Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 9
Parte 09




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— Assine aqui e aqui. — pediu educadamente Emmanuel di Battitori.

O proprietário do time mais rentável de Quadribol feminino do mundo vestia-se com um terno negro impecável e uma camisa verde musgo por baixo. Exalava um perfume amadeirado e possuía o hálito refrescante de menta.

Gina assinou onde era pertinente ao seu contrato e repousou a pena, sorrindo timidamente para ele e seus assessores.

— Está feito? — perguntou quando terminou.

— Feito e selado. — passou a cera e carimbou com o brasão do clube no pergaminho contratual. — Próximo passo, o sucesso!

Seu sorriso galante deixou-a desconcertada. Emmanuel impregnava o ambiente de elegância em sua postura ereta e seus modos corteses, mas também transmitia liderança nos mesmos gestos seguros e cavalheirescos. Sendo um rapaz que usufruía idade tenra, apenas uns cinco ou dez anos mais velhos que ela, através de seu olhar aparentava já ter vivido décadas.

— Vamos almoçar, senhoritas? — convidou de supetão.

A jogadora trouxera sua empresária, Melissa Duck, uma colega do tempo de Hogwarts que lhe serviu aos propósitos empresarias após a formatura da escola. Os assessores começaram a levantar e sair em silêncio da sala de reuniões. Estavam num escritório do Acciaio Battitori em Londres.

— Eu bem que adoraria, mas hoje almoço com a família. Meus pais querem saber os detalhes.

— Claro. A família vem em primeiro lugar sempre. — e tocou a mão dela com doçura.

A ruiva pensou em recuar, entretanto pesou ser indelicada. Havia algo mais também: seu toque era quente e magnético.

— E eu ainda tenho mais outras duas reuniões, em horários justíssimos, nesse período.

— Então nos vemos muito em breve, Ginevra, Melissa. — disse informalmente. Ela gostou do contato mais próximo no modo de referendá-la.

Emmanuel afastou os dedos com delicada, levantou da poltrona e passou a capa de cetim verde-broto sobre o ombro. A artilheira acompanhou o gesto, despediu-se com promessas para o novo encontro e saiu pela porta da frente do prédio escoltada da empresária.

Um mar de pessoas esperava-a na porta principal.

— Sra. Potter, quando viajará para Itália?

— Sra. Potter, o jogo de estreia dos Acciaio Battitori começa daqui dois meses, os treinamentos com o time já foram marcados?

— E como fica sua situação com o Harpias? O contrato não dura mais dois anos?

Flashes bateram contra seu rosto feito chuva de relâmpago. Atordoada, com os repórteres sufocando-a de com tantas perguntas e fotos, cobriu o rosto. Melissa xingou os mais petulantes e foi abrindo caminho na massa, sempre protegendo sua cliente com os braços. Quando conseguiram ludibriar a imprensa, entraram num beco e respiraram aliviadas.

— O que foi tudo aquilo? — a publicidade em cima dela nunca fora míngua, entretanto, os jornalistas eram mais insistente quando Harry estava envolvido de alguma forma direta.

— Aquilo se chama você numa relação íntima com Accio Batitorri.

— Como assim, Mel? — ruborizou supondo que ela estivesse falando de Emmanuel e seu excesso galante.

— Querida amiga e cliente. — a bruxa elevou o queixo num ar de superioridade por deter algum conhecimento além — Estar nesse clube não apenas lhe deixará famosa sem a aba do seu digníssimo esposo, como também fará você ver mais galeões que aqueles duendes de Gringotes. Prepare-se para brilhar sozinha... e claro, me levar no embalo. — piscou.

***

O vento assoprava com força a relva ao redor da Toca. Era uma tarde curiosa - tempo tépido -, um solzinho tímido, nuvens intrusas e muita ventania.

A caçula Weasley despediu-se de sua empresária e aparatou para a casa dos pais. Atravessou o terreiro, viu as galinhas tentando alçar voos desajeitados de encontro ao vento de dentro do galinheiro, e o desgastado balanço de pneu tremulando a árvore mais próxima a casa. Costumes de trouxas que seu pai adorava trazer para o seio daquela família.

Torceu e amarrou os longos cabelos vermelhos com as mãos e deu uma corridinha para se livrar do clima, até a porta. Deu direto para a cozinha onde a mãe, Molly Weasley, descascava legumes sobre uma bandeja. O pai, Arthur, também estava por ali, sentado ao lado de Victorie - sua primeira neta – e alimentando-a com uma papinha cor de abóbora de seu cadeirão infantil.

— Filha? — ele abriu um acolhedor sorriso.

Molly levantou os olhos da sua tarefa.

— Oh, querida, nem notei você chegar.

— Está uma ventania lá fora. — ela entrou e cumprimentou seus pais com suaves beijos no rosto. Quando chegou a sobrinha, uma linda garotinha de cabelos dourados, lascou-lhe dois beijos molhados de ternura. Victorie tinha três anos.

— O nosso almoço sai logo. — anunciou a mãe pegando a varinha e ordenando que uma escumadeira revirasse a carne que cozinhava na panela.

— O que ela está fazendo aqui hoje?

Normalmente os netos vinham no fim de semana.

— A Fleur precisou ir para o Beco Diagonal resolver umas pendências em Gringotes. Aquele banco anda insuportavelmente lotado ultimamente. — reclamou Molly.

— O nosso mundo depois de Voldemort tornou as pessoas mais confiantes quanto ao Ministério. Muitos voltaram a movimentar e guardar suas economias.

— Mas os duendes e o próprio Gringotes sempre foi um local confiável, não? — quis Gina saber.

— Sim, mas como as pessoas teriam tempo de fugir do país emergencialmente se todas suas economias para tal estivessem guardadas nos seus cofres mais seguros do mundo?!

Arthur pegou a colher voadora no ar e preencheu de papa para a neta, depois soltou-a e ela foi sozinha de encontro a boca da criança. Seu cabo era em formato de trem e uma fumaçinha branca escapava por sua chaminé, assim como um engraçado barulho de apito soava baixinho enquanto a garota não abrisse a boca.

— Chega desses assuntos. — a matriarca balançou a mão. — E como foi a reunião com o tal time italiano?

— Ah sim... — Gina sorriu amplamente — Está tudo certo!

— Tudo certo?

— Isso. O contrato propõe cerca de 10 mil galeões por jogo, além da experiência, claro.

— Merlin, quanto dinheiro!!! — assoviou o Sr.Weasley. — E o seu contrato com o Harpias?

A ruiva ajeitou-se melhor na cadeira e disse quase cochichando.

— Olhem que inusitado: O Sr. Battitori pagou a multa ao clube por eu sair antes do tempo. A multa é mais do que jamais ganhei na vida...

— Esse homem é poderoso mesmo, hein?! — observou a mãe, desconfiada.

— Que tom é esse? — a ruiva semicerrou os olhos. — Andaram falando com o Harry?

— Seu marido anda chateado. Não queremos nos intrometer, mas sua mudança profissional vem abalando ele. — Molly usou mais brandura.

— Nós não temos nada haver com isso, entretanto. — interveio Arthur cauteloso, limpando a boquinha da neta.

— Poxa! Achei que queriam ver meu sucesso? — interrogou aborrecida.

A mãe largou os legumes e tocou a mão da filha.

— E queremos, querida! Nunca duvide disso. Sei que não será ausente no seu casamento mesmo jogando num time estrangeiro, pois ama demais Harry. Claro que entendemos a insegurança dele, contudo. Quero vê-los felizes e se for o seu desejo do coração estar jogando por esse novo clube apoiamos nossa filhinha incondicionalmente. É o seu desejo, não é?

Gina hesitou. Seus pais fitaram-na por expectativa.

— Sim. Sim.

***

Emmanuel do Battitori retornou ao seu castelo acompanhado da noite. Fez uma aparatagem tranquila na abóbada de carruagens e ordenou a mais aconchegante delas para leva-lo as cercanias de seu lar. Era o único com permissão para aparatar no pátio principal daquela construção, entretanto apreciava o balanço do veículo. Por vezes lhe fazia bem as ideias.

Entrou na boleia e acomodou-se no assento. Arrastou a capa para dentro e esperou o cocheiro fechar a portinhola suavemente. O transporte iniciou seu movimento ondulante.

— Espere! — exclamou o bruxo repentinamente. O condutor parou.

— Senhor? — o cocheiro abriu a portinhola prontamente.

— Que animais estão levando a carruagem?

— Os Felióstipos, senhor.

Felióstipos era uma espécie de tração, um parente distante dos unicórnios, que naturalmente habitava os Alpes Itálicos no coração do Monte Branco. Seus corpos eram de uma pelagem fina e branquíssima, o corpo equídeo, mas a cabeça detinha orelhas pontiagudas, formato triangular, narinas centrais e um aspecto felino de modo geral.

— Troque-os por cavalos apenas. — ordenou.

O funcionário então trouxe cavalos comuns a olhos trouxa e fez com que mais tratadores levassem os dois felióstipos para as cocheiras.

— Para onde, senhor?

— Vá para a cidade. — disse num timbre autoritário.

A carruagem mudou a direção e começou a descer a ladeira. Muitos minutos passaram vagarosamente. Emmanuel viu apenas as sombras de suas videiras e ouviu os galopes rítmicos dos animais por todo o período até a saída da propriedade. Não havia pressa. Roma era uma criança com insônia: alegre, constante e agitada até as horas mais dúbias da madrugada.

Seu corpo andava traiçoeiro. A concentração ia e vinha, a vista embaçara em diversas horas do seu dia e o coração sofria inusitados e desesperadores aumentos de frequência rítmica. Nada disso tinha relação direta com seu problema. Ele se adiantara desta vez. No máximo, o organismo vinha sofrendo de ansiedade, a sua eterna companheira.

As luzes da cidade tradicional italiana começaram a brotar em seus olhos. O velho mundo tinha vantagens que só o velho mundo detinha. Passear pelas ruas de paralelepípedo de Roma, numa carruagem altiva do século passado, era no máximo mais um ponto turístico charmoso e ambulante aos olhos trouxas. Roma estava sempre minada de pessoas de todo o mundo, encantadas pela religiosidade e pelos pontos turísticos emblemáticos na história deles. Tudo ficava despercebido ainda que a vista de todos. Apenas um excêntrico milionário.

— Quanto é? — gritou uma mulher trouxa parcialmente embriagada quando o condutor adentrou numa praça repleta de restaurantes de secunda classe.

Eles constantemente achavam que o veículo era de passeio turístico. O veículo prosseguiu deixando a mulher falando sozinha.

Emmanuel abriu a janela ornamentada da boleia e deu espaço a um ar fresco carregado de sereno, entrar. Estar naquela cidade recarregava suas energias, porque entre tantos mortais frágeis enxergava-se um Deus camuflado e contemporâneo. Por que o tal Voldemort da Inglaterra também não se beneficiou desse vigor ao invés de travar dura batalha contra os bruxos? Nem todos nasciam com seu talento para auscultar o voluptuoso sussurro da dominação. Seu amor pelo controle da vida e da morte. Muitos tentavam, mas a magia negra era uma triste praga deteriorante. Precisa de paciência para refina-la e isso notoriamente era o que os gananciosos não tinham.

O condutor parou à fresca de um barzinho trouxa quando Emmanuel tocou o vidro. O cocheiro correu para abrir a portinhola enquanto ele despia-se da capa bruxa. Entregou ao homem e em seguida ordenou aos empregados retornarem para o Castelo. Dali se viraria sozinho.

Quando os cavalos trotaram para longe, entrou no estabelecimento, pediu a bebida mais comum dos trouxas, cerveja, e sentou numa mesa na varanda. Saborear a cevada diluída no álcool trouxe frescor e leveza aos seus anseios.

Observou nas ruas, casais perambulando de mãos dadas, grupos turísticos em montículos boêmios, além de famílias compostas até de cachorros, e velhinhas de cabelos acaju e azul bebê abraçadas as suas bolsas de couro. Então repousou os olhos numa mesa a poucos metros. Três jovens belas e louras com aspecto universitário bebiam entre altas comemorações. Uma delas, cachecol de penas, boina preta, flertava-o desde o momento que sentara.

Empolgado, Emmanuel capturou seu copo de cerveja e foi pedir um lugar com as donzelas. As três fizeram vigorosos sinais positivos com a cabeça. Tinham as bochechas coradas e as vozes elevadas. Visivelmente ébrias.

— E aquela carruagem cheia de badulaque que te trouxe aqui?

Perguntaram depois de mais duas rodadas de bebida. Ele já estava completamente aderido ao grupo e conversavam em inglês fluente.

— Aluguei perto do Rost de Ville. Conhecem? — disse.

— Pare de esnobar, somos novas aqui! — exclamou uma delas batendo na mesa.

O relógio correu na praça central. Rapidamente a lua fez um trajeto côncavo sobre o firmamento e às três horas da madrugada chegou. O bar ameaçava fechar as portas ao que os quatro tiveram de se levantar e pagar a conta. Emmanuel tomou todo o valor da consumação para si.

Caminharam pela cidade, desviando dos mendigos e larápios vendedores ambulantes. Um terrível mal da capital italiana. Logo chegaram diante da hospedaria onde as três americanas se hospedavam. A de boina preta, que continuou a mostrar interesse por ele, permaneceu na sua companhia. As outras subiram trançando as pernas para o saguão.

Foi a última vez que viram a prima mais nova e, infelizmente, estavam com uma ressaca tão grande no dia seguinte, que nada sabiam ou conseguiam se lembrar sobre o acompanhante misterioso da boemia.


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