Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 11
Parte 11




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Hermione chegou em casa exausta. Adentrou no hall e ouviu falatório animado vindo da sala de estar, eram os pais. Assistiam a um programa de auditório do canal americano e estavam mais do que entretidos. A morena teve de dar um leve “oi” para que a enxergassem e lhe saudassem. Chamaram-na para sentar entre eles no sofá, como nos tempos em que ela tinha oito anos de idade e ficava exprimida entre os dois, pomposamente.

Às vezes batia uma saudade na velha Hermione Granger, da garotinha de cabelos desgrenhados e joelhos proeminentes. A vida adulta era agregada a tantas obrigações estressantes que nem todo o conhecimento do qual adorava obter era o necessário para contornar os deveres diários. O dia no Ministério, por exemplo, fora uma tormenta de aborrecimentos burocráticos. Se a humanidade, bruxa ou trouxa, se permitisse seguir as regras básicas de um convívio civilizado ela talvez não estaria tão fatigada aquela noite.

Hermione recusou o convite do Sr. e da Sra. Granger e pontuou a saudação de chegada com um beijo na testa de cada um. Passou na cozinha, tomou suco de laranja pausterizado de caixinha, e subiu para o segundo andar. A primeira coisa que fez quando fechou a porta do quarto foi jogar os sapatos estilo scarpin, longe, e sentar na beira da cama para então jogar-se de costas sobre o colchão.

Estava relaxando, esticando os dedinhos suavemente e deixando-os se movimentar depois de um dia inteiro, amassados e comprimidos, quando algo assustou-a. Olhou pela janela e viu um brilho prateado agitar-se lá fora. Era um gracioso cão terrier, latindo e abanando a cauda. O patrono de Rony. Haviam desistido de se comunicarem por celular depois que o rapaz quebrou o seu pela quinta vez, alegando não entender “a geringonça trouxa”. Ela correu para abrir a janela e teve a sua mensagem reproduzida na voz rouca e firme do noivo.

“Mione, precisamos de você na Toca. O assunto é grave”.

O tom urgente deixou-a alarmada. A bruxa trocou rapidamente a roupa de trabalho, optando por uma calça jeans e uma camiseta de mangas cumpridas. Desfez o coque e prendeu os cabelos num rabo de cavalo justo. Então pegou um tênis de caminhada e condenou os pés a mais algumas horas de casulo. Desceu relatando o ocorrido aos pais e partiu para a Toca.

Uma vez na residência dos Weasley foi logo entrando pela porta da cozinha. Seu alarme de notícias ruins apitou mais forte ao ver Percy, Gui e Rony sentados na mesa da cozinha. O que Percy fazia ali? Isso deixou-a estarrecida, imaginando que o cunhado tivesse tido, finalmente depois de semanas, uma conversa com o noivo sobre aquele dia na masmorra entre Hermione e David Sanders.

— Oi. — ela acenou ao entrar.

Rony levantou da cadeira e deu um selinho rápido em seus lábios. Ficavam um tanto tímidos em demonstrações carinhosas quando perto dos outros Weasley, mas ainda assim o ruivo não deixava de tocá-la de alguma forma. Isso acalmou Hermione, em partes. Ele não iria beijá-la e Gui não estaria presente se o assunto fosse outro.

— Desculpe mandar um patrono daqueles, é que o assunto pede você, Mione. — justificou-se.

— Tudo bem. — a morena olhou para os cunhados, confusa. Não conseguia entender o que estaria acontecendo.

Eles a cumprimentaram, seus rostos fatigados. Cada qual com uma caneca fumegante de chocolate quente.

— Ron, o que está havendo? Não te vi hoje no refeitório do Ministério...

— Aconteceu uma coisa. Venha comigo. —pegou-a pela mão. Foram até a sala.

De pé, perto das escadas Jorge a saudou. Próximo à janela, o Sr.Weasley deu um leve aceno enquanto olhava para o terreiro a cada instante. Sentados no sofá maior estavam a Sra. Weasley conversando num tom carinhoso com Harry, cabisbaixo e pálido.

— Ron, o que tá havendo? — ela cochichou.

— Faz um dia que Gina não aparece. — comentou franzindo o cenho.

Hermione passou pelo noivo e foi para junto do amigo. Assim que a Sra. Weasley a viu, beijou-a com ternura. Harry ergueu a cabeça, olhando desorientado para a morena. Tinha os cabelos bagunçados e olheiras densas emoldurando seu cansaço.

