O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 98
Ruína da Folha - parte 8


Notas iniciais do capítulo

Ahá! Mais cedo que muita gente esperava, não? Bendito feriado que me fez pegar no tranco outra vez. Mantenha-se assim!

Boa leitura para todos. Nos vemos nas notas finais o/



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— Tsunade-sama — Shizune perguntava com certa hesitação na voz — se esse homem está aqui, então... quer dizer que...?

A Quinta Hokage, nem por um segundo, tirou os olhos do inimigo à sua frente.

— Isso — respondeu ela. — Kakashi e os outros estão mortos.

As palavras da Godaime causaram um baque de incredulidade e raiva, principalmente entre os capitães da ANBU e Sai. Era Kakashi Hatake, o antigo Ninja Copiador, herói de duas guerras, um dos Shinobi mais respeitados e talentosos da história da Vila da Folha e o Sexto Hokage. Como assim, morto? Por mais poderosos que fossem os Yuurei, aquela informação era simplesmente inacreditável.

Iori observava a todos, tendo atenção especial em Tsunade.

— Você tem medo — falou. — Todos têm.

Era irônico, mas Tsunade ainda quis responder.

— Pra falar a verdade, eu tenho — falou a Hokage. — Estamos te procurando há meses, e você invade a minha vila e mata o atual Hokage, além de fazer... isso.

Ela indicou o horizonte, onde os tornados de escuridão ainda varriam a Folha, depois continuou a falar:

— Todos aqui temos. É natural. Mas não vou — e nenhum ninja da Folha também —, ficar paralisada enquanto um cretino como você vem até minha casa e destrói o que eu amo. O medo não será desculpa para nenhum de nós não lutarmos até o fim. Você, Iori Kuroshini, vai pagar por tudo o que fez!

 

 

                                                   * * *

 

 

As coisas continuavam terríveis na ilha Misuto.

Mei Terumi correu de uma chuva de espinhos conjurada por Dairama e agachou-se embaixo de um abrigo entre os muitos troncos que surgiram durante a luta contra o usuário de Mokuton. Mei sabia da insegurança de sua posição, mas àquela altura não conseguia pensar em nada melhor. Era simplesmente impossível abrir uma brecha para contra-atacar o Yuurei. Além disso, ela e todo o seu time estavam ficando rapidamente esgotados; o tempo estava contra todos eles.

Dairama Senju era alguma espécie de monstro.

Yasuke, o prodígio da Névoa, filho do Mizukage Yagura e aluno de Mei, arfava ao lado da mestra. Ele estava horrível. Seus cabelos brancos estavam cobertos de terra e lascas de madeira, ele trazia cortes leves por todo o corpo — uma sorte, dada a situação.

— Não dá, Mizukage-sama. Se continuarmos assim...

Mei assentiu, séria.

— Eu sei. Não vamos durar muito.

— E os outros?

Não houve tempo para resposta. Uma ramificação de madeira do tamanho de um trem despencava por cima deles. Mei olhou para cima e sequenciou selos rápidos. Inspirou ar rapidamente para um disparo imediato quando uma lâmina de chakra enorme passou por suas cabeças e decepou a árvore.

— Choujurou!

O último dos Sete Espadachins da Névoa trazia um sangramento na cabeça que lhe escorria por um dos olhos. Apesar de tudo, Mei achava muito bom vê-lo ali.

De longe, o Yuurei fungou indiferente. Choujurou não teve tempo para admirar seu feito, pois uma saraivada de estacas nascera a dois metros de sua posição. Por estar no ar, uma esquiva era simplesmente impossível. Choujurou via as setas se aproximarem violentas e, por um segundo, fechou os olhos, já sabendo como aquilo terminaria.

— Futton: Koumu no Jutsu (Elemento Vapor: Técnica da névoa sólida)

Mei, finalmente, liberou o jutsu que havia preparado; salvando Choujurou como retribuição. Com a boca, expirou uma nuvem de névoa corrosiva, desintegrando na hora todos os projéteis de madeira.

— Mizukage-sama, cuidado!

Yasuke percebeu na hora as intenções do Yuurei e se interpelou para que Mei não fosse pega enquanto protegia Choujurou. Um único projétil surgiu à esquerda, do solo, e mirava direto na coluna da Mizukage. O prodígio da Névoa soprou um jutsu de água de curto alcance, conseguindo desviar a tempo o ataque inimigo.

