Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 10
Parte 10




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O diagrama animado cobria toda a parede de apresentações do auditório. Malcolm Willard explanava sobre os detalhes da operação apontando e gesticulando diante de vinte aurores, sobre o rascunho de uma fazenda com imensa casamata ao centro. Era madrugada, o horário em que a missão deveria ocorrer. A equipe designada era formada por jovens profissionais, portanto Willard estava adorando destilar sua experiência ao fazer pequenas interseções para contar um fato particular ou reforçar dicotomias da qual ele já sabia o resultado que seria melhor.

Experiência foi à palavra mais utilizada, contou Harry mentalmente. Fora reparar nos detalhes irritantes da oratória do Auror-Chefe, o rapaz simplesmente não conseguia concentrar-se no trabalho. O caso era devidamente animador: um grupo de dozes bruxos levando testrálios para uma fazenda numa cidade trouxa afastada e treinando-os para auxilia-los em moderados furtos. Realizariam uma extravagante batida auror, repleta de táticas e como resultado de um treinamento árdua, tratava-se de algo que Harry se animaria...

...em outros tempos.

O Harry Potter daqueles dias se transformara em alguém melancólico e rabugento à guisa de relacionamentos deteriorados. Tudo começara com seu melhor amigo, Ron Weasley, agora mesmo sentado tão distante dele. Deveriam de estar segurando os risos dos tiques nervosos de Willard quanto há apalpar o cavanhaque e piscar estranhamente. Não sabia como chegar ao outro, pedir desculpas e voltar a traçar aquele caminho de cumplicidade.

Tudo afundou de vez quando Gina aceitou o convite do time italiano.

A ruiva estava no seu terceiro jogo pelo time e começou a lhe parecer alguém absurdamente diferente desde então. Harry sentia-se um farol apagado no oceano enquanto a esposa era as águas frias e inconstantes que o circundavam. Suas conversas reduziram-se a resmungos sobre o tempo e qual prato deveria preparar para o jantar. Não houve nenhum chamado da parte dela para que fosse assistir a partidas do Acciaio Battitori. Nenhum interesse em fazê-lo participar de sua nova vida como esportista internacional.

Harry pensou por milhões de vezes em cavar sobre a história daquele clube de quadribol. Seu sexto sentido apitava veementemente quanto a isso. Algo em Gina dizia a ele que aquela ruiva estava deixando de ser sua esposa. Então raciocinava melhor e chegava à conclusão de que vinha virando alguém paranoico. O fato das pessoas que sempre amou estarem tão chateadas com ele talvez não fosse um problema delas, mas dele. Única e exclusivamente do seu jeito egoísta.

Dias antes havia visitado Hermione em sua casa. Cumprimentou os pais dela e foram se trancar no charmoso escritórios que o senhor e a Sra. Granger montaram para a filha trabalhar. O auror teve a impressão que se tratava de uma chantagem camuflada, uma desculpa para deixar Hermione - cada dia mais próxima de se casar com Rony -, presa ao lar dos progenitores.

A amiga serviu suco de laranja para os dois, sentaram-se num sofá macio e ele começou a desabafar.

— Meu mundo está ruindo. — bufou.

— Harry... eu não entendo. — ela olhou-o com piedade.

— Gina e eu. As coisas andam cada vez mais... mais... estranhas.

— Eu não pude deixar de reparar como estavam diferentes no almoço do Domingo passado, na Toca. — Hermione observou, perspicaz.

Não deveria ter sido a única, entretanto. A Sra. Weasley buscava a todo instante puxar o foco da conversa para Harry, mas Gina desviava e voltava a falar do Acciaio sem esquecer-se dos olhos brilhantes em cada afirmação.

— Ela chega em casa e nada é como deveria ser. Começa com o olhar dela, sabe?! Eu não encontro felicidade nele, mas um fascínio desvairado quando comenta daquele tal time.

— Ei, talvez isso seja uma crise. — a morena tocou seu joelho com carinho. — Assim como você e Rony. Eu não vejo a hora de se acertarem. Vocês estão demorando demais dessa vez. — resmungou.

— Rony, Rony. Ele é um assunto ainda mais delicado. — suspirou.

