Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 12
Parte 12




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A manhã começou nebulosa. Nuvens sombrias aglutinavam-se no céu, criando uma massa implacável sobre as cabeças dos habitantes terráqueos. A proporção assustadora que o clima vinha tomando ficava ainda mais tenebrosa pelos raios e trovões repentinos, estalando aos quatro ventos. Harry mirou o horizonte da janela do seu quarto, enquanto preparava-se para uma aparatação distante. A angustia dos seus sentimentos era equivalente a tempestade cruel que assolaria Londres e região àquele dia.

O auror espiou a cama arrumada caprichosamente por Gina, noites antes, e deixou uma lágrima escorrer. Passou a madrugada amarfanhado na poltrona do quarto, observando os vincos traçados com exatidão na colcha de casal, saboreando as recordações de que foram as mãos de sua esposa a tecer a caprichosa arrumação. Sinais dela por todos os cantos, inclusive o volátil aroma herbal de seus cabelos.

— Harry! — ouviu uma voz gritando lá embaixo.

Aturdido virou-se num sobressalto. Tamanha era sua imersão de pensamentos que nem percebeu que alguém aparatara em sua casa.

— Oi, Rony. — saudou o amigo, que também estava preparado. Este vestia as roupas de auror e tinha a varinha logo à vista.

— Eu não pensei em me vestir oficialmente. — foi dizendo Harry, terminando de descer as escadas.

— Preferi causar um impacto no suspeito. — justificou.

Harry aprovou a atitude do ruivo. Isso denotava confiança em suas suposições, mesmo ele nunca tendo visto a figura prepotente de Emmanuel Battitori. Já ele vestia uma capa cinzenta, austera, e tinha olheiras sinistras de poucos amigos. Fariam uma bela dupla diante do italiano.

— E como estão as coisas na Toca? —foi lançando encantos de detecção nos cômodos de baixo, como havia feito nos de cima.

— Piorando... como o tempo — Rony o seguia com os olhos. — Parece que a mamãe está começando a cair na real que o sumiço de Gina não foi de livre e espontânea vontade. Quando sai ela estava com o rosto vermelho e inchado, do modo que fica quando chora a noite inteira. Do modo como ficou quando... quando Fred faleceu. — engasgou um bocado na última sentença.

Harry girou a varinha pela última vez na sala, quando eles debandaram para a varanda da casa. Estava executando um feitiço muito eficiente que tinha a finalidade de avisá-lo instantaneamente com seu patrono, se, por acaso, alguém aparecesse na residência durante sua ausência. Poderia estar pressionando o dissimulado Emmanuel enquanto sua esposa estivesse adentrando ao lar, completamente ilesa e sem nenhum vínculo com aquela suspeita.

Rony caminhou junto dele para o gramado e se tocaram nos ombros para realizar a aparatação, afinal o ruivo não fazia ideia de onde ficava o castelo de Battitori.

***

A irritação começou a consumir as entranhas de Harry ao ver o amigo e cunhado, boquiaberto nas cercanias do Castelo Monte Sacro. O local conseguia ser mais exuberante de dia, com o sol refletindo pelo caminho de pedras até a entrada longínqua e inclinada, e contrastado pelo verde infinito da sua plantação de videiras. Ele sentiu-se humilhado ali — desde o momento em que teve de erguer a cabeça para ver a morada do italiano como algo diminuto.

A antipatia por Emmanuel tinha suas justificativas, a seu ver, mas o crescente desagrado que a ideia do homem lhe causava trouxe mais vazão sobre o paradeiro de Gina. Uma vez Minerva McGonagall, sua ex-professora, comentou muito brevemente sobre a sina dos sobreviventes de eventos terríveis. Fora num jantar beneficente em prol das famílias das vítimas de Hogwarts. Acontecera poucos meses após os dias trágicos, e a organização partiu do Ministro com apoio financeiro de diversos bruxos abastados pelo mundo todo. Em cada rosto existia a desolação perpetua, e os professores pareciam ainda mais afetados pela tristeza da ocasião.

