fonte então? — Harry indagou.

— Eu não irei lhe ajudar absolutamente em nada, seu cretino! — Gina berrou de suas amarras. Ao fitá-la, Harry viu que estava tremendo, a beira de um colapso nervoso.

— Calma, Gina. — sussurrou para ela.

Emmanuel a encarou, tentando entrar em sua mente, mas não conseguiu. A presença do auror e da mãe bloqueavam junto com a da própria presa. Ele suspirou, resignado, porque falhara mais uma vez. Ainda não seria desta vez.

— Minha influência através do Imperius está diminuindo, sinto muito, eu preciso recuperar uma parte ínfima da Magia para continuar procurando por mais alguns anos. — explicou como se fosse o tutor dos dois.

— O que é você? Quantos anos têm, afinal?

— Está curioso por eu ser jovem assim, mesmo já estando centenário, não é, Potter? — Harry ficou calado, deixando-o prosseguir — Uma parte do material genético de algumas mulheres possuem o incrível poder de me trazer habilidade do Imperius no ritual correto. Funciona como uma troca equivalente, por minha mãe ter furtado a Magia Incandescente das masmorras de Glastonbury. É interessante, cruel, mas engenhosamente arquitetado. Merlin, sim, o próprio, desenvolveu esse mecanismo de proteção. O bruxo que afanasse essa maravilha nunca conseguiria utilizá-la plenamente.

“Poderia, entretanto, transferir esse supremo poder para outro corpo. É algo a frente do nosso tempo isso”.

— E onde está sua mãe para ajudar o filhinho dela? — Harry provocou-o. Por hora estava salvando Gina enquanto estimulava que ele conversasse.

Olhava em volta de vez em quando, estudando possibilidades para escapar das amarras, porém só via esperança na liberdade com Rony, ainda a solto pela catacumba.

— Ela está morta. Eu a matei quando me negou essa chance. — disse naturalmente. — Seu espírito veio para cá imediatamente. Fica aderido a Magia, tentando a todo custo reprimir minhas chances de vencer. Descobri um jeito de burlar o sistema. Pegar essa energia esplendorosa, mesmo que sejam as mínguas, através de moças sedutoras, ambiciosas e solteiras, como minha mãe foi quando jovem... e viva.

— Onde Gina se encaixa nisso? Ela não é solteira, idiota!

— Calma, Potter... Aguarde que a melhor informação vem agora: Minha mãe era profissional de quadribol na juventude. Era talentosa e determinada quando queria. Tinha uma força vital no campo como poucas, e ainda por cima era uma bruxa habilidosa. A mágica de Merlin para castigar o usurpador da Magia Incandescente é poderosa, mas tem falhas também. Moças providas de características semelhantes a da minha mãe podem enganar o castigo e fazê-lo acreditar que está lidando com a velha Guiliana Pellinazzari outra vez.

“Jane, a moça que você viu nos sonhos, Lexia e Gina foram as únicas jogadoras de quadribol que se encaixaram no perfil durante décadas... Quase consegui, estava perto com sua esposa agora...”

Harry ficou apavorado, porque o sonho que ele se referia era a da moça multilada nos becos obscuros.

— Sei no que está pensando. Você é bom, Potter. Muito mesmo. Conseguiu usar Legilimência em mim naquela noite. Quase abri a porta dos meus segredos para você, dá pra acreditar?

— Porque não conseguiu das outras vezes?

— Porque o fantasma de minha mãe sempre interfere no último momento. Mas desta vez, não é mãe, — ele elevou a voz — ela só teve êxito depois que você apareceu. O que quer dizer que numa próxima oportunidade não falharei.

Emmanuel pareceu satisfeito com suas divagações e foi pegar Gina. Puxou-a pelo braço, sem delicadeza, e em resposta a ruiva se debateu e gritou para ele se afastar. Angustiado, Harry tentou detê-lo outra vez. A cena da moça multilada do sonho, Jane, não lhe saía da mente.

— NÃO ME RESPONDEU COMO ESTÁ VIVO E JOVEM! — gritou. Emmanuel o encarou com superioridade e agarrou os cabelos de Gina.