— Mokuton: Kajukai Kourin (Elemento Madeira: Advento da floresta florida)

Todos os sentidos de Mei Terumi gritaram dentro dela enquanto ouvia aquelas palavras. Ela conhecia aquele jutsu, pois já o tinha enfrentado quando lutara contra Madara Uchiha. Com pavor, Mei viu centenas de botões surgirem de todos os troncos que os cercavam. De todas as direções, flores minúsculas cresciam quase que instantaneamente — dos lados, frente, retaguarda, de cima. Eles estavam em uma posição péssima, com o jutsu do inimigo prestes a expelir uma nuvem de pólen. Uma vez inalando o pólen das flores, estariam perdidos.

Mei olhou para todas as direções; estavam presos dentro de uma cúpula de galhos, troncos e ramificações, e de todas elas nasciam botões floridos. Um movimento, e o pólen seria expelido antecipadamente. A solução seria destruir toda a floresta, mas como usar um jutsu de tanto alcance sem matar Yasuke e Choujurou também. Em uma análise desesperada, Mei considerou envolver a todos em uma prisão de água, mas sabia que seria insuficiente.

Mesmo assim, a Mizukage juntou as mãos para o jutsu.

Foi quando ouviu uma voz aguda e conhecida gritando do lado de fora da floresta. Instantes depois, o chão ao redor deles se levantou em enormes paredes de terra e pedra, envolvendo-os em uma espécie de casulo e levando-os para o subsolo em segurança.

— Kitsuchi-dono? — de dentro do casulo, Yasuke arriscou dizer, agradecendo seu salvador misterioso.

Choujurou meneou negativamente.

— Quando eu o vi pela última vez, ele estava gravemente ferido. Talvez tenha sido a Kurotsuchi-san.

— Não importa. — Mei conteve um suspiro de alívio. — Vamos reagrupar.

O casulo ascendeu do subsolo do lado de fora da floresta assassina de Dairama. Assim que a terra cedeu para que todos saíssem, Mei encontrou Kurotsuchi sozinha. Ela ainda estava mantendo um selo manual. Seus olhos estavam vazios; a expressão, distante.

Mei não precisou perguntar o que tinha acontecido a Kitsuchi; o rosto da filha dizia tudo.

— Estão todos bem, pelo que vejo — falou Kurotsuchi.

A Mizukage agradeceu e pôs a mão ligeiramente sobre o ombro da jovem Jounin, que pareceu ceder por alguns segundos, recompondo-se em seguida.

— Ele veio do nada — disse Kurotsuchi. — Meu pai me tirou a tempo... eu não pude salvá-lo.

Mas não havia tempo para a dor do luto. Mal haviam escapado, viram toda a madeira recuar e se amontoar diante deles. A paisagem clareava à medida que os ramos gigantes e ajuntavam em dois troncos colossais — maiores que o muro de madeira que os separava do grupo de Naruto e Sasuke. Quando terminou, estavam olhando para duas árvores com mais de cem metros de altura.

E Dairama Senju no meio delas.

— Um campo aberto. — A voz do Yuurei soava tonitruante. — Talvez assim, vocês lutem melhor.

Kurotsuchi conteve um xingamento, enquanto cerrava os punhos. Ela tremia de dor e ódio. Choujurou e Yasuke se posicionaram na frente de Mei, que não tirava os olhos do inimigo.

A Mizukage sabia que o Yuurei não os considerava ameaça. Era ele a pessoa mais poderosa ali. Mesmo com a combinação das habilidades de todos, Mei não via como poderiam sair vitoriosos contra aquele inimigo, que sequer havia suado ou se mexido durante a luta. Pensou em um ataque combinado, mas não lhe restava tanto chakra, logo, seu repertório de jutsus diminuía consideravelmente. Choujurou e Yasuke também estavam no limite; Kurotsuchi, por mais que tentasse não demonstrar, ainda estava abalada psicologicamente pela morte do pai, além dos próprios machucados e do chakra que havia perdido durante o combate.

Estariam mortos, sabia ela. Era só uma questão de tempo.

Mei deu uma risada infeliz e solitária.

— Droga, e eu não consegui mesmo casar.

