O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 99
Ruína da Folha - parte 9


Notas iniciais do capítulo

Hello there!

Eu esperava ter postado antes do fim de semana, mas tudo foi tão corrido e eu tinha uma viagem para fazer que acabou que não pude terminar o capítulo antes do sábado. E como não levei meu notebook comigo, só pude voltar a escrever quando voltei de viagem.

Boa leitura para todos o/ Nos vemos nas notas finais :3



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Apesar de gerações distintas, era como se algo diferente corresse nas veias de Sasuke. Encarar Dairama Senju era complicado e, ao mesmo tempo, excitante. Por alguma razão, Sasuke se via impulsionado a lutar não só por obrigação, não só para combater os Yuurei ou proteger o mundo ninja — aquela luta, especificamente, causava-lhe certo prazer. Fosse a rivalidade histórica entre os clãs, fosse o perigo iminente daquela luta, fosse o desafio proposto pelo Yuurei, fossem as probabilidades de uma possível derrota; Sasuke Uchiha era indiferente quanto aos motivos que o faziam se sentir daquele jeito. Só sabia que, mais do que antes, queria vencer. Emocionava-se com aquele combate, muito embora mantivesse a postura serena.

“Então é assim que você se sente quando luta, Naruto?”

Dairama continuava o mesmo — parado, aguardando o que quer que viesse de seu adversário. Sasuke, definitivamente, sabia que aquele não era um confronto entre velocistas, como foi a luta contra Ryuumaru; aquela era uma briga de força bruta e Sasuke Uchiha também era muito bom nesse atributo. Tudo o que precisava descobrir era como funcionava a técnica do Yuurei.

“Depois disso”, pensava Sasuke, “você estará acabado.”

O olhar do Yuurei o desafiava, incitando-o a atacar. Sasuke estreitou os olhos e respirou devagar.

Desapareceu no segundo seguinte.

O Yuurei estalou os dedos e, em seguida, cravou as mãos contra os dois tentáculos de madeira que surgiram à sua esquerda e direita, ficando com os braços estendidos e acoplados às ramificações. Um feixe de luz negra riscava o chão em um espaço de dez metros ao seu redor, girando e girando.

— Entendo. — O Yuurei sorriu de satisfação. — Está ganhando velocidade para dar um golpe direto. Isso será inútil, Sasuke Uchiha, e você verá.

Realmente, Sasuke havia adotado sua estratégia baseando-se no conceito da Física de que quanto maior a velocidade, maior a intensidade. Usando o Shunshin no Jutsu, Sasuke se movia o mais rápido possível ao redor do inimigo, colocando-se em uma distância segura — nem perto demais para não ser surpreendido, nem longe demais para não perder a eficácia máxima do golpe. Estava tão veloz que, agora, a luz negra era um anel cintilante ao redor do Yuurei. Sasuke ainda ameaçava atacar a qualquer momento, de modo que Dairama não poderia presumir o tempo exato de erguer sua defesa.

Afundou ainda mais as mãos nos troncos de árvore, revirando-os olhos.

— O que está esperando? Venha lo-

O ataque o atingiu em cheio. Usando toda a energia cinética acumulada, junto com a eletricidade no aço de Kusanagi, Sasuke desferiu um poderosíssimo ataque contra a cabeça do Yuurei. Um relâmpago negro foi produzido quando Sasuke atacou, rasgando o chão em mais de trinta metros atrás de onde Dairama se posicionava. Depois, o ruído do trovão rimbombou no ar.

Meio zonzo por correr em círculos, Sasuke ergueu a cabeça para acompanhar o resultado do golpe. Segurava firme a katana com as duas mãos. Estava suado e recuperando fôlego.

— Belo golpe.

Um arrepio correu pela espinha de Sasuke. Quando sua visão ficou clara, Sasuke viu o fio da Katana parado no rosto do Yuurei. O metal sequer lhe havia arranhado a carne. Era como se Sasuke tivesse apenas encostado a parte afiada na testa de Dairama Senju.

“Impossível! Como ele-?”

O Yuurei contra-atacou, segurando firme o corpo da espada, travando-a com a mão esquerda. Com a direita, projetava um soco. Os reflexos de Sasuke agiram rapidamente, e este soltou a Katana e saltou para trás um segundo antes de que o Yuurei lhe acertasse bem no rosto. O soco de Dairama zuniu no ar e atingiu o chão, afundando-o na hora com o impacto. Já em uma distância segura, Sasuke suspirou. Se aquele golpe o tivesse atingido...

“Ele tem a força da Quinta Hokage... Será que ele também usa Byakugou?”

Mas Sasuke não conseguia parar para raciocinar. Assim que viu seu alvo escapar, Dairama juntou as mãos no Selo do Javali e gritou:

— Mokuton: Jukai Koutan (Elemento Madeira: Emersão da floresta profunda)!

O solo vomitou um mar de árvores monstruosas. Sasuke saltou para trás e, antes que pudesse reagir, viu surgir por detrás dele uma bocarra de uma planta carnívora. Ainda estava no ar, no meio do movimento, quando ela o surpreendeu pela retaguarda, devorando-o na hora.

— As enzimas irão corroê-lo até os ossos, Sasuke Uchiha — disse Dairama consigo mesmo. — Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei.

Porém a planta carnívora explodiu no mesmo instante que o Susanoo de Sasuke se erguia de dentro dela. Com dois antebraços esquerdos e um direito, um semblante demoníaco e uma armadura de chakra roxo, o humanoide trazia ainda um arco feito também de chakra roxo acoplado em um dos braços esquerdos. Na outra mão esquerda, uma espécie de chama de chakra roxo do tamanho de uma pessoa adulta; na mão direita, o Susanoo empunhava uma flecha.

A floresta viva de Dairama continuava avançando como uma onda gigante. Sasuke fechou o olho esquerdo, focalizando chakra. Segundos depois, o sangue começava a lhe escorrer pelo rosto.

As árvores estavam cada vez mais próximas, desfigurando todo o ambiente por onde passavam. A onda de madeira já fazia sombra ao Susanoo de Sasuke, que ainda esperava. O sangue em seu olho continuava escorrendo, marcando-o na bochecha.

Sasuke ainda esperou, e quando o mar de árvores estava a ponto de colidir com seu Susanoo, o Uchiha abriu o olho esquerdo.

— Amaterasu! — gritou.

De uma vez só, o fogo irrompeu como um inferno de fogo negro. À medida que Sasuke movia os olhos, todo o jutsu de Dairama era devorado por uma cortina de chamas escuras até que diante de Sasuke só restasse mais nada além de um incêndio furioso. Toda a madeira foi consumida, enquanto o Amaterasu continuava ardendo, queimando tudo em seu caminho.

Sasuke sabia muito bem que Dairama estava atrás das chamas.

— Enton: Kagutsuchi (Elemento Chama: Deus do fogo).

Com o olho direito, Sasuke deu forma ao fogo do Amaterasu, fazendo as chamas avançarem contra Dairama. O inferno de fogo negro se dispersou instantaneamente contra o Yuurei, como uma nuvem escura, envolvendo-o. Sasuke ainda fez o Amaterasu crescer e girar como um grande e barulhento redemoinho de fogo. Dairama havia conseguido evitar danos do Amaterasu pela primeira vez, mas agora estava coberto pelas chamas negras.

Sasuke esperou e observou, estreitando os olhos quando viu o Yuurei sair ileso do fogo do Amaterasu, que ainda queimava furiosamente atrás dele. Porém, um detalhe curioso não passou despercebido pelo Uchiha.

— Ele parece... menor?

O homem que surgira de dentro das chamas era um Dairama que, aos olhos de Sasuke, parecia menos musculoso e ligeiramente mais magro. O Yuurei também sustentava uma expressão facial até então não vista por Sasuke — era ansiedade. Mesmo a distância, Sasuke podia afirmar: algo tinha feito o Yuurei se inquietar e, sabia o Uchiha, tinha sido algo muito maior que o fato de ser surpreendido.

— Muito bem. — Sasuke fixou os olhos no inimigo. — E que tal isto?