— Com o poder dessa Magia Incandescente eu posso procurar, persuadir e encontrar o bruxo que quiser em qualquer lugar na face da Terra. Sempre há um mago habilidoso suficiente, detentor de elixires da juventude, meu caro. Achei que essa parte estava óbvia.

“A Gina tenho coisas boas a agradecer, apesar de tudo. Sua essencial valerá um bom estoque desse Imperius por vários anos”.

Ele a arrastou para o altar. A bola azulada parecia mais vívida pela expectativa da oferenda.

— NÃO! POR FAVOR! — Harry berrou tentando levantar. As cordas o apertaram impiedosamente no chão em resposta.

— Harry... eu te amo. — ofegou Gina, assustada e resignada.

— NÃO! NÃO! O que acontecerá com ela? — o auror exigiu de Emmanuel.

Emmanuel era mais forte do que seu corpo esguio aparentava. Conseguiu trazer Gina para o centro do altar e a fez ajoelhar de frente para a Magia.

— Ela se desintegrará. — respondeu friamente.

— E... e... se ela aceitar ser persuadida pelo Imperius?

— Não! Jamais! — a ruiva esbravejou, e quis se colocar em pé. Desta vez Emmanuel usou o impiedoso Cruciatus para fazê-la se dobrar.

— Não faça isso, por favor! — Harry implorou. — Me responda e eu posso te ajudar.

O auror captou um lampejo de dissimulação na resposta apressada do italiano.

— O poder pleno me será encaminhado. Simples e seguro para ela.

Ele mentia. Harry sabia. De todas as formas, o destino de seu amor seria condenado. Estaria disposto a entregar o mundo bruxo sobre o controle de um crápula como Emmanuel, de certo este nem era seu nome real, para salvar Gina? As escolhas se estreitavam para o rapaz. Se ajudasse a desbloquear a mente da ruiva, ainda a faria perder a vida sem dignidade...

— Por favor, não a mate. — chorou.

Gina continuava tremendo, agora sentindo as dores remanescentes do feitiço torturante. Estava preparando a mente para o momento de sua morte, porque não existia uma saída para eles. Só queria ter tido mais tempo com Harry, para lhe pedir perdão pela dor dos meses de indiferença. Somente isso.

Emmanuel a levantou bruscamente. A varinha dele pressionava as costelas dela com força, ameaçando de torturá-la caso se mexesse de um modo que não o agradasse. Nos segundos restantes, ficou satisfeita por não ter colaborado com aquele ser desprezível do modo como ele gostaria. Harry esperneava preso as amarras, e ela tivera de se esforçar para não encará-lo. Doía demais o fim.

O algoz encostou-a de frente para a Magia Incandescente e o coração dela quase vibrou de emoção por emanar tamanhas vibrações. O fim parecia estar se encaminhando para algo muito bom, algo profundo e meditativo. A fusão com uma forma primitiva de mágica e toda ancestralidade que expurgava.

Contudo, o bem estar se quebrou. Avalanches de formigamento condenaram seus músculos e ela sentia as pernas bambearem e arderem. De repente todo o corpo ardia, do mais leve respirar a mais potente pulsação. Ouviu de longe os berros de Harry e palavras em latim lançarem-se da boca de Emmanuel Battitori através de sua varinha, pressionando-a nas costas.

Ela estava indo para o nada... E indo com muito dor...

Sectumsempra! — Rony ordenou para sua varinha com exatidão.

Caíra naquela câmara hedionda ao chutar um bloco oco no fim do túnel. Ao visualizar a cena ali dentro, de Gina caindo pelos braços de Battitori e sendo tragada pela aquela bola azulada, saiu de si.

Emmanuel rodopiou para o lado e sangue espirrou do seu corpo, manchando as paredes. Ele era forte e não caiu com os cortes. No próximo resfolegar gritou na direção de Rony.

Avada Kedavra!

O auror deu um pulo para trás, e se não fosse seus reflexos eficientes estaria morto agora; o raio esverdeado ricochetou acima do ombro quebrando-se na parede. Seu atacante correu para o outro lado da câmara e tentou preparar uma aparatação, mas Rony lhe lançou um feitiço contra-aparatação. Emmanuel, era absurdamente veloz no combate, ergueu a varinha outra vez e tentou novamente aniquilá-lo.