— Será que você vai conseguir desvendar esse enigma para nós, Mione? — falou com tristeza.

Hermione reparou que Molly não parecia tão abatida quanto o amigo. Na verdade ela também o consolava.

— Ei, o que houve, afinal? — Hermione agachou diante de Harry e pegou em suas mãos. Frias.

— Ela sumiu. Estou com um mau pressentimento esmagando meu peito cada vez mais. — ele respondeu melancólico.

— Eu disse a ele que há de ser apenas um tempo que ela precisou. Talvez tenha ido passar um dia na casa de alguma nova amiga de time, na Itália. Não foi esse tipo de criação que dei para minha menina, sair sem avisar e deixar todos preocupados, mas enfim... — argumentou a Sra. Weasley, incerta.

Ele colocou as mãos no rosto e coçou os olhos com força. Estava claro para ele que essa não era a verdade que queria acreditar.

— Calma, querido... Calma... Mel já deve ter recebido o nosso patrono. Logo, logo estará aqui e nos esclarecerá as coisas.

Rony tocou as costas de Hermione para lhe chamar atenção. Ela ergueu a cabeça e viu-o fazendo um sinal para segui-la. A morena levantou, apertou o ombro de Harry com carinho e acompanhou o ruivo até o lado de fora da casa, embaixo de um arvoredo longe o suficiente das janelas da Toca, para que não fossem escutados. Era noite já, e um ventinho gelado visitava as planícies do vilarejo de Ottery St. Catchpole. Amontoaram-se juntinhos enquanto conversavam.

— Deixa eu ver se entendi: a Gina não vem para casa já faz um dia. Harry acredita que ela está com problemas e sua mãe aposta que eles brigaram feio e sua irmã deu um tempo em outro país. É isso?

— Basicamente. Faz horas que ela tenta tirar uma “confissão” do Harry se eles brigaram ou não nos dias anteriores, e ele continua teimando o contrário. Mas tenho a impressão de que a mamãe está acreditando nisso apenas para se acalmar. Nunca seria do feitio da minha irmã tal coisa. Sem avisar a nós, deixando todos mobilizados de preocupação. A versão dele confere até certo ponto, porque chegou em casa de manhã depois de uma missão em conjunto da qual em também participei e não encontrou-a em nenhum dos cômodos. As camas estavam arrumadas, as correspondências do dia anterior ainda na soleira da porta.

— Ron, o que você acha? — perguntou, inquieta com as possibilidades.

— Eu realmente não sei. — o rapaz fitou o vazio, perdido.

Um grupo de gnomos esbravejando impropérios passou a poucos centímetros de seus pés, desbravando a grama molhada pelo orvalho da noite.

— Você não confia nos sentidos de Harry? Ele já teve diversas experiências quanto à chegada de coisas ruins e me parece realmente certo de que algo sério está acontecendo. — observou ela.

Rony coçou a cabeça, nervosamente. Estava dividido entre o que seu coração pregava e seus olhos andavam vendo.

— Na madrugada de hoje estávamos naquela missão dos testrálios, sabe?

— Sim. Estou por dentro. Estavam todos falando nisso hoje de dia. Tive, inclusive, de ir resgatar informações com seus colegas, porque você não aparecia. Não dava um parecer. — crispou os lábios, mas os desfez em segundos — Agora eu vejo que a falta de notícias foi justificada.

O ruivo tocou-lhe a face com amor, enchia o peito de orgulho vê-la se importando por notícias suas.

— Continue, Ron. Vamos manter o foco aqui. Fale sobre a missão.

— Harry mostrou-se desligado e incompetente na missão. Quebrou o plano do Chefe-Auror, quase comprometeu a vida de alguns colegas e... — lembrar-se do amigo perto de uma maldição mortal o fez simular mentalmente uma triste cena da qual ele nunca queria ver — e quase acabou morto.

— Hã? E você vem me dizer isso agora? — ela elevou a voz, chocada.

— Se eu não estivesse lá para salvá-lo... Enfim, Harry não anda muito certo das ideias.

— Como assim? Como ele quase morreu? — Hermione ainda estava pasma.

Rony teve de explicar-lhe minuciosamente sobre a missão e o desfecho da madrugada passada. Quando terminou o silêncio fúnebre abateu sobre o casal. Cada qual pensando em suas vidas sem a presença do grande amigo. Hermione fez mais, virou-se para o noivo e cutucou com força em seu peito.

— E agora? Você vai ou não parar de ignorar ele? — encurralou-o.

