Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 14
Parte 14




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Harry saiu de um demorado banho do qual terminou de lavar as lágrimas que não paravam de escorrer. Havia um misto de solidão e remorso em cada gota, por todas as vezes que implicara com Gina. Observou-se com o rosto medonhamente inchado pelo reflexo do espelho e recolocar os óculos deram um pouco de disfarce a tez sofrida. Ao parar no segundo andar, observou no hall entre os cômodos, Rony e Hermione entrelaçados no sofá lá embaixo. Falavam aos sussurros, atalhando suposições, provavelmente.

Sem fazer barulho, o auror entrou no quarto e vestiu uma capa austera e discreta. Estava em seus planos retornar ao ministério e verificar algo para sua investigação ainda aquela noite. No relógio mágico de cabeceira, minúsculas estrelinhas refulgentes se organizavam para brilhar na penumbra do aposento o horário de vinte e três e trinta.

Ao terminar de se trocar, suas pernas pediram um descanso de dez minutos ao qual ele atendeu, sentando na poltrona marrom. Poderia realizar suas investigações solitariamente dali, dizer ao casal que iria dormir e partir para trabalhar exaustivamente numa teoria que poucos acreditavam. Entretanto, Rony merecia estar próximo dele, necessitava desse voto de confiança para ambos. No fundo ver o amigo era como permanecer um passo adentro do círculo de vida de Gina, já que genuinamente ele era uma parte dela também.

Suas pálpebras pesaram uma vez e ele arregalou os olhos em combate. Estava a mais de vinte e quatro horas sem dormir se contar que na noite passada cochilara alguns minutos naquela mesma poltrona. Precisava correr atrás dela... O tempo passava... As pálpebras caíram novamente e ele lutou mais uma vez. Harry era um lutador, Emmanuel deveria saber disso quando se meteu com seu amor... Ele não desistiria... Nunca.

Em menos de dez segundos o sono o devorou.

Mergulhou numa cena gótica. As construções velhas encaravam-no ameaçadoramente através de gárgulas com representações demoníacas. Pelos bueiros da rua a fumaça gosmenta e pútrida dos esgotos atapetava os paralelepípedos. Uma carruagem passou veloz pela entrada do beco, dentro dela uma prostituta ria descontroladamente sufocando o rosto de um homem casado com seus seios fartos. Na esquina, um poste de ferro piscava em espasmos. Algo lhe dizia que aquele tempo não era o seu, nem aquele mundo o dos bruxos.

Girou o corpo para o outro lado e encarou um vão tão negro que sua sombra poderia perder-se para sempre ali dentro. Não entendeu porque estava naquele local, mas soube que tipo de som chamou sua atenção: um guincho de dor cada vez mais fraco. Equilibrou-se numa corda invisível de hesitação e começou a aproximar-se, diminuindo a distância entre a escuridão e as lamúrias invisíveis. Chegou muito perto, imprudente agachou-se e viu o volume de um corpo feminino tomar forma, estatelada no chão. Apertou os olhos, deixou-o acostumar-se pelas trevas e divisou a figura se contorcendo em desespero... Quase caiu pra trás!

Era uma moça. Trajava um tailer florido das mulheres londrinas do início do século vinte. Havia muito sangue ao seu redor, debatia-se bizarramente como se não fosse um ser humano, seu tronco sem braços. Foram decepados. Sentiu um bolo ácido de ânsia visitar-lhe o esôfago dentro dessa visão. Forçou uma espécie de compaixão na tez e encarou o rosto sofrido da pobre vítima: ela tinha as feições, os cabelos e o cheiro do seu amor.

— Ela você perdeu. — o sussurro mais familiar e horripilante que ele já escutara, informou bem baixinho no seu ouvido.

Virou rapidamente, mirando a rua no outro extremo. Não havia ninguém próximo a ele, mas virando a esquina uma sombra alta, elegante e de sapientes olhos lhe acenou tocando a aba do chapéu. Ele o conhecia... Conhecia de onde? Ele o conhecia...

Quando virou novamente para seu amor multilado, ela estava morta.

Harry percebeu que tinha acabado de deixar escapar um grito de terror quando acordou. Pegou-se apalpando a testa e enxugando poças de suor com a as costas das mãos. Seu corpo estava extremamente dolorido, todos os músculos tesos. Encarou o quarto, fitando com amargura a cama ainda arrumada, e ainda vazia. Demorou alguns segundos para se situar novamente e descobrir, pelo sol da manhã que penetrava através cortina, que havia caído no sono ao invés de continuar na procura de Gina.