Harry cruzara o salão para tomar o ar fresco da noite, depois da insuportável cena de ver os Weasley se esvaindo em lágrimas quando no nome de Fred foi citado entre os heróis abatidos em guerra, no palco de homenagens. Minerva já estava muito próxima, e ele achou grosseiro não fazer companhia para a velha senhora solitária. Conversaram muitas coisas no curto espaço de tempo em que estiveram sozinhos. Sobre Dumbledore, as vidas que não voltariam mais, o arco de vida do próprio Harry até o instante presente, e as sequelas dali em diante.

— Dumbledore possuía um radar interno para os acontecimentos ruins. Para as pessoas ruins também. — ela havia exposto ao rapaz, fitando um ponto no firmamento — Eu me lembro nitidamente do dia em que Voldemort veio até Hogwarts pedir o emprego de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. O dia começou muito bonito. Ensolarado e tépido. Recordo bem porque os professores não paravam de reclamar durante a semana inteira sobre o sol escaldante daquele verão. Mas, apaziguadoramente, aquela sexta em especifico traria bom humor até a um trasgo.

“Pois bem. Estava eu me servindo de broa de milho quando Dumbledore se juntou a mesa. Comentei sobre o tempo e ele, que costumava ser amistoso e observador em tudo, você lembra, não disse nada. Suas pálpebras tremiam um pouco e a boca de Alvo parecia muito seca. Só então, notando com mais atenção, vi ela formava um rasgo curvo de preocupação.

“Eu lhe perguntei o que estava acontecendo, e ele me disse sem preâmbulos, que a sexta feira seria um dia nebuloso.

“Não entendi nada de início. Associei ao céu em primeira estância, mas Alvo não poderia estar tão zangado e taciturno por conta de uma mudança brusca do tempo. Foi somente quando entrevi a figura macabra de Voldemort pelos jardins que entendi as palavras do diretor.

“Acreditei que alguém tivesse avisado a ele de sua chegada, mas imagine qual foi meu espanto ao ler nos jornais do dia seguinte sobre a ‘aparição surpreendente de Voldemort em Hogwarts’.

“Fiquei muitas semanas pensativa sobre como Dumbledore descobriu que Tom Riddle viria visita-lo naquela sexta. E numa outra ocasião, na mesma mesa, também num café da manhã ele me olhou através dos óculos meia-lua e com a voz suave de sempre: Cara Minerva, quando nossos espíritos veem muitas coisas terríveis ao longo de nossa existência, o véu dos sentidos se afrouxa de tal maneira que torna-se insuportável não prever dias ruins e pessoas de coração negro”. Ela deu um sorriso amoroso a Harry depois da pequena narrativa. Talvez você esteja fadado a enxergar através desse pano também, querido...

E Emmanuel Battitori o fazia ter mais e mais convicção disso.

— O que desejam? — um empregado aproximou-se desconfiado.

Visitas sem sobreaviso não faziam parte da rotina de Battitori.

— Estamos aqui para ver seu patrão. — informou Harry, ajeitando os óculos e aproximando-se do portão de metal.

— Seus nomes? — o empregado fitou-os muito seriamente.

— Harry Potter e Ronald Weasley.

O homem sumiu por de trás de uma guarita com tijolinhos, mas Harry o viu pelo arco da janela sem vidraças, executando movimentos com a varinha. Um jorro prateado saltou da pequena construção para as ameias distantes. Em menos de dois minutos, a reposta veio em forma de outro feixe prateado.

— Vocês não tem hora marcada? — perguntou ao voltar. A pergunta soou como uma afirmação irritada.

— Não temos. — foi a resposta dele, um tanto petulante.

— Porque ele está vestindo assim? — quis saber, apontando para Rony.

O ruivo tocou seu uniforme com orgulho e entrando na onda do cinismo do amigo, respondeu.

— Eu vim direto do trabalho. Temos um assunto muito urgente com seu patrão.

Houve alguns segundos de um duelo ferrenho de olhares entre o bruxo da guarita e os dois aurores, então ele cedeu abrindo um dos lados do ornado portão negro.

— A entrada dos dois foi autorizada. Sigam-me até as cocheiras.

Subiram em uma carruagem um tanto empoeirada e em desuso, e foram seguindo o caminho de encontro aos portões da construção de pedra. A beleza da vista para Roma capturou até mesmo a fascinação de Harry. Rony estava empoleirado na porta, deliciado com a paisagem pitoresca.

— Achei que os negócios desse italiano estivessem apenas no quadribol. — comentou o ruivo no balanço do veículo.