Depois, olhando para o inimigo diante dela. Juntou as mãos. O Yuurei inclinou a cabeça, esperando.

— Eu estou lutando ao lado de dois Shinobi e de uma Kunoichi bem jovens e já são todos Rank S — falou aos três. — Seria um delírio dizer que tenho os dois futuros Mizukage e a futura Tsuchikage aqui comigo?

Os três pararam por um segundo. As palavras e o tom usado na voz de Mei eram desconfiáveis.

— Mizukage-sama... — Choujurou vacilou. — A senhora não vai...?

— Choujurou — interrompeu Mei. — Pegue sua espada. Destrua esse muro e tire todos daqui. Salvem-se; esta é minha última ordem a você.

— Mizukage-sama, a senhora não pode-

Mas Mei saltou à frente do grupo, pondo-se a correr ao encontro do inimigo. Suas mãos se moviam rapidamente para formar selos. Seus olhos não largavam o Yuurei à frente, que sequer se movia.

A presunção dos Yuurei a irritava.

“Muito bem, velho balofo. Vamos dançar.”

Mei saltou e, girando no ar, anunciou o jutsu:

— Suiton: Bakusui Shouha (Elemento Água: Onda de choque explosiva)

De uma vez, a Mizukage cuspiu um grande volume de água, formando uma onda violenta abaixo de seus pés. Movida pela pressão da água, Mei era livre para se movimentar em alta velocidade.

“E é isso”, pensava, “todos os meus outros jutsus terão que sair daqui. À essa altura, não posso desperdiçar chakra para criar mais água.”

A onda corria furiosa na direção de Dairama, que permanecia inerte. Porém, diferente de antes, uma expressão de curiosidade pairava em seu rosto.

— Entendo — disse consigo. — Você vai tirar suas técnicas dessa água. Por isso, o jutsu da onda. Você me ataca, muda o campo de batalha a seu favor e o torna favorável para outros jutsus, tudo ao mesmo tempo. Inteligente, devo admitir.

O Yuurei juntou as mãos e, em seguida, levou-as ao solo.

— Doton: Chidoukaku (Elemento Terra: Movimentação do núcleo da Terra)

A vinte metros de ser engolido pela onda, Dairama fez surgir um fosso profundo o bastante para conter toda a água invocada por Mei. O Yuurei estava ciente de que a Mizukage havia gastado uma quantidade significativa de seu chakra restante naquela onda e que a usaria para criar outros jutsus. Sem isso, sabia ele, Mei estaria perdida.

Longe dali, Kurotsuchi reagiu rápido.

— Doton: Chidoukaku! — E o terreno estava nivelado outra vez, de forma que a onda poderia correr livremente. Choujurou e Yasuke olharam pasmos para Kurotsuchi, que permanecia séria. Percebeu que estava sendo observada e disse:

— Jamais escaparemos daqui. Tudo o que nos resta é dar suporte a Mizukage. O que estão esperando?

No centro da batalha, a onda devorou o Yuurei. Mei sentiu que um corpo estranho estava dentro de sua água e sorriu.

— Ótimo. Você é meu.

Mas Dairama saltou para fora como um foguete, ficando acima de Mei. A Mizukage o encarou por uma fração de segundo e, antes que desse por si, estava desviando de toras de madeira que se projetavam como serpentes para fora das mangas do Yuurei.

“Sem selos manuais?!”

Um, dois, três saltos para trás. Mei aterrissou em água corrente e, já sequenciando selos, contra-atacou rápido.

— Suiton: Suiryuudan no Jutsu (Elemento Água: míssil do dragão marinho)

Da água corrente, Mei fez crescer um grande e poderosos dragão de água, que atacou Dairama enquanto ele aterrissava. O Yuurei fez um selo com a mão direita e, antes que a bocarra do dragão o engolisse, um tronco de madeira se levantou do solo, espatifando a cabeça do dragão e destruindo o jutsu de Mei em uma chuva de gotículas.

Mei não esperou e juntou as palmas das mãos.

— Suiton: Senshokukou (Elemento Água: mil tubarões vorazes)

Aproveitando-se da explosão de água que o Yuurei havia causado, Mei transformou a água ao redor dele em tubarões de todos os tamanhos. Queria atacá-lo à queima-roupa por todas as direções e ao mesmo tempo.