Levantou com alguma dificuldade e arrastou-se até o banheiro. A cabeça doía como se agulhas estivessem fincadas em seu cérebro. Abriu a torneira da pia e jogou água no rosto, repetidas vezes, como se precisasse apagar aquele pesadelo terrível com lufadas geladas contra a pele. Escovou os dentes, limpou os óculos e desceu para parte de baixo da casa. Foi com surpresa que percebeu não estar sozinho nela.

— Ei, Rony... — chamou o ruivo esparramado de um jeito todo torto no sofá. — Rony!

Ele acordou sobressaltado.

— Hã... Harry? O que? — perguntou completamente desnorteado e com a cara inchada.

— Porque você dormiu aqui?

— Eu tava... — Rony forçou a ficar sentado, ainda muito sonolento — esperando você me chamar para continuarmos — soltou um bocejo longo — a investigação.

— Acabei transformando um cochilo numa noite inteira de sono. Não temos mais tempo a perder! Já são oito e meia da manhã.

— Caraca! — coçou os olhos, levantou e espreguiçou-se. — Acho que dei mau jeito nas costas. Esse sofá não foi feito pra dormir.

Harry ignorou o comentário. Estava novamente com aquele semblante obstinado do dia anterior.

— Vamos para sua casa!

— Boa ideia. — Rony aprovou, pegando a capa e a varinha em cima do aparador.

— Quero passar rapidamente lá para ver o relógio da sua mãe.

— E eu preciso de um banho rápido, além de um café da manhã.

***

A Toca tinha uma aparência triste. O Sr. e a Sra. Weasley levantavam essa aura de pesar e preocupação. Ao chegarem na entrada, Molly tinha olhos vagos para o terreiro, balançando-se na cadeira velha que ficava do lado de fora. Buscou esperança nas expressões de Harry ou do filho, mas apenas encontrou o mesmo medo e incógnita que havia nos dela.

Rony entrou, tomou a ducha mais rápida de sua vida e preparou um lanche com pães e queijos. Não havia nenhuma mesa posta para o café da manhã ou um sinal de que isso havia acontecido mais cedo. A Sra. Weasley começava a se entregar ao desespero. Harry foi ter com ela. Disse-lhe que Gina seria encontrada até o por do sol seguinte, nem que para isso tivesse de infringir algumas regras. Molly, em contra partida, fitou-o de um modo esquisito, sem nenhuma compaixão, e afirmou sua teoria de que a ruiva estava precisando de um tempo longe dele. Harry simplesmente não conseguia aceitar isso. Sentiu um clima muito ruim e inédito entre ele e sua sogra, despediu-se desajeitadamente e entrou na cozinha onde comeu apenas para tentar aplacar a terrível dor de cabeça que continuava.

Parou diante do relógio dos Weasley, o famoso relógio que revelava onde estava cada membro daquela família, e obviamente encontrou o ponteiro de Gina travado entre a casa deles e o trabalho ainda.

Aparataram no ministério às nove e meia da manhã. Seguiram juntos para o escritório de Harry. Este começou a pegar os arquivos que Hermione tinha lhe cedido, meses antes, sobre o clube de Battitori.

— Ela tá preocupada, só isso. — disse Rony, sem o outro ter dito nada.

Harry ergueu a cabeça de uma pasta e fitou o amigo.

— Como?

— Minha mãe. Não é nada pessoal, Harry.

Ele engoliu em seco.

— São os filhos dela. A Sra. Weasley já perdeu um, é natural e completamente compreensível não querer olhar na cara do desgraçado que fez a sua caçula sumir.

— Ei... não se culpe! — Rony levantou, segurando o ombro dele. — Vamos esquecer as favas e nos concentrar apenas em encontrá-la.

— É isso que estou tentando fazer, Rony. — concordou impostando frieza na voz.

Encontrando os papéis que queria, ele começou:

— Aqui está! Fiquei de realizar pesquisas sobre ela quando Gina aceitou o contrato. — Harry mostrou um papel de caráter noticioso ao ruivo.

— Lexia Monvitedelle?