O clima entre os dois parecia completamente livre da tensão do dia anterior. Eram apenas os velhos amigos em uma investigação de suma importância.

— Ele dirá que isso são negócios da família.

— O que são todas essas árvores? Uvas?

— Fabricante e exportador de vinho, segundo minhas pesquisas superficiais.

— Pesquisas superficiais? E deu tempo? — Rony ficou surpreso.

— Eu não procurei por isso ontem. Dei uma lida sobre a vida desse cara, assim que Gina assinou o contrato.

Rony ruminou um pouco sobre a informação, então disse:

— Ele é herdeiro disso tudo?

— É o que constam os registros. Sem irmãos. Mãe morta quando criança, pai falecido recentemente. Embora não tenha encontrado nenhuma fonte do Sr.Battitori pai, apenas menção.

A carruagem parou abruptamente. O cocheiro, tão mal educado quanto o funcionário da guarita abriu a porta.

— Estão podando a trilha. Devem seguir o resto a pé. — prendeu um risinho malévolo no rosto.

Harry e Rony não se abalaram e saltaram do veículo com sorrisos estampados. Ainda agradeceram numa cerimônia cavalheiresca, para aumentar o escárnio do outro. Entretanto, quando viram o solo íngreme os esperando, desanimaram. Desejaram ter trazido suas vassouras como garantia.

Após meia hora e um filete de suor persistente no alto da testa (da qual não viram ninguém podando coisa alguma), os aurores chegaram à varanda arejada de pilastras imensas que antevia a porta do saguão. Tiveram de bater três vezes na aldrava de ferro e aguardar quase quinze minutos por algum servente.

— Ele está querendo nos provocar. — murmurou Harry observando a evidente impaciência do outro.

Uma mulher baixinha, com feições pouco suaves, recebeu-os. Mediu seus corpos de cima abaixo para depois convidá-los a adentrar. Eles seguiram pelo salão que muitas noites antes, Harry viu cercado de atletas, música de bom gosto e garçons esguios com canapés em bandejas de prata. Hoje tratava-se de um espaço vazio, apenas afrescado por algumas obras de artes atípicas e que produzia um eco retumbante em resposta aos passos dos três.

A terceira funcionária que eles tinham contato, e tão rude quanto os outros dois, parou diante de uma antessala repleta de sofás e poltronas.

— O Sr. Battitori pedi que aguardem nesta sala. Ele está ocupado, mas vai recebê-los assim quando possível for.

Virou os duros calcanhares para um corredor a esquerda e perdeu-se em alguma porta distante.

— Ele ter nos recebido denota sua inocência. — Rony argumentou indo para uma poltrona de couro.

Harry só conseguia andar de um lado para o outro, impaciente.

— Ou tentativa de inocência. — fez sua observação.

— Os empregados dele são mal humorados assim mesmo? Devo esperar algo igual do Sr. Battitori? — rodava a varinha entre os dedos.

— Rony, ele está nos testando, nos amaciando. Quando ver esse sujeito, quando olhar nos olhos dele, vai entender minhas desconfianças.

E três horas inteiras se passaram. Eles viram o sol tomar diversos ângulos pelos largos vitrais da antessala, sentindo a exaustão e a raiva infundi-los com igual intensidade. Estavam a ponto ultrapassar a barreira da “hospitalidade” e avançar pelo corredor misterioso, e foi nesse segundo que os saltos baixos da servente sisuda tintilaram pelo chão lustroso.

— Acompanhem-me. — ordenou sem nenhuma palavra de justificativa, como se eles estivessem aguardado por quinze minutos.

Um escritório colossal esperava-os a esquerda do corredor. Com um movimento delicado a mulher abriu uma pesada porta de madeira, que deveria ter pelo menos uns trinta centímetros de largura, e trouxe a tona um ambiente novo aos olhos dos aurores.

Era amplo e detinha muito mais do que quatro metros do chão ao teto. Arcos sem vidro delimitavam as janelas da parede leste e traziam o brilho do início da tarde. Lajotas de madeira formavam um desenho retangular curioso aos seus pés e iam culminar num olho de estilo egípcio ao centro do cômodo. Nas laterais, diversos bustos de animais mitológicos fitavam os visitantes com seus olhos frios de mármore. Três tapeçarias orientais vinham cercar uma escrivaninha de pinho, maciça e robusta. Quatro colunatas finas, altas, e repletas de arabescos em seu contorno, desciam num espiral na finalidade de sustentar a gélida abóboda de pedra.