— Este jutsu era de um membro da Akatsuki — dizia a Mizukage. — Lide com ele.

Com certa satisfação, a Mizukage viu seus tubarões de amontoarem famintos na mesma direção até todos, pelo choque, explodirem em uma nuvem de água pressurizada e gotas no ar.

Dairama havia sumido completamente.

Antes que pudesse comemorar a vitória, Mei sentiu o ar atrás de si tremeluzindo e, virando-se, reagiu por reflexo e evitou ser empalada no coração por uma lança de madeira. O ataque surpresa de Dairama a feriu no ombro esquerdo, atravessando-a. Mei mordeu o lábio de dor. Não entendia como o Yuurei havia saído de um lugar para outro do nada. Mas ignorando isso, segurou na lança firmemente com a mão esquerda, e, com a direita, fez um único selo. Dairama estava perto demais e isso talvez funcionasse.

— Youton: Youkai no Jutsu (Elemento Lava: monstro de lava)

Mei soprou um arco de lava a menos de um metro do Yuurei que, por não poder se defender, cortou o ar com o braço e desapareceu na escuridão. Mei caiu de joelhos sobre a água e lamentou:

— Então foi assim que você fez naquela hora, seu desgraçado...

A água começava a secar debaixo de seus pés. Seu jutsu havia terminado, assim como sua energia. Esgotada e sem mais chakra para moldar jutsus fortes, a Mizukage desabou ante a inevitabilidade da derrota. Um arrepio em sua pele fê-la perceber que o Yuurei caminhava devagar atrás de si.

— Você lutou bravamente — disse ele, de pé atrás dela.

A presunção dos Yuurei era realmente irritante.

— Vá se foder, seu maldito.

O Yuurei formou uma lâmina de madeira do braço e a ergueu no ar para o golpe final. Mei fechou os olhos e esperou em silêncio. Ouviu a lâmina cair, mas não sentiu nenhuma perfuração. Pelo contrário, ao se virar, viu Choujurou e Kurotsuchi oferecendo combate ao Yuurei, enquanto Yasuke vinha a seu encontro.

O garoto pôs as mãos sobre a ferida no ombro de Mei.

— Estamos aqui, Mizukage-sama.

Uma onda de relaxamento lhe correu todo o corpo à medida que o Ninjutsu médico começava a surtir efeito. A tensão em seus músculos pouco a pouco cedia, dando lugar ao refrigério. A dor no ombro diminuía a cada minuto. Mei olhou para cima e viu o aluno concentrado, sem tirar os olhos de sua tarefa atual. Por acaso, acabou se lembrando de quando havia começado a ensiná-lo. Yasuke era um garoto frio e prodigioso, movido pela dor e remorso, sem nada de humano nos olhos. Algo havia acontecido com ele depois do Exame Jounin da Folha, dois anos atrás; Mei percebera. O rapaz havia dito que enfrentara Naruto Uzumaki e, depois do encontro, sentia-se diferente. E, de fato, desde aquele episódio, Yasuke parecia outra pessoa.

— Obrigado por ficar, Yasuke — falou de um jeito terno, o que não passou despercebido pelo garoto.

— Só mais um instant-

E Yasuke caiu para trás. Mei ficou paralisada quando viu o projétil de madeira atravessado na testa do menino. Os olhos verde-marinhos dele ainda estavam abertos, vidrados para cima. Um filete de sangue escorria da ferida recente, riscando-lhe a testa, descendo pelo nariz e caindo pela bochecha.

Yasuke estava morto.

Mei se virou com os olhos marejados de dor e ódio. Viu Dairama postado de pé, com Choujurou e Kurotsuchi caídos a sua esquerda e à direita. Para a amargura da Mizukage, a expressão do Yuurei era vazia. Ele havia assassinado um garoto com um disparo na cabeça e sequer havia sentido alguma coisa.

— Maldito!

Mei correu contra o inimigo, lançando uma chuva de Shuriken em sua direção. Dairama as repeliu com um movimento da mão direita e, após formar um selo com a esquerda, enlaçou a Mizukage com ramificações que brotaram do solo. Mei estava imobilizada e sendo espremida, os ossos estalando.

— Três já foram — disse-lhe, indiferente. Depois indicou Kurotsuchi e Choujurou. — Restam estes dois. Você, Mizukage, será a última. Quero que testemunhe a morte de todos os seus subordinados.