— Você veio aqui para um conselho, certo? — ele deu de ombros — Pois eu vou te dar. Não tente forçar a barra com nenhum deles. Eu estou manipulando Rony pouco a pouco também, mas de nada adiantará se você não fizer sua parte.

— O que tá querendo me dizer? Que parte? Eu tô quieto, na minha.

— Mas pensa que ele é culpado. Que a Gina é a culpada. Tá vendo, Harry? Fazer sua parte significa parar de pensar que você é o inocente sempre. Nós sabemos que excluir Rony dos eventos em Ness quase lhe custou à vida. Da mesma forma que não incentivar sua esposa a jogar em outro clube a fez criar essa resistência na relação de vocês.

Hermione era sua amiga sabe-tudo e obviamente estava certa. O rapaz vinha dando um tempo para os irmãos Weasley respirar, mas isso não vinha surtindo resultado.

Willard parou com o falatório e os aurores começaram a levantar. Harry teve a impressão de que o momento da missão chegara e ele perdera algum detalhe importante. Viu Rony aproximando-se no afunilamento da porta e resolveu puxar conversa.

— Alguma coisa de excepcional que o Willard disse?

— Você não estava ouvindo? — o ruivo não o encarou.

Harry preferiu calar-se. Deixou a massa prosseguir e então seguiu-os de longe. Aparataram no salão principal do quartel, onde somente os aurores tinha esse direito, e foram para a missão.

***

Vinte e um aurores, incluindo seu chefe, aparataram nas planícies inóspitas de um condado rural inglês. Os estalidos repentinos no meio da noite fizeram bovinos que dormiam e ruminavam nas proximidades erguerem suas faces globosas para a movimentação. A sorte de Harry parecia cada vez mais pífia quando ele pisou em cheio num montante de merda fresca.

— Droga... — resmungou. Em seguida fez um floreio com a varinha e a bota surgiu sem nenhum vestígio.

— Homens, vassouras nas mãos! — ordenou Willard. — A partir daqui me sigam velozes e quietos. Esses bruxos são espertos. Voaremos por quinze minutos, sentido sudeste, então estaremos oficialmente em terreno inimigo. Boa sorte, aurores!

Harry imitou os colegas e montou na Comet 390, uma vassoura de velocidade e aerodinâmica ideal para ultrapassagem brusca. O Ministério encomendou esse modelo exclusivo com o fabricante somente para seus agentes da lei, usufruírem.

O grupo ergueu-se do chão e fez uma formação em seta no ar. Então inclinaram seus dorsos, ajustaram os óculos de proteção e zuniram rapidamente na madrugada. Willard os liderava e Rony estava logo mais atrás. Harry tomava a posição posterior tão veloz quanto os demais.

Após muitos minutos, eles começaram a diminuir a distância com o solo. Estavam há cerca de vinte e cinco metros quando reduziram a velocidade e enxergaram uma rústica, mas grande, construção. Aparentemente parecia abandonada, quieta e escura. E ao redor, dezenas de testrálios a pastar. Muitos notaram a presença dos aurores, erguendo as cabeças cadavéricas e batendo as asas, inquietos. Era provável que todos os aurores, ou grande parte, ao menos, estivesse enxergando os animais também. Após a Segunda Grande Guerra havia poucas pessoas que não tivessem tido contado direto com a morte de alguma forma.

Willard fez um gesto em círculos com a mão e prontamente o grupo dividiu-se em quatro menores. Harry ficou indeciso pela nova formação. Não se lembrava da finalidade daquilo. Optou por seguir os aurores que iam junto com Rony e aterrissou atrás de alguns arbustos como os demais. Philipe Vallarie o esquadrinhou, curioso quanto sua união a eles. Rony ignorou-o deliberadamente e murmurou a todos para continuarem no plano. Os homens abandonaram as vassouras camufladas por montículos de folhas secas, sacaram as varinhas e caminharam cautelosamente até a construção. Harry não entendera muito bem o que Rony havia dito aos demais, mas supôs o que era padrão e seguiu-os. Dois testrálios fecharam-lhe o caminho. Ele havia se esquecido de como eram animais magníficos, entretanto misteriosos. Um deles, o macho, encarou-o profundamente através dos seus olhos sem pupilas, e resfolegou brandamente. O auror passou-lhe a mão na fronte com compreensão e murmurou:

— Viemos lhes tirar dessa. — prometeu. O animal, juntamente com sua fêmea, lhe deu passagem.