— Isso. Apanhadora do Acciaio Battitori. Regressou no time em 1994 para as finais do país e sumiu na final do outro ano, sem deixar pistas. Era uma boa apanhadora, tem registros abertos dela na biblioteca pública de Quadribol no andar de esportes. O clube a contratou porque se destacou ferozmente num time de segunda base, numa cidadezinha do interior da Espanha.

— Humm... — Rony coçou o queixo, analisando o papel. — Encontrou mais alguma coisa sobre ela?

— Não. Mas também não procurei muito. Algo me diz que precisamos começar pela família Monvitedelle. Se essa moça apareceu e voltou para casa novamente durante aquele ano, certamente não retornou ao Quadribol. Os registros não apontam alguém com esse sobrenome como esportista oficial a partir do anuário de 1996.

— Você fez a lição de casa.

— Eu estava desconfiado de algo desde aquela época! Devia ter dado mais crédito aos meus instintos.

Rony não disse nada, mas ficou pensando em quão controlar ele vinha sendo com sua irmã desde meses antes.

— Qual nosso próximo passo? — era necessário deixar Harry ditar as regras para manter o equilíbrio entre eles.

— Eu vou tentar contatar algum Monvitedelle esta tarde. Saber mais sobre a tal Lexia. Queria que fosse conversar com David.

— O chefe do Departamento de Esportes? — aquilo pareceu um tanto entediante.

— Isso. Sonde-o sobre esse Acciaio Battitori. Pergunte se conhece Emmanuel, se conheceu o pai dele. Você sabe, siga sua intuição pra onde ela o mandar. Não estou mais me importando com o que o Ministério vai achar. — Harry levantou da cadeira e colocou a varinha no suporte da capa. — Vou viajar rapidamente para Espanha.

— Espere... Você acha que eles vão te atender? Dar algum registro da família de Lexia fácil assim?

— Esqueceu-se? Eu sou Harry Potter!

***

Então chegou mais um dia para Rony ajudar o amigo e, consequentemente, a irmã. Como rapidamente Harry saiu para sua missão particular fora do país, ele entrou no seu próprio escritório e conferiu correspondências antes de seguir para o Departamento de Esportes. Meia dúzia de memorando voavam impacientes na porta trancada, e saltaram aliviados para cima da mesa assim que ele destrancou-a.

Percebeu com grande receio a quem todos aqueles avisos pertenciam: seu chefe. Basicamente ordens para procurá-lo o quanto antes chegasse ao Ministério. O ruivo puxou o ar com força, ajeitou a capa e foi atender a ordem.

***

Willard deixou que se sentasse em seu assento para então sondá-lo.

— Estou sentindo falta de alguns dos meus aurores.

— Desculpe senhor. — disse formal — Estávamos num assunto muito urgente.

— Olhe, Weasley. Eu sei que você e Harry Potter possuem vidas pessoais, problemas como todo ser humano, mas simplesmente não podem usar muitos dos meus homens numa batida ilegal e particular e achar que tudo ficará por isso mesmo.

— Senhor...

— Nem ao menos me mandaram um patrono ou uma coruja com explicações! — Willard exclamou. Não parecia irritado, apenas chateado.

No fundo, um bom homem.

—Eu posso explicar.

— Claro que pode. Claro que pode. — repetiu, exalando cansaço — E hoje? Passaram das sete e nenhum dos dois se apresentou ao serviço.

Rony ia começar a explicar, mas foi interrompido pelos sinais negativos feitos pelas mãos do chefe-auror. Este afundou uma mão na testa e cercou-o.

— Kingsley é um grande amigo do seu pai como bem sabe, dos tempos da Ordem. Já sabemos de tudo, garoto.

— Tudo o que?

— A sua irmã. O casamento dela com Potter. Assuntos de família são difíceis, eu mesmo me separei duas vezes. Entretanto, preciso de algum posicionamento uma vez que são meus funcionários. Os mais importantes, eu diria.

— Meu pai disse o que exatamente?

— Ah, bem, da sua irmã estar dando um tempo longe do marido. E de como Harry não está aceitando isso bem.

Rony esboçou uma expressão de horror ao saber dos detalhes capciosos na boca de Willard.

— Eu precisava de respostas. — disse como se tivesse lido-lhe o pensamento — Além do mais, Ronald, tudo isso corrobora para a decisão tomada por mim e por Kingsley depois da última missão. Talvez Potter tenha de desacelerar por um tempo indefinido.