Outro apertão e Mei sentiu a garganta queimar com o ar escapando com dificuldade. Sua visão estava turva e todo o corpo dolorido. Ainda assim, ergueu a cabeça para Dairama e cuspiu as últimas palavras:

— P-porco imundo... vá pro inferno.

O estado da Mizukage era deplorável, mesmo para Dairama. Com ar de superioridade, levantou os olhos para encará-la, pois queria ver a reação dela enquanto seus dois últimos soldados eram executados a sangue frio.

— Sem deixar corpos: assim agem os Yuu...

Parou. Um ruído estrondoso roubou-lhe a atenção. Olhou para a direita e viu uma ruptura da largura de um túnel na muralha de Mokuton, com chamas negras escapando pelas bordas. A expressão no rosto do Yuurei se estreitou.

Os dragões gêmeos Shiro e Kuro, que pertenciam a seu parceiro Ryuumaru, sibilavam em fúria bestial. Entre as feras, quatro silhuetas humanas atravessaram para aquele lado do muro.

Kankuro, Temari, Darui e Sasuke Uchiha.

— Finalmente conseguimos passar — comentou Kankuro.

— Cale-se, seu idiota — rebateu Temari, percebendo o quão atrasados estavam. — Não é hora para isso.

Tinham a atenção do inimigo. Dairama encarava o grupo, priorizando Sasuke Uchiha.

— Onde está Naruto Uzumaki? — perguntou.

Os dedos de Sasuke seguravam impacientes o cabo da katana Kusanagi. O Uchiha, contudo, exibia uma feição de falsa indiferença.

— Vai saber. Acho que ele deve estar bem longe daqui, pelo tempo que saiu.

— Então ele vai ao encontro da morte — retrucou o Yuurei. — Não haverá glória para Naruto Uzumaki quando encontrar o Líder-sama e a Mira-sama.

Os olhos de Sasuke inflamaram em vermelho e roxo. O poder do Rinnegan e do Fuumetsu Mangekyou Sharingan fervia dentro do Uchiha.

— Vocês, Yuurei, subestimaram demais Naruto Uzumaki. — O chakra elétrico de Sasuke fluía pela katana, ascendendo-a com raios. — E você, Yuurei, deve se preocupar comigo agora.

Sasuke era um vulto. Em um instante, ele estava a cinquenta metros de Dairama; no outro, a menos de um metro, com a katana erguida para um golpe direto. O Yuurei saltou para trás e viu Sasuke desaparecer outra vez.

— Rápido.

Outro flash zuniu na frente do Yuurei, que olhou para baixo e viu um corte que lhe havia sido feito de cima a baixo no tórax. Sasuke já estava em sua retaguarda, observando.

— Pelo que me disseram, basta um arranhão para que você morra. A técnica daquele seu parceiro faz isso, não faz?

Foi quando Sasuke olhou, incrédulo, Dairama se virar e assentir. Ele estava perfeitamente bem, o que deveria ser impossível.

— Você roubou a técnica de Ryuumaru, mas ainda não a controla.

Em seguida, o Yuurei estendeu a mão para os dragões gêmeos.

— Roubar a técnica de um Yuurei... que insulto.

Dairama cerrou o punho, enquanto Sasuke viu raízes vivas brotarem do chão e despedaçarem Shiro e Kuro em um piscar de olhos. Com os dragões gêmeos anulados, Sasuke sentiu o poder de Ryuumaru se esvair de seu corpo. Havia tido tempo para reabastecer as energias para outra luta — que, sabia Sasuke, seria mais difícil que a primeira —, mas àquela altura estava a mercê de suas próprias habilidades.

O fato de a ferida no tórax de Dairama não o matar ainda estava matutando na mente de Sasuke. Além do Mokuton, Sasuke estava ciente que os Senju possuíam muita vitalidade — por serem parentes distantes dos Uzumaki —, no entanto, o corte tinha sido profundo. Então como Dairama ainda estava vivo?

Aquele Yuurei era bem diferente de Ryuumaru.

— Tirem a Mizukage e os outros daqui — ordenou Sasuke. — Se ficarem perto demais, não poderei garantir a segurança de vocês.