Poltronas de um rico estofado, coberta por chalés de muitos fios, disponham-se diante da escrivaninha. Emmanuel estava acomodado atrás de seu glamouroso acento de espaldar modulado, oferecendo as poltronas aos dois.

— Senhores. — sorriu, numa insinuação de mostrar os brilhantes dentes.

Harry pensou com desespero, de início. Queria chegar lançando-lhe maldições, empunhando a varinha e exigindo o paradeiro da esposa. Então ponderou em questão de suspiros, imaginando que essa tática apenas o colocaria mais distante de seu objetivo. O homem de terno impecável, cabelos castanhos e olhos incrivelmente azuis diante dele, certamente estava na lista dos dez seres humanos mais perspicazes que já conhecera.

— Boa tarde. — a saudação saiu azeda.

Emmanuel contornou a mesa e aproximou-se. O auror pensou em pegar no cabo da varinha, mas as mãos dele estavam nuas.

— Sr. Potter! — ofereceu um cumprimento a Harry. Houve um aperto muito rápido. — Sr. Weasley! — demorou-se um pouco mais com Rony. — Você deve ser irmão da Ginevra, estou correto?

— Oh, sim. — Rony ficou evidentemente confuso. A simpatia de Emmanuel, nos gestos, no rosto, aquela primeira impressão, nada se assemelhava com o que ele esperava encontrar.

— Sabia! Não é muito difícil, eu sei. Vocês são parecidíssimos.

— Somos os caçulas. — Rony se viu dizendo, capturado pelo carisma do outro. Então olhou de soslaio para Harry e o viu encarando-o cheio de reprovação.

— Sentem-se! — Emmanuel voltou para seu lado da escrivaninha. — Desculpem fazê-los esperar tanto, mas eu estava com problemas administrativos em uma de minhas empresas e tive de resolver isso o quanto antes. Se tivessem marcado hora, tenho certeza de que isso não aconteceria. Sinto muito. — sua voz era totalmente transparente.

Harry afundou na poltrona mais próxima do italiano, segurando-se numa força apoteótica para não azarar Rony, que enchia de ressalvas amenas, o sujeito.

— Querem alguma coisa? Um hidromel? Uísque de fogo? Vinho? — ele balançou uma garrafa em cima da mesa e aprontou três copos.

— Não é necessário. — Harry foi frio.

— Obrigado. — Rony também recusou.

Mesmo assim, ele serviu a si mesmo, afrouxou um pouco o nó de sua gravata e espalhou-se sobre seu assento, parecendo muito à vontade.

— Ao que devo a honra da visita dos senhores?

— É algo que espero imensamente que possa ajudar.

— Tudo que tive ao meu alcance. — brandiu o copo com uísque no ar.

— Gina sumiu. — Rony falou primeiro.

Harry ficou atento às expressões que iriam surgir no rosto do italiano.

— Em que sentido? — escolheu palavras cautelosas.

— No único sentido que essa frase tem! — Harry soltou a primeira exclamação furiosa. Depois, estralou os dedos com força, e prosseguiu com menos ênfase, mas sem perder o tom enérgico. — Ela não aparece desde o último jogo, na outra noite. Não entrou na nossa casa, não foi para a casa dos pais, nem dos irmãos e não consigo falar com a outra única pessoa que talvez pudesse saber onde ela está.

— Que pessoa?

— Sua empresária.

Emmanuel pousou o copo de cristal no tampo da mesa e aproximou o corpo, entrelaçando os dedos. As sobrancelhas assumiram uma postura de preocupação, os olhos sem perder o cintilar aquém, o esquadrinhou num ensaio muito fidedigno, observou o auror.

— Nossa... Essa me pegou de surpresa!... Gina estava fabulosa no último jogo, marcou muitos pontos e recebeu uma ovação merecida. Quando o primeiro tempo terminou, cheguei ao vestiário e cumprimentei todos meus atletas com destaque para sua esposa — e virou numa educação impecável para Rony — e sua irmã, e vi ela muito empolgada e satisfeita em contar para a família sobre seu desempenho.