Uma secura tomou conta da boca do ruivo. Ecos incertos retumbaram nas reentrâncias de sua calota craniana. Esperava que os sintomas fossem pela noite mal dormida e não pela leve insinuação que brotava daquela conversa.

— De todo modo, instruí Arthur a guardar por hora uma correspondência muito importante que deveria ser entregue a Potter, em mãos, onde quer que ele estivesse ontem de ontem.

A tal carta que Hermione mencionara.

— Sr. Willard, temos fortes suspeitas sobre minha irmã não estar se escondendo e sim correndo algum tipo de ameaça.

— Sim, sim. É bom estar do lado de Harry pelos próximos dias. Algumas tempestades cercam o rapaz e eu sinceramente aprecio muito seu caráter, e confio na sua rápida recuperação.

Mas que monte de asneiras sem sentido eram aquelas que Willard dizia? Teria de interrogar seu pai tão logo a oportunidade surgisse.

— Quanto a você, Weasley, lhe dou cinco dias para encorajar e apoiar Potter da forma mais adequada, a contar de hoje. Só não me façam, por favor, nada para transgredir as normas padrões e irritar pessoas erradas.

***

Rony saiu com a cabeça mais quente que um fogão em brasas, do escritório de Willard. Passou pisando duro pelo pátio de treinamento no quartel e sequer deu ouvidos a companheiros de ofício, perguntando sobre o seu dia. Existia uma pessoa em toda sua vida com tato, percepção e inteligência nata para pegar toda a entrelinha nos floreios dúbios que acabara de escutar. Foi atrás dessa pessoa.

Como nada era fácil quando se estava com pressa, Hermione não estava em sua sala.

Ele viu um bilhete muito bem escrito, na letra longa e formal dela afixado à porta do escritório informando sobre seu paradeiro durante as próximas horas no Aquário. O Aquário tratava-se de uma estrutura pertencente ao Departamento de Criaturas Mágicas, onde diversos espécimes de vida aquática poderiam ser encontrados. Rony tinha estado lá apenas uma única vez e não passara da recepção.

Como a impaciente crescia vorazmente dentro dos pensamentos do ruivo, resolveu que não poderia esperar para um pouco depois das três da tarde, como avisado no bilhete, para ter aquele assunto com a morena. Percorreu o caminho longo de portas da repartição daquele departamento e escolheu um dos três umbrais centrais anunciado como ‘O Aquário’, ao fim de um longo arco dourado.

Desceu uma vertiginosa escada de pedra em caracol e sentiu a mucosa de seu nariz se agitar pela umidade lodosa dali debaixo. O pátio do complexo abriu-se sobre seu fitar revelando a colossal estrutura de vidro a cobrir dezenas de metros por de trás de um singelo balcão. Era a segunda vez que Rony vislumbrava o maior aquário que já percorreu sobre seus olhos, era impressionante. A sombra de um imenso animal marinho avolumou-se contra o vidro, parando para observar o visitante miúdo em fascinante interesse.

— Pois não? — perguntou uma moça de vestes lilás, chamando a atenção de Rony, até agora completamente voltada para a baleia pré-histórica acima de suas cabeças.

— Hã... Eu vim ver Hermione Granger. — pigarreou.

A moça consultou um pergaminho interativo, semelhante a todas as recepções do ministério.

— Ela nunca deixa de nós impressionar, não é? — atalhou a garota, apontando descontraída para o animal boiando e encarando-o.

— Sim. Quantos litros tem esse aquário?

— Um bilhão e eu estaria chutando baixo. Ela é uma fêmea, mais de setecentos e cinquenta anos. A única sobrevivente da sua espécie.

— É mesmo?

A baleia mudou de posição no seu hábitat, mas continuou observando-o.

— Hum-rum. Não poderia mais sobreviver às condições oceânicas, ainda mais depois que os trouxas começaram a transformar o mar numa espécie de aterro sanitário.

— É normal ela ficar encarando a nós? — Rony soltou qualquer assombro na voz que a fez sorrir.

— Ah, sim. Ela é bem curiosa e muito meiga. Aqui está, A Srta. Granger encontra-se logo adiante nos aquários menores. Siga até o fim desse aquário e vire esquerda, não tem porta nem nada. Pode assinar o livro somente a título de controle?

— Sem problemas.

Ele caminhou pela lateral do aquário com os olhos desconfiados em cima do animal. Ao seu redor, um cardume de peixes luminosos fazia um balé sincronizado. Somente quando virou para um pátio ladeado por aquários menores e uma luz fraca, foi que relaxou. Apenas cinco pessoas trabalhavam naquele pátio. Numa mesa mais adiante estava Hermione e outra mulher.