Ele focou o caminho adiante e não encontrou sinal dos colegas que seguia. Viu, de relance, o que parecia ser os cabelos cor de fogo de Rony sumindo pelas laterais da casamata. Seguiu o vulto até certo ponto. Um acesso, porém, chamou sua atenção. Trespassou o piquete repleto de pequenos testrálios que faziam um barulho engraçado com a boca, e foi agachado até uma porta acessória de palhota. O lugar estava muito escuro, o que o fez ter de acender a ponta da varinha. Enxergou aparelhagem campestre de silar e montanhas de fardo de feno. O silêncio continuava. Nenhum sinal de combate e prisões sendo executadas ao longo do local. Achou que os outros estavam tendo dificuldade para entrar no complexo e ficou feliz ao ver seu progresso solitário: havia outra porta, no fim da casa de fenos que deveria dar para dentro do local.

Forçou a maçaneta, mas ela continuava oclusa.

Alorromora. — e ouviu um clique favorável.

Passou pela fresta que abriu, suavemente. Desligou a varinha com um rápido “Nox” e esperou na soleira até que seus olhos fossem capazes de enxergar contornos dentro do cômodo. Viu duas estantes com louçaria do que parecia prata, uma mesa pequena e duas cadeiras tortas, só não viu uma sombra humana e crescente a sua direita.

Estupore! — a sombra pronunciou.

Harry jogou o corpo para trás a tempo de se proteger. Caiu de costas na sala de feno e atrapalhou-se com a varinha. A pessoa que havia tentado estuporá-lo não perdeu um segundo e surgiu diante dele com um eficiente feitiço:

Expelliarmus! — o auror perdeu a varinha na escuridão e montante de feno.

— Solte essa varinha agora, em nome do Departamento de Execução das Leis...

Avada...

Expelliarmus! — a varinha voou da mão do agressor de Harry — Estupore!

O corpo do elemento foi projetado para dentro do cômodo com força. Harry ainda estava desnorteado com toda aquela confusão repentina. Viu alguém passar correndo as suas costas, contorna-lo, e correr em direção ao seu agressor.

Petrificus Totallus! — foi o último feitiço proferido pelo outro auror.

Já de pé, Harry pôde reconhecê-lo nas sombras. Era Rony.

— O que está havendo com você? — o ruivo perguntou, horrorizado.

— Eu... — Harry encarou-o, confuso. Sabia que quase tinha perdido a vida se não fosse pelo outro.

Rony não ficou para ouvir sua resposta, correu para fora outra vez e fez um patrono exasperado, para avisar aos demais que o plano tinha dado errado.

A noite foi longa, perigosa e cheia de percalços.

***

Cansado e ferido, Willard chegou mancando até o imenso escritório de Kingsley Shacklebolt. O Ministro fora avisado em caráter emergencial para ter uma reunião com o Auror-Chefe, e estava exclusivamente a sua espera na primeira hora do dia.

Quando o auror entrou na sala, escoltado pelo secretário ministerial, Percy Weasley, Kingsley lhe fez um sinal para que sentasse nas poltronas confortáveis diante de sua escrivaninha e dispensou Percy dizendo que não queria ser incomodado por nada.

— E quais são as últimas informações? — perguntou em tom urgente, o ministro.

Willard gemeu enquanto ajeitava a perna machucada na cadeira.

— Acabei de voltar do St. Mungus. Pelo menos sete homens meus estão feridos, graças a Merlin nada que lhes comprometa a vida.

— Nossos aurores são bravios e eficientes, naturalmente. E os prisioneiros?

— Todos neutralizados e encaminhados para Azkaban.

Um clima pesada abatia-se sobre o escritório.

— Mas... — Kingsley sabia que Willard queria lhe falar seriamente, não apenas notificar uma missão perigosa executada pelo quartel general.

— Mas eu quero Harry Potter afastado do quartel por um tempo.

Kingsley arregalou os olhos, chocado. Então se recompôs como pôde, ajeitou-se na cadeira, sentindo que qualquer lugar seria desconfortável naquele momento, e escutou o outro.