A chama no braço esquerdo do Susanoo crepitou violenta, convertendo-se em chamas negras do Amaterasu. A flecha do Susanoo também passou a ser feita com fogo e não mais com chakra. O Susanoo armou a flecha e apontou para o alvo. Do outro lado, Dairama Senju, prontamente, uniu as mãos no selo do Javali, erguendo troncos de árvore ao seu redor. A reação do Yuurei, por mínima que fosse, animou Sasuke.

O Susanoo disparou a flecha, e enquanto esta ainda viajava no ar, Sasuke bradou:

— Enton: Kagutsuchi!

O fogo negro que ardia bem atrás de Dairama Senju se levantou do nada, atingindo-o no mesmo instante que a flecha do Susanoo chegou, causando-o uma explosão de chamas escuras. Sasuke conjurou outra vez o poder de seu Fuumetsu Mangekyou Sharingan, fazendo as chamas se dispersarem ao redor da área de combate e clareando a visão de onde Dairama estava. O fogo negro fazia, agora, um cercamento num raio de cem metros ao redor do ninja da Folha e o Yuurei.

Os olhos de Sasuke se estreitaram, analisando o que via. Dairama arfava e estava definitivamente mais magro do que antes. Seus músculos que, outrora eram bem trabalhados, agora mal se definiam no corpo do Senju; a barriga, antes protuberante, agora mostrava modelava as costelas por dentro da pele.

O Susanoo de Sasuke desapareceu na hora, e Sasuke surgiu bem atrás do Yuurei. Dairama mal olhou para trás e recebeu um chute nas costas que o catapultou para cima. Convicto de ter tomado a decisão certa ao resolver atacar, o Jounin sorriu satisfeito quando atingiu o adversário. A carne de Dairama parecia bem menos rígida do que antes e o corpo dele, mais leve. Como a técnica de invulnerabilidade do Senju funcionava, Sasuke Uchiha sentia que estava muito próximo de descobrir.

O Yuurei foi suspenso a mais de dez metros no ar. Sasuke surgiu bem embaixo dele, seu corpo pareando o do inimigo, ensombrando-o.

— O que é isso?

— Chama-se Sombra da folha dançante — respondeu Sasuke. — Parece que você nunca viu esse Taijutsu na sua época.

— Não faz diferença! — E estacas projetaram-se para fora das costas de Dairama, mas Sasuke já não estava por baixo do Yuurei. O Uchiha surgiu acima dele, o corpo encolhido, a Chidori formada na mão esquerda, em gesto de disparo.

— Chidori Senbon!

Com um movimento de braço, a Chidori de Sasuke se transfigurou em centenas de agulhas de eletricidade, as quais foram disparadas quase à queima-roupa. Sasuke sabia que não havia como desviar de um ataque tão rápido e tão próximo e, satisfeito, viu o Yuurei ser perfurado por toda a frente do corpo, o que o fez grunhir de dor. Prontamente, Sasuke usou as tarjas que carregava nos punhos, invocando duas Fuuma Shuriken e lançando-as na hora. Sucesso. O metal perfurou as coxas do Yuurei antes que ele despencasse no chão. Sasuke girou no ar e aterrissou em segurança.

Dairama puxou as duas Shuriken cravadas em seu corpo e as lançou longe, pondo-se em pé logo em seguida. Ele agora estava com uma expressão clara de ódio, o que, para Sasuke, era um bom sinal.

Foi quando a pele de Dairama escureceu e seu corpo se transformou em madeira antes de espatifar.

— Um clone? Quando ele-

O Yuurei emergiu debaixo dos pés do Uchiha com um soco armado. Os reflexos de Sasuke o fizeram conjurar o chakra roxo do Susanoo uma fração de segundo antes de ser golpeado, aliviando o impacto. Contudo, Sasuke foi arremessado para trás. Aquele contra-ataque imediato quase o pegou desprevenido. A aura do Susanoo foi rompida e Sasuke foi atingido bem no rosto. Não fosse sua defesa agindo a tempo para aliviar o impacto, não estaria de pé.

Mesmo com a visão meio turva, Sasuke notou que as coxas de Dairama ainda sangravam, embora as feridas estivessem em um estágio mais avançado de regeneração. Mas não era sangue que saía delas.

“Aquilo é seiva?”, e Sasuke analisou rapidamente o inimigo com o Sharingan. O chakra de Dairama havia oscilado bastante dentro dele. Após tê-lo atingido com o Enton Kagutsuchi pela primeira vez, Sasuke viu que o fluxo de chakra do Yuurei havia diminuído e associou isso imediatamente com o fato de o Yuurei aparentar estar mais fraco; na segunda vez, o fluxo de chakra oscilou mais, confirmando para Sasuke que o emagrecimento de Dairama Senju estava diretamente associado com seu chakra. Quando o atingiu com o Chidori Senbon, Sasuke mirou precisamente nos Tenketsus de Dairama, para que ele não pudesse moldar chakra, e, por fim, quando conseguiu golpeá-lo com as Fuuma Shuriken, Sasuke viu que a invulnerabilidade do Yuurei, naquele momento, havia sido rompida.

Porém, quando Dairama atingiu o solo, ele não só foi capaz de remover as Fuuma Shuriken como também se levantou, trocou de lugar (e Sasuke já havia concluído que não se tratava de um clone de madeira, mas alguma espécie de Jutsu de Substituição) e atacou por debaixo da terra, atingindo Sasuke com força o suficiente para quebrar a primeira forma do Susanoo e atingir o corpo do Uchiha.

E ainda tinha a aparência de Dairama: as feridas sumiram e o Yuurei se erguia imponente outra vez, com a mesma musculatura robusta de antes. Sasuke observou-o, o chakra cobria a Dairama perfeitamente.

Não havia erro.

— Eu entendi como seu jutsu funciona — falou Sasuke.

Dairama arqueou a sobrancelha.

— De alguma forma, o seu poder vem da terra — revelou Sasuke. — Enquanto estiver em chão firme, você absorve os nutrientes do solo e seu corpo é envolvido por uma espécie de seiva que o torna invulnerável a qualquer ataque; e sua pele se torna dura o bastante para parar um golpe direto. Seus olhos são cobertos por essa seiva, de forma que Genjutsu não funcione em você. Mas, ainda assim, você precisa de tempo para carregar essa quantidade de chakra para criar a seiva. Quando eu o cortei pela primeira vez, meu golpe só causou uma ferida leve. Depois, sua pele já parecia diamante, o que me faz crer que você estava acumulando seiva desde antes da luta começar.

— Mas quanto mais poderoso for o ataque — prosseguiu —, mais seiva você acaba consumindo em sua defesa. Foi por isso que você aparentava estar mais magro a cada vez que era envolvido com o Amaterasu. Com as chamas queimando ao seu redor incessantemente, você era obrigado a gastar sua seiva constantemente. Quando eu o chutei, você estava esgotado. E, fora do chão, você não é invulnerável; você é como qualquer outro homem, e, portanto, pode morrer.

Sasuke limpou o sangue do rosto e da boca. Por mais que se esforçasse, seu corpo já reclamava de cansaço. Havia gastado muito chakra no ataque elétrico e com as duas liberações seguidas de Amaterasu, fora o Susanoo. Ainda conseguia prorrogar a luta por um bom tempo, mas os efeitos colaterais de seus jutsus seriam um problema com o qual ele teria que lidar.

Do outro lado, Dairama Senju parecia impressionado. O Yuurei assentiu com a cabeça, de uma forma que jamais esperaria fazer para um Uchiha — Dairama o parabenizava.

— Você é o primeiro Uchiha que conseguiu desvendar minha técnica. — E Dairama não se importou em confirmar as palavras de Sasuke. Tinha sido pego de surpresa, mas fora só. O Uchiha tinha sido incapaz de vencê-lo quando teve a chance. — Somente Hashirama sabia como meu jutsu funciona. Nem mesmo meu parceiro Ryuumaru descobriu. Você, Sasuke Uchiha, é realmente o Uchiha mais talentoso que eu já vi.

E em um tom ameaçador, o Yuurei prosseguiu:

— E eu já matei muitos de vocês.