Protego! — o auror ajoelhou-se se protegendo pelo feitiço mágico proferido e lançando-o implacavelmente ao seu atacante.

O italiano jogou-se de peito aberto no chão, evitando seu último suspiro.

Expeliarmus! — Rony quis desarmá-lo. Ele deu duas cambalhotas para a escuridão. — Desgraçado! VOCÊ ESTÁ PRESO...

Expulso! — Emmanuel buscou um contra ataque mais expansivo e de menos precisão do que Maldição da Morte.

Com tal investida, Rony não teve tempo de proteger-se, capotando em farrapos devido à pressão exercida de encontro ao corpo. A cabeça bateu no chão, o deixando tonto. Sedento por sua morte, o bruxo italiano avançou nele:

Avada... — Harry deu um urro atrás de Battitori desequilibrando-o numa dura cabeçada contra as costelas.

Quando Rony se ergueu, parcialmente recuperado, embora zonzo, viu que o amigo enfrentara a força das cordas que o sufocavam, correndo mesmo amarrado para desarmar o outro. Fez menção de soltar seu parceiro auror, mas o oponente era inexorável e vinha outra vez.

Avada...

Confringo! — Rony usou toda a força de seus pulmões e toda raiva acumulada ao invocar o feitiço explosivo.

A parede de argila explodiu tremendo toda a estrutura sobre eles, ergueu uma poeira fétida e fina também. Harry e Rony começaram a tossir e o ruivo pediu um feitiço escudo em volta deles nesse momento. Quando a poeira abaixou minimamente e se tornava possível enxergar a frente, ele viu o corredor da catacumba outra vez. Roedores indolentes gritavam em protesto pulando sobre seus iguais esmagados durante a explosão. Nenhum sinal de Battitori.

Harry estava caído há alguns metros, inteiro, porém machucado. Rony hesitou, querendo desamarrá-lo de uma vez e ir acudir a irmã. Somente o desamarrou, delegando ao cunhado a tarefa de assistir Gina. O desejo de capturar o homicida dissimulado lhe falou mais alta, o fazendo correr em sua busca. Seguiu os respingos do sangue, resultado do Sectumsempra aplicado, pelo lado esquerdo do corredor. A cabeça zonzeava e as pernas não queriam o obedecer. Estava experimentando as consequências do Expulso.

Ron deu uma corridinha e escorou-se na parede. A sua frente à escuridão o convidava.

— Aparece, desgraçado! Eu que vou te matar agora! — ele encarou o nada, de onde Emmanuel havia fugido.

Estaria o bruxo a espreita, pronto para outra sessão de maldições letais? Então luzes pálidas foram gradativamente salpicando o corredor sombrio. Ron retesou, achando que seria o próximo ataque de Emmanuel Battitori. Apontou a varinha, preparou-se, a constelação ambulante quase o tocando. Antes que seu ataque se concretizasse rostos conhecidos o saudaram. Era um destacamento dos seus, mais aurores!

Ron quase desmaiou de alívio.

Harry agarrou Gina pela cintura e a trouxe para seu corpo. Os vergões roxos na pele nos pontos em que as cordas lhe esmagaram eram meras dores físicas diante do desespero em fazê-la acordar. Tinha sido uma experiência traumatizando ver a essência dela lutando para não ser sugada para fora como num beijo do dementador, e ainda não acabara.

— Gina! — deu um tapinha urgente no rosto dela. — Acorde, por Merlin! Acorde, meu amor. — o choro não o deixava enxergá-la com perfeição.

O amigo chegou cambaleando para perto dele. Quando Harry olhou de relance para trás, viu pelo menos dez aurores entrando no recinto.

— Como ela está?

— Ela não acorda! — exclamou em desespero. — Me dá sua varinha — pediu, a dele estava jogada em algum canto pelo chão, depois que se rendera a Emmanuel. — Me dê a merda da varinha, Ron!

O ruivo entregou-a de prontidão.

— Vamos, Ginny... — colocou-a com muita delicadeza no chão e disse — Ennervate! — nada — Ennervate!

Gina nem parecia respirar.


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Notas finais do capítulo

E sábado que vem, capítulo final...
Até lá!



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