— Ministro, eu vim pedir sua permissão antes, dado a importância que Potter tem em nossa comunidade e tudo mais. Entretanto, devo lhe alertar o quão prejudicial ele foi esta noite a todo grupo.

— Estou escutando. — anuiu o Ministro, querendo argumentos sólidos.

— Saímos do Ministério nessa madrugada com um plano. Estamos há meses observando aqueles infratores e sabemos que são violentos o bastante para matar. Logo, era importante neutralizá-los e não bater de frente num duelo, justamente para evitar esse tipo de coisa que tivemos. Repassamos os detalhes do plano e basicamente nos dividiríamos em quatro grupos iguais e iríamos selando o local todo com um feitiço de proteção atrelado ao de escudo. Assim deixaríamos todos cercados.

— E onde Harry entra nisso?

— Exatamente. Era como se ele não estivesse prestado atenção à reunião de minutos antes. O garoto simplesmente fez o que achava melhor e entrou na casa, desmantelando o esquema e alertando os inimigos.

— Oh... — Kingsley suspirou. Era mais grave do que supunha.

— E ele quase foi morto no percurso. Se não fosse Ronald Weasley, o sol que brilha no dia de hoje não incidiria sobre o corpo vivo de Harry Potter mais.

— Não entendo. — o Ministro balançou a cabeça. Harry era um jovem promissor e eficiente na carreira de auror.

— Pois eu já deveria prever. Faz semanas que Potter anda desligado do ofício. Hoje ele fez mais, colocou a vida de colegas em risco, além da sua própria.

Os bruxos ficaram quietos, ruminando a gravidade da questão.

— Ministro, eu acho que terei de pedir para o garoto se ausentar. — Willard disse, temeroso.

— Sim, você está certo, Malcolm. — era uma decisão difícil. Kingsley tinha de pesar suas ações. — Faremos o seguinte: Não estou por dentro da vida de Harry, mas algo não anda bem com ele para apresentar esse comportamento. Enquanto procuro descobrir o que está havendo com o rapaz, diga para ele que está lhe dando algumas semanas de descanso, mas que isso ficará apenas entre vocês. Se alguém perguntar, vamos deixar parecer que foi escolha de Harry se ausentar, pois estava com férias acumuladas. Isso não manchará a imagem dele perante a comunidade e não provocará aquelas manchetes ridículas que o profeta diário adora criar. Contudo, até a minha ordem, ele fica afastado do quartel-general dos aurores!

***

Harry chegou em casa aos pedaços. Abriu a porta, atirou capa e a varinha longe e deitou-se no sofá com um estrondo. O sol nascia e incidia pelas cortinas das janelas, mas dentro dele tudo parecia ser a hora mais escura da madrugada. Quase morrera, colocara seus colegas de profissão em perigo e não era a eficiência que exigia para si como auror.

Que merda de vida era aquela?

A falta de entrega na profissão tinha um nome: Gina Weasley. O comportamento, o distanciamento, a ausência de conversa franca. Precisava acertar os ponteiros com a esposa se quisesse um pouco de paz de espírito e consciência limpa. Ontem ela havia tido jogo na Itália, mas a esta hora da manhã, como de costume, já deveria estar de volta. Jogada na cama deles, exausta, mas em casa.

Harry decidiu que a conversa não poderia ser adiada e subiu para acordá-la e ter um diálogo definitivo. Abriu a porta do quarto do casal e para sua surpresa encontrou a cama impecavelmente arrumada. Ninguém dormira nela aquela noite. Abriu a porta do quarto de hóspedes e nem sequer roupa de cama havia neste. Ela também não dormira lá. Entrou no banheiro, no quartinho de bagunças, na dispensa, deu a volta pela casa. Nada.

Voltou para sala e reparou que havia passado por cima de algumas correspondências do dia anterior. Gina não retornara para casa aquela noite. Uma sensação mórbida abateu-se sobre ele, o que imediatamente o fez correr para a varanda e produzir um patrono perguntando onde a mulher estava e se bem. Esperou quase uma hora e não obteve nem à mais curta das respostas.

No fundo do seu coração pressentiu uma tormenta desaguando para a iminente tragédia.


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