As mãos uniram-se em um selo. Duas brocas de madeira romperam o solo pela frente e pela retaguarda de Sasuke, que saltou na hora. No ar, Sasuke estendeu a mão esquerda para Dairama, os olhos fixados nele.

— Banshou Ten’in!

Mas Dairama não foi puxado para cima, como deveria ter acontecido. O solo aos pés do Yuurei tremeu e rachou apenas na superfície, revelando finas ramificações de madeira por debaixo da terra. “Raízes?!”, exclamou Sasuke.

Rapidamente, Dairama cortou o ar e criou um portal de escuridão. Antes que Sasuke percebesse, o Yuurei havia surgido exatamente sobre ele, em pleno ar.

“Droga! Ele sabe sobre a fraqueza dos cinco segundos do Rinnegan”, e Dairama abriu as palmas das mãos, liberando uma saraivada de espinhos contra as costas de Sasuke, que desapareceu no meio do ar. Onde Sasuke Uchiha estava prestes a ser atingido, a espada Kusanagi era fuzilada pelos espinhos. Sasuke estava postado seguramente metros abaixo.

— O Rinnegan! — exclamou o Yuurei. — Ele trocou de lugar com a espada!

Com sua presa exatamente onde ele queria — no ar —, Sasuke executou os selos em um piscar de olhos. Queria pegar Dairama antes que ele abrisse outro portal e escapasse. Tomou fôlego e juntou as mãos.

— Katon: Gouryuuka no jutsu! (Elemento fogo: Técnica do grande dragão de fogo)

E comprimindo o chakra dentro de si, Sasuke o soprou na forma de gigantescas bolas de fogo em forma de cabeça de dragão. Uma, duas, três, quatro, cinco projéteis ascendentes indo de encontro ao alvo. Dairama estava vulnerável ali. Quando a primeira bola de fogo estava prestes a atingir o Yuurei, Sasuke anunciou:

— Banshou Ten’in. — Sasuke Uchiha concentrou o poder do Rinnegan em Dairama, puxando o corpo do Yuurei diretamente para o fogo.

E Dairama desapareceu dentro do dragão, que subiu com os demais para as nuvens.

E Sasuke sabia muito bem: não estava acabado.

Olhou para trás. Sua visão confirmando o que os instintos haviam previsto. Dairama havia surgido a poucos metros de Sasuke e, a julgar por seu estado, o Yuurei havia conseguido escapar das bolas de fogo bem a tempo.

— Você é persistente — disse Sasuke.

A expressão de Dairama era de uma vontade assassina. Não gostava de como a luta se seguia. Sasuke o havia pressionado e conseguido, por um curto período de tempo, romper sua invencibilidade; demarcado a área de luta com o fogo do Amaterasu queimando ao redor deles; Sasuke, por duas vezes, quase havia pegado Dairama Senju. Para o Yuurei que ele era, isso era inaceitável.

— Mokuton: Moku Bunshin no jutsu (Elemento Madeira: Técnica dos clones de madeira).

Seis galhos saiam das costas de Dairama, ganhando forma à medida que se projetavam para o chão. No instante que se seguiu, Sasuke Uchiha estava diante de sete corpos de Dairama Senju e, diferente do Kage Bunshin no jutsu, clones de madeira não eram destruídos com apenas um golpe forte, podendo suportar de danos mais consistentes a lutas inteiras.

Os sete uniram as mãos, executando cada um uma sequência própria de selos ao mesmo tempo.

— Mokuton: Jukai Koutan (Elemento Madeira: Emersão da floresta profunda);

— Mokuton: Kajukai Kourin (Elemento Madeira: Advento da floresta florida);

— Mokuton: Mokuryuu no Jutsu (Elemento Madeira: Técnica do dragão de madeira);

— Mokuton: Mokujin no Jutsu (Elemento Madeira: Técnica do homem de madeira);

— Mokuton: Hotei no Jutsu (Elemento Madeira: Técnica do deus da sorte);

— Mokuton: Houbi no Jutsu (Elemento Madeira: Técnica da rejeição);

— Kokuangyo no Jutsu (Técnica da escuridão infinita)

Sasuke se viu, de repente, em um inferno inescapável. Sua visão escureceu completamente na mesma hora em que sentiu e ouviu a terra explodir por toda parte. Por mais poderosos que fossem seus olhos, aquele Genjutsu, sabia Sasuke, só era quebrado caso o alvo fosse derrotado. Nem mesmo o Rinnegan conseguia ver através da escuridão universal que cobria o ar. Naquele exato momento, Sasuke Uchiha era um alvo fácil de todos os monstros que Dairama havia conjurado com seu Mokuton.

Sem pensar duas vezes, Sasuke ergueu o Susanoo e aguardou.

— Tolo. — Por mais que tentasse, era impossível localizar o Yuurei com toda aquela escuridão e ruídos. — Essas técnicas são fortes o bastante para enfrentar uma Besta de Cauda. Você não tem a menor chance!

Antes que fosse erguida outra camada de proteção ao Susanoo, uma onda de impacto se chocou contra Sasuke, fazendo-o não se firmar nos pés. Depois, outra; outra.

Estava sob ataque e acuado.

Foi quando sentiu o chakra de seu Susanoo oscilando até finalmente desaparecer. Não tinha sido ele, mas alguma técnica de Dairama havia roubado o chakra que sustentava o Susanoo até que não sobrasse mais nada. Sem sua defesa absoluta e completamente às cegas, Sasuke Uchiha era uma presa fácil demais para o Yuurei devorar.

— Está com medo, Sasuke Uchiha? — A voz de Dairama era indetectável; parecia vir de todos os lugares. — Percebe agora que nos enfrentar é inútil?

O soco na boca do estômago fez Sasuke se dobrar sobre os joelhos. “Então seria isso?”, pensou Sasuke. Dairama iria espancá-lo até decidir como e quando matá-lo.

“Bom, eu ganho mais tempo.”

Outro soco no rosto e Sasuke cambaleou para o lado. Por mais que conseguisse ouvir o que Dairama dizia, era impossível determinar sua localização. Precisava que ele se aproximasse para, talvez, tentar agarrá-lo. Porém, Sasuke sabia que ainda teria que lidar com outros seis inimigos; seis contra ele sozinho. E apenas um havia conjurado o Genjutsu. Com as probabilidades claramente contrárias, se tentasse algo, poderia ser executado ali na hora. Assim, Sasuke optou por jogar com a rivalidade Uchiha x Senju e, aceitando sua condição de presa, seguia recebendo os golpes enquanto aguardava o momento certo de revidar.

Mais um soco, um chute e outro soco. Sasuke caiu no chão de joelhos. O nariz sangrava. “Provavelmente está quebrado”, pensou o Uchiha. “Anda logo... venha de uma vez.”

Sasuke, ainda ajoelhado, recebeu um chute no queixo que o jogou para trás. Era difícil, mas ele tinha que esperar. Se revidasse, todos os monstros de madeira cairiam sobre ele na hora sem que ele sequer soubesse de onde vieram todos os ataques.

— E pensar que você quase me matou, seu maldito. — O soco veio na fronte de Sasuke; sua cabeça latejava de dor e tontura.

— Eu vou quebrar a sua espinha, Sasuke Uchiha — disse a voz de Dairama. — Sinta-se honrado: você morrerá pelas mãos de um Senju, assim como muitos de seus antepassados.

Um, dois, três socos e Sasuke desabou no chão. Mesmo sem poder enxergar, sabia que o Yuurei caminhava até ele.

O céu rimbombou e a chuva começou a cair e regar a terra. No começo, gotas tímidas e solitárias; depois um chuvisco consistente; e agora, uma chuva forte com trovoadas. O chão molhado empapava as roupas de Sasuke, o gosto de terra misturado ao sabor agridoce de sangue na boca. Sasuke ergueu a mão trêmula para cima.

“Bem na hora.”

Sentiu um pé esmagá-lo na caixa torácica. Dairama estava com uma estaca de madeira erguida sobre a cabeça do Uchiha. Iria executá-lo ali.