“Então me despedi de cada funcionário meu de modo geral, e tive que partir. Negócios me esperavam há alguns fusos-horário para o oriente, no Japão.”

Rony achou o relato dele muito convincente. O bruxo não piscava, nem arquejava sair de perto do penetrante olhar que seu cunhado vinha lhe digladiando.

— Estamos um pouco desesperados. — disse para quebrar o clima tenso.

— Eu imagino! Ela é minha atleta!

Harry mordeu o lábio, completamente chocado pela veemência nas palavras de Battitori em usar àquele pronome pessoal a plenos pulmões, para se referir a Gina. O ruivo ficou em conluio, e notou a primeira pontada de algo errado em Emmanuel, mas achou que pudesse estar contagiado nas implicâncias do outro.

— Quero dizer... — Emmanuel se recompôs na velocidade de um bater de asas — Meus funcionários são importantes para mim, pois eu considero todo o empregado parte da família. Me importo com eles do momento que assinam um contrato comigo até o fim da vida.

— Quanta experiência de vida eu vejo em você, Sr. Battitori, para um jovem que acabou de assumir os negócios do pai falecido. — Harry deliciou-se de prazer naquela espetada.

— Meu pai faleceu já faz alguns anos, caro Potter. — o bruxo rebateu sem sombra de gagueira — Imagine um império tão magnificente quanto o da minha família e multiplique isso pelo número de seres humanos, de todas as idades e raças e com quantas vezes por mês tenho de lidar com o aspecto humano de cada um. A vida, a morte, o nascimento... Não subestime minha idade, companheiro.

— Não subestimo. Jamais poderia fazer isso em meu ofício. — ergueu ligeiramente a mandíbula e achou interessante parecer mais à vontade no ninho do inimigo.

— Senhores... — Battitori tomou, elegantemente, um gole de seu uísque — Sei o quanto isso é embaraçoso, mas já pensaram que ela mesma possa estar dando um tempo e levou a amiga e empresária junto?

— E porque ela faria isso? — Harry adiantou-se para não ter de escutar Rony dizer qualquer coisa que pudesse colocar o bruxo em vantagem.

— Os problemas surgem nas melhores uniões matrimoniais. — no fundo de seus olhos qualquer coisa o fazia gargalhar pela nova posse da vantagem. — Sou um homem de negócios. Tenho de ser discreto para a sanidade das minhas relações pessoais e porque meu caráter não me permite levar adiante o que é me passado tão confidentemente. Eu soube da instabilidade entre Ginevra e...

Harry enrubesceu de escárnio. Cerrou os punhos e estatelou-os nos braços da poltrona. Ficou processando se Emmanuel estava mesmo insinuando o que parecia estar e lutou como um peixe sem o amparo da água, por ter certeza de algo irrefutável: a única pessoa que poderia lhe dar informações sobre a vida amorosa dos dois, era a própria Gina.

Não! Ele a conhecia bem demais para saber que ela jamais entregaria confidencias tão sérias a um desconhecido! Esforçou-se para acreditar. Precisa. Deveria.

— A vida particular de minha irmã não está em voga, Sr. Battitori. — foi a voz de Rony, erguida de modo inteiramente novo a Harry desde o início daquela conversa, que fez o outro auror sair do seu torpor de cólera, confusão e desconfiança. — Apenas para deixá-lo sucintamente informado, viemos de uma família sem máscaras ou subterfúgios. Fomos criados para bater de frente aos nossos obstáculos, não fugirmos deixando quem amamos mortos de preocupação.

As palavras carregadas de dignidade de Rony pareceram atordoar brevemente a orientação de soberba em Emmanuel. E sobre a falha de um a eficiência de outro se equilibrou, ao dar-se conta, horrorizado, o quão explicitamente o italiano tentava mergulhar no cérebro dele através da Legilimência. Rony chegou a recuar com o corpo, atônito por estar sendo levado nesse truque sem notar.

— Eu não quis ofendê-los. Nunca passaria pela minha cabeça tal afronta. — desviou o rosto o bruxo, percebendo sua técnica descoberta.

Massageou as têmporas, simulando fatiga e evitou contato visual com Rony pelos próximos segundos.

