Série Auror - Segunda Temporada escrita por Van Vet


Capítulo 1
Parte 01


Notas iniciais do capítulo

UM AVISO É MUITO IMPORTANTE ANTES DE COMEÇAR:
Este é o segundo episódio da Série Auror. Se você não leu o primeiro, aí vai o link, porque, embora os episódios não sejam continuação, alguns fatos e comportamentos das personagens vêm do primeiro episódio.

http://fanfiction.com.br/historia/459691/Serie_Auror_-_Episodio_1/

Espero que gostem, e, de coração, que comentem!!!

Grande Abraço,
Van Vet



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Roma, 1908

Ottavio era o segundo filho homem da família Pellinazzari. Era um rapaz astuto, de olhos confiantes e sorriso persuasivo, como todo Pellinazzari tinha de ser. Depois que seu pai se foi, sobrou a seu irmão mais velho, Marco, a responsabilidade de manter os negócios da família, da produção de azeite, no patamar. Mas, por fatalidade do destino, o primogênito deixou este mundo antes de assumir tal responsabilidade.

Aquele dia foi um dia triste, ele se lembrava. Foi o dia que sua mãe Guiliana, nunca mais se erguera da cama. Alguns diziam que a família Pellinazzari iria ruir sem um líder, suas oliveiras se tomariam por pragas em meses e todo o fornecimento de Roma ficaria prejudicado. Os comerciantes mais pessimistas começaram a contatar outros produtores um dia depois de estarem na missa em memória de Marco.

Então, para a surpresa de todos, Ottavio, o filho mais novo, o garoto de sorriso fácil, virou homem. E aos dezesseis anos a família Pellinazzari conheceu um novo líder, não mais um. Simplesmente o melhor.

Os negócios triplicaram. Ottavio mostrou-se um gestor nato, pechinchando com os fornecedores, se impondo a preços mais justos como distribuidor e ganhando clientes a cada dia, até mesmo fora do país.

Agora, aos vinte e seis anos, seu nome sobrepujava o de seu pai e seu irmão, e os Pellinazzari não eram mais um sobrenome italiano de tradição, mas uma marca poderosa em toda Europa.

Entretanto, por mais que ele tivesse sucesso financeiro e prestígio social, no casarão de pedra que dividia com sua acamada mãe, Ottavio não passava do segundo filho de Guiliana.

― Mama! ― exclamou Ottavio entrando no aposento de sua mãe, com uma bandeja nas mãos.

Guiliana desgrudou os olhos da janela e sorriu fracamente para seu caçula.

― Come stai, figlio?

― Bene, trouxe o jantar. ― disse Ottavio, indo sentar-se ao lado dela na cama.

― Non ho fome. ―resmungou ela.

— Che cosa? Ho mandato Anita per preparare il vostro piatto preferito. Minestrone. —insistiu, com um sorriso no rosto.

— Pertanto, io rischio algumas colheradas. — disse a velha moribunda, tentando agradar seu rebento.

Ottavio ajeitou a mãe sobre os travesseiros, endireitando seu tronco verticalmente. Há muitos anos ela fora bela e farta. Porém, hoje não passava de um amontoado de ossos e pele enrugada macilenta. Mas ainda mantinha aquele olhar penetrante que parecia despir todos os segredos da alma dele.

Guiliana agarrou a colher de madeira e tremulamente afundou-a no prato, apoiado na bandeja, sob seu colo. E no silêncio momentâneo ela pôde pressentir que nem mesmo o rio Tibre lá fora, estava tão revolto quanto os pensamentos de seu jovem Ottavio.

― E l'incontro con Juanita, com foi? ― perguntou a mãe.

Ottavio sorriu outra vez, mesmo sem nenhuma vontade.

― Non ho preciso di una esposa. ― respondeu, fitando o rio através da janela.

Novamente o pesar se abateu sobre a velha mulher. O destino e, indubitavelmente, ela, havia imposto que ele crescesse rápido demais. E, enquanto Ottavio lutava com leões no mundo dos negócios, ela se lamentava e debulhava-se sobre as fatalidades da vida, no sossegado daquela enseada.

― Figlio, non importa se tutto o che nos restar for questa casa. — sorriu para o filho — Quero che tu sia felice, non que viva apenas por nostro sobrenome.

Guiliana pousou a colher sobre a bandeja, já sem fome.

― Mama... ― murmurou o filho, mirando-a com intensidade.