— Sem deixar corpos — disse. — Assim agem os Yuurei.

A estaca afundou, empalando um tronco de árvore que surgira no lugar de onde Sasuke estava caído. Bem a tempo, o Jutsu de Substituição evitou que o Uchiha fosse executado no ato. Dairama olhou para o céu. Sasuke havia saltado para o ar. Os olhos do Uchiha estavam cerrados, a aura do Susanoo o envolvia.

Mas o que intrigava o Yuurei era a manipulação elétrica na mão esquerda de Sasuke.

Foi quando dois relâmpagos cruzaram os céus que Dairama finalmente compreendeu.

— O Amaterasu que você não desfez... os jutsus de fogo que você lançou para o céu... você estava preparando este golpe!

Mesmo sem poder enxergar, Sasuke sorriu imaginado a possível feição do Yuurei.

— Desapareça com o rugido do trovão — falou Sasuke. — Kirin!

Dairama ainda pôde ver os relâmpagos no céu assumirem a forma de um dragão serpentino colossal. Era magnífico. Depois, tudo o que aconteceu foi um grande clarão e um ruído ensurdecedor.

Sasuke jazia estatelado no chão. Levantou-se devagar, pois todo o seu corpo doía. Mal conseguia escutar; o zumbido nos ouvidos ainda era muito forte. Abriu os olhos e viu o cenário desfigurado — crateras sem fim redefiniam a paisagem de uma terra agora devastada em um raio de quilômetros. Já não havia verde algum; apenas a terra árida e empoeirada.

Havia derrotado Dairama Senju bem na hora. Seu chakra havia acabado. Tanto o Sharingan quanto o Rinnegan desapareceram de seus olhos. Sasuke ainda conseguiu reaver sua Katana Kusanagi, que, miraculosamente, estava por ali perto antes de tombar para frente, exausto.

E outra vez, a sensação de perigo o tomou.

A cabeça de madeira surgiu do subterrâneo, abrindo-se em duas partes. Dairama Senju surgiu intacto de dentro dela. A expressão natural de indiferença.

— Parece que acabou para você — disse o verdadeiro Dairama. O Kirin havia varrido de uma vez só todos os clones de madeira e seus jutsus. Contudo, o verdadeiro Dairama fora o que tinha invocado o Mokuton: Houbi — uma técnica sólida o bastante para suportar uma Bijuu Dama — e saído da batalha. Mesmo com clara vantagem, Dairama Senju havia se precavido.

Aquele era, de longe, o Yuurei mais poderoso que Sasuke já enfrentara.

— Você está acabado, Sasuke Uchiha — repetiu o Senju. — Não há mais nada que o livre de mim.

Sasuke ainda tinha um último recurso: um que ele havia preparado para outra ocasião, um que ele havia preparado para o caso de se deparar com o líder dos Yuurei na ilha Misuto, um que ele sabia ser sua cartada final.

Levou a mão ao estojo de ferramentas. As pílulas de soldado preparadas por Kabuto Yakushi passeavam entre seus dedos. Sasuke já havia as usado quando, na segunda fase do Exame Jounin, assumira a identidade de Roku Kuzanagi e vencera Naruto com elas. Sabia que elas cobravam um preço alto do corpo do usuário e que, segundo o próprio Kabuto, estas novas eram uma versão mais concentrada da droga. Se por um lado, ele obteria mais poder e estamina em uma quantidade seis vezes maior; por outro, suas dores colaterais seriam na mesma proporção. Até que os efeitos da pílula passassem, Dairama Senju precisaria estar morto, não importavam as circunstâncias.

Sasuke ingeriu cinco pílulas e o efeito foi imediato. Sentiu suas reservas de chakra explodirem dentro dele, seus músculos queimarem e o coração acelerar.

Era a hora. Não tinha muito tempo.

— Susanoo!

O humanoide de armadura se levantou, maior do que todas as vezes.  Era um colosso com mais de sessenta metros de altura, armadura completa e um par de espadas embainhadas na cintura. Sasuke fez um selo com as mãos e seu Susanoo criou asas, a envergadura maior que a do próprio Susanoo.

— A forma perfeita do Susanoo dos Uchiha — contemplava Dairama Senju. — Um verdadeiro deus da destruição. Contudo...

O Yuurei fez um selo com a mão direita e, por um instante, Sasuke sentiu um arrepio lhe correr pelo corpo. O ar estava mais frio e pesado e uma sensação de morte tomou o ambiente. O chakra escuro emanava do corpo de Dairama, subindo ao céu como uma coluna de chakra negro. Sasuke já vira aquilo acontecer; sabia o que estava por vir.

— Yami no Fuuin — sussurrou o Yuurei —, liberar.

A pele de Dairama era agora tão escura quanto piche, com listras amarronzadas correndo em seus braços. O selo surgira no alto de sua testa, com as marcas descendo pelo rosto e pescoço do Senju.

— Contemple agora, Sasuke Uchiha. — Dairama uniu as mãos. — Este é o verdadeiro poder que está além do que qualquer Uchiha imaginar.

O Yuurei fez uma sequência rápida com as mãos, levando-as ao solo imediatamente.

— Kinjutsu: Chou Ougata Kyojin (Técnica Proibida: Técnica do titã colossal).

E Sasuke viu, com assombro, o chão se levantar.

 

 

                                                     * * *

 

 

Já estavam em mar aberto. Kankuro havia configurado sua marionete Sanshouo para servir como uma pequena embarcação. As patas da marionete serviam como remos, os quais se moviam com a manipulação de chakra pelos dedos do titeriteiro. Na proa, Choujurou e Kurotsuchi estavam deitados um sobre o outro, inconscientes. Depois vinha Darui e Temari, com Mei inconsciente sobre ela. A ninja da Areia reclinava a cabeça da Mizukage sobre seu colo enquanto Darui utilizava seu conhecimento básico de Ninjutsu médico. Kankuro ficava conduzindo Sanshouo na popa.

— Você poderia andar mais rápido com isso? — Temari suspirou, impaciente.

Darui suspirou, negando com a cabeça.

— Não sou ninja médico. Aprendi o básico para me manter vivo por conta própria, mas nunca me aprofundei. Cee era muito melhor do que eu nesse aspecto.

— Oh. — E Temari inclinou os olhos para o rosto da Mizukage, tirando uma mecha de cabelo sobre os lábios dela. Sabia que a missão tinha sido um completo desastre. — Desculpe por isso.

Darui franziu a testa. Conhecia a fama de Temari, da Vila da Areia — uma mulher de personalidade forte e que em poucas ocasiões se dava o luxo de mostrar gentileza. Estava impressionado por ouvir um pedido de desculpas dela e, não fossem as circunstâncias, teria comentado o ocorrido.

Limitou-se, no entanto, a agradecer.

— Eu acredito que a Mizukage-sama vai ficar boa log- — e a voz de Darui morreu. Temari o encarou, acompanhando depois a direção em que este olhava. Quando viu do que se tratava, Temari gelou.

— Kankuro, olhe para trás... — disse ao irmão.

Kankuro se virou e a cor sumiu de seu rosto. Ele não via algo daquela magnitude desde os eventos da Quarta Grande Guerra Ninja.

— O que diabos é aquilo?

No horizonte, a leste de onde ficava a ilha Misuto, viram o Susanoo perfeito de Sasuke Uchiha parado no ar. Mas o que os assustava era o que estava diante de Sasuke: um monstro de terra, água e madeira, dezenas de vezes maior que o Susanoo. A criatura se erguia no mar, com braços como de gorila. O monstro abriu a boca, revelando dentes de árvores projetados para fora. O rugido do titã lançou uma onda de choque sobre o mar, deixando-o turbulento e com ondas.

— Segurem-se! — gritou Kankuro, mexendo os dedos freneticamente.

— Tire a gente daqui agora! — Temari desatou o leque das costas, enquanto olhava apreensiva para o colosso. — Mas que merda é aquele cara?!

Darui engoliu em seco, procurando recuperar o autocontrole.

— Aquela coisa... é a ilha Misuto.

