Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 17
Parte 17


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, tudo bom?
Queria dizer que este capítulo é mais mental, mais introspectivo, então é preciso um pouco de concentração para entendê-lo.
Ficaria muito feliz se meus leitores daqui (que estão mais quietinhos do que gostaria) se manifestassem dizendo que impressões e suposições tiraram do capítulo.

Beijos!



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Poucos bruxos, praticamente nenhum da era contemporânea, repousaram os olhos numa Magia Incandescente.

Sobre os primeiros seres humanos com dons mágicos a surgirem na Terra nada se sabia. O que a história contava, através de pergaminhos passados de gerações a gerações numa cadeia ancestral poderosa, nascia no antigo Egito. Uma terra árida e áspera, em que os excêntricos bruxos com suas máscaras de chacais construíam tumbas intransponíveis para reles trouxas, e que guardavam as formas mais primitivas de magia.

Os magos bretões conquistaram o conhecimento dessa manipulação feérica de modo totalmente misterioso e passaram eles mesmos a produzirem, inventarem e arquitetarem seus próprios panteões de feitiços pelo poder da Magia Incandescente dos povos do oriente. Era esse um dos motivos pelos quais os bruxos asiáticos e parte dos africanos utilizavam outros encantamentos não reconhecidos pelos ocidentais.

Gina aprendera esses detalhes curiosos sobre o passado da mágica em Hogwarts, e achou que tivesse esquecido todos os detalhes já, até ver pessoalmente, tão vivida quanto uma tulipa na primavera, a supremacia daquela energia.

Assim que Emmanuel descortinou seu segredo dentro daquele túmulo para os olhos dela, a ruiva tornou-se imediatamente hipnotizada pela luminosidade agressiva da bola esbranquiçada. Estava flutuando sobre uma espécie de altar de pedra negra. Algo, uma voz sem som, se é que isso era concebível, a chamou para dentro do arco de radiação e ela tencionou avançar obedientemente. Mas Emmanuel a puxou ligeiro, pelo braço.

Nem pense nisso. Ele lhe alertou e ela não saiu do seu estado letárgico, sempre encarando a obscena influência que a bola causava nela. Continuava a chamando. O bruxo teve de segurá-la com mais força e desviar seu olhar.

O contato franco com os olhos daquele homem quebrou um pouco a atmosfera sinistra da magia, e ele pôde falar com Gina tendo parte de sua atenção para si. Parte, porque sua cabeça continuava a convidá-la para além do perímetro.

Ele informou calmamente que se ela ultrapasse os limites, se tocasse ou ouvisse a magia sem estar preparada, seu cérebro não aguentaria. Ao passo que a moça achou incoerente, afinal o próprio bruxo mostrou a passividade daquilo tocando a chama branca ao mergulhar a mão e parte do antebraço. Era como se algo estivesse possuindo-a e mandando desvencilhar-se dele para mergulhar nos segredos poderosos acima do altar.

Por fim, para evitar algum acidente, imaginou, Emmanuel a empurrou para a câmara ao lado, iluminada apenas por archotes mundanos. Foi ali que finalmente, após conhecê-lo brevemente, que Gina viu um tremor de insegurança o açoitar na tez.

Tem alguma coisa errada! Um alarme soava eloquentemente em sua cabeça. Era um alarme que ela percebeu ignorar por dias, mesmo ele estando lá. Tentou trazê-lo à tona e estudar seu aviso com atenção, mas uma barreira invisível fez com que sua memória não segurasse o instante de meditação.

Emmanuel voltou a falar. Desta vez mais gravemente e com mais segurança. Enquanto enveredava numa história pessoal, algo sobre sua família, a ruiva sentiu o chão que pisavam. Era liso e escorregadio. As chamas do fogo presas às paredes traziam uma fraca claridade ao piso e ainda tinham que vencer as sobras bruxuleantes dos dois. Não pôde ver que substância preenchia abaixo de seus pés.

Ela começou a ficar impaciente com as palavras desconexas do bruxo e novamente deixou-o falando ao além, forçando-se outra vez a lembrar-se do aviso do alarme. Desta vez avançou mais. Harry veio a sua cabeça instantaneamente, depois a mãe, zangada por ter sumido...

A barreira invisível outra vez.

Fitou o homem diante de si, e o viu com uma expressão frustrada. Aquilo a assustou e instintivamente se acuou. Emmanuel desfez o rosto de carrasco assumindo uma máscara cavalheira quando a acudiu perguntando se estava bem.

Gina percebeu que queria gritar e chorar, embora não conseguisse conceber o porquê. De repente sentiu-se uma criança muito pequena e muito fraca, subjugada nas garras de um obsessor adulto e vil. Quem a olhava era o dono dos Battitori, e ele possuía um encanto inebriante sobre os sentidos dela. Nada igual a aura maligna de antes.

Ela só queria A Toca. O colo de sua mãe. O abraço de seu pai. O beijo de seu amor.

Porque estou aqui? Havia perguntado numa vozinha estrangulada a Emmanuel. Era um tom de suplica. Se viu diminuída diante dele e teve uma terrível certeza que tudo se perderia para sempre.

Descontrolada, a voz sem alma, vinda do globo refulgente na câmara oposta gritou com sua mente. Sacudiu suas estruturas para valer. Todos os olhares entristecidos e magoados de seu marido inundaram sobre a mente dela. Conseguiu ainda ver seu rosto o enxergado em cada um desses olhares: ela com uma chocante indiferença, até soberba, o encarava de volta.

Não. Não! NÃO! Eu, Ginevra Potter, jamais deteria esse desprezo ao meu grande amor. Essa não sou eu.

A voz lhe contou isso e muito mais. Contou que ela estava foragida de seus entes queridos. Que todos que a amavam deviam estar mortalmente preocupados com sua vida.

A voz finalmente, e ela parecia sedenta nesse momento, quis lhe contar sobre o homem com Gina ali. A ruiva ficou preparada para ouvir, sentindo a cabeça quase explodir de dor, entrementes, pela terceira vez (que se recordava, pelo menos) o paredão de vazio ocluiu os pensamentos.

Se de um lado a comunicação telepática acabou, por outro, uma manifestação bruta se revelou. Emmanuel Battitori, que rapidamente voltara a ser o galante cheio de suspense que a levava numa aventura, gritou raivosamente para o nada. Impropérios hediondos, assustadoramente rancorosos para as paredes das catacumbas. Dentre tantas palavras cuspidas ao ar, Gina o ouviu dizer “mamma”. Ele passara a falar outro idioma, o seu nativo italiano.

Ela deu um passo para trás, retraída pela histeria dele, e escorregou feio no chão duro. Suas mãos sujaram na gosma fria ao aparar a queda. Automaticamente levantou as palmas a luz dos archotes e viu um líquido viscoso, muito negro, tingido na pele. Aproximou o nariz para tentar reconhecer a substância pelo olfato sendo aplacada por um fedor intragável de carne podre.

Só então reparou que todo lugar cheirava mal. Cheirava aquilo. E que o fato dela não ter notado antes, era porque tinha se acostumado.


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