Kankuro e os outros assentiram e mesmo Dairama não ousou impedir. Tanto o Senju quanto o Uchiha sabiam que estavam diante de oponentes diferentes agora. Ambos reconheciam a força um do outro e queriam testá-la ao máximo. Além disso, Sasuke sabia que o Dairama não tinha nada a perder — com a morte do parceiro, o Yuurei sênior estava livre para usar todo o seu poder sem receio de atingir alguém ao redor. Já para Dairama, o duelo era ainda mais especial: estava diante de um Uchiha e ele, sendo um Senju, vivia essa rivalidade em seu sangue.

Assim, o Yuurei esperou. Quando todos já estavam fora de seu campo visual, estando apenas ele e Sasuke ali, Dairama perguntou:

— Vamos recomeçar?

A resposta de Sasuke foi outro golpe no tórax do Yuurei. Outro corte de cima a baixo, do qual Dairama sequer grunhiu. Definitivamente, Sasuke sabia ser mais rápido. Contudo, mesmo com sua velocidade e precisão nos golpes, o Yuurei parecia invulnerável.

Sasuke golpeou outras cinco vezes até parar a distância e observar. Dairama retribuía a olhada.

— Confuso, Sasuke Uchiha?

A resposta era “sim”, porém Sasuke era bom em esconder as emoções e pensar com frieza. Àquela altura, analisava o fluxo de chakra do adversário com o Sharingan. Queria uma resposta. Via o chakra do Yuurei cobri-lo harmoniosamente por todo o corpo, o que o fez concluir que, não importava onde golpeasse, não surtiria efeito.

Estava claro que Sasuke deveria tentar outra abordagem.

— Amaterasu!

As chamas negras surgiram no braço de Dairama, que as observou com despreocupação. “Impossível!”, pensou Sasuke. O Yuurei ergueu o braço que ardia com as chamas e, agitando-o, lançou-as no chão. Nem mesmo a pele de Dairama estava queimada. Sasuke também percebeu que os cortes feitos não tinham tirado sangue do inimigo e que as feridas já estavam praticamente fechadas.

— Sasuke Uchiha... isso é tudo o que você tem?

“Uma técnica de regeneração? Como o Byakugou da Sakura?”, perguntava-se o ninja da Folha.

Ataques diretos e Ninjutsu não pareciam funcionar contra aquele Yuurei. Graças ao chakra extra que recebera enquanto estava controlando os dragões, Sasuke ainda poderia tentar grande parte de seu arsenal de jutsus. Contudo, era primordial que ele descobrisse como a técnica do inimigo funcionava, caso contrário ele só desperdiçaria chakra.

Aproveitou que o Yuurei o encarava e retribuiu o olhar. Tudo o que ele precisava era de segundos de contato visual.

Sasuke lançou o Genjutsu assim que possível.

Dairama permanecia imóvel, mas seu fluxo de chakra continuava o mesmo. Teria ele caído? Sasuke deu um passo a frente quando o Yuurei abriu a boca.

— Parece que é a minha vez. — Sasuke arregalou os olhos. Como ele se defendera do Genjutsu? — Mokuton: Yanagi (Elemento Madeira: colunas de árvores)

A dúvida de Sasuke teria de ficar em segundo plano, pois o jutsu conjurado por Dairama o fazia capaz de evocar vigas pontiagudas a partir do solo. Sasuke se movimentava e, a cada pisada no chão, uma viga emergia quase instantaneamente, fazendo-o se movimentar outra vez. No último salto, Sasuke manobrou no ar e, antes que tocasse o solo, usou seu chakra para envolvê-lo. Uma aura roxa passou a cobrir-lhe o corpo e, num segundo momento, surgiam costelas de chakra roxo.

— Susanoo — o Yuurei comentou de forma trivial. — Faz muito tempo que não vejo esse poder.

Uma viga brotou sob os pés de Sasuke e espatifou-se quando colidiu com o chakra do Susanoo. Diante disso, Dairama fez um selo com a mão direita e anulou o próprio jutsu.

— Conhece o Susanoo? — perguntou Sasuke.

O Yuurei fez que sim.

— De outra era, jovem Uchiha — dizia. — Sou o homem mais antigo dentre todos os Yuurei, com exceção do Líder-sama, o qual não considero mais um ser humano. Meu tempo antecede a criação do sistema de vilas ninja. Eu venho de muito antes disso.