Os irmãos da Areia o encararam incrédulos, mas não havia erro. Quando o monstro se levantou no oceano, a ilha havia sumido. Dairama Senju havia usado todo o terreno em que estavam para criar um monstro bem maior que o Susanoo de Sasuke.

— Se o Sasuke não vencer, estaremos perdidos — disse Kankuro.

— Maldito Uchiha — ralhou Temari, embora não quisesse admitir sua preocupação. — Não vim aqui para depender dele duas vezes.

O mar agitado lançou ondas violentas e, não fosse por Kankuro, a marionete já teria virado com todos na água.

— Vamos, Sasuke. Acabe com ele.

Aquilo era quase desanimador, muito embora fosse necessário mais do que aquilo para realmente assustar Sasuke Uchiha.

O rugido do monstro fez a estrutura do Susanoo tremer e chacoalhar no ar. Sasuke controlou as asas do Susanoo, guiando-se pelo vento até planar firme outra vez.

— Não importa o seu tamanho. — Fez um selo, concentrando o chakra de Inton (Elemento Escuro), a metade do poder que recebera do Rikudou Sennin durante a guerra, na palma do Susanoo. — Eu vou destruí-lo aqui e agora.

Relâmpago e sombra unidos. Sasuke fez o Susanoo criar um Chidori enorme de raios negros na mão esquerda, expandindo-o como uma flecha de eletricidade. Na mão direita, o chakra do Susanoo tomou forma de um arco.

Os relâmpagos estalavam violentamente; um ruído agudo, como se dezenas de milhares de pássaros cantassem ao mesmo tempo. O Susanno armou a flecha de raios, apontando-a para o alvo logo a sua frente. Do outro lado, o colosso de Dairama ergueu os braços, levantando consigo um volume de água gigantesco do mar.

— Indra no Ya! (Flecha de Indra)

— Nijuu Taihou! (Canhão de dois braços)

O impacto ensurdecedor clareou o céu noturno e ofuscou o horizonte, fazendo-o um véu branco por segundos quase intermináveis. O ar se tornou pesado com a nuvem de poeira e terra que se levantava, dificultando a respiração. O mar se tornou revolto, com ondas furiosas e descontroladas chocando-se entre si e contra Sanshouo. A marionete ameaçava se partir em meio a violência da água.

— Não consigo navegar! — Kankuro dedilhava feito louco, fazendo o possível para estabilizar a marionete. — Não consigo enxergar nada!

As pancadas do mar seguiam intensas. Sanshouo parecia um chocalho em meio a uma grandiosa tempestade azul, subindo e descendo em meio a fúria do oceano. Quando o mar pareceu recuar por uns segundos, Kankuro fungou:

— Isso não é bom.

E não era. Uma poderosa onda com mais de vinte metros nascia atrás deles. A visibilidade ainda era comprometida, mas já era possível contemplar o monstro de água que crescia para devorá-los.

Temari sacou o leque, saltou no ar e gritou:

— Fuuton: Kazekiri no Jutsu! (Elemento Vento: Técnica do vento cortante)

Com um movimento circular, Temari brandiu seu leque aberto ao máximo e lançou uma rajada de vento poderosa o bastante para cortar a onda ao meio e lançá-la para longe. Enquanto caía, pôs o corpo sobre o leque e usou a ventania a seu favor para planar até de volta a marionete.

Assim que ela pousou, outra onda surgiu à frente deles, encoberta pela nuvem de poeira. Quando a viram, esta já estava para cair sobre o barco. Temari não teve reação.

— Suiton: Suijinchuu no Jutsu (Elemento Água: Técnica do Pilar protetor de água).

A onda caiu, mas girou ao redor da marionete, formando uma cúpula de água protetora. Sanshouou navegava em águas tranquilas enquanto era englobada por paredões de água salgada. As ondas batiam e ricocheteavam do lado de fora; do lado de dentro, o mar furioso já não existia.

A Mizukage estava consciente. Ainda deitada e sem estar perfeitamente reestabelecida, Mei Terumi usou sua energia para proteger a todos do oceano. Kankuro suspirou aliviado e se permitiu relaxar os dedos — mais tensos que ele poderia constatar.

— Obrigado, Mizukage-sama.

Mei fez uma careta de irrelevância e sorriu sem graça.

— Não sobrevivi a uma guerra para morrer afogada.

Estava claro que a Mizukage se via responsável por tudo o que havia acontecido. Mei era a líder da força tarefa criada com ninjas das Cinco Nações e tudo o que conseguira foi levá-los para a morte. Era bem verdade que todos estavam cientes dos riscos — e esperavam adversários mais duros: os líderes dos Yuurei —, mas, ainda assim, como Mizukage e comandante responsável por todos, Mei não foi capaz de coordenar sua equipe quando esta foi separada pelo muro de madeira e, quanto àqueles que lutaram com ela contra Dairama Senju, Mei teve três perdas, sendo a morte de Yasuke uma perda pessoal: era seu amigo desde pequeno e filho de seu antecessor, o Mizukage Yagura. Por mais que a ideia de viver solteira a apavorasse, em Yasuke, Mei desenvolvera um sentimento maternal. Ela o tinha protegido, educado e treinado — seu único aluno. Queria vê-lo como Mizukage um dia. O Prodígio da Névoa, sem sombra de dúvida, seria um grande líder.

E tudo isso se foi quando aquela estaca atravessou o crânio do garoto. Mei apenas viu o aluno tombar morto diante de seus olhos. E agora, com o monstro que o inimigo havia transformado a ilha Misuto, o corpo de Yasuke estava perdido para sempre. Destruído, com certeza, entra a luta de Dairama Senju e Sasuke Uchiha. Sem qualquer resto para ser velado e sepultado.

Sem deixar corpos, assim agiam os Yuurei. Profanar um cadáver, a ponto de que a pessoa sequer pudesse ser enterrada era, aos olhos de Mei, tão cruel.

A Mizukage apertou os olhos, forçando seus sentimentos para dentro de si outra vez. Era uma líder, afinal, e precisava manter a compostura. Além disso, seus outros comandados precisavam dela para fugir do caos do mar. Ela teria todo o tempo do mundo para, a sós, desabar em lágrimas. Agora, isso era um luxo que Mei se recusava a dar a si mesma.

— Ainda não acabou — falou, esforçando-se para conseguir ficar sentada. Uma dor cruciante tomou toda a lateral esquerda de seu corpo e Mei suprimiu uma careta. — Precisamos chegar ao continente o mais depressa possível.

Ela olhou para a proa e viu Choujurou e Kurotsuchi ainda inconscientes. Por um instante, algo dentro dela se irradiou e a Mizukage se viu feliz pelos dois estarem vivos e bem.

— Darui — chamou. — Cuide deles.

— Mizukage-sama, a senhora precisa-

— Darui... cuide deles.

O Jounin da Nuvem assentiu mais por obediência do que por concordância. Havia checado os estados de Kurotsuchi e Choujurou e, apesar de os dois terem recebido bastante dano, seus casos não eram mais graves que o de Mei, que claramente estava ultrapassando os limites do próprio corpo ao se manter acordada e protegendo a todos no mar. Porém sabia: nada convenceria Mei Terumi do contrário. Além disso, não fosse por ela, todos estariam no fundo do mar. Assim, valendo-se da certeza de que a Mizukage era uma mulher forte, Darui se voltou para os outros dois pacientes.

— Como acham que terminou? — Os olhos de Temari se viravam para trás. O muro de água encobria a visão do que acontecia na parte externa de Sanshouo, porém todos sabiam do que se tratava.

— Vai saber... — Kankuro suspirou. — Espero mesmo que o Sasuke tenha parado aquele cara.

Mei abaixou os olhos.

— Sasuke... — sussurrou para si mesma.

 

 

No epicentro da batalha, Sasuke via o monstro ruir em câmera lenta sobre o mar. Era realmente uma criatura gigantesca e quase interminável. Mesmo sem o poder das Feras de Caudas que havia usado durante da Guerra, Sasuke era capaz de conjurar a Flecha de Indra, mas em uma escala muito menor de poder destrutivo. Graças às pílulas de soldado de Kabuto Yakushi, tinha sido capaz de reestabelecer suas reservas de chakra para mais alguns minutos de luta e esperava sinceramente que tivesse acabado ali. Caso contrário...