O rapaz deu de ombros, sem ação. Há tempos ela vinha lhe circundando quanto a fazer as pazes com o velho amigo.

— Essas pendências se resolviam como mágica quando éramos crianças. — confessou num suspiro. — Sem pedir desculpas voltávamos a nos falar e dali uma semana éramos capazes de nem lembrar o motivo estúpido da briga.

— O motivo ainda continua sendo estúpido.

— Às vezes parece que ele gosta mesmo, é de ser independente. — argumentou.

Hermione bufou e balançou a cabeça negativamente. Como podia ter escolhido duas cabeças duras como aqueles para fazer parte de sua vida? E pior, como viver sem eles unidos?

— Harry veio falar comigo dia desses. Queria uma aproximação, mas não sabia como. — a morena revelou.

Rony ergueu o rosto com um brilho de cumplicidade querendo nos olhos.

— Um problema de cada vez, Mione. Agora estou realmente preocupado com minha irmã.

— Claro. Você acredita nos sentidos de Harry, eu sei disso.

Ele não confirmou, e também não disse que não.

— Eu acho que o Harry tentará fazer alguma besteira. Ainda mais com minha mãe azucrinando no ouvido dele.

— E a empresária dela, ainda não disse nada?

— Estamos todos de plantão aqui desde o início da tarde. Até chegou uma coruja para Harry, do Ministério, ao qual ele ignorou e sequer abriu. Ficamos pensando em lugares em Londres onde Gina poderia estar. Até na casa da Luna eu fui. Nada. Então mandamos um patrono para Melissa e o sol ainda estava no meio do céu quando isso aconteceu.

— Que esquisito. — ela franziu a testa, pensativa.

— Demais.

— Vocês contataram alguém do time?

— Um representante da delegação respondeu dizendo que todos os jogadores haviam sido dispensados depois do jogo de ontem. Não ficou ninguém dentro do campo oficial deles.

A falta de informação deixava as certezas de Harry cada vez maiores.

— Você tem razão. Harry não vai demorar muito mais para começar a se mexer. — concluiu — Ron, queria que estivesse junto dele quando isso acontecesse.

Olhou-o de um jeito chantagista, acolhendo as mãos em seu peito.

— Qual sua sugestão, Mione? — sondou tentando adivinhar as ideias que se passavam nela.

— Vou dar um jeito de livrar ele das asas protetoras da sua mãe e chamá-lo aqui. — sorriu.

— Quando vai parar de tramar planos pra cima de mim e do Harry? — se fez de inocente. Seu gesto leve era um consentimento.

— Ei, comportem-se! — Hermione exclamou dando um beijo doce em sua bochecha sardenta.

Rony continuou debaixo das árvores esperando pela “missão” de Hermione. Recordações da irmã caçula começaram a bagunçar suas ideias. Da vez que sumira dentro de Hogwarts, mesmo sob a tutela do maior bruxo do mundo naquela época. Deixou todos alarmados. Os pais e os irmãos viajaram para o castelo, a família chorando inconsolavelmente na sala do diretor Dumbledore. Naquela ocasião, fora seu amigo que braviamente salvou-a de terrível desfecho pelas intenções escusas de Voldemort.

Hoje em dia não havia mais o Lord das Trevas, mas o que havia então?

— Ei...

Não notou Harry aproximando-se, retraído.

— Como estão as coisas lá dentro? — Rony puxou assunto.

O amigo enfiou as mãos nos bolsos e balançou-se. Curioso o quão embaraçoso era aos companheiros de sempre iniciarem uma conversa.

— Preciso encontrar Gina antes que a Sra. Weasley caia na real sobre o sumiço dela.

— Também acho que minha irmã não está sumida por conta de uma crise conjugal. Não tenho nada haver com o relacionamento de vocês, mas conheço Gina muito bem.

— Igualmente. — Harry concordou. A tensão no tom de voz e nos gestos era palpável.

— Quero ajudar. — Rony encontrou coragem para oferecer-se.

— Ajudar? O que tem em mente? — algumas rugas de pessimismo abandonaram o rosto do rapaz.

— Harry, eu sei que você tem suas desconfianças e algo em mente para fazer com elas. Quero que compartilhe comigo. Eu tenho esse direito, e afinal de contas aquele incidente na nossa missão provou que você anda precisando de um parceiro. — desembuchou rapidamente — Então, o que me diz?

— Tenho uma pista quase certa. — aproximou-se do ruivo. Ficaram emparelhados, observando a Toca ao longe — Emmanuel Battitori.


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