Sasuke sabia, por lutar contra Juha Terumi, que o poder dos Yuurei conhecido como Yami no Fuuin, o Selo da Escuridão, possibilitava seu usuário viver como um fantasma atemporal, mantendo a aparência da época em que recebeu o selo. Mas era impossível que os Yuurei existissem desde aquele momento, ou ao menos improvável. Por isso, Sasuke perguntou:

— Como?

Dairama estendeu os braços para frente. Por um segundo, Sasuke pensou que o Yuurei atacaria e brandiu sua espada. Entretanto, o alvo de Dairama Senju era a muralha de Mokuton. Com seu poder, fazia a madeira retornar para dentro do solo até estarem outra vez em terreno plano gramado.

— Eu sou Dairama, do clã Senju da Floresta — contava. — O ninja que vocês, da Vila da Folha, chamam de Primeiro Hokage era meu neto.

Sasuke estremeceu.

— Hashirama Senju era seu neto?

O Yuurei assentiu novamente.

— No passado, quando o sistema vigente era o de clãs, vivíamos em constantes conflitos. Jovens eram forçados a se tornarem homens antes de atingirem a puberdade e a incorporação de crianças ao militarismo e ao combate era comum. Naquela época, era raríssimo alguém chegar aos quarenta anos ou mais. Os homens morriam muito cedo. Eu, contudo, consegui e, aos sessenta anos, renunciei ao meu título de líder do clã Senju para meu filho, Butsuma.

— As guerras entre clãs continuaram — prosseguiu Dairama. — Quando atingiu certa idade, o filho mais velho de Butsuma, Hashirama, passou a liderar nosso clã depois da morte do pai. E por anos ainda de conflito armado, enfrentamos nosso pior inimigo.

Sasuke conhecia parte daquela história e sabia do que Dairama estava falando.

— O clã Uchiha.

— Exato — concordou o Yuurei. — E estávamos próximos de dar um fim a anos de guerra. Tudo o que precisávamos era exterminar o novo líder deles, o jovem Madara. Hashirama o derrotou em combate e poderia tê-lo assassinado.

Uma feição de desgosto tomou conta do rosto do Yuurei.

— Mas meu neto foi misericordioso. Ao invés de destruir os Uchiha, a começar por Madara, Hashirama propôs um acordo de paz e uma aliança, uma aliança com nosso pior inimigo. Patético, não? Como se nossos clãs um dia pudessem coexistir.

Sasuke não respondeu.

— Eu me opus a Hashirama e seus ideais pacifistas, e decidi retomar a liderança do clã à força. Eu enfrentei Hashirama em combate.

— Mas foi derrotado — deduziu Sasuke.

Dairama cuspiu raivosamente no chão.

— Apesar de talentoso, o coração de Hashirama era fraco e ele não foi capaz de me matar. Ao invés disso, ele me selou dentro de uma árvore e me escondeu para que eu jamais pudesse ser trazido de volta. Assim, junto com Madara Uchiha, ele criou a primeira vila ninja: a Vila Oculta da Folha. Anos mais tarde, os ideais pacifistas de meu neto provaram sua falha. Madara se voltou contra Hashirama e forjou a própria morte após sua derrota no Vale do Fim. E não muito tempo atrás, vocês o enfrentaram na Quarta Grande Guerra Ninja, não? Em que Madara Uchiha quase controlou o mundo inteiro.

O Yuurei concluiu sem devaneios:

— Um Uchiha bom é um Uchiha morto.

Aquilo soou estranhamente cômico para Sasuke, que deu um sorrisinho de desdém.

— Como você foi libertado?

A feição de Dairama mudou de desprezo para leveza. O Yuurei ergueu o rosto para o céu e suspirou de olhos fechados. Voltou a encarar Sasuke Uchiha logo em seguida, respondendo:

— A dama me achou e desfez o selamento. Quando ela me libertou, eu já estava em outra época: a sua época.

Juntando todas as informações que possuía, Sasuke concluiu:

— A mulher a quem você se referiu como Mira-sama, ela é a “dama”, não? A vice-líder dos Yuurei.

Dairama estreitou os olhos, curioso.

— Eu nunca revelei que Mira-sama era nossa vice-líder. Como sabe?