O Susanoo de Sasuke se desfez e os efeitos da droga começavam a dar sinais. A visão começava a embaçar e os músculos queimar dentro de seu corpo. “Logo agora?”, pensou o Uchiha.

Enquanto caía, Sasuke usou de saltos entre as enormes pedras que despencavam do alto do monstro para manobrar e aterrissar em segurança. Se conseguisse chegar ao mar, voltaria para o continente. Já não estava mais em condições de manter uma luta.

Foi quando viu, ao longe, uma figura despencando. Era Dairama. O Yuurei havia sobrevivido e, aparentemente, também buscava o oceano. Não parecia tê-lo notado, o que deu a Sasuke segundos para tomar sua decisão de atacar ou não. Seu corpo parecia mergulhado em ácido de dor e Sasuke mordeu a língua com força para não gritar. Ele, obviamente, não aguentava mais. O Yuurei, distante dele, aterrissava para a segurança.

E Sasuke olhou para o norte. Uma espécie de tromba d’água cruzava o mar em direção ao continente. Aquilo, com certeza, era o resto da força tarefa, sendo a Mizukage a provável responsável pelo jutsu que impedia as ondas bravas de engolirem o que quer que os outros estivessem usando para navegar.

Finalmente Sasuke entendeu: Dairama não estava indo para a água para se recuperar. Ele iria atrás da Mizukage e dos outros. Sasuke olhou para frente e viu Dairama manobrar nos saltos, buscando exatamente a direção norte.

Com uma contração dolorosa, Sasuke se amaldiçoou pela decisão que havia tomado.

Focalizando seu chakra restante no Rinnegan, Sasuke premiu a empunhadura de Kusanagi com força. O Sharingan já não brilhava em seu olho esquerdo. Aquela seria a coisa mais estúpida que ele faria desde que se lançara contra as agulhas de Haku para proteger Naruto.

Usou o poder do Rinnegan para saltar através do espaço-tempo, surgindo nas costas de Dairama. O Yuurei arregalou os olhos quando viu Sasuke ainda vivo e já criava um selo com a mão direita quando Sasuke o tocou no ombro.

Os dois desapareceram instantaneamente.

Para Dairama, era como viajar pelas trevas, porém de uma forma diferente. Era como se o que quer que Sasuke tivesse feito, os tirassem de sua realidade. Por frações de segundo, Dairama Senju viu paisagens inteiras cruzarem seus olhos: mundos feitos de lava e de gelo, lugares desérticos e cheios de árvores, regiões escuras e de luz ofuscante... uma coleção infinita de dimensões.

Quando pararam, se viu em queda livre junto com o Uchiha em um mundo que parecia um oceano interminável. A temperatura era quente e o ar parecia lhe arder a pele.

Olhou para baixo. A água do mar era diferente; era esverdeada, quase transparente, e à medida que caíam, mais e mais sua pele ardia. Encarou Sasuke e o pegou sorrindo.

— Aquilo é ácido — disse o Uchiha. — Esta dimensão é um oceano infinito de ácido. Não há sequer uma porção de terra aqui, e você precisa de terra firme, não é?

A expressão do rosto de Dairama só acentuou a satisfação do Uchiha. O Yuurei rasgou o ar com um movimento de braço e, para seu pavor, nenhum portal de trevas se abriu.

— Você não está naquela dimensão e, ao que parece, seu jutsu de teletransporte só funciona no nosso mundo, não é? Isso é bom. Porque agora você não escapa.

— Desgraçado! — gritou o Yuurei.

Sasuke concentrou seu restante de chakra para mais um salto interdimensional. Um portal surgia no ar abaixo dos dois. Sasuke planou, deixando que as correntes de ar arrastassem seu corpo até a entrada do portal.

— Adeus, Yuurei — sussurrou Sasuke Uchiha para si mesmo.

Estava a poucos metros de cruzar o portal quando sentiu uma perfuração múltipla em seu braço esquerdo. Virando-se, viu fios de cipó negro penetrando-lhe cada vez mais na carne, tomando sua mão e antebraço e chegando à altura do cotovelo. Os ramos eram como um parasita medonho, podendo ser vistos correr por dentro dele através da pele.

Aquela foi uma dor insuportável, uma das piores que ele já sentira. Era como se algo o estivesse devorando vivo. Seu coração batia descompassadamente e a vontade de desmaiar parecia tomá-lo. Dairama Senju, em sua cartada final, conjurou os cipós da mão para atarem-no a Sasuke. Assim, o Uchiha também não escaparia e morreriam os dois mergulhados no mar de ácido.

Os dedos de Sasuke falharam e ele soltou Kusanagi. A dor continuava intensa, os cipós cada vez mais envolvendo-se com os ossos de seu braço. No âmago da agonia, Sasuke se lembrou que Juha Terumi havia feito algo semelhante com Sakura — infectando-a com Meiton. Aquilo a havia torturado de uma forma horrenda. Sasuke só pôde parar os efeitos sobre Sakura quando matou o Yuurei. Ali, em situação semelhante, criou o Chidori na mão direita. Os fios estavam cada vez mais fundos em sua carne, a dor beirando o incomensurável, o mar de ácido cada vez mais próximo deles. Suas opções eram diminutas e seu tempo escasso.

Em um movimento decisivo, Sasuke mordeu o lábio com força e usou o Chidori contra si mesmo. Um gesto rápido de corte e já não sentia mais a dor nem o peso do Yuurei puxá-lo para baixo. O Chidori se apagou de sua mão direita e Sasuke, à beira da inconsciência, usou todo o seu chakra restante para criar outro portal debaixo de seus pés.

O último ruído que escutou foi o barulho de algo cair no oceano.

 

 

O mar ficava mais calmo à medida que se distanciavam do local da luta. Mei abrira o pilar de água e usado as ondas como impulsionadoras para que Sanshouo navegasse para longe. Logo já não precisavam mais se preocupar com a visibilidade ou a correnteza.

— Olhem! O que é aquilo? — Temari exclamou, quando viu algo caindo rápido do céu. Era grande, como um corpo humano.

— É o Sasuke! — Kankuro exclamou.

O ninja da Folha caiu inconsciente sobre a água. Temari abandonou o leque e mergulhou, nadando até onde o Uchiha jazia e levando-o em segurança até Sanshouo. Darui e Kankuro ajudaram-na a embarcar Sasuke e puxar Temari de volta.

— O braço dele... — Temari hesitou. — Precisamos tratar disso imediatamente, senão ele vai morrer.

— Vou cuidar disso agora mesmo. — Darui, imediatamente, pôs as mãos sobre a ferida no toco do braço de Sasuke, esforçando-se para conter a hemorragia.

Mei observava Sasuke sem piscar. Vê-lo naquele estado miserável lhe causou um arrepio. Por mais que não ousasse admitir, havia nutrido um sentimento de desconfiança contra o Uchiha pelo passado dele e por ter sido ele o assassino de seu irmão, Juha, o Yuurei. Ele não era como Naruto, na qual Mei depositava uma confiança incondicional. Sasuke Uchiha era um homem misterioso e sombrio, muitas vezes frio. Mas se não fosse por ele, jamais teriam escapado dali com vida. Sasuke se sacrificara para protegê-los até o fim, duelando contra um inimigo poderosíssimo e pagando um preço alto para vencê-lo. De fato, ele não era como Naruto, mas, depois de tê-lo ali, caído diante dela, os sentimentos de Mei acerca do jovem Uchiha começavam a mudar.

Com a mão direita, acariciou-o nos cabelos.

— Sasuke... obrigada.

 

 

                                                      * * *

 

 

Apenas a presença daquele homem exalava poder. Tsunade e os outros sentiam como se a atmosfera os estivesse comprimindo e a sensação de morte tomou o ar. Nunca tinham visto o líder dos Yuurei cara a cara e, agora, com ele bem ali diante de todos, não era difícil se render ao desespero.