— Hermione? — chegou tímido.

As duas viraram a cabeça e os corpos, e um serzinho fascinante de cinco olhos e duas perninhas se debatia sobre o tampo da mesa.

— Rony? — Hermione ficou muito surpresa em vê-lo ali. Nas mãos enluvadas tinha uma prancheta de anotações.

— Oh... Desculpe chegar assim, do nada.

A mulher que acompanhava a morena, uma bruxa alta de rabo de cavalo e vestes brancas, olhou curiosa de um para o outro.

— Eu estou trabalhando.

— Eu sei... mas...

Hermione empertigou-se; Ele sabia que, para ela, ser excelente em seu trabalho significava não permitir ser interrompida em certos momentos.

— Tudo bem. — a mulher anuiu para Hermione.

— Hã... Rony, esta é a zoo-curandeira, Olívia Poltroit. Olívia, este é meu noivo, mas você certamente deve saber. — referiu-se a vida do “trio de ouro”, por tanto tempo estampada no Profeta Diário.

— Claro, prazer! Deixarei vocês a sós. — disse diplomática — Aproveitarei e buscarei aquele Organosaquático que estava faltando.

— O que quer? — a morena perguntou aborrecida, quando estavam só ela e Rony.

— O que é ele? — rebateu com outra pergunta, apontando para o serzinho que continuava a se debater na mesa. Tinha o corpo em formato de peixe.

— É um Organosaquático. Estamos registrando eles e lançando alguns feitiços antitrouxas, esses novos estão perdendo suas defesas mágicas, não sei se é por causa da interferência dos trouxas naquela região. Serão devolvidos ao mar Antártico essa semana.

— Ele até que é bonitinho. — o ruivo aproximou os dedos da criatura, que esticou alguns olhos para perto dele.

— Cuidado! — ela bateu na mão dele, afastando-o do contato. — Não está vendo que estou usando luvas? A saliva deles queima pele humana.

— Desculpe!

— Rony, o que quer aqui?

— Eu... Eu não viria se isso não estivesse me sufocando. Conversei com Willard agora pouco. Estou de folga por uma semana para ajudar na busca da Gina, mas não é essa a questão. Ele me lançou uma série de indiretas estranhas envolvendo Harry e uma carta que ele teria recebido do Ministério, da qual deveria ficar oculta por enquanto. Fiquei pensando...

— Willard falou comigo ontem, como disse. E eu também fiquei pensando. Acho que o Ministério quer afastá-lo do ofício. — disse série e simplesmente.

— QUE? — ele praticamente esbugalhou os olhos.

— Não estou nada feliz por estar apostando nisso. — mostrou-lhe uma tez entristecida.

— Mas não tem como! Harry é o pilar de sustentação do nosso mundo depois da Grande Guerra! Isso seria abominável!

— Ou talvez ele tenha feito por merecer.

— Não! — disse com veemência — Ele...

— Ron, talvez as pessoas que ele mais ama na vida estejam o decepcionando de alguma forma, e com isso ele tenha deixado de fazer as coisas com tanto capricho, tanto entusiasmo.

Aquela indireta cravou fundo no ruivo.

***

Como previsto, o Ministério Espanhol o tratou com empatia e consideração. Lhe forneceram os registros bruxos de todos os condados legalizados daquele país, além de um ajudante que conhecia bem a papelada e a classificação dos arquivos. Em pouco mais de cinco horas de trabalho, Harry seguramente localizou um Monvitedelle.

O Ministério Espanhol logo lançou um patrono oficial para o interrogado, que no caso era um homem que vivia no sul do país, convocando-o a estar pela rede de flu dali duas horas. Harry foi orientado para as chaminés particulares e ficou esperando o convidado surgir.

Quando a chaminé engasgou e um montículo de fumaça surgiu, o Auror viu nascer o rosto de um homem velho pelos contornos do carvão. Algo rudimentar, parecido com aquele que seu falecido tio Sirius fizera para se comunicar com ele no quarto ano em Hogwarts.

— Sr. Potter? — olhinhos em brasa estudaram-no, curiosos.

Harry pigarreou.

—Boa tarde, Sr. Monvitedelle. Acho que já me conhece...