— Eu trabalhei por um tempo na Akatsuki, enquanto os Yuurei ainda não eram uma organização conhecida mundialmente. A Akatsuki negociava com vocês, e Tobi me falou vagamente dos Yuurei. Além disso, recentemente, um de nossos espiões rastreou essa tal Mira até esta ilha, usando fios de cabelo dela.

— Oh — Dairama deu uma risada seca. — O Inuzuka...

Sasuke desconfiou.

— Como sabe quem ele é?

Outra risada seca e grave. Dairama meneava negativamente com a cabeça, em um gesto óbvio de sarcasmo.

— A história que ele deve ter contado a vocês não é exatamente verdade — disse. — Realmente ele nos rastreou até aqui. Mas quando esteve nesta ilha, ele não escapou de nós. Fomos nós quem permitimos que ele saísse.

Desde que ouvira o relatório de Garou Inuzuka, Sasuke tinha ficado com um pé atrás. Estava acostumado a procurar pelos Yuurei sem sucesso e, de repente, alguém conseguira rastreá-los? Por alguma razão, nunca havia engolido toda a história de Garou, embora ele realmente tivesse dito a verdade sobre encontrar os Yuurei. Mas Dairama continou:

— Ele nunca teve família nesta ilha. Foi o que ele disse a vocês, não foi? De que teve a família morta aqui. A família daquele homem nada mais era que uma ilusão criada por um de nossos membros. Seu espião foi convencido de que tinha família aqui e que a viu morrer, mas nada daquilo era real. O Líder-sama sequer arrancou o braço de seu espião Inuzuka. Por causa do Genjutsu a qual ele foi submetido, ele mesmo arrancou o próprio braço depois de matar o próprio cão-ninja.

A perplexidade tomou o rosto de Sasuke. Lembrava-se claramente de ouvir Garou falar sobre a família ser morta por uma escuridão viva, de ter seu cão-ninja morto pelo mesmo poder e de ter seu braço destruído pelo líder dos Yuurei antes de conseguir escapar por um triz. Dairama descontruiu toda a história, alegando que Garou não tinha sido nada mais que um brinquedo com o qual os Yuurei controlaram com Genjutsu — um Genjutsu que produzia uma realidade nova dentro da mente da vítima. Sasuke se perguntava que tipo de Yuurei tinha aquela habilidade, mas desconsiderou a própria inquietação tendo em vista o quão habilidoso era aquele grupo de ninjas.

Garou foi usado desde começo para tirar Naruto e Sasuke da vila. Tinham apostado contra as probabilidades e errado feio.

— Entendo — disse Sasuke, por fim. — Vocês manipularam tudo desde o começo, inclusive a cabeça do Garou. No fim, ele era só mais uma vítima.

As costelas do Susanoo desapareceram ao redor de Sasuke, que cravou a espada eletrificada no solo. Em seguida, pôs-se a fazer selos manuais e, outra vez, empunhou a arma. Kusanagi, agora, era uma katana envolta de raios negros. Sasuke a agitou no ar de um lado para o outro; feixes de relâmpagos escuros estalavam ao redor do ninja da Folha.

— Sua história foi interessante. Agora me permita abrir você.

O ar de Dairama mudou. O Yuurei afastou os pés um do outro, ganhando espaço, e inclinando-se levemente para frente. Lançou fora o manto negro que usava. Dairama Senju tinha o peito desnudo, com braços grandes e fortes, em nada combinando com a barriga protuberante. A barba escura e espessa descia até a altura dos ombros. Estalou ruidosamente as costas e o pescoço. Depois, uniu as mãos fechadas. Troncos de árvores nasciam à esquerda e à direita, como tentáculos, agitando-se devagar.

— O último Uchiha vivo contra o último Senju de sangue puro — disse. — Venha, Sasuke Uchiha.


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Notas finais do capítulo

Salve! Dairama vs. Sasuke será a batalha decisiva na ilha Misuto. Estou muito animado para escrever isso e espero postar logo logo.

Confesso que sinto saudades de umas pessoas aqui. Bom, isso é bem culpa minha, é verdade; sumi por um tempão e passei a postar sem constância. Ei, pessoal! Eu estou aqui, ok? Dá um "oi" aí.

Daqui a dois capítulos, chegaremos ao capítulo 100 da história (putz!). Aguardem.

Até o próximo capítulo o/



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