Fazendo jus às próprias palavras, a Quinta Hokage cerrou o punho, afastando os maus pensamentos. Apesar do medo, Tsunade nutria um sentimento maior por Iori Kuroshini: raiva. O que, para ela, era um grande motivador.

E usando dessa mesma raiva como combustível, Tsunade uniu as mãos no selo do Tigre. O selo Byakugou em sua testa se desenrolava. Listras negras saíam do alto de sua fronte, escorriam pelo rosto até os pés. O chakra pulsava violento no corpo de Tsunade e seus dedos estalaram alto quando ela fechou a mão direita para socar.

Tsunade saltou até Iori e desferiu um poderoso soco, concentrando uma quantidade absurda de chakra em sua mão direita. O líder dos Yuurei ergueu o braço.

E pasmos, todos viram o soco de Tsunade ser parado pela mão nua do Yuurei. Tsunade arregalou os olhos, surpresa por um segundo, e atacou no instante seguinte — desferiu outro soco com a mão esquerda, mirando a cabeça do inimigo. O golpe, contudo, também foi interceptado pela outra mão de Iori.

E, em um piscar de olhos, Tsunade foi arremessada para trás com chakra puro. Recuperando-se ainda no ar, girou e aterrissou de joelhos.

— Tsunade-sama! — gritou Shizune, mas a Hokage fez sinal de que estava bem.

"Eu usei chakra o bastante para destruir uma montanha”, analisou a Hokage. “E ele segurou os meus socos como se não fossem nada!”

Enquanto meditava sobre o que havia acontecido, algo veio à mente de Tsunade. Ela olhou para as mãos e, imediatamente, para Iori.

"Meu chakra?! Ele absorveu todo o chakra da minha mão instantaneamente?!”

Lembrou-se do que Yuugao reportara no início da invasão sobre o Yuurei misterioso, que parecia devorar tudo ao seu redor como um buraco negro. Por isso nada funcionava contra ele, concluiu Tsunade. A capacidade do Meiton de absorver tudo fazia de Iori um inimigo intocável.

“E Kakashi lutou contra esse cara...?”

O Yuurei não parecia preocupado com a desvantagem numérica. Confrontando cinco ANBU, Shizune e Tsunade, Iori avançou. O manto negro crepitava ao redor dele de um jeito sinistro.

Os quatro capitães da ANBU atacaram juntos, cercando o inimigo em todas as direções. O Yuurei seguiu andando enquanto a escuridão, por si só, os repeliu. Yuugao e os outros foram lançados com violência para fora do Edifício Hokage. Sai contra-atacou na hora, criando feras de desenho a partir de um pergaminho. O Yuurei seguiu com sua marcha e bastou as feras chegarem perto da escuridão viva que Iori exalava para serem destruídas. Shizune disparou agulhas do dispositivo que usava por baixo da manga e estas, ao encontrarem o Yuurei, desapareceram nas trevas e, no segundo seguinte, foram arremessadas de volta para Shizune, que foi perfurada no antebraço esquerdo.

Com Shizune no chão e os capitães da ANBU fora de combate, apenas Sai e Tsunade ainda podiam lutar.

— Eu vejo o destino de vocês — falou Iori. — Ele foi selado quando pisei aqui.

Tsunade encheu-se de ódio e concentrou uma quantidade maciça e muito maior de chakra em seus punhos. Sabia que o inimigo conseguia absorver qualquer jutsu e até mesmo chakra, mas, talvez, dependendo da quantidade de chakra a ser absorvido, o tempo de absorção poderia variar. Assim, Tsunade teria uma brecha para atingir Iori.

Antes que Tsunade pudesse se mover, porém, um fio de sombra a impediu de andar. A Hokage ficou estática, com a pose de soco armada. Sai estremeceu. Da sombra de Tsunade, dezenas de tentáculos de sombra se levantaram contra o Yuurei, que sequer preciso se mover para absorver os ataques.

"Então a Tsunade-sama não foi parada pelo inimigo?! Isso é... Shikamaru!”

Sai estava certo. Da escada que levava à sacada do Edifício Hokage, Shikamaru Nara surgiu com um selo armado nas mãos. Ele estava sério, com quem quisesse dizer poucas palavras.

— Desculpe por isso, Tsunade-sama — falou Shikamaru. — Mas não poderia deixar que a senhora morresse. A fraqueza do jutsu dele não tem base no tempo.

— Tsc, Shikamaru... — Era espantoso como Shikamaru havia percebido as intenções de Tsunade sem sequer estar presente quando ela atacou o Yuurei pela primeira vez. Mas, por mais certo que ele pudesse estar, naquele momento, o único sentimento que a Hokage nutria era a raiva.

O Yuurei virou-se para Shikamaru, observando-o debaixo do capuz.

— Você não desvendou meu jutsu, senão não me atacaria com esta técnica vergonhosa.

O Jounin assentiu.

— Eu tenho uma dica muito vaga graças ao sacrifício do Sexto Hokage — disse. — Porém não foi suficiente para teorizar nada concreto. Então, vou testar meu melhor plano.

Dezenas de tentáculos de sombras surgiram da amurada da sacada, cercando as costas do líder dos Yuurei. Cada um trazia consigo uma tarja explosiva. Shikamaru fez outro selo com a mão e os tentáculos se precipitaram contra Iori, explodindo as tarjas à queima-roupa da retaguarda do Yuurei. Shikamaru estreitou os olhos quando viu que as explosões eram contidas pela escuridão antes mesmo de se propagarem no ar. Uma a uma, e todas foram anuladas pelo Meiton.

— A luz das explosões? — sugeriu Iori. — Foi isso que pensou.

Shikamaru negou com a cabeça.

— Na verdade, meu plano era distraí-lo para que você mesmo pudesse me dizer qual é a sua fraqueza.

Na mesma hora, um vulto surgiu no ar. Ino Yamanaka estava a poucos metros de onde Iori se posicionava. Com suas mãos formando um selo, ela as apontou para alvo. Sabia que só teria uma chance. Assim que o Yuurei ficou exatamente no meio do espaço entre seus dedos, na mira perfeita, Ino atacou:

— Shintenshin no Jutsu (Técnica da transferência de mente).

Ela se viu em uma dimensão diferente. O lugar em que estava era escuro, com visibilidade zero. Ino andou cautelosa; o chão não era firme. Um cheiro pútrido a sufocava lá dentro. “Isso aqui é a mente dele?”, pensava. Esperava descobrir a fraqueza do Meiton ao entrar na mente do Yuurei, contudo estava em um lugar completamente diferente do que imaginava.

Um ruído chamou-lhe a atenção e Ino se virou. Parecia um arrastar de alguma coisa, alguma coisa grande. Ino caminhou mais alguns passos, embora fosse impossível enxergar qualquer coisa um palmo à frente. Outra vez o mesmo barulho, acompanhado de um silvo reptiliano — que Ino não gostou nada.

Ela esperou. Estar ali parecia mais perigoso a cada segundo, mas aquela era a melhor chance que tinham de descobrir alguma coisa.

O ruído ecoou uma terceira vez, agora bem próximo de onde Ino estava, seguido de um silêncio sepulcral.

Dentre tantas pessoas, eu não esperava você aqui. — Ino congelou. Duas vozes, uma masculina e outra feminina falavam em uníssono. Não pareciam ser humanas; algo de medonho vinha daquelas vozes. Algo medonho e demoníaco.

— Q-Quem é você? — Ino perguntou, olhando ao redor sem saber de onde as vozes vinham.

A resposta foi um sibilar e uma risada aguda. O coração de Ino quase parou quando sentiu uma enorme coisa gosmenta enlaçá-la e vibrar, sem, contudo, tocá-la. Uma espécie de língua bifurcada gigante.

Eu sei quem você é — disseram as vozes. — E graças a você, estou consciente de novo, livre daquele maldito Genjutsu. Mas por sua causa, fui forçado a me manifestar aqui.

O pensamento que ocorreu a Ino a encheu de pânico.

— Você é aquela coisa, não? — Engoliu em seco. — O tal demônio roxo.