— Quem não conheceria! — a voz era simpática e forçava um inglês, do mesmo modo que Harry arriscava palavras em espanhol.

— Eu não quero tomar muito seu tempo. Apenas algumas perguntas rápidas.

— Fiquei muito curioso quando o Ministério disse que Harry Potter queria falar comigo. Ainda estou.

— Vamos logo ao caso então. — disse, sentindo-se confuso naquele dialeto quase bilíngue que ambos proferiam. — Não quer que eu chame um tradutor?

— Não, estou entendendo, rapaz. — forçou seu inglês.

— Qual seu grau de parentesco com Lexia Monvitedelle?

— Minha irmã.

— E o senhor tem contato com ela?

— Lexia sumiu há oito anos.

— Como foi isso?

— Ela era contratada de um time italiano. Jogava quadribol, uma magnífica apanhadora! A última vez que foi vista estava numa partida pelo time. Jogou o período da competição e então desapareceu como que no espaço. Ninguém nunca soube dizer do seu paradeiro.

— A Lexia tinha alguma briga com familiares? Algum motivo real para se afastar?

— Minha irmã era casada e tinha dois filhos, um deles com apenas três anos de idade.

— Oh... — Harry sentiu um arrepio agourento atrás da nuca. — E vocês foram fundo nas investigações? Chegaram a alguma pista?

Ele ficou mudo, ruminando acontecimentos passados.

— Teve uma coisa. Na verdade algumas.

— Sim?

— O Pietro, meu cunhado, ficou falando em tumbas.

— Humm... explique melhor, Sr. Monvitedelle.

A ânsia por respostas a tantos enigmas reverberava gritante dentro de Harry.

— Deixa eu ver se lembro. — ele fez caretas. — Ah, sim! Lexia estava estudando tumbas, um pouco antes de sumir. Tinha comprado um livro ou algo assim e ficava falando com ele sobre coisas de trouxa.

— Objetos? Costumes? Crenças?

— Acho que dessas coisas mesmo. Religião, não sei ao certo, desculpe rapaz.

— O seu cunhado está disponível para conversarmos?

— Sinto muito, filho! — ele suspirou, resignado. — Meu cunhado faleceu também. Faz um ano e meio.

— Meus pêsames.

— Obrigado, mas quem sofre mesmo são as crianças. Acidente terrível enquanto fazia uma simples viagem. Caiu no mar Adriático. Seu corpo jamais foi encontrado.

Eram muitas informações que poderiam servir de alguma coisa. Harry começou a anotá-las num pedaço de pergaminho, disfarçadamente.

— Mais uma pergunta, Sr. Monvitedelle, depois prometo te deixar em paz.

— Eu tenho bastante tempo. Não ligo de responder algumas perguntas velhas.

— Por um acaso conhecia, direta ou indiretamente o clube para o qual sua irmã trabalhava?

— Sim, com toda certeza. Eles eram muito prestativos, fizeram a carreira dela decolar. Lembro do próprio fundador do time comparecer em nossa singela casa em uma reunião modesta de família. Um homem carismático e bem organizado com as palavras, sabe, tinha talento para levar uma conversa. Eu fiquei surpreso porque ele era bem jovem.

Os mãos do auror suavam frio.

— Prossiga. Como era o nome dele?

— Battitori alguma coisa. O nome mesmo não saberia dizer. Ficamos falando “Sr. Battitori, Sr. Battitori”, durante toda aquela noite. Isso quando conseguíamos conversar com ele, porque Lexia e seu patrão não desgrudavam. Risadas de lá, assuntos de cá — o olhar dele ficou sonhador, lembrando-se do passado — Lembro-me do Pietro muito enciumado aquele dia. Ele me arrastou para o quintal e disse “O cara nos dá uma boa grana, mas não estou gostando nada dessa intimidade com Lexia. Ela nunca foi dada assim com ninguém, até parece que tá sobre um feitiço Imperius”.

— Sério?

— Era ciúmes do meu cunhado porque minha irmã normalmente era tímida e retraída. Como disse, o rapaz tinha jeito nas palavras, a conversa fluía com ele.

— Meu último pedido, senhor — com o coração batendo loucamente dentro do peito, Harry tirou uma fotografia das vestes e mostrou para a caricatura de carvão na lareira. — Conhece este homem?

— Por Merlin! É ele! Faz tanto tempo que não vejo esse rosto. E não mudou nada, nadinha!


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