— Quero ajudar a encontrá-la. Se vieram aqui atrás de auxílio, pode ter certeza de que terão. — foi recuperando a pompa à medida que endireitava o dorso. — Vamos torcer pelo melhor.

— Não estamos aqui porque necessitamos de ajuda. Somos aurores, temos os meios, as técnicas e as capacitações, Battitori. — afirmou Harry, secamente. — Vim passivamente nesse primeiro momento para perguntar se ela pode não ter se perdido nesse seu imenso castelo.

— Oh-oh! Assim você mesmo coloca eu e Ginevra numa estranha situação, Potter. Jamais você haveria de encontrar uma moça, por mais linda que ela seja, casada, perdida pelos meus cômodos.

— Quer me ver ser mais claro nas minhas interpretações?! — gritou Harry, pondo-se de pé. Rony levantou de um salto e escorou o amigo com a mão em seu tórax.

— Vamos com calma. — piscou para o outro.

— Eu entendo a frustração dele, Sr. Weasley. Estaria em pé de igualdade se fosse comigo. Entretanto, entendam: não posso ficar sendo insultado na minha própria casa sem revidar. — argumento destilando gestualidades aristocráticas. Não havia se mexido um único músculo quando Harry levantou.

— Se tem esse apreço que diz ter por seus funcionários, creio que entenderá a grande necessidade de questões delicadas. — Rony contrapôs.

— Tentarei. — mirou-o em seus convidativos olhos. Estava tentando travar a legilimência novamente sobre ele. Desta vez Rony criou uma barreira sólida de concreto e exibiu a insinuação de um sorriso vitorioso.

— Queremos saber exatamente os seus passos depois que deixou os atletas no vestiário aquele dia. — recomeçou o ruivo, depois de controlar Harry em sua própria poltrona novamente.

Emmanuel refletiu descontraidamente.

— Estive lidando com gente internacional. Vocês terão de confirmar isso?

— Sem dúvidas.

— Então presumo um trabalho árduo por nada, quando na verdade deveriam estar à procura da Sra. Potter.

— Não cabe a você questionar os passos da investigação. — o ruivo encarou-o com frieza.

— Eu posso dar nomes de todas as pessoas, todos os horários e toneladas de testemunhas, até porque participei de uma festa quando cheguei ao oriente, do qual eu mesmo discursei. Entretanto, rapazes, não está faltando algo aí?

Rony e Harry esperaram ele prosseguir.

— Nossos ministérios são distintos. Nossos países também. Já pensaram na demora para conseguir os trâmites para me investigar? Entrevistar bruxos no Japão?

Eles não haviam pensado nisso. Entretanto Harry atalhou:

— Posso interpretar essa observação como uma negativa deliberada em tentar sondá-lo? Como um culpado mesmo, que tem algo a esconder?

— Tome como quiser. — Battitori matou o último gole de uísque de fogo. — Traga seus soldadinhos de insígnias inglesas agora mesmo. A partir desse instante me dei o resto do dia de folga, especialmente a tarefa de ajudá-los a tentar me incriminar. Não farei objeção nenhuma, mas estou um tanto atônito por suspeitarem de um empresário abastado, inclusive de mulheres, estar ocultando uma funcionária internacionalmente conhecida, em seu castelo para algum tipo de finalidade ilícita. A não ser, claro, que essa funcionária em questão fizesse gosto em participar.

— Desgr... — Harry preparou-se para atacar Emmanuel novamente. Rony o impediu por uma segunda vez.

— Se isso vazasse para imprensa seria desastroso. — ameaçou, pontuando num assovio.

— Acha que tenho medo da imprensa? — rosnou Harry nos braços do ruivo — Eu estou cuspindo na cara deles, seu monte de lixo!

— Paremos de tantos elogios e partamos para procura da bela Ginevra. — Emmanuel saiu da escrivaninha e passou pelos dois num andar superior. Parou diante da porta pesada de madeira, abriu-a e gritou o nome de sua empregada — Mande prepararem a mesa do buffet, a armada britânica está chegando! — debochou. — Pronto, rapazes! Podem chamar todo o reforço necessário e vascular o Castelo Monte Sacro. Quanto antes terminamos aqui, mais rápido saberemos que devemos procurar minha funcionário em lugares realmente fundados.


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