Silêncio. Ino já não escutava qualquer ruído. Era como se o monstro não estivesse lá. Ino não se movia.

Então ela pôde vê-lo cara a cara. O rosto da criatura, bem maior quem o corpo inteiro de Ino, era uma máscara branca como marfim, os olhos eram pequenas talhas na máscara, lábios grossos e avermelhados de mulher estavam sobrepostos a uma outra bocarra grotesca e bestial, a língua bifurcada saindo das duas bocas ao mesmo tempo. Na cabeça, o demônio era coroado por quatro tranças cor-de-sangue que lhe desciam pelo corpo viscoso e arroxeado; era uma espécie de verme.

A criatura abriu a boca e chiou contra Ino. O silvar era horrendo e causava-lhe agonia ao escutá-lo. Todo o corpo de Ino parou e ela se sentiu sem vida. Sua visão estava fosca e ela já não sentia mais nada.

Não percebeu que já estava de volta ao próprio corpo, nos braços de Sai. Ino tremia e sua temperatura era baixíssima. Estava horrivelmente pálida e seu olhar era distante.

Ino estava em choque e tomada de pavor.

O demônio a havia expulsado do corpo de Iori. Ino não havia passado mais de dois segundos lá dentro, muito embora a sensação tinha sido de que o tempo correra mais devagar enquanto estivera no subconsciente do Yuurei. Assim que retornou ao próprio corpo, Ino não reagiu e despencou do alto do Edifício Hokage. Sai se antecipou e saltou para resgatá-la, tomando-a nos braços e a segurando a salvo no chão.

Sai gritava por ela, mas Ino sequer reagia. Continuava tremendo.

— Ino! Ino! — Sai seguia a chamando aos gritos.

Com dificuldade, ela o tocou na mão, apertando-a logo em seguida. Sai estranhou o gesto da namorada, mas não se importou. Estava preocupado com ela e Ino aparentava estar tomada por pânico.

— Ino, o que aconteceu lá? Diga o que aconteceu.

— M-Muito escuro... — foi a resposta, depois de longos minutos.

 

 

No topo do Edifício Hokage, algo de estranho havia acontecido. Os segundos em que Ino estivera dentro de Iori foram suficientes para deixá-lo instável. Por uma breve e imprevisível fração de tempo, a pressão causada pela presença do líder dos Yuurei desapareceu no ar e seu chakra de escuridão parou de tremeluzir ao seu redor. Os tornados de Meiton haviam sumido no horizonte.

Assim que recobrou a consciência, Iori levou a mão à cabeça. Virou-se furioso e brandiu os braços. Antes que Shikamaru e Tsunade pudessem reagir, houve uma explosão de chakra escuro e todo o Edifício Hokage veio a baixo.

Tsunade removeu um pedregulho sobre seus ombros, empurrando-o com as costas. Olhou ao redor e parou por alguns instantes. A sensação de impotência a consumia, revirando-se dentro dela numa mistura de temor, tristeza e raiva. Caiu de joelhos, sem saber o que fazer.

As pedras tremeram ao lado dela, deslocando-se, e Tsunade cerrou os punhos para atacar. Só então percebeu que se tratava de Shikamaru. Ela havia criado uma espécie de casulo com as sombras, com o qual protegera Shizune e a si mesmo.

— O que diabos foi aquilo? — ralhou Tsunade.

Shikamaru se sentou ao lado da Hokage. Parte de seu uniforme estava rasgado no ombro e ele tinha um leve corte no rosto.

— Não sei — respondeu, segundos depois. — De qualquer forma, algo que o inimigo também não previa aconteceu. A reação daquele homem foi movida por raiva.

Tsunade bufou.

— Ainda não fazemos a mínima ideia de como pará-lo. E quase fomos soterrados vivos.

— Eu preciso encontrar Ino — falou Shikamaru. — Preciso saber o que ela viu lá dentro e-

Shikamaru parou. Olhando para cima, viu Iori Kuroshini parado no ar, observando-os como um espectro em vestes negras. Tsunade também o avistou e trincou os dentes.

— Droga.

 

 

                                                     * * *

 

 

Ele parou de correr por um instante. Algo estava diferente e ele sentia. Olhou para as próprias mãos e depois para o horizonte.

— Sentiram isso? — disse ele.

Sim — respondeu Kurama.

Naruto inspirou fundo e expirou, voltando-se para dentro de si. Sentia-se estranho, como se um fardo enorme, de repente, sumisse de seus ombros e ele estivesse mais leve. Era bom, mas arriscado. Naquele exato momento, Naruto se via diante do desconhecido e, apesar de estar se sentindo incrivelmente melhor, poderia estar enganado e acabar trazendo à tona o chakra negro do Demônio Roxo.

— Algo aconteceu na vila — falou às Feras de Cauda. — Eu não sinto a presença dele aqui.

Naruto... — Matatabi murmurou hesitante. — Não sabemos o que aconteceu. Pode ser perigoso.

Eu concordo — disse Son Goku. — Talvez seja mais uma armadilha daqueles desgraçados.

Sabia que Son e Matatabi estavam certos por pensarem cautelosamente. No entanto, os instintos de Naruto o diziam que ele poderia arriscar daquela vez.

Olhou para Kurama. A Raposa de Nove Caudas assentiu com a cabeça, sabendo perfeitamente o que se passava na mente de seu Jinchuuriki e dando-lhe seu aval.

— Eu não vou fazer isso sem vocês — falou Naruto. — Se eu fizer, será com todos juntos.

As Bijuu se entreolharam no plano psíquico, relutantes quanto ao que as esperava caso Naruto resolvesse pôr em prática o que estava planejando.

Estou com você, Naruto. — Kokuo relinchou.

Eu também — disse Shukaku. — Esmague aqueles bastardos.

Isobu também se mostrou favorável, seguido por Gyuuki, Saiken e Choumei. Matatabi ronronou incerta e meneou com a cabeça.

Não acho uma boa ideia — dizia a Gata de Duas Caudas. — Mas você já me surpreendeu outras vezes. Eu confio em você.

Son Goku, o Gorila de Quatro Caudas, suspirou.

Eu não poderia impedi-lo de qualquer forma... vamos acabar com isso.

E, depois de muito tempo, Naruto se sentiu empolgado para lutar contra os Yuurei. Juntando as palmas das mãos, concentrou e liberou todo o seu chakra de uma vez. Todas as Feras de Cauda fizeram o mesmo, cedendo seus poderes a Naruto ao mesmo tempo. Um clarão ascendeu ao céu e queimou árvores ao redor de onde ele estava. Seu corpo brilhava em chakra flamejante e o poder transbordava.

Modo Sábio dos Seis Caminhos irradiava todo o seu esplendor. O chakra incandescente fazia de Naruto uma estrela viva.

Naruto. — Era a voz de Kurama. — Se percebermos que algo está estranho, vamos interromper nosso chakra antes dos seis minutos.

Naruto assentiu sério.

— Conto com vocês.

Como um relâmpago, Naruto Uzumaki riscou o ar.


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Notas finais do capítulo

Naruto está de volta.

Para os amantes de mitologia grega (como eu), eu usei o mito de Anteu, filho de Gaia com Poseidon, para criar o Dairama. Para quem não sabe, Anteu era um gigante filho de Gaia que, enquanto estivesse no chão, era invencível. Héracles (ou Hércules, no nome romano) o derrotou quando o suspendeu do chão, de forma que ele perdesse o contato com a Mãe-terra.

O próximo capítulo, tantantan... é o nosso centésimo! Caraca, meu. Eu já disse que nunca esperava chegar a esse tamanho de história? XD

Aviso a todos, no entanto, que vou precisar atrasar o próximo capítulo para até o fim do mês. Estou em provas finais na faculdade e preciso dar atenção a elas. Quando as provas terminarem (se não no fim de novembro, no começo de dezembro), eu retorno, ok?

Obrigado por acompanhar até aqui ^^ Vocês são os melhores e, não fosse por vocês, esta história jamais teria continuado. Muito obrigado pelo apoio que me dão!

Até o próximo capítulo o/