― Si?

― Quando terei il possesso del poder? —perguntou ansiosamente.

A velha italiana sempre desconversa quando Ottavio entrava neste assunto. Porém, nos últimos meses, não pôde deixar de notar o quanto ele havia se tornado insistente.

— Te já detto! Questa non è un'opzione. —alertou-o firmemente.

— Mas solo assim serei felice, mi serei completo! ―insistiu em súplicas.

― Questa non è una questione di felicità, mas di responsabilità. — retorquiu Guiliana.

Aquelas palavras foram bofetadas invisíveis no rosto do jovem Pellinazzari. Ele devotara toda sua responsabilidade naquela família e era esse o reconhecimento que sua mãe tinha?

—Responsabilità? Marco non ha tinha mais de 24 anni quando morreu, e a signora iria cedere il poder a ele!

— Marco era diverso. — argumentou, cheia de lágrimas nos olhos ao lembrar-se do seu primogênito — Era...

—Il suo preferito. Era il suo preferito! —completou Ottavio erguendo-se da cama aos berros.

—Non... — arfou Guiliana de repente sentindo dores terríveis no peito. — Per favore, figlio. Estou mal...

—Vai a pedir ajuda a suo figlio, Marco. Ah, esqueci-me, è morto. — disse, numa gargalhada de escárnio.

A aflição de Guiliana tornou-se desespero, e ao fitar Ottavio tudo em sua tez confirmava sua aura atroz. Era deste lado no filho que ela sempre tentava não pensar.

— Conte agora — exigiu segurando o corpo velho da mãe pelos ombros ossudos. A bandeja com a sopa espatifou-se no chão — Come faccio ad entrare na catacumba para pegar o che è legittimamente mio?

— Ottavio, está incontrollato! —disse ela aterrorizada.

— Como entro??? — urrou, apertando-a com ódio.

— Non entra. Non enquanto mi nom ala morte. Ele está protetto com una feitiço di vita.

— Così si seja... —sentenciou.

E como uma cobra traiçoeira Ottavio envolveu as mãos no pescoço enrugado da mãe e apertou, apertou, e apertou mais. Apertou até sentir a traqueia vulnerável e colabada lutar por um pouco de ar.

Guiliana se debateu e se debateu. Sentiu seus pulmões arderem, clamarem por vida, e seus olhos lagrimejaram de horror diante de sua falta de força para combater pela vida.

Os últimos segundos dela foram os piores. Seus instintos sempre lhe disseram que este dia chegaria, que seu agressor seria ninguém menos que sangue do seu sangue, mas como toda mãe Guiliana ainda tinha esperanças.

— il poder... mi... pertence... — murmurou Ottavio, dando as últimas estocadas raivosas contra a garganta de sua mãe já morta.

***

Uma pequena luz surgiu nos corredores úmidos das catacumbas de Úmbria. Há milhares de séculos, aquelas galerias subterrâneas haviam sido ricas em archotes e vida. Fora num tempo em que os povos pagãos expulsaram os cristãos da cidade, jurando de morte quem viesse pregar as palavras bíblicas nas aldeias. Os cristãos, minoria até então, construíram sua própria morada abaixo do solo, na periferia das cidades – as catacumbas.

Quando o cristianismo realmente englobou a Europa, os fiéis abandonaram as catacumbas, mas não lhe deixaram sem função. Aquelas galerias subterrâneas permaneceriam como um símbolo de fé indubitável dos antigos e todo fiel teria direito a resguardar seu corpo ali, depois da passagem espiritual. Em outras palavras, as catacumbas tornaram-se silenciosas e tomadas pela total escuridão, onde pilhas intermináveis de ossos descansavam.

Mas naquele dia, a catacumba de Úmbria viu uma luz e sentiu uma vida pulsante andar pelas suas galerias, furtivamente. Era um homem jovem com um archote na mão, iluminando e contando os túneis, compenetrado numa missão.

Ottavio acabara de assassinar sua mãe, portanto não havia tempo a perder. Ele esperou quase duas décadas por tal momento e quando enfim ele chegasse, quando enfim ele encontrasse o poder, a razão que o levou a matar sua mãe, seu irmão e seu pai, se justificaria, e nada, absolutamente nada, o deteria.

O jovem Pellinazzari sorriu para a escuridão de modo verdadeiro e persuasivo... O momento agora estava muito próximo...


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