Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 8
Parte 08




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Realmente chateada com a infantilidade de Harry, a artilheira do Harpias, saiu cabisbaixa pelo salão, contornando as pessoas. Havia se produzido com esmero naquela noite para desfilar de braços dados ao marido de fama heroica, recebendo cumprimentos surpresos e elogios, admirando seu desempenho no último campeonato inglês. De fato as pessoas a fitavam, quem sabe estivesse com pena da mulher de vestido amarelo, vagando pelo castelo.

Caminhou até um segundo salão, observando todos os troféus conquistados pelo Acciaio Battitori, expostos em vitrines flutuantes e bem polidos. Contou, pelo menos, duzentos títulos estendendo-se pela tapeçaria, e ficou encantada, esquecendo-se inclusive do seu aborrecimento, quando ao fim do recinto que ia fechando em cúpula, ao ver sete pedestais de onde de onde flamejava os bustos dos jogadores do time, em ação, se movendo como se esculpidos no fogo.

Acciaio Battitori era de um clube com o glamour que jamais nenhum time inglês teria.

Terminou a primeira taça, e abordando outro garçom pelo caminho, recuperou uma cheia. O refrescante terraço de ameias a chamava para uma vista primorosa dos jardins, e ela apoiou-se sobre as pedras, segurando o cálice de mãos unidas.

Mirou a noite, uma cidade trouxa cheia de luzes após a cadeia montanhosa, tão distante quanto ela própria se sentia ali. Alguns rostos eram conhecidos, afinal aquela era sua profissão, entretanto tinha de admitir ter visto apenas um ou dois rostos de profissionais dos times de seu país.

Quem a convidara afinal? Que importância uma mera Weasley — o sobrenome Potter ainda era recente para ela se acostumar e se identificar — oferecia naquela constelação de italianos sofisticados?

Deu um golinho no vinho, e neste momento alguém se aproximou.

— As uvas guinter são cultivadas durante oito anos. Não pode tomar muita chuva, muito sol, muito vento. — Gina olhou para o dono da voz, deparando-se com um belíssimo jovem de trajes vinho totalmente em seda, a lhe falar. — É necessário ensacá-las nas videiras, pelo menos uma vez por semana, tendo de manter distâncias das fortes mágicas contra pragas naturais. Então no oitavo ano, logo no primeiro mês, se passar disso perde o ponto, são colhidas e lavadas numa solução levemente açucarada. Medidas extrapoladas estragam completamente a fruta. Depois têm de serem compactadas em barris de carvalho por quase um ano. Retiradas, trituradas com os polegares ao ponto onde todo o suco é extraído, mas esse não é o produto final. O extrato, juntamente com o líquido é devolvido aos barris, repousando por mais sete anos. Somente então o conteúdo dos recipientes sofre peneiração. O extrato de casca e semente vira adubo para a próxima plantação e o suco transformasse no Vinho Monte Sacro.

Impressionada tanto pelo magnetismo do homem a sua frente, quanto pelo discurso, a ruiva piscou e balbuciou.

— Só não me diga que o vinho é este que estou tomando tão... tão desleixadamente?

Ele sorriu. Seus dentes eram perfeitos.

— Pelo contrário, ele deveria sentir-se privilegiado. — e estendeu-lhe a mão cavalheiramente. — Emmanuel di Battitori, prazer.

Gina estancou. Tinha escutado bem? Battitori? Tímida, quase lutando para as bochechas não corarem, estendeu a mão que não carregava a taça. Emmanuel virou, curvou-se e beijou.

— Não me diga que o senhor é...

— Encantado pela consideração ao convite, Srta Weasley.

— Na verdade é Potter. — corrigiu-o impulsivamente — Casei recentemente por isso o clube ainda não mudou meu sobrenome no uniforme.

— Oh, claro! — riu com elegância, sem parecer nem um pouco deslocado — O grande rapaz bruxo, líder da resistência contra as forças das trevas inglesa. Como pude me esquecer... Onde está seu esposo, se não for uma grosseria querer saber.

— Não, não. — ela sacudiu a cabeça — Ele ficou vendo a orquestra.

— Gosta de música? — franziu o cenho, surpreso, e lentamente encostou-se as ameias como a ruiva.

— Ah, sim. Ele adora. — respondeu, tentando não demonstrar todo o cinismo que aquela afirmação possuía. — Mas eu ainda não tive minha resposta. — pouco a pouco o acanhamento inicial foi se quebrando. — Esse Battitori em seu sobrenome significa o que estou pensando.

— Eu sei que é assustador para um primeiro impacto, mas não devo ser o único com menos de trinta anos a ser dono de clube de quadribol.

Gina quase caiu para frente das ameias de susto. Não estava insinuando que ele fosse o proprietário daquele glorioso time, um membro da família, o filho do dele, era sua ideia.

— É estupendamente linda, mesmo completamente boquiaberta.

Desta vez ela corou.

— Desculpe! Não pude evitar. Sinceramente, é impactante e intrigante. Além do mais nem sotaque reconheci em sua voz.

— Primeiro o clube é uma herança de família, acho que se justifica. Segundo, morei muitos anos na Inglaterra. — anuiu, mirando-a com hipnotizantes olhos azuis.

— Claro, às vezes costumo ser simplista demais. É minha criação exagerada, só pode ser. — sorriu. Então avistou o gramado, descompromissadamente e perguntou — A plantação de uva são aqueles quilômetros de sombras pela planície.

— Isso. Plantação antiga, tudo antigo. Depois das montanhas está a Roma dos trouxas. Com um monóculo de baixo alcance é possível se ver o topo da Basílica de São Pedro, um monumento de grande adoração religiosa para eles. Há alguns quilômetros ao sul daqui, fica o Castelo de Gandolf, onde seu líder, um homem bem idoso, pode vir descansar das atribulações da cidade. Na verdade estamos bem no meio de grandes duas rotas de transição deles.

— Mas claro que não nos podem ver? — quis saber, embora soubesse a resposta.

— Não, não podem. Eu amo a magia!

— Acho muito interessante as crenças e cultura deles. — comentou a ruiva esquecendo-se de que dirigia-se ao homem mais poderoso daquela festa, talvez da Itália bruxa, economicamente — Harry ficou muitos anos tendo de conviver com os trouxas, por isso o encho de perguntas, mas isso quando meu pai já não o chateou demais com os mesmos questionamentos.

— Gosto de viver entre eles, camuflado. — argumentou num tom que poderia passar mistério — E ali, logo após o término da plantação, abaixo do solo, começam as catacumbas.

— Catacumbas?

— Sim. Há séculos, os trouxas tiveram um grande conflito entre as crenças que defendiam. Os que acreditavam em vários deuses, a tal religiosidade pagã, expulsaram das cidades aqueles que defendiam a existência de um só deus, os chamados cristãos. Por muito tempo as pessoas tiveram que viverem e sobreviverem debaixo da terra, cavando galerias como minhocas. — Gina soltou uma exclamação de admiração. — Mas eles finalmente conseguiram inverter o jogo, os trouxas são extremamente fervorosos e belicosos quanto a esse assunto, e expulsaram de forma sangrenta as primeiros. As catacumbas não podiam perder seu valor, afinal foi o abrigo daquela gente em tempos mais difíceis. Logo, então, arrumaram uma utilidade ao local: seria onde seus mortos repousariam.

— Já pensou em lecionar Estudo dos Trouxas em uma escola bruxa? Hogwarts, por exemplo? — estava admirada.

Desta vez Emmanuel pareceu recatado com o elogio.

— Sou apenas um amante do conhecimento. Nada mais.

— Essa história é fascinante.

— Eu posso levá-la até lá, durante a próxima temporada, quando as folgas do Acciaio surgirem.

— Como? — Gina que estava tomando um gole do vinho Monte Sacro, engasgou.

O homem nem titubeou em responder.

— Porque acha que a chamei aqui? Eu quero os melhores do mundo em minha equipe. — fitou-a, sem nem ao menos piscar.

Ele não estava blefando. A artilheira parou com a taça congelada, absorvendo o convite, tão rápido, direto e improvável.

— Querida, você está aí! — a voz de Harry rachou seu invólucro de surpresa. — Desculpe a demora, é que encontrei-me com Vitor Krum pelo caminho, então...

Emmanuel e ela olharam para Potter aproximando-se, como se tivessem sido flagrados num ato impróprio. Rapidamente o galante bruxo mascarou o sobressalto, inflando-se numa postura altiva e cortês.

— Olha ele aí! O bravio bruxo inglês. — saudou-o, não arredando o pé do lado de Gina.

A ruiva deslizou para perto do marido, ele andava imprevisível, olhando quase que com uma ruga de seriedade no semblante.

— Harry, esse é Emmanuel Battitori. O dono da equipe e de toda a propriedade.

— Tão novo assim? — rebateu o auror, estendendo a mão e parecendo um tanto petulante naquele gesto brusco.

Com a fineza esperada, Battitori retribuiu acrescentando um meneio de cabeça na saudação. Seu olhar voltou-se de Potter para ela, e novamente para o marido.

— Infelizmente, o sucesso e todas as atribulações precedentes vêm cedo para alguns. Creio que saiba do que estou dizendo.

— Certamente.

— Um dia quero escutar todas as suas aventuras e táticas utilizadas para derrubar Voldemort. Hoje, aproveitem a festa ao máximo, como um favor pessoal a mim. — discursou-lhes. E então cravou o olhar em Gina novamente. — Pense com muito carinho na sua carreira, Srta. Weasley.

E partiu, postura ereta, vitoriosa, exalando superioridade.

— O que foi isso? Srta Weasley, carreira...

Ginevra lhe lançou uma expressão morteira. Deu a última golada no vinho de quinze anos, e pisou duro em direção ao salão.

— Vou cumprimentar Vitor.

Na verdade estava chocada e irada com a grosseria de Harry Potter.

Empenhado em trazer aquela noite a um nível inesquecível, os assistentes de Battitori organizaram os convidados em pequenos grupos, e foram conduzindo-os por uma passagem acessória ao salão principal, um corredor de arbustos, a céu aberto, que desembocava numa clareira preenchida por cadeiras e um palco flutuante.

Todos foram sentando-se nos lugares indicados, comentando animados e surpresos o que estaria por vir.

A situação com Gina era intratável. Harry passou às duas horas subsequentes sem conseguir firmar um diálogo com ela zanzando pelo salão como se fosse amicíssima de Vitor Krum, e sendo apresentada a todos os representantes do time búlgaro.

Muitas atenções também se voltaram para ele, barrado a cada cinco passos, como se alguma espécie de boato sobre o famoso Potter tivesse misteriosamente se irradiado entre as pessoas.

Agora estavam ali, diante de mais um “circo” daquele bruxo petulante e muito favorável as suas desconfianças. Vigiou a esposa de perto, não notando mais nenhuma aproximação de Emmanuel, entretanto, seu extinto investigativo lhe dizia que olhos invisíveis os espreitavam.

O palco a frente se abriu e uma cortina de fogo rasgou-o de ponta a ponta. Tambores rufaram alto e as apresentações iniciaram-se. A mesma magia impressionante de manipular grandes partes de fogo, presente nas estátuas-fogo do salão de troféus, vinha em uma encenação sofisticada dos últimos lances da equipe de Quadribol naquele ano. Era tudo glamouroso, esmagadoramente poderoso.

Depois do espetáculo partiram. Harry mais aliviado por não reencontrarem o anfitrião. Usaram novamente a carruagem para chegarem ao gramado, afinal não era possível aparatar tão perto do castelo, e quando o cocheiro lhes deixou em solo, entregou junto um pergaminho pequeno, lacrado com um laço azul.

***

Chegaram na sossegada Kent por volta de um da manhã. Gina abriu a porta e já foi tirando os sapatos.

— O que diz nesse bilhete? — Harry saiu perguntando, curioso e tenso.

— Vou ler agora. — respondeu ela, dirigindo-se ao quarto.

Ele trancou a porta, atirou a capa sobre o sofá, afrouxou a gravata e seguiu-a. A ruiva estava sentada na cama lendo o bilhete.

— E aí? — entrelaçou os dedos e começou a estrala-los de ansiedade.

— Emmanuel quer uma reunião comigo, no fim da semana que vem.

— Repita! — disse rispidamente.

— O que há com você, hein?! — Gina pôs-se em pé de imediato e gritou. — Anda grosso e arrogante e... e... Achando que pode mandar na minha vida!

— Eu achei que fazia parte dela...

— E o que isso quer dizer para você, Harry? Palavras, palavras, nada mais do que isso!

— Apenas acho que você está muito bem onde está. Não há nenhuma necessidade de ir procurar outra equipe. Não temos dívida, seu cachê é bom...

— CALA BOCA! Não ouse dizer o que acha ser bom para mim ou não!

Saiu do quarto batendo a porta atrás de si com muita força. Ele pensou em persegui-la, tocou na maçaneta, mas sabia que tentar argumentar em cima da ira da ruiva era totalmente imprudente.

Vencido, arrastou os pés para cama, sentindo-se o mais solitário dos seres humanos. Deitou no colchão, livrou-se dos óculos e afundou a cara no travesseiro, deixando lágrimas silenciosas escaparem pelo canto dos olhos.

O que estava acontecendo? Agora que Voldemort morrera era pra tudo estar bem. Ele feliz, com suas amizades e seu casamento. Mas não estava se sentindo